Quadro 2. Estratégias facilitadoras para o acesso e acolhimento à Rede de Atenção à Saúde por crianças e adolescentes transexuais, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2023.
| BARREIRAS | ESTRATÉGIAS |
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• Presunção profissional da sexualidade das crianças e dos adolescentes transexuais, com tratamentos reducionais(20,24,25); • Ausência da identificação da identidade de gênero com o nome social e/ou pronomes, como nos prontuários, nas pulseiras de identificação e na documentação de administração de medicações(20,25); • Uso inconsciente ou consciente do nome registrado da criança e do adolescente, frequentemente, de forma repetitiva, mesmo após correções do paciente e/ou sua família(22,25); • Medo dos profissionais em questionar o nome social e/ou pronome dos pacientes e cometer um equívoco que cause ofensas(24); • Uso de linguagem desatualizada e ofensiva pelos profissionais(18); • Ausência da sensação de um espaço acolhedor para demandas de saúde relacionadas ao gênero, com medo de que as comunicações terapêuticas não fossem confidenciais(23); • Baixo conhecimento profissional, que repercute em um cuidado pouco responsivo, marcado por estigmas e preconceitos, com crenças, valores pessoais e percepções do senso comum no cuidado tanto à criança e ao adolescente quanto à sua família(8,23,24,25); • Interações hostis dos profissionais, com minimização da identidade de gênero e ligação da transexualidade a uma etapa transitória do desenvolvimento humano e/ou visão patológica da infância(22,24,25,26); • Ausência de profissionais na equipe multiprofissional que poderiam prestar um cuidado acolhedor, como os profissionais de saúde mental e os assistentes sociais(26); • Ausência de protocolos institucionais para o acolhimento e cuidado à criança e ao adolescente transexual, com dependência dos conhecimentos e senso profissional para um cuidado de qualidade(22); • Redução da queixa de saúde da criança e do adolescente, que os fizeram buscar o serviço de saúde, para a transexualidade, com falta de interesse na demanda de cuidado e supervalorização do gênero(22,26); • Dificuldade de acessar a RAS, pela ausência de serviços especializados na região de moradia ou pela distância, ou percepção de que a RAS não está disponível para acolher suas demandas(23); • Ausência de interligação entre a RAS, especialmente os centros especializados e não especializados no cuidado à criança e ao adolescente transexual, com peregrinação em busca de acolhimento, principalmente em casos em que o cuidado está relacionado à transexualidade(21,22); • Cobertura limitada do seguro de saúde aos cuidados de saúde relacionados à transexualidade, com ausência de serviço que preste a atenção de forma gratuita(22,23); • Ambiência dos serviços de saúde pouco acolhedoras, com homofobia estrutural(20,26). |
• Questionar a criança e o adolescente, desde a admissão no serviço de saúde, sobre o seu gênero e pronome a ser utilizado, de forma simples e respeitosa, como: quais são seus pronomes? Como você gostaria de ser chamado? A resposta deve ser identificada em prontuário, desde que o paciente e família permitam, para que seja disseminado nas abordagens por todos os profissionais no cuidado(8,20,21,22); • Em caso de ocorrência inconsciente do uso do nome e/ou pronome incorreto, recomenda-se que o profissional não se acanhe em pedir desculpas à criança e ao adolescente, e chame-o conforme ele solicita(25); • Ofertar um espaço de fala à criança e ao adolescente transexual, de forma respeitosa, com escuta ativa, sem julgamentos e represálias, atuando com empatia, por todos os profissionais que prestem assistência, em toda a RAS(25,26); • Formação sobre transexualidade e cuidados à população LGBTQIA+ desde a graduação profissional(21,24); • Educação continuada, com treinamentos e atualizações constantes, a todos que se comunicam com a criança e o adolescente transexual na RAS. Se possível, recomenda-se que o treinamento seja realizado por uma pessoa transexual(8,20,21,24,25); • Esforço dos profissionais de saúde em respeitar as crianças, os adolescentes e suas famílias, independentemente da identidade de gênero(25); • Desenvolvimento de protocolos claros e baseados em evidência, com roteiro adequado de cuidado à idade, com foco na criança, no adolescente e em sua família(22); • Focar nas queixas de saúde trazidas pela criança, pelo adolescente e pela família ao invés de questões de gênero, que devem ser abordadas como forma de prestar um cuidado responsivo e respeitoso, e focalizadas quando for relevante a queixa trazida(8,26); • Teleatendimento como estratégia para o acolhimento de crianças e adolescentes transexuais com demandas de saúde, independentemente do local em que vivem, sem a necessidade de locomoção(23); • Estímulo a um ambiente respeitoso e inclusivo. Adaptações ambientais, com cartazes que indiquem que a criança e o adolescente são bem-vindos ao serviço de saúde (“Aqui é um lugar neutro” ou “Aqui é um lugar seguro”; uso da bandeira LGBTQIA+), usando pingentes na roupa dos profissionais que remetam à população. A longo prazo, construção de banheiros e leitos neutros(8,22,25). |