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. 2020 Aug 19;115(2):229–237. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20180346
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Revascularização Completa Versus Tratamento da Artéria Culpada no Infarto com Supradesnivelamento do Segmento ST: Registro Multicêntrico

Julia Cremona Cadore 1, Mariana Vargas Furtado 2, Rogério Tumelero 3, Alexandre Tognon 3, Ana Maria Krepsky 1, Denis Cadore 3, Karen Brasil Ruschel 2, Julia Caldas Bedin 4, Thais Conte 4, Carisi Anne Polanczyk 5
PMCID: PMC8384275  PMID: 32876190

Resumo

Fundamento

São restritos os dados sobre o manejo e o prognóstico dos pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) com acometimento multiarterial no Brasil, o que mostra a necessidade de investigar as estratégias de revascularização disponíveis.

Objetivo

Avaliar os desfechos relacionados à revascularização completa em comparação com o tratamento da artéria culpada em pacientes multiarteriais com IAMCSST.

Métodos

Foi realizada um estudo de coorte prospectiva em dois centros de hemodinâmica do Sul do Brasil, com seguimento de 1 ano após a intervenção índice. O desfecho primário foi composto de óbito cardiovascular, reinfarto ou angina recorrente e secundários acidente vascular encefálico, parada cardiorrespiratória não fatal, sangramento maior ou necessidade de reintervenção. A probabilidade de ocorrência de desfechos foi comparada entre os grupos através de regressão logística binária. Considerou-se como estatisticamente significativo o valor de probabilidade < 0,05.

Resultados

Participaram 85 pacientes, com média de idade de 62±12 anos, sendo 61 (71,8%) do sexo masculino. Cinquenta e oito (68,2%) pacientes receberam a estratégia de revascularização completa e 27 (31,8%), a de revascularização incompleta. A chance de ocorrência tanto do desfecho primário quanto do secundário foi significativamente maior entre os indivíduos tratados com revascularização incompleta quando comparados com os tratados com estratégia completa [razão de chances (OR) 5,1, intervalo de confiança de 95% (IC95%) 1,6-16,1 vs. OR 5,2, IC95% 1,2-22,9, respectivamente], assim como os óbitos cardiovasculares (OR 6,4, IC95% 1,2-35,3).

Conclusão

Dados deste registro regional, de dois centros do Sul do Brasil, demonstram que a estratégia de revascularização completa esteve associada à redução significativa dos desfechos primário e secundário no seguimento de 1 ano quando comparada à estratégia de revascularização incompleta. (Arq Bras Cardiol. 2020; 115(2):229-237)

Keywords: Infarto do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST/mortalidade, Estudos de Coortes, Hemodinâmica, Registros de Óbitos, Angina Pectoris, Acidente Vascular Cerebral, Parada Cardíaca, Intervenção Coronária Percutânea

Introdução

O infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) constitui um problema de extrema relevância em saúde pública,1 apresentando alta taxa de mortalidade caso não seja tratado adequadamente.2 Aproximadamente 50% dos pacientes apresentam doença arterial coronariana (DAC) multiarterial,3 - 4 sendo o prognóstico ainda mais desfavorável.5

As opções terapêuticas para esse grupo mais complexo incluem intervenção coronariana percutânea (ICP) primária na artéria culpada pelo infarto (ACI) e ICP nas demais estenoses somente na presença de isquemia espontânea ou achados de risco em testes não invasivos (revascularização incompleta – RI); ICP multiarterial no momento da ICP primária (revascularização completa – RC); ICP primária na ACI e tratamento estadiado das demais estenoses (RC estadiada). Estudos iniciais demonstraram resultados conflitantes.6 O estudo PRAMI ( Preventive Angioplasty in Acute Myocardial Infarction ), no entanto, trouxe uma mudança nesse paradigma, na medida em que demonstrou o benefício da ICP multiarterial comparada com a ICP primária apenas da ACI.7 Outros ensaios clínicos reforçaram a hipótese de que uma estratégia de RC poderia ser benéfica e segura em pacientes selecionados com IAMCSST.8 - 10

Com base nesses achados, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA), em 2015, atualizaram a recomendação anterior, sendo, então, factível tanto a RC quanto a abordagem estadiada na ocasião da ICP primária em pacientes hemodinamicamente estáveis.4 A diretriz da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), de 2017, segue a mesma orientação.11 Já a diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de 2015, considera razoável o tratamento de estenose grave de menor complexidade localizada no sistema coronário relacionado ao vaso infartado.12 Por outro lado, salienta que estes pacientes apresentam maior propensão à ocorrência de novos eventos coronários no período de 1 ano, sugerindo, então, que as estenoses coronárias graves não relacionadas diretamente ao procedimento índice devam ser abordadas em um segundo tempo, de forma estadiada.12

Neste estudo, objetivamos avaliar os desfechos de vida real relacionados a RC versus tratamento da artéria culpada em pacientes multiarteriais com IAMCSST em dois hospitais da Região Sul do Brasil.

Método

Delineamento da Pesquisa

Estudo de registro, com pacientes hospitalizados por IAMCSST e DAC multiarterial em dois centros no Sul do Brasil. Foram coletados dados prospectivos no período de outubro de 2015 a março de 2016, com informações da internação hospitalar. Foram ainda coletados dados retrospectivos no período de janeiro a setembro de 2015, por revisão de prontuário médico. Os desfechos primário e secundário foram avaliados prospectivamente por contato telefônico mensal, durante 12 meses após alta hospitalar após evento índice.

Seleção de Pacientes

Foram incluídos pacientes com idade ≥ 18 anos e de ambos os sexos, admitidos nos hospitais supracitados no período de 6 meses, com o diagnóstico de IAMCSST, tratados com ICP primária e DAC multiarterial à cineangiocoronariografia – definida como presença de lesão igual ou superior a 70% pela análise visual da angiografia em duas ou mais projeções, em mais de uma artéria coronária. Pacientes encaminhados a esses hospitais para angioplastia de resgate após o uso de trombolíticos e que apresentavam DAC multiarterial também foram elegíveis.

Foram excluídos pacientes com cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) prévia, choque cardiogênico na admissão, indicação de CRM após angioplastia primária, lesão no tronco da coronária esquerda, lesão na artéria descendente anterior (ADA) proximal ou na artéria circunflexa proximal ou oclusão crônica em artéria não culpada pelo infarto (ANCI), os quais, pela avaliação da equipe assistente, se beneficiariam de cirurgia de revascularização.

Coleta de Dados

A coleta das informações pertinentes ao estudo ocorreu em formulário padronizado durante o período de hospitalização para o tratamento do evento agudo, incluindo características demográficas, exames realizados na emergência do hospital, resultado da cinecoronariografia, tratamento instituído, além dos dados de seguimento pelo período de 1 ano. As condutas adotadas durante o atendimento do paciente foram de responsabilidade da equipe assistencial, sem influência dos pesquisadores. A pesquisa se deu em conformidade com a resolução nº 466/2012 e foi aprovada pelos Comitês de Ética e Pesquisa de ambas instituições. Os pacientes incluídos prospectivamente assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) após o término do exame inicial (cinecoronariografia); para a coleta de dados retrospectivos, os pesquisadores assinaram o termo de sigilo de dados.

Seguimento e Desfechos de Interesse

A evolução e ocorrência dos desfechos intra-hospitalares foram avaliados durante a hospitalização e, posteriormente, através de busca ativa via contato telefônico e revisão de prontuário médico. O desfecho primário foi definido como a ocorrência de: (1) óbito por causa cardiovascular; (2) reinfarto – definido como recorrência da dor isquêmica (embora não seja imprescindível), nova elevação de segmento ST ≥ 0,1 mV ou nova onda Q, no mínimo em duas derivações contíguas ou valor de marcadores séricos (troponina ou CK-MB) alterados (acima do limite superior do normal conforme valor de referência do laboratório local ou pelo menos 50% acima do valor do exame anterior); ou (3) angina recorrente – definida como retorno da dor, necessidade de uso de nitrato sublingual ou reinternação por angina recorrente.

O desfecho secundário foi composto de: (1) acidente vascular encefálico (AVE); (2) parada cardiorrespiratória (PCR) não fatal; (3) sangramento maior (definido como necessidade de transfusão sanguínea por queda de mais de 3 g/dL no exame de hemoglobina, e/ou hemoglobina abaixo de 10 g/dL, e/ou instabilidade hemodinâmica, e/ou prolongamento na internação por sangramento maior, e/ou AVE hemorrágico, ou (4) necessidade de reintervenção percutânea ou cirúrgica não programada.

Análise Estatística

A análise estatística foi realizada através do IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para Windows. A idade e o tempo entre a ICP primária e o novo procedimento foram descritas como média ± desvio padrão. As variáveis categóricas foram descritas como frequência absoluta e relativa. As distribuições das variáveis numéricas foram comparadas entre os grupos tratados com RC ou apenas da lesão culpada pelo infarto utilizando-se análise de variância com um critério de classificação e, das variáveis categóricas, utilizando-se o qui-quadrado de Pearson com correção de continuidade ou teste exato de Fischer quando adequado. A chance de ocorrência de desfecho primário, secundário e óbito por qualquer causa foi comparada entre os grupos acima descritos utilizando-se regressão logística binária. Na análise multivariável, os modelos foram comparados entre si utilizando-se o teste da razão de verossimilhança. As curvas de Kaplan-Meier para IAMCSST foram calculadas para RC e RI. As diferenças na taxa de sobrevida foram avaliadas pelo teste log-rank. As razões de chance foram descritas com os respectivos intervalos de confiança de 95%. Considerou-se como estatisticamente significativos testes com valor de probabilidade < 0,05.

Resultados

No período de janeiro de 2015 a março de 2016, foram admitidos nas emergências dos dois centros 248 pacientes com diagnóstico de IAMCSST; destes, 85 (34,3%) pacientes apresentavam DAC multiarterial.

Do total de 85 pacientes, 58 (68,2%) receberam estratégia de RC e 27 (31,8%) receberam estratégia de revascularização apenas da ACI. A idade média foi 62±12 anos, e 61 (71,8%) participantes eram do sexo masculino. O infarto de parede inferior ocorreu em 42 (49,4%) pacientes, seguido pelo infarto de parede anterior em 37 (43,5%). Os pacientes classificados como Killip I na admissão foram 71 (83,5%) e 67 (78,8%) apresentavam doença coronária biarterial. A ADA foi a responsável pelo infarto em 32 (37,6%) casos, em 36 (42,4%), a lesão foi considerada relacionada ao infarto e 17 (20,0%) pacientes não apresentavam lesões significativas nessa artéria, conforme descrito na Tabela 1 . Não houve diferença estatisticamente significativa entre as duas estratégias de revascularização em nenhuma das características analisadas, incluindo o tempo porta-balão entre os grupos.

Tabela 1. – Características clínicas e demográficas da população em estudo (n = 85).

    Estratégia de revascularização  
  Global Completa Incompleta p
Centro       0,43
1 28 (32,9%) 17 (60,7%) 11 (39,3%)  
2 57 (67,1%) 41 (71,9%) 16 (28,1%)  
Idade (anos) 62±12 62,7±12 60,6±13 0,46
Sexo masculino 61 (71,8%) 42 (72,4%) 19 (74,0%) 0,99
Raça branca 80 (94,1%) 55 (94,8%) 25 (92,6%) 0,99
História prévia        
HAS 54 (63,5%) 37 (63,8%) 17 (63,0%) 0,99
DM 22 (25,9%) 14 (24,1%) 8 (29,6%) 0,79
Tabagismo 26 (30,6%) 21 (36,2%) 5 (18,5%) 0,16
DAC prévia 10 (11,8%) 5 (8,6%) 5 (18,5%) 0,34
Localização do IAM       0,94*
Anterior 37 (43,5%) 26 (44,8%) 11 (40,7%)  
Inferior 42 (49,4%) 28 (48,3%) 14 (51,9%)  
Lateral 6 (7,1%) 4 (6,9%) 2 (7,4%)  
BRE 4 (4,7%) 2 (3,4%) 2 (7,4%) 0,80*
Nº de estenoses       0,87
2 67 (78,8%) 46 (79,3%) 21 (77,8%)  
3 18 (21,1%) 12 (20,7%) 6 (22,2%)  
ADA       0,28
Culpada 32 (37,6%) 22 (37,9%) 10 (37,0%)  
Não culpada 36 (42,4%) 27 (46,6%) 9 (33,3%)  
Sem lesão 17 (20,0%) 9 (15,5%) 8 (29,6%)  
FEVE < 50% 41 (48,2%) 25 (43,1%) 16 (59,3%) 0,25
Killip       0,62*
1 71 (83,5%) 50 (86,2%) 21 (77,8%)  
2 7 (8,2%) 4 (6,9%) 3 (11,1%)  
3 7 (8,2%) 4 (6,9%) 3 (11,1%)  

Valores expressam média ± desvio padrão ou frequência absoluta e relativa. p: valor de probabilidade; para idade, análise de variância; demais, qui-quadrado de Pearson ou *teste exato de Fischer. HAS: hipertensão arterial sistêmica; DM: diabetes mellitus; DAC: doença arterial coronariana; IAM: infarto agudo do miocárdio; BRE: bloqueio de ramo esquerdo; ADA: artéria descendente anterior; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

Intervenção Coronariana

Dos 58 pacientes que receberam estratégia de RC, 6 (10,3%) realizaram tratamento completo no evento índice – todos apresentavam doença biarterial, sendo o tratamento da ANCI em 4 pacientes para o ramo diagonal e em 2 pacientes, para ADA. Os demais 52 pacientes realizaram o tratamento da ANCI de forma estadiada, sendo 38 na mesma internação e 14 em internação posterior. O tempo médio entre a ICP primária e o novo procedimento foi de 13±11 dias (variando entre 3 e 40 dias). Os detalhes referentes ao tratamento (ICP e terapia medicamentosa) estão descritos na Tabela 2 .

Tabela 2. – Intervenção coronariana e terapia medicamentosa (n = 85).

    Estratégia de revascularização  
  Global Completa Incompleta p
Trombolítico prévio 3 (3,5%) 3 (5,2%) 0 0,57*
Tipo de stent       0,30*
Convencional 76 (89,4%) 50 (86,2%) 26 (96,3%)  
Farmacológico 9 (10,6%) 8 (13,8%) 1 (3,7%)  
Inibidores da Glicoproteína IIb/IIIa 23 (27,1%) 14 (24,1%) 9 (33,3%) 0,53
Terapia clínica em 24h        
AAS 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Clopidogrel 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Estatina 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Betabloqueador 43 (50,6%) 26 (44,8%) 17 (63,0%) 0,19
IECA/BRA 40 (47,1%) 27 (46,6%) 13 (48,1%) 0,99
Nitrato 30 (35,3%) 20 (34,5%) 10 (37,0%) 0,99
Escore SYNTAX       0,34*
Baixo 41 (48,2%) 30 (51,7%) 11 (40,7%)  
Moderado 44 (51,8%) 28 (48,3%) 16 (59,3%)  
Alto  

Valores expressam média ± desvio padrão ou frequência absoluta e relativa. p: valor de probabilidade; para idade, análise de variância; demais, qui-quadrado de Pearson ou *teste exato de Fischer. HAS: hipertensão arterial sistêmica; DM: diabetes mellitus; DAC: doença arterial coronariana; IAM: infarto agudo do miocárdio; BRE: bloqueio de ramo esquerdo; ADA: artéria descendente anterior; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

Stents convencionais foram implantados em 76 (89,4%) pacientes. Todos receberam dupla antiagregação e estatina nas primeiras 24 horas. O uso de glicoproteína IIb/IIIa ocorreu em 23 (27,1%) casos. Com relação ao escore SYNTAX, 41 (48,2%) pacientes apresentaram escore baixo, enquanto 44 (51,8%) apresentaram escore moderado. Não houve casos com escore SYNTAX alto e não se observou diferença estatisticamente significativa entre as duas estratégias de revascularização quanto à distribuição do escore.

Desfechos Clínicos

A mortalidade geral foi de 8,2%, sendo que 86% dos óbitos ocorreram no período intra-hospitalar. A chance de ocorrência tanto do desfecho primário quanto do secundário foi significativamente maior entre os indivíduos tratados com RI quando comparados com aqueles tratados com RC [razão de chances (OR) 5,1, intervalo de confiança de 95% (IC95%) 1,6-16,1 vs. OR 5,2, IC95% 1,2-22,9), respectivamente. Se analisada isoladamente a chance de óbito cardiovascular, o resultado foi semelhante (OR 6,4, IC95% 1,2-35,3), conforme descrito na Tabela 3 . Os óbitos ocorreram predominantemente no período intra-hospitalar, com apenas um paciente na estratégia de RI na fase tardia.

Tabela 3. – Desfechos clínicos e estratégia de revascularização (n = 85).

    Estratégia de revascularização  
  Completa n (%) Incompleta n (%) OR (IC95%) p
Desfecho primário (composto) 6 (10,3%) 10 (37,0%) 5,10 (1,6-16,1) 0,005
Óbito Cardiovascular 2 (3,4%) 5 (18,5%)    
Reinfarto    
Angina 4 (6,9%) 5 (18,5%)    
Desfecho secundário (composto) 3 (5,17%) 6 (22,2%) 5,24 (1,2-22,9) 0,022
AVE    
PCR não fatal 2 (3,4%)    
Sangramento maior 1 (1,7%)    
Reintervenção 6 (22,2%)    

OR: razão de chances; IC: intervalo de confiança; AVE: acidente vascular encefálico; PCR: parada cardiorrespiratória.

Conforme descrito na Tabela 4 , observou-se, na análise multivariável, que a RC estava associada a menor chance de ocorrência dos desfechos primário e secundário independente de sexo, idade, diabetes mellitus, lesão na descendente anterior como culpada pelo infarto, presença de lesão na descendente anterior e fração de ejeção < 50%. Ainda, a RC estava associada a menor chance de ocorrência do desfecho primário independente da parede ventricular acometida e da extensão da doença coronária. As curvas de Kaplan-Meier indicaram menor sobrevida em pacientes com doença coronariana multiarterial pós-IAMCSST submetidos a RI em um período de 12 meses (p = 0,017) ( Figura 1 ).

Tabela 4. – Associação independente entre estratégia estadiada e incidência de desfecho primário e secundário no seguimento de 1 ano (n = 85).

  Desfecho primário* OR (IC95%) Desfecho secundário OR (IC95%)
Não ajustado 5,1 (1,6-16,1) 5,2 (1,2-22,9)
Modelo 2 5,2 (1,6-16,5) 5,1 (1,1-23,0)
Modelo 3 § 5,1 (1,6-16,4) 4,9 (1,1-23,1)
Modelo 4 // 5,1 (1,6-16,4) 5,1 (1,1-24,1)
Modelo 5 5,1 (1,6-16,7) 4,3 (0,9-21,0)
Modelo 6 # 4,6 (1,4-15,3) 3,6 (0,7-19,6)
Modelo 7** 4,7 (1,4-15,7) 2,3 (0,4-14,2)

OR: razão de chances; IC: intervalo de confiança. *Óbito, reinfarto, angina; Acidente vascular encefálico, parada cardiorrespiratória não fatal, sangramento, reintervenção. Ajustado para idade e sexo §Modelo 2 + ajuste para diabetes mellitus. //Modelo 3 + ajuste para artéria descendente anterior (ADA) culpada pelo evento. Modelo 4 + lesão na ADA e fração de ejeção < 50%. #Modelo 5 + local do infarto. *Modelo 6 + número de lesões.

Figura 1. – Sobrevida após revascularização completa (RC) e incompleta (RI) para infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) com doença arterial coronariana (DAC) multiarterial em um período de 12 meses. *Teste de log-rank.

Figura 1

Discussão

Em registro real da prática clínica, evidenciamos que a estratégia de RC está associada à redução significativa de desfechos duros no seguimento de 1 ano quando comparada à estratégia de RI e que o tratamento das ANCIs durante a intervenção coronária primária é incomum, sendo que a maioria dos pacientes com DAC multiarterial e IAMCSST receberam tratamento estadiado dentro de 40 dias do evento índice.

A presença de DAC multiarterial ocorre em aproximadamente 40-50% dos pacientes com IAMCSST3 - 4 e é considerada um poderoso preditor independente de mortalidade.5 Na nossa população em estudo, a prevalência foi de cerca de 35%. A história natural do IAMCSST demonstra que ocorrem distúrbios fisiopatológicos mais generalizados, com potencial de comprometer a perfusão coronariana além da distribuição da ACI, desestabilizando a placa ao longo do leito vascular coronariano.13 O processo patológico do IAMCSST envolve toda a árvore coronariana, sendo que a dinâmica desse processo inflamatório específico é maior no primeiro mês após o evento agudo,14 possivelmente explicando o aumento da taxa de mortalidade nos primeiros 30 dias,15 como visto no presente estudo. Devido ao pior prognóstico desses pacientes, quando se examina o papel da RC no contexto do IAMCSST, deve-se considerar o impacto dos fatores supracitados na determinação de como uma estratégia agressiva pode oferecer benefício clínico.13

Em consonância com as indicações das diretrizes contemporâneas, ainda conservadoras, na prática clínica do mundo real, vários registros demonstram que a abordagem de múltiplos vasos é adotada entre 9% e 24,4%.16 - 18 No registro português ProACS ( Portuguese Registry of Acute Coronary Syndromes ), por exemplo, esse número é de 19,2%. Neste estudo, a prática foi adotada em 68,2%. De acordo com alguns autores, a discrepância entre as diretrizes vigentes e a prática clínica resulta de diversos fatores, desde a falta de evidências clínicas até questões econômicas envolvendo fontes pagadoras e protocolos vigentes. O assunto continua a suscitar debates e só poderá ser resolvido com um estudo amplo e internacional.19 No contexto do tratamento multiarterial, também foi visto neste estudo a predominância de pacientes biarteriais (78,8%), em concordância com estudos como o PRAMI,7 e pacientes com menor complexidade de lesões – não houve casos de pacientes com escore SYNTAX alto –, o que nos leva à reflexão de que, provavelmente, os pacientes mais graves – triarteriais e com escore SYNTAX alto – receberam indicação de tratamento cirúrgico após a angioplastia primária nos centros estudados.

Com relação à terapia farmacológica, seguindo as diretrizes para IAMCSST, 100% dos pacientes receberam dupla antiagregação plaquetária e estatinas. O uso de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa não diferiu entre os grupos, ficando em torno de 27,1% dos casos, embora tenha sido amplamente avaliado por metanálise que concluiu que seus benefícios são maiores em pacientes de alto risco, como naqueles submetidos à RC.20 Outro fator de destaque é a alta taxa de uso de stent convencional – 89,4% dos casos –, o que difere dos ensaios clínicos randomizados (ECRs) a respeito deste tema.7 - 10 Tal fato chama a atenção para a disparidade entre os pacientes incluídos em ECRs e os pacientes reais, o que reforça a importância de registros populacionais como esses. Embora os ECRs empreguem o delineamento mais amplamente aceito para comparar tratamentos, eles ainda têm deixado muitas questões importantes sem resposta. Acredita-se que uma análise cuidadosa das informações de registros clínicos ofereça uma abordagem complementar aos ensaios clínicos, especialmente considerando a potencial inclusão de amostras mais representativas da população-alvo. Além disso, devido ao fato de os ECRs serem realizados em centros de excelência, não fica claro se seus resultados podem ser generalizados para a prática clínica usual. A experiência do operador, por exemplo, varia entre as instituições e pode interferir no resultado. Através de registros como o presente estudo, podemos perceber que, mesmo em condições não ideais, permanece significativo o benefício da RC em pacientes multiarteriais.21 Entre 2006 e 2010, o registro SCAAR ( Swedish Coronary Angiography and Angioplasty Registry ) acompanhou a evolução de 23.342 pacientes com doença de múltiplos vasos que realizaram angioplastia coronária com RI e sua possível associação com morte, nova intervenção e infarto agudo do miocárdio a longo prazo. A RI no momento da alta hospitalar se associou a um alto risco de eventos cardíacos adversos em um ano, com um risco ajustado de morte e a combinação de morte/infarto de 1,29 (IC95% 1,12-1,49; p = 0,0005) e 1,42 (IC95% 1,30-1,56; p < 0,0001), respectivamente.

O principal achado deste estudo é a demonstração de significativo benefício na redução da mortalidade em pacientes submetidos à RC, mesmo quando realizada de forma estadiada. Os casos de RC no evento índice foram incomuns, realizados somente em pacientes biarteriais, com anatomia favorável e menor gravidade na chegada (Killip I). Outro achado importante foi o significativo benefício com relação a revascularização repetida e angina recorrente. Em pacientes com IAMCSST tratados com ICP primária em hospitais reais, a RC não aumenta a mortalidade em curto e longo prazos, mostrando-se segura quando realizada de forma estadiada.22

Embora o benefício da estratégia estadiada após a ICP primária tenha sido sugerido em diversos estudos, como neste, permanecem questionamentos a serem resolvidos, como o tempo apropriado para a ICP estadiada. Na prática clínica, fatores como disfunção renal, complexidade das lesões, volume de contraste, dose de radiação, estado hemodinâmico e status do paciente podem influenciar a decisão pelo tempo ideal da revascularização. Uma pesquisa via eletrônica conduzida pela ACC revelou que, embora a maioria dos cardiologistas intervencionistas concorde em realizar a RC de forma estadiada, houve variabilidade significativa nas opiniões no que se refere ao tempo ideal para a próxima ICP. Somente 22% dos entrevistados realizavam a nova intervenção na mesma hospitalização; a maioria recomendou um prazo acima de 15 dias para o segundo procedimento.23

Apesar das evidências e estudos em andamento, nenhum estudo pode ser capaz de definir uma estratégia única para pacientes com IAMCSST e DAC multiarterial. Como são pacientes heterogêneos, a estratégia deve ser individualizada. Desnecessário dizer que o foco deve ser no tratamento da lesão culpada. A decisão deve levar em conta a complexidade anatômica, função ventricular e perfil do paciente, a fim de se buscar a melhor estratégia, idealmente através de um heart team . Uma estratificação de risco completa, com dados clínicos e angiográficos, é crucial para a melhor avaliação destes pacientes.24

O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas, especialmente relacionadas ao seu caráter observacional. Não se pode excluir a possibilidade de viés de seleção, apesar de não se ter identificado diferenças estatisticamente significativas quanto às variáveis avaliadas em relação às características basais dos pacientes tratados com RC ou RI e de não se ter observado modificação do efeito da estratégia sobre a ocorrência de desfecho primário pelos fatores considerados na análise multivariável, uma vez que a estratégia de intervenção ficou a critério do operador. Além disso, trata-se de um estudo com número pequeno de pacientes de dois centros do Sul do Brasil, podendo não ser representativo de realidades de outras regiões e serviços não públicos.

Conclusões

No presente estudo, com dados reais da prática clínica de dois centros do Sul do Brasil, encontramos que, em pacientes com DAC multiarterial no contexto do IAMCSST e submetidos à ICP primária, a estratégia de RC está associada com redução significativa dos desfechos primário e secundário no seguimento de 1 ano, quando comparada à RI. Esses dados devem suscitar discussão sobre os protocolos clínicos e institucionais vigentes.

Vinculação Acadêmica

Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Julia Cremona Cadore pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não contou com fontes de financiamento externas.

ERRATA

Edição de Agosto de 2020, vol. 115 (2), págs. 229-237

No Artigo Original “Revascularização Completa Versus Tratamento da Artéria Culpada no Infarto com Supradesnivelamento do Segmento ST: Registro Multicêntrico” com, número de DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20180346, publicado no periódico Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 115(2):229-237, na página 229, corrigir o nome do autor Alexandre Tognon para: Alexandre Pereira Tognon e autor Rogério Tumelero para: Rogério Tadeu Tumelero. Retirar a instituição: Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS - Brasil e alterar para: Associação Hospitalar Beneficente São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS - Brasil das afiliações dos autores Alexandre Pereira Tognon e Rogério Tadeu Tumelero.

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Complete Revascularization Versus Treatment of the Culprit Artery Only in ST Elevation Myocardial Infarction: A Multicenter Registry

Julia Cremona Cadore 1, Mariana Vargas Furtado 2, Rogério Tumelero 3, Alexandre Tognon 3, Ana Maria Krepsky 1, Denis Cadore 3, Karen Brasil Ruschel 2, Julia Caldas Bedin 4, Thais Conte 4, Carisi Anne Polanczyk 5

Abstract

Background

Data on the management and prognosis of patients with ST-segment elevation myocardial infarction (STEMI) and multivessel disease are limited in Brazil, showing that the available revascularization strategies should be investigated

Objective

To assess the outcomes of complete revascularization versus treatment of the culprit artery only in patients with STEMI and multivessel disease.

Methods

A prospective cohort study was conducted at two medical centers in southern Brazil with a 1-year follow-up after the index procedure. The primary outcome was a composite of cardiac death, reinfarction, or recurrent angina, while the secondary outcome was stroke, nonfatal cardiac arrest, major bleeding, or need for reintervention. The probability of outcomes occurring was compared between the groups using binary logistic regression. A p-value < 0.05 was considered statistically significant.

Results

Eighty-five patients were included. Their mean age was 62±12 years, and 61 (71.8%) were male. Fifty-eight (68.2%) were treated with complete revascularization and 27 (31.8%) with incomplete revascularization. The chance of both the primary and secondary outcomes occurring was significantly greater among patients treated with incomplete revascularization when compared to those treated with complete revascularization (odds ratio [OR] 5.1, 95% confidence interval [CI] 1.6-16.1 vs. OR 5.2, 95% CI 1.2-22.9, respectively), as well as cardiac death (OR 6.4, 95% CI 1.2-35.3).

Conclusion

Registry data from two centers in southern Brazil demonstrate that the complete revascularization strategy is associated with a significant reduction in primary and secondary outcomes in a 1-year follow-up when compared to the incomplete revascularization strategy (Arq Bras Cardiol. 2020; 115(2):229-237)

Keywords: ST Elevation Myocardial Infarction/mortality, Cohort Studies; Hemodynamic; Death Certificates; Angina Pectoris; Stroke; Heart Arrest; Angina Pectoris; Stroke; Heart Arrest; Percutaneous Coronary Interventions

Introduction

ST-segment elevation myocardial infarction (STEMI) is an extremely relevant public health issue1 with a high mortality rate if not properly treated.2 Approximately 50% of patients present with multivessel coronary artery disease (CAD),3 - 4 in which case prognosis is even more unfavorable.5

Therapeutic options for this complex group of patients with STEMI and multivessel disease include primary percutaneous coronary intervention (PCI) in the culprit artery and PCI in the other stenoses only for spontaneous ischemia or risk findings in noninvasive tests (incomplete revascularization – IR); multivessel PCI at the time of primary PCI (complete revascularization – CR); primary PCI in the culprit artery and staged approach of the other stenoses (staged CR). Initial studies showed conflicting results.6 The PRAMI (Preventive Angioplasty in Acute Myocardial Infarction) study, however, led to a paradigm shift as it demonstrated the benefit of multivessel PCI compared to culprit-artery-only PCI.7 Other trials reinforced the hypothesis that a CR strategy could be beneficial and safe in selected patients with STEMI.8 - 10

Based on those findings, the American College of Cardiology (ACC) and the American Heart Association (AHA) updated their guidelines in 2015 with recommendations for both CR and staged approach at the time of primary PCI in hemodynamically stable patients.4 The 2017 European Society of Cardiology (ESC) guideline followed the same path.11 The 2015 Brazilian Society of Cardiology (SBC) guideline, in turn, finds it reasonable to treat less complex, severe stenosis located in the coronary system linked to the infarct-related vessel.12 Conversely, the guideline highlights that these patients are more likely to experience new coronary events within 1 year, thus suggesting that severe coronary stenoses that are not directly related to the index procedure should be managed later with a staged approach.12

In this study, we aimed to assess real-life outcomes of CR versus treatment of the culprit artery only in patients with STEMI and multivessel disease managed at two hospitals in southern Brazil.

Method

Study Design

A registry study was conducted to evaluate patients with STEMI and multivessel CAD admitted to two medical centers in southern Brazil. Prospective data were collected from October 2015 to March 2016 using hospital admission information. Also, retrospective data were collected from January to September 2015 by reviewing medical records. Primary and secondary outcomes were prospectively assessed by monthly telephone contact for 12 months following hospital discharge for the index event.

Patient Selection

Male and female patients were included if they were aged ≥ 18 years, were admitted to the study centers in the 6-month period, had diagnosis of STEMI treated with primary PCI, and presented with multivessel CAD on coronary angiography – defined as the presence of a lesion ≥ 70% by visual assessment of the angiogram in at least two projections in more than one coronary artery. Patients who were referred to the hospitals for rescue angioplasty after thrombolytic therapy and had multivessel CAD were also eligible.

Patients were excluded if they had undergone previous coronary artery bypass grafting (CABG), had cardiogenic shock at admission, indication for CABG following primary angioplasty, left main coronary artery disease, lesion in the proximal portion of the left anterior descending artery (LAD) or the circumflex artery, or chronic total occlusion of a nonculprit artery (cases which would benefit from CABG at the discretion of the health care team).

Data Collection

Study data were collected using a standardized form for the period of hospitalization for treatment of the acute event, including demographic characteristics, tests performed in the emergency department, coronary angiography results, administered treatment, as well as follow-up data for a 1-year period. All procedures related to patient care were the responsibility of the health care team, with no influence from the researchers. The study was conducted in accordance with Brazilian resolution no. 466/2012 and was approved by the Research Ethics Committees at both institutions. The prospectively enrolled patients signed an informed consent form after the initial test (coronary angiography); for retrospective data collection, the researchers signed a data confidentiality agreement.

Follow-up and Outcomes of Interest

Progression and occurrence of in-hospital outcomes were assessed during hospitalization and, subsequently, via telephone contact and review of medical records. The primary outcome was defined as the occurrence of: (1) death from cardiovascular causes; (2) reinfarction, defined as recurrent ischemic pain (although not mandatory), new ST-segment elevation ≥ 0.1 mV or new Q wave in at least two contiguous leads or abnormal (above the upper limit of normal according to the reference range used by the local laboratory or at least 50% above the value in the previous test) levels of serum markers (troponin or creatine kinase-MB); or (3) recurrent angina, defined as persistent pain, need for sublingual nitrate, or readmission due to recurrent angina.

The secondary outcome was a composite of: (1) stroke; (2) nonfatal cardiac arrest; (3) major bleeding (defined as the need for blood transfusion due to a drop of more than 3 g/dL in the hemoglobin test, and/or hemoglobin level below 10 g/dL, and/or hemodynamic instability, and/or prolonged hospitalization due to major bleeding, and/or hemorrhagic stroke; or (4) need for unplanned percutaneous or surgical reintervention.

Statistical Analysis

Statistical analysis was performed using IBM SPSS Statistics version 22.0 for Windows. Age and time between primary PCI and new procedure were described as mean ± standard deviation. Categorical variables were described as absolute and relative frequency. The distributions of numerical variables were compared between the CR and culprit-artery-only groups using analysis of variance with a single criterion of classification, while those of categorical variables were compared using Pearson’s chi-square test with continuity correction or Fisher’s exact test whenever appropriate. The chance of primary outcome, secondary outcome, and death from all causes occurring were compared between the groups described above using binary logistic regression. In multivariable analysis, models were compared using the likelihood ratio test. Kaplan-Meier curves for STEMI were calculated for CR and IR. Differences in survival rate were assessed by the log-rank test. Odds ratios were described with their respective 95% confidence intervals. Tests with p-value < 0.05 were considered statistically significant. (Seria cardiovascular causes?)

Results

From January 2015 to March 2016, 248 patients with a diagnosis of STEMI were admitted to the emergency departments at the two study centers; of those, 85 (34.3%) patients had multivessel CAD.

Of the total 85 patients, 58 (68.2%) were treated with CR and 27 (31.8%) were treated with culprit-artery-only revascularization. The mean age was 62±12 years, and 61 (71.8%) participants were male. Inferior infarction occurred in 42 (49.4%) patients, followed by anterior infarction in 37 (43.5%). Seventy-one (83.5%) patients were rated as Killip class I at admission, and 68 (78.8%) had double-vessel disease. The LAD was responsible for 32 (37.6%) infarctions, while the lesion was found to be related to the acute myocardial infarction in 36 (42.4%) patients. Finally, 17 (20.0%) patients had no significant lesions in that artery, as described in Table 1 . There was no statistically significant difference between the two revascularization strategies in any of the characteristics that were analyzed, including door-to-balloon time.

Table 1. – Clinical and demographic characteristics of the study population (n = 85).

    Revascularization strategy  
  Overall Complete Incomplete p
Center       0.43
1 28 (32.9%) 17 (60.7%) 11 (39.3%)  
2 57 (67.1%) 41 (71.9%) 16 (28.1%)  
Age (years) 62±12 62.7±12 60.6±13 0.46
Male 61 (71.8%) 42 (72.4%) 19 (74.0%) 0.99
White 80 (94.1%) 55 (94.8%) 25 (92.6%) 0.99
Previous history        
Hypertension 54 (63.5%) 37 (63.8%) 17 (63.0%) 0.99
Diabetes 22 (25.9%) 14 (24.1%) 8 (29.6%) 0.79
Smoking 26 (30.6%) 21 (36.2%) 5 (18.5%) 0.16
Previous CAD 10 (11.8%) 5 (8.6%) 5 (18.5%) 0.34
AMI location       0.94*
Anterior 37 (43.5%) 26 (44.8%) 11 (40.7%)  
Inferior 42 (49.4%) 28 (48.3%) 14 (51.9%)  
Lateral 6 (7.1%) 4 (6.9%) 2 (7.4%)  
LBBB 4 (4.7%) 2 (3.4%) 2 (7.4%) 0.80*
No. of stenoses       0.87
2 67 (78.8%) 46 (79.3%) 21 (77.8%)  
3 18 (21.1%) 12 (20.7%) 6 (22.2%)  
LAD       0.28
Culprit 32 (37.6%) 22 (37.9%) 10 (37.0%)  
Nonculprit 36 (42.4%) 27 (46.6%) 9 (33.3%)  
No lesion 17 (20.0%) 9 (15.5%) 8 (29.6%)  
LVEF < 50% 41 (48.2%) 25 (43.1%) 16 (59.3%) 0.25
Killip class       0.62*
1 71 (83.5%) 50 (86.2%) 21 (77.8%)  
2 7 (8.2%) 4 (6.9%) 3 (11.1%)  
3 7 (8.2%) 4 (6.9%) 3 (11.1%)  

Values are mean ± standard deviation or absolute and relative frequency. p: probability value; analysis of variance was used for age; for the others, Pearson’s chi-square text or *Fischer’s exact test was used. CAD: coronary artery disease; AMI: acute myocardial infarction; LBBB: left bundle branch block; LAD: left anterior descending artery; LVEF: left ventricular ejection fraction.

Coronary Intervention

Of the 58 patients who were given the CR strategy, 6 (10.3%) were fully treated at the index event – all of them had double-vessel disease, including four patients with the diagonal branch and two patients with the LAD as the nonculprit artery that was treated. Fifty-two patients were treated with staged revascularization of the nonculprit artery – 38 at the initial admission and 14 at a subsequent admission. The mean time between primary PCI and the new procedure was 13±11 days, ranging from 3 to 40 days. Detailed treatment (including PCI and drug therapy) is described in Table 2 .

Table 2. – Coronary intervention and drug therapy (n = 85).

    Revascularization strategy  
  Overall Complete Incomplete p
Previous thrombolytic therapy 3 (3.5%) 3 (5.2%) 0 0.57*
Stent type       0.30*
Bare-metal 76 (89.4%) 50 (86.2%) 26 (96.3%)  
Drug-eluting 9 (10.6%) 8 (13.8%) 1 (3.7%)  
Glycoprotein IIb/IIIa inhibitors 23 (27.1%) 14 (24.1%) 9 (33.3%) 0.53
Medical therapy within 24 h        
ASA 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Clopidogrel 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Statin 85 (100%) 58 (100%) 27 (100%) -
Beta-blocker 43 (50.6%) 26 (44.8%) 17 (63.0%) 0.19
ACEI/ARB 40 (47.1%) 27 (46.6%) 13 (48.1%) 0.99
Nitrate 30 (35.3%) 20 (34.5%) 10 (37.0%) 0.99
SYNTAX score       0.34*
Low 41 (48.2%) 30 (51.7%) 11 (40.7%)  
Moderate 44 (51.8%) 28 (48.3%) 16 (59.3%)  
High  

Values are absolute and relative frequency. p: probability value; analysis of variance was used for age; for the others, Pearson’s chi-square text or *Fischer’s exact test was used. ASA: acetylsalicylic acid; ACEI: angiotensin-converting enzyme inhibitor; ARB: angiotensin receptor blocker.

Bare-metal stents were implanted in 76 (89.4%) patients. All patients were given dual antiplatelet therapy and statin within 24 hours. Glycoprotein IIb/IIIa inhibitor was used in 23 (27.1%) patients. Regarding the SYNTAX score, 41 (48.2%) patients had a low score, while 44 (51.8%) had a moderate score. No patient had a high SYNTAX score, and there was no statistically significant difference between the two revascularization strategies regarding the distribution of the scores.

Clinical Outcomes

Overall mortality was 8.2%, and 86% of deaths occurred in hospital. The chance of both the primary and secondary outcomes occurring was significantly greater among individuals treated with IR when compared to those treated with CR (OR 5.1, 95% CI 1.6-16.1 vs. OR 5.2, 95% CI 1.2-22.9, respectively). If the chance of cardiac death is analyzed separately, the result was similar (OR 6.4, 95% CI 1.2-35.3), as described in Table 3 . Deaths occurred predominantly in hospital, and only one patient died in the late stage of the IR strategy.

Table 3. – Clinical outcomes according to revascularization strategy (n = 85).

    Revascularization strategy  
  Complete n (%) Incomplete n (%) OR (95% CI) p
Primary outcome (composite) 6 (10.3%) 10 (37.0%) 5.10 (1.6-16.1) 0.005
Cardiac death 2 (3.4%) 5 (18,5%)    
Reinfarction    
Angina 4 (6.9%) 5 (18.5%)    
Secondary outcome (composite) 3 (5.17%) 6 (22.2%) 5.24 (1.2-22.9) 0.022
Stroke    
Nonfatal cardiac arrest 2 (3.4%)    
Major bleeding 1 (1.7%)    
Reintervention 6 (22.2%)    

OR: odds ratio; CI: confidence interval.

In multivariate analysis, as described in Table 4 , CR was associated with a decreased chance of both primary and secondary outcomes occurring regardless of sex, age, diabetes, culprit lesion in the LAD, and presence of LAD lesion and ejection fraction < 50%. Also, CR was associated with a decreased chance of the primary outcome occurring regardless of the ventricular wall affected and the extent of CAD. The Kaplan-Meier curves showed a decreased 12-month survival in patients with multivessel disease post-STEMI who underwent IR (p = 0.017) ( Figure 1 ).

Table 4. – Independent association between staged revascularization strategy and incidence of primary and secondary outcomes in a 1-year follow-up (n = 85).

  Primary outcome* OR (95% CI) Secondary outcomeOR (95% CI)
Unadjusted 5.1 (1.6-16.1) 5.2 (1.2-22.9)
Model 2 5.2 (1.6-16.5) 5.1 (1.1-23.0)
Model 3 § 5.1 (1.6-16.4) 4.9 (1.1-23.1)
Model 4 // 5.1 (1.6-16.4) 5.1 (1.1-24.1)
Model 5 5.1 (1.6-16.7) 4.3 (0.9-21.0)
Model 6 # 4.6 (1.4-15.3) 3.6 (0.7-19.6)
Model 7** 4.7 (1.4-15.7) 2.3 (0.4-14.2)

OR: odds ratio; CI: confidence interval. *Death, reinfarction, angina;Stroke, nonfatal cardiac arrest, major bleeding, reintervention.Adjusted for age and sex.§Model 2 + adjustment for diabetes.//Model 3 + adjustment for culprit lesion in left anterior descending artery (LAD).Model 4 + LAD lesion and ejection fraction < 50%.#Model 5 + infarction location. **Model 6 + number of lesions.

Figure 1. – Twelve-month survival after complete revascularization (CR) and incomplete revascularization (IR) in patients with acute ST-segment elevation myocardial infarction (STEMI) and multivessel disease. *Log-rank test.

Figure 1

Discussion

In this real-world practice registry, we showed that the CR strategy is associated with a significant reduction in hard outcomes in a 1-year follow-up when compared to the IR strategy. Also, the treatment of nonculprit arteries during primary PCI was uncommon, as most patients with multivessel CAD and STEMI were managed with a staged approach within 40 days of the index event.

Multivessel CAD occurs in approximately 40-50% of patients with STEMI3 - 4 and is considered a strong independent predictor of mortality.5 In our study population, the prevalence was about 35%. The natural history of STEMI demonstrates that the occurrence of more generalized pathophysiological derangements has the potential to compromise coronary perfusion beyond the culprit artery distribution and destabilize plaque throughout the coronary vascular bed.13 The pathological process of STEMI involves the entire coronary tree, and the dynamics of this specific inflammatory process is greater in the first month following the acute event,14 which may explain an increased mortality rate within 30 days,15 as seen in the present study. Because these patients have poor prognosis, the role of CR within the context of STEMI should be examined considering the impact of the aforementioned factors on determining whether an aggressive strategy could provide clinical benefit.13

Consistent with the still conservative recommendations of contemporary guidelines for real-world clinical practice, several registries demonstrate that the use of multivessel approach ranges from 9% to 24.4%.16 - 18 In the ProACS (Portuguese Registry of Acute Coronary Syndromes) registry, for example, the rate was 19.2%. In our study, the approach was used in 68.2%. According to some authors, discrepancy between current guidelines and clinical practice results from several factors, including lack of clinical evidence and economic issues involving paying sources and current protocols. The subject is controversial and will only be resolved with a broad international study.19 Within the context of multivessel treatment, our study showed a predominance of patients with double-vessel disease (78.8%), in agreement with studies such as the PRAMI trial,7 and patients with less complex lesions, as there were no participants with a high SYNTAX score. Those findings suggest that more severe patients – with triple-vessel disease and a high SYNTAX score – had indication for surgical treatment following primary angioplasty at the study centers.

With regard to drug therapy, all patients were given dual antiplatelet therapy and statins as recommended in STEMI guidelines. There was no difference in the use of glycoprotein IIb/IIIa inhibitors between the groups (around 27.1%), although a large metanalysis concluded that greater benefits are observed in high-risk patients, such as those undergoing CR.20 Another highlight is the high rate of bare-metal stenting (89.4%), which differs from the results of randomized clinical trials (RCTs).7 - 10 This shows a disparity between patients included in RCTs and real-world patients, which reinforces the importance of population registries. Although RCTs use the most widely accepted design for comparing treatments, they have left many important questions unanswered. Careful review of clinical registry information is believed to provide a complementary approach to RCTs, especially because of the potential inclusion of more representative samples of the target population. Furthermore, as RCTs are conducted at centers of excellence, it remains unclear whether their results can be generalized to usual clinical practice. The operator’s experience, for example, varies across institutions and may interfere with the results. Registries such as the present study show that even in suboptimal conditions the benefit of CR in patients with multivessel disease remains significant.21 The SCAAR (Swedish Coronary Angiography and Angioplasty Registry) study followed up from 2006 to 2010 a total of 23,342 patients with multivessel disease who underwent coronary angioplasty with IR and assessed its long-term association with death, new intervention, and myocardial infarction. IR at the time of hospital discharge was associated with a high risk of adverse cardiac events within 1 year, with an adjusted hazard ratio of death and the combination of death/infarction of 1.29 (95% CI 1.12-1.49; p = 0.0005) and 1.42 (95% CI 1.30-1.56; p < 0.0001), respectively.

This study was able to demonstrate a significant benefit of CR in reducing mortality, even when a staged approach was used. CR at the index event was uncommon, being performed only in patients with double-vessel disease, favorable anatomy, and lower severity at admission (Killip class I). Another important finding was the significant benefit regarding repeat revascularization and recurrent angina. In patients with STEMI treated with primary PCI at real-world hospital settings, CR does not increase short- and long-term mortality, proving to be safe when a staged approach is used.22

Although the benefit of a staged strategy following primary PCI has been suggested in several studies including this one, questions remain to be elucidated, such as appropriate timing for staged PCI. In clinical practice, factors such as renal dysfunction, lesion complexity, contrast volume, radiation dose, hemodynamic status, and patient status may influence the decision on optimal timing for revascularization. An electronic survey conducted by the ACC revealed that, although most interventional cardiologists agree to perform CR with a staged approach, their opinions regarding optimal timing for the second PCI vary greatly. Only 22% of respondents performed both first and second interventions at the same hospitalization; most cardiologists recommended waiting at least 15 days for the second procedure.23

Despite the evidence and ongoing studies, no study may be able to define a single strategy for patients with STEMI and multivessel CAD. As these patients are heterogeneous, the strategy must be individualized. Undoubtedly, the focus should be on treating the culprit lesion. The decision should ideally be made by a heart team taking anatomical complexity, ventricular function, and patient profile into account in order to reach the best strategy. A complete risk stratification with clinical and angiographic data is crucial for evaluating the patients properly.24

The present study has some limitations that should be considered, especially those related to its observational nature. The chance of selection bias cannot be excluded, even though no statistically significant differences were identified regarding the study variables related to the baseline characteristics of patients treated with CR or IR. Also, no change was found in the effect of the strategy on the occurrence of primary outcome due to the factors considered in multivariable analysis, as the intervention strategy was at the operator’s discretion. Moreover, this study included a small number of patients from two centers in southern Brazil and may not be representative of settings in other regions and non-public services.

Conclusions

In the present study, we used real-world data from clinical practice at two centers in southern Brazil and found that, in patients with multivessel CAD within the context of STEMI undergoing primary PCI, the CR strategy is associated with a significant reduction in primary and secondary outcomes in a 1-year follow-up when compared to the IR strategy. These data should prompt discussion about current clinical and institutional protocols.

Study Association

This article is part of the thesis of master submitted by Julia Cremona Cadore, from Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Sources of Funding

There was no external funding source for this study.

ERRATUM

August 2020 Issue, vol. 115 (2), pages 229-237

In the Original Article “Complete Revascularization Versus Treatment of the Culprit Artery Only in ST Elevation Myocardial Infarction: A Multicenter Registry”, with DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20180346, published in the periodical Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 115(2):229-237, on page 229, correct author name Alexandre Tognon to: Alexandre Pereira Tognon and the author Rogério Tumelero to: Rogério Tadeu Tumelero. Remove the institution: Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS - Brazil and change to: Associação Hospitalar Beneficente São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS - Brazil from the affiliations of the authors Alexandre Pereira Tognon and Rogério Tadeu Tumelero.


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