Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
editorial
. 2020 Sep 18;115(3):536–537. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20200658
View full-text in English

Começa a Temporada de Frio nos Trópicos. A Crioablação da Fibrilação Atrial no Brasil

Nilson Araújo de Oliveira Junior 1
PMCID: PMC9363095  PMID: 33027377

O isolamento das veias pulmonares é a pedra angular da ablação para fibrilação atrial. O início dos episódios de fibrilação pelo disparo rápido de taquicardias atriais que se originam dessas estruturas está bem documentado. A eliminação desses gatilhos pelo isolamento elétrico do antro da veia pulmonar está associada a um melhor controle da arritmia e menos eventos adversos, tanto nas formas paroxística e persistente de fibrilação atrial. Entretanto, este não é o único mecanismo envolvido, especialmente nas formas mais avançadas. Um número enorme de diferentes técnicas de ablação foi descrito para abordar esses outros mecanismos. Apesar dos resultados promissores iniciais, nenhuma outra abordagem mostrou eficácia em grandes estudos randomizados multicêntricos até agora.1

A obtenção de um isolamento duradouro das veias pulmonares não é uma tarefa simples. Os cateteres de ablação padrão foram projetados para eliminar uma pequena área circunscrita do tecido cardíaco, o que é desejável para circuitos de arritmia como o Wolff-Parkinson White, mas quando se deseja abordar grandes áreas de tecido em estruturas tridimensionalmente complexas, como é o antro das veias pulmonares, esta tarefa se torna um desafio. O desenvolvimento da navegação não-fluoroscópica, pontas irrigadas e a medida em tempo real da força de contato, entre outras melhoras notáveis dos cateteres, foram cruciais para a adoção da ablação da fibrilação atrial como procedimento de rotina na eletrofisiologia clínica. Entretanto, a ablação com esses cateteres ainda é realizada por formação de lesões pontuais contíguas..

A crioablação é uma técnica antiga para tratamento de tumores, entre outras doenças.2 As sondas cirúrgicas evoluíram para criocateteres para tratamento invasivo de arritmias cardíacas há muitos anos. Embora a radiofrequência tenha se tornado o método padrão para ablação cardíaca, a crioablação apresenta algumas vantagens, como a possibilidade de utilizar grandes áreas para a criação de lesões teciduais. Balões que congelam todo o tecido cardíaco do antro da veia pulmonar foram desenvolvidos e o isolamento da veia pulmonar com um única ação tornou-se realidade. A desvantagem desses dispositivos é a incapacidade de tratar lesões fora desta região específica.

Foram realizadas comparações entre radiofrequência e crioablação para tratamento de fibrilação atrial em ensaios randomizados multicêntricos e essas técnicas parecem iguais em termos de taxa de sucesso e segurança.3 Esses ensaios são realizados geralmente em centros com bastante experiência, com um alto número de procedimentos complexos de ablação. Extrapolar os resultados de qualquer ensaio para centros com baixo volume de procedimentos é preocupante. É sabido que as taxas de sucesso e complicação da ablação por fibrilação atrial têm uma correlação inversa com o número de procedimentos realizados por ano em um centro de ablação. A crioablação parece necessitar de um número menor de procedimentos para obter bons resultados e segurança quando comparada à radiofrequência.4

O Brasil é um país grande, com muitas diferenças regionais. A maioria da população depende do sistema público de saúde (SUS) para ter acesso a tratamentos médicos. A análise cuidadosa de novas modalidades de tratamento justifica-se para comprovar seus reais benefícios na realidade do sistema de saúde brasileiro. Uma publicação recente demonstrou reduções marcantes de custo para o sistema de saúde em pacientes submetidos à ablação de fibrilação atrial no Brasil,5 o que parece reforçar a importância da ablação no manejo de pacientes com fibrilação atrial em nosso país. Outro estudo demonstra de maneira muito elegante o custo-benefício da crioablação em comparação com a ablação por radiofrequência no sistema público de saúde brasileiro.6

Neste artigo, Boghossian et al.7 descreveram resultados iniciais notáveis com crioablação em um centro brasileiro, com baixo índice de complicações quando comparado a um registro nacional.8 Os tempos de fluoroscopia foram comparáveis aos de outras publicações, mas apresentam uma clara desvantagem quando tempos de fluoroscopia extremamente baixos ou mesmo nulos são obtidos hoje em dia com o mapeamento eletroanatômico. Embora não mencionadas pelos autores, as belas imagens geradas pelo ecocardiograma transesofágico do balão criogênico anexado ao antro pulmonar neste trabalho sugerem a possibilidade de uma redução adicional da exposição à fluoroscopia à medida que a experiência com o método se desenvolva. A ocorrência de paralisia do nervo frênico, uma temida complicação da crioablação, também foi comparável à da literatura e a maioria dos casos foi autolimitada. Outro achado interessante são os bons resultados obtidos nos estágios mais avançados da doença, sugerindo que uma abordagem mais conservadora possa ser considerada no tratamento inicial desses pacientes.

No futuro, os dispositivos de ablação de ação única desempenharão um papel crescente no tratamento de pacientes com fibrilação atrial. Esperamos que esses avanços tecnológicos levem à possibilidade de tratar cada vez mais pacientes com melhores resultados, segurança e custo-efetividade.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Experiência de um Centro Brasileiro com Crioablação para Isolamento Elétrico das Veias Pulmonares na Fibrilação Atrial Paroxística e Persistente – Resultados Preliminares no Brasil

Referências

  • 1.1. Lorga Filho A, Lorga AM, Lopes ANG, Paola ÂAV de, Costa ÁB da, Péres AK, et al. Diretriz de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol.2003;81(supl 6):2-24.
  • 2.2. Gage AA. History of cryosurgery. Semin Surg Oncol. 1998;14(2):99–109. [DOI] [PubMed]
  • 3.3. Chen Y-H, Lu Z-Y, Xiang Y-, Hou J-W, Wang Q, Lin H, et al. Cryoablation vs. radiofrequency ablation for treatment of paroxysmal atrial fibrillation: a systematic review and meta-analysis. Europace. 2017;19(5):784–94. [DOI] [PubMed]
  • 4.4. Velagić V, de Asmundis C, Mugnai G, Hünük B, Hacioğlu E, Ströker E, et al. Learning curve using the second-generation cryoballoon ablation. J Cardiovasc Med (Hagerstown). 2017;18(7):518–27. [DOI] [PubMed]
  • 5.5. Saad EB, Tayar DO, Ribeiro RA, Junqueira Jr. SM, Andrade P, d’Avila A, et al. Healthcare Utilization and Costs Reduction after Radiofrequency Ablation For Atrial Fibrillation in the Brazilian Private Healthcare System. Arq Bras Cardiol. 2019;113(2):252–7. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 6.6. Paço P, Tura B, Santos M, Amparo P, De Lorenzo A. Budget Impact of Cryoablation Versus Radiofrequency Ablation of Atrial Fibrillation in the Brazilian Public Healthcare System. Value Health Reg Issues. 2019;20:149–53. [DOI] [PubMed]
  • 7.7. Boghossian SHC, Barbosa EC, Boghossian E, Rangel L, Benchimol-Barbosa PR, Alcantara ML, et al. Experience in a Brazilian Center with Cryoablation for Electric Isolation of the Pulmonary Veins in Paroxysmal and Persistent Atrial Fibrillation – Preliminary Results in Brazil. Arq Bras Cardiol. 2020; 115(3):528-535. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 8.8. Fenelon G, Scanavacca M, Atié J, Zimerman L, Magalhães LP de, Lorga Filho A, et al. Atrial fibrillation ablation in Brazil: results of the registry of the Brazilian Society of Cardiac Arrhythmias. Arq Bras Cardiol. 2007;89(5):285–9. [DOI] [PubMed]
Arq Bras Cardiol. 2020 Sep 18;115(3):536–537. [Article in English]

The Cold Season Begins in the Tropics. Cryoablation for Atrial Fibrillation in Brazil

Nilson Araújo de Oliveira Junior 1

Pulmonary vein isolation is the cornerstone for atrial fibrillation ablation. The onset of fibrillation episodes by rapid firing of atrial tachycardias originating from these structures is well documented. The elimination of these triggers by electrical isolation of the pulmonary vein antrum is associated with better arrhythmia control and fewer adverse events, in both the paroxysmal and persistent forms of atrial fibrillation. However, this is not the only mechanism involved, especially in more advanced forms of this arrhythmia. An enormous amount of different ablation techniques has been described to address these other mechanisms. Despite the initial promising results, no other approach has shown effectiveness in large multicenter randomized trials until now.1

Obtaining durable pulmonary vein isolation is not a simple task. The standard ablation catheters were designed to ablate a small circumscribed area of cardiac tissue, which is desirable for arrhythmia circuits like Wolff-Parkinson White, but it is a challenge when it is necessary to ablate large areas of complex tridimensional structures, such as the pulmonary vein antrum. The development of non-fluoroscopic navigation, irrigated tips and contact force real-time measurement, among other catheter remarkable improvements, were crucial for the adoption of atrial fibrillation ablation as a routine procedure in clinical electrophysiology. However, ablation with these catheters are still performed by point-by-point lesion deployment.

Cryoablation is an old technique for the treatment of tumors, among other diseases.2 Surgical cryoprobes evolved to cryocatheters for the invasive treatment of cardiac arrhythmias many years ago. Although radiofrequency ended up becoming the standard method for cardiac ablation, cryoablation has some advantages, such as the possibility of using large surface areas for the ablation probe. Balloons that freeze the entire pulmonary vein antrum cardiac tissue were developed and the “single-shot” pulmonary vein isolation became a reality. The disadvantage of these devices is the inability to treat lesions outside the pulmonary vein antrum.

Comparison of radiofrequency and cryoablation for atrial fibrillation treatment in multicenter randomized trials were performed and these techniques seem equal in terms of success and safety.3 These trials are typically performed in well-experienced centers, with a high number of complex ablation procedures. Extrapolating the outcomes of any complex ablation trial to low-volume centers is a matter of concern. It is well known that the success and complication rates of atrial fibrillation ablation have an inverse correlation to the number of procedures performed by year in an ablation center. Cryoablation seems to require a lower number of procedures to perform them with good results and safety when compared to radiofrequency.4

Brazil is a large country, with many regional differences. The majority of the population depends on the universal public health system (SUS, Sistema Único de Saúde) to have access to medical treatments. A careful analysis of new treatment modalities is justified to demonstrate their real benefits within the reality of the Brazilian health system. A recent publication, demonstrated marked cost reductions for the healthcare system in patients submitted to atrial fibrillation ablation in Brazil,5 which seems to reinforce the importance of ablation for the management of patients with atrial fibrillation in our country. Another study very elegantly demonstrated the cost benefits of cryoablation when compared to radiofrequency ablation in the Brazilian public health system.6

In this paper, Boghossian et al.7 described remarkable initial results with cryoablation in a Brazilian center, with a low complication index when compared to a national registry.8 The fluoroscopy times were comparable to other publications but are a clear disadvantage when extremely low or even zero fluoroscopy times are obtained nowadays with electroanatomical mapping. Although not mentioned by the authors, the beautiful images generated by transesophageal echocardiography of the cryoballoon attached to the pulmonary antrum in this paper suggest the possibility of further reduction in fluoroscopy exposure as the experience with the method develops. The occurrence of phrenic nerve palsy, a feared complication of cryoablation, was also comparable to that in the literature and most of cases were self-limited. Another interesting finding is the good results obtained at more advanced stages of the disease, suggesting that a more conservative approach may be considered for the initial treatment of these patients.

In the future, “single-shot” ablation devices will play an increasing role in the management of atrial fibrillation patients. We expect that these technological advances will lead to the possibility of treating an increasing number of patients with better results, safety and cost-effectiveness.

Footnotes

Short Editorial relatec to the article: Experience in a Brazilian Center with Crioablation for Electric Isolation of the Pulmonary Veins in Paroxysmal and Persistent Atrial Fibrillation – Preliminary Results in Brazil


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES