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. 2023 Mar 23;120(4):e20230203. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20230203
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Posicionamento Brasileiro sobre Síndrome da Quilomicronemia Familiar – 2023

Maria Cristina de Oliveira Izar 1, Raul Dias dos Santos Filho 2, Marcelo Heitor Vieira Assad 3, Antonio Carlos Palandri Chagas 4, Alceu de Oliveira Toledo Júnior 5, Ana Cláudia Cavalcante Nogueira 6, Ana Cristina Carneiro Fernandes Souto 7, Ana Maria Lottenberg 8,9, Ana Paula Marte Chacra 7, Carlos Eduardo dos Santos Ferreira 9, Charles Marques Lourenço 10, Cynthia Melissa Valerio 11, Dennys Esper Cintra 12, Francisco Antonio Helfenstein Fonseca 1, Gustavo Aguiar Campana 13, Henrique Tria Bianco 1, Josivan Gomes de Lima 14, Maria Helane Costa Gurgel Castelo 15, Marileia Scartezini 16, Miguel Antonio Moretti 7, Natasha Slhessarenko Fraife Barreto 15,17, Rayana Elias Maia 18, Renan Magalhães Montenegro Junior 19, Renato Jorge Alves 20, Roberta Marcondes Machado Figueiredo 9,21, Rodrigo Ambrosio Fock 1, Tânia Leme da Rocha Martinez 22, Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez 7
PMCID: PMC10348387  PMID: 37075362

Posicionamento Brasileiro sobre Síndrome da Quilomicronemia Familiar – 2023
O relatório abaixo lista as declarações de interesse conforme relatadas à SBC pelos especialistas durante o período de desenvolvimento deste posicionamento, 2022.
Especialista Tipo de relacionamento com a indústria
Alceu de Oliveira Toledo Júnior
  • Nada a ser declarado

Ana Cláudia Cavalcante Nogueira
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Servier: Vastarel/Angina.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - PTC: Waylivra/SQF.

  • Participação societária de qualquer natureza e qualquer valor economicamente apreciável de empresas na área de saúde, de ensino ou em empresas concorrentes ou fornecedoras da SBC:

  • - Área de ensino e pesquisa clínica.

Ana Cristina Carneiro Fernandes Souto
  • Nada a ser declarado

Ana Maria Pitta Lottenberg
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - PTC Therapeutics: Apoio Financeiro para palestras.

Ana Paula Marte Chacra
  • Nada a ser declarado

Antonio Carlos Palandri Chagas
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Possui qualquer outro interesse (financeiro ou a qualquer outro título) que deva ser declarado tendo em vista o cargo ocupado na SBC, ainda que não expressamente elencado anteriormente:

  • - Membro do Comitê Científico Instituto Vita Nova.

Carlos Eduardo dos Santos Ferreira
  • Nada a ser declarado

Charles Marques Lourenço
  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Sanofi: Biomarin/Acondroplasia; PTC: NiemannPick B/Deficiência de AADC.

Cynthia Melissa Valerio
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Saxenda, Rybelsus, Ozempic; PTC: Waylivra; Amryt: Myalept.

  • B - Financiamento de pesquisas sob sua responsabilidade direta/pessoal (direcionado ao departamento ou instituição) provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras.

  • - Amryt: Metreleptina.

Dennys Esper Cintra
  • Nada a ser declarado

Francisco Antonio Helfenstein Fonseca
  • Nada a ser declarado

Gustavo Aguiar Campana
  • Nada a ser declarado

Henrique Tria Bianco
  • Nada a ser declarado

Josivan Gomes de Lima
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

Marcelo Heitor Vieira Assad
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Rybelsus.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Rybelsus.

Maria Cristina de Oliveira Izar
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Amgen: Repatha; Amryt Pharma: Lojuxta; AstraZeneca: Dapagliflozina; Aché: Trezor, Trezete; Biolab: Livalo; Abbott: Lipidil; EMS: Rosuvastatina; Eurofarma: Rosuvastatina; Sanofi: Praluent, Zympass, Zympass Eze, Efluelda; Libbs: Plenance, Plenance Eze; Novo Nordisk: Ozempic, Victoza; Servier: Acertamlo, Alertalix; PTCBio: Waylivra.

  • B - Financiamento de pesquisas sob sua responsabilidade direta/pessoal (direcionado ao departamento ou instituição) provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras.

  • - PTCBio: Waylivra; Amgen: Repatha; Novartis: Inclisiran, Pelacarsen; NovoNordisk: Ziltivekimab.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk: Diabetes.

Maria Helane Costa Gurgel Castelo
  • Nada a ser declarado

Marileia Scartezini
  • Nada a ser declarado

Miguel Antonio Moretti
  • Nada a ser declarado

Natasha Slhessarenko Fraife Barreto
  • Nada a ser declarado

Raul Dias dos Santos Filho
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Amgen: Evolocumabe; Astra Zenec:Dapagliflozina; Aché:/Rosuvastatina; PTC Therapeutics:Volanesorsen; Novartis: Inclisiran; Novo Nordisk: Semaglutide; Sanofi: Rosuvastatina; Libbs: Rosuvastatina.

  • B - Financiamento de pesquisas sob sua responsabilidade direta/pessoal (direcionado ao departamento ou instituição) provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras. - Amgen: Evolocumabe; Sanofi: Alirocumabe; Novartis: Inclisiran; Esperion: Ácido Bempedóico; Novartis: Pelacarsen; Kowa: Pemafibrato.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Amgen: Colesterol; Ache: Colesterol; AstraZeneca: Diabete; Libbs: Colesterol; Novartis: Colesterol; Novo Nordisk: Diabetes; Eli-Lilly: Diabetes; Merck: Diabetes; Biolab: Colesterol.

Rayana Elias Maia
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Amgen: PTC: Volanersorsen.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Amgen: PTC: Volanersorsen.

Renan Magalhães Montenegro Junior
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Boheringer, AstraZeneca, Novo Nordisk, PTC, Nestlé, Amryt, Jansen.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk, Amryt, PTC, Boheringer, Abbott.

Renato Jorge Alves
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Boheringer, AstraZeneca, Novo Nordisk, PTC, Nestlé, Amryt, Jansen.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk, Amryt, PTC, Boheringer, Abbott.

Roberta Marcondes Machado Figueiredo
  • Declaração financeira

  • A - Pagamento de qualquer espécie e desde que economicamente apreciáveis, feitos a (i) você, (ii) ao seu cônjuge/ companheiro ou a qualquer outro membro que resida com você, (iii) a qualquer pessoa jurídica em que qualquer destes seja controlador, sócio, acionista ou participante, de forma direta ou indireta, recebimento por palestras, aulas, atuação como proctor de treinamentos, remunerações, honorários pagos por participações em conselhos consultivos, de investigadores, ou outros comitês, etc. Provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - PTC Therapeutics.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - PTC Therapeutics.

Rodrigo Ambrosio Fock
  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Biomarin.

Tânia Leme da Rocha Martinez
  • Nada a ser declarado

Sumário

1. Carta de Apresentação 5

2. Objetivos do Documento 6

3. Definição de Graus de Recomendação e Níveis de Evidência 6

4. Definição de Hipertrigliceridemia (>150mg/dL), Hipertrigliceridemia Grave (>500mg/dL) e Quilomicronemia (>1.000mg/dL) 7

4.1. Introdução 7

4.2. Definição de Hipertrigliceridemia 7

5. Definição de Quilomicronemia – Síndrome da Quilomicronemia Familiar e Síndrome da Quilomicronemia Multifatorial: Critérios Clínicos, Laboratoriais e Modo de Transmissão da Doença 7

5.1. Introdução 7

5.2. Conceitos 8

5.2.1. Síndrome da Quilomicronemia Familiar 8

5.2.2. Síndrome da Quilomicronemia Multifatorial 8

6. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Mundo e no Brasil 9

6.1. Definição de Síndrome da Quilomicronemia Familiar e Aspectos Clínicos 9

6.1.1. Primeiros Casos de Síndrome da Quilomicronemia 9

6.2. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Mundo 9

6.3. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar em Crianças 11

6.4. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Brasil 11

7. Manifestações Clínicas na Síndrome da Quilomicronemia Familiar, Diagnóstico Diferencial e Abordagem das Complicações 12

7.1. Manifestações Clínicas na Síndrome da Quilomicronemia Familiar 12

7.1.1. Hipertrigliceridemia 12

7.1.2. Dor Abdominal e Pancreatite Aguda 12

7.1.3. Manifestações Neurológicas 12

7.1.4. Hepatosplenomegalia 12

7.1.5. Xantomas Eruptivos 13

7.1.6. Lipemia Retinalis 13

7.1.7. Qualidade de Vida 13

7.1.8. Escore Diagnóstico 13

7.2. Diagnóstico Diferencial 13

7.2.1. Síndrome da Quilomicronemia Multifatorial 13

7.2.2. Lipodistrofias 14

7.3. Abordagem das Complicações da Síndrome da Quilomicronemia Familiar 14

7.3.1. Pancreatite Aguda 14

8. Diagnóstico Laboratorial da Síndrome da Quilomicronemia Familiar 15

8.1. Fase Pré-analítica (Orientações para Pacientes) 15

8.1.1. Instruções para Coleta 15

8.1.2. Interferentes Pré-analíticos para Análise dos Triglicérides 15

8.1.3. Orientações para o Laboratório (Período Pré-analítico) 15

8.2. Fase Analítica 15

8.2.1. Metodologias que Avaliam os Quilomícrons 15

8.2.1.1. Ultracentrifugação 15

8.2.1.2. Aspecto do Soro 15

8.2.1.3. Eletroforese de Lipoproteínas 16

8.2.2. Metodologias que Avaliam os Triglicérides 16

8.2.3. Interferência no Resultado dos Triglicérides 16

8.2.4. Interferência dos Triglicérides em Outros Analitos 16

8.2.4.1. LDL-C 16

8.2.4.2. Plaquetas 16

8.2.4.3. Analitos com Avaliação Colorimétrica 16

8.2.4.4. Enzimas 16

8.2.4.5. Eletrólitos 17

8.2.5. Análises Laboratoriais para Diagnóstico Diferencial 17

8.2.5.1. Atividade da LPL com Heparina 17

8.2.5.2. Dosagem de Apolipoproteína C3 Plasmática 17

8.3. Fase Pós-analítica 17

8.3.1. Recomendações para as NOTAS nos Laudos Laboratoriais 17

9. Aconselhamento Genético e as Etapas no Diagnóstico e Acompanhamento das Hipertrigliceridemias Graves 17

10. Orientação Nutricional na Quilomicronemia em Adultos, Crianças e Adolescentes 19

10.1. Classificação e Absorção dos Ácidos Graxos 19

10.2. Absorção das Gorduras 20

10.3. Tratamento Nutricional 20

10.3.1. Gorduras 20

10.3.2. Triglicérides de Cadeia Média 21

10.3.3. Carboidratos 21

10.3.4. Álcool 21

10.3.5. Lactentes e Primeira Infância 21

10.3.6. Gestantes 22

10.3.7. Recomendações Gerais 22

10.4. Exemplos de Cardápios 23

11. Aférese 27

11.1. Diagnóstico e Tratamento 27

11.2. Tratamento Não Medicamentoso 27

11.3. Tratamento Farmacológico 27

11.4. Aférese 27

11.5. Gestação e PH nos Pacientes com Síndrome da Quilomicronemia Familiar 28

12. Novas Terapêuticas para Tratamento da Síndrome da Quilomicronemia familiar 28

12.1. ApoC3 28

12.1.1 Antissentido Anti-APOC3 29

13. Aspectos Sociais, Psicológicos e Impacto Econômico da Doença 31

13.1. Aspecto Social na Síndrome da Quilomicronemia Familiar 32

13.2. Aspectos Psicológicos na Síndrome da Quilomicronemia Familiar 32

13.2.1. Os Pais das Crianças com Diagnóstico de Síndrome da Quilomicronemia Familiar 33

13.3. Para Reduzir os Impactos da Doença: Modos de Enfrentamento 33

13.3.1. Modelos Ativos e Passivos de Enfrentamento: Foco no Paciente 33

13.3.2. Modelo Social de Enfrentamento: Foco nos Pares 33

13.4. Custo-efetividade do Manejo de Riscos Psicossociais 31

14. Resumo das Recomendações 34

Referências 35

Carta de Apresentação

A síndrome da quilomicronemia familiar (SQF) é uma forma grave de dislipidemia e compreende um conjunto de múltiplos sinais e sintomas causados pela deficiência da enzima lipoproteína lipase (LPL) ou de um de seus cofatores, comprometendo o metabolismo de triglicérides. Apresenta modo de herança autossômico recessivo e acomete cerca de 1 a 2 pessoas por milhão de indivíduos, mas pode ser mais frequente quando existe consanguinidade.

Existe grande desconhecimento sobre essa condição e, por esse motivo, o seu diagnóstico ocorre tardiamente, quando complicações já se instalaram. O paciente portador de SQF pode se apresentar com dores abdominais recorrentes, episódios de pancreatite, xantomas eruptivos, lipemia retinalis , hepatoesplenomegalia, além do aspecto cremoso do soro.

Nas formas clássicas e mais graves, os achados clínicos podem ser reconhecidos logo ao nascimento, ou ainda na infância, mas estes podem se apresentar em qualquer idade, especialmente nos portadores de novas mutações. Não é infrequente que o paciente com SQF tenha consultado várias especialidades médicas antes de ter seu diagnóstico firmado.

A apresentação clínica da SQF pode, ainda, ser indistinguível da síndrome da quilomicronemia multifatorial (SQM), mais frequente e que também tem uma base genética, mas sofre influência de fatores ambientais e ligados ao estilo de vida. Além disso, o quadro clínico pode ser secundário a condições como hipotireoidismo, diabetes não controlado, doenças renais, consumo abusivo de álcool e uso de certos medicamentos, o que dificulta ainda mais seu diagnóstico.

A confirmação genética, com um painel de genes causais para a SQF, é, atualmente, realizada em poucos centros em nosso meio. No entanto, quando uma mutação em homozigose em um dos genes causais, ou duas mutações em um mesmo gene (heterozigoto composto), ou em diferentes genes causais (heterozigoto duplo), for encontrada, confirma-se a condição de SQF, embora exista um percentual em que nenhuma mutação causal esteja presente. Algoritmos validados podem auxiliar na suspeição clínica da SQF e indicar quem deve realizar o teste genético.

O tratamento da SQF requer uma abordagem multiprofissional, incluindo nutricionista, psicólogo, entre outros profissionais de saúde, visando manter o bem-estar do indivíduo e o estado nutricional. Restrição do consumo de gorduras e de carboidratos simples, suplementação de vitaminas lipossolúveis e de ácidos graxos essenciais devem ser recomendados ao longo da vida. O suporte psicológico visa ajudar o indivíduo a conviver com as restrições dietéticas impostas.

O tratamento farmacológico convencional frequentemente se associa a uma resposta inferior a 20% na redução dos triglicérides, razão pela qual a grande esperança desses pacientes reside na chegada de novos fármacos ao Brasil, com benefício comprovado em reduzir os triglicérides nessa população. Situações peculiares no manuseio da SQF são a gestação e os episódios de pancreatite recorrentes, em que a mortalidade pode ser elevada e tratamentos individualizados são requeridos.

O intuito deste documento é conscientizar profissionais de saúde dos aspectos peculiares à SQF, capacitando-os no reconhecimento e na abordagem precoces da condição, mitigando o sofrimento do paciente e as complicações pelo retardo do diagnóstico.

Membros do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e renomados especialistas de nosso país reuniram-se com o objetivo de transmitir as melhores informações científicas disponíveis sobre a SQF para melhoria da prática clínica, de forma clara e objetiva.

Sinceramente,

Prof. Dra. Maria Cristina de Oliveira Izar

Prof. Dr. Raul Dias Santos

Prof. Dr. Antonio Carlos Palandri Chagas

Dr. Marcelo Heitor Vieira Assad

Coordenadores

2. Objetivos do Documento

Este documento tem por objetivo conscientizar profissionais de saúde, especialmente cardiologistas, clínicos e endocrinologistas, de uma doença muito rara, subdiagnosticada, que causa intenso sofrimento às pessoas acometidas e que, até recentemente, não era diagnosticada, além de ser subtratada.

Escrito por especialistas na área, o Posicionamento Brasileiro sobre Síndrome da Quilomicronemia Familiar vem suprir uma lacuna no conhecimento dos dados epidemiológicos no mundo e em nosso país de manifestações clínicas, diagnóstico laboratorial e genético, e diagnóstico diferencial com outras formas de hipertrigliceridemia (HTG) graves. Além disso, o manejo nutricional, peculiar, e a abordagem de neonatos e crianças, gestantes e das complicações, como a pancreatite, são destacados neste documento. Vale ressaltar que, recentemente, tivemos em nosso país a aprovação de uma nova terapia antissentido anti-APOC3, com evidências de redução dos triglicérides e perspectivas de prevenir as complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

3. Definição de Graus de Recomendação e Níveis de Evidência

Classes (graus) de recomendação:

Classe I – Condições para as quais há evidências conclusivas, ou, na sua falta, consenso geral de que o procedimento é seguro e útil/eficaz.

Classe II – Condições para as quais há evidências conflitantes e/ou divergência de opinião sobre segurança e utilidade/eficácia do procedimento.

Classe IIa – Peso ou evidência/opinião a favor do procedimento. A maioria aprova.

Classe IIb – Segurança e utilidade/eficácia menos bem estabelecida, não havendo predomínio de opiniões a favor.

Classe III – Condições para as quais há evidências e/ou consenso de que o procedimento não é útil/eficaz e, em alguns casos, pode ser prejudicial.

Níveis de evidência:

Nível A – Dados obtidos a partir de múltiplos estudos randomizados de bom porte, concordantes e/ou de metanálise robusta de estudos clínicos randomizados

Nível B – Dados obtidos a partir de metanálise menos robusta, a partir de um único estudo randomizado ou de estudos não randomizados (observacionais).

Nível C – Dados obtidos de opiniões consensuais de especialistas.

4. Definição de Hipertrigliceridemia (>150mg/dL), hipertrigliceridemia Grave (>500mg/dL) e Quilomicronemia (>1.000mg/dL)

4.1. Introdução

Primeiramente, antes de definirmos valores e classificar a HTG em discreta, moderada ou grave, devemos levar em consideração alguns fatores relevantes.

Para avaliação do perfil lipídico, recomenda-se estado metabólico estável e dieta habitual. Entretanto, orienta-se suspender o consumo etílico com 5 dias de antecedência.

Ao interpretar o perfil lipídico, deve-se levar em consideração a possibilidade de variação biológica intraindividual e possíveis variações interlaboratoriais. Tais variações podem atingir valores de 10% para o colesterol total, HDL-c e LDL-c e de até 25% para os triglicérides.1

As mais recentes diretrizes brasileiras de dislipidemia e de diabetes adotam como norma a dispensa do jejum para determinação dos triglicérides séricos. Contudo, na presença de concentração plasmática de triglicérides >400mg/dL, deve-se realizar uma nova dosagem, em jejum de 12h, diante da possível existência de HTG primária, na qual o jejum é necessário.2 , 3 Nessa situação, com HTG >400mg/dL, deixamos de utilizar a fórmula de Friedewald, habitualmente usada para cálculo das frações do colesterol.4 Algumas publicações sugerem maior risco cardiovascular relacionado à HTG pós-prandial.5 , 6 Em 2016, as diretrizes da European Atherosclerosis Society (EAS) e da European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine retiraram a recomendação de jejum para coleta do perfil lipídico.7

A Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Aterosclerose classifica laboratorialmente as dislipidemias conforme a Tabela 1 .

Tabela 1. – Classificação laboratorial das dislipidemias, segundo a Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Aterosclerose 2 .

Hipercolesterolemia isolada Aumento do LDL-c (>160mg/dL)
Hipertrigliceridemia isolada Aumento dos triglicérides (>150mg/dL em jejum ou >175mg/dL sem jejum)
Hiperlipidemia mista Aumento do LDL-c e dos triglicérides
Diminuição do HDLc HDLc <40mg/dL em homens ou <50mg/dL em mulheres, com ou sem aumento dos triglicérides ou LDL-c

HDLc: colesterol de lipoproteína de alta densidade; LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade. Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C.

A classificação fenotípica de Fredrickson, demonstrada na Tabela 2 , baseia-se na separação eletroforética e/ou por ultracentrifugação das frações lipoproteicas. Embora tenha sido muito importante, atualmente, é pouco utilizada, exceto em serviços terciários e especializados no atendimento de dislipidemias. Como exemplo de sua relevância, citaremos pacientes com HTG, com diferentes classificações fenotípicas, de acordo com a anormalidade lipoproteica primária: SQF (tipo I), hiperlipidemia familiar combinada (tipo IIb), disbetalipoproteinemia (tipo III), HTG primária simples (tipo IV) e HTG com quilomicronemia (tipo V).8 , 9

Tabela 2. – Classificação fenotípica de Fredrickson 8 .

Classificação Lipoproteína elevada
Tipo I Quilomícrons
Tipo IIa LDL
Tipo IIb LDL e VLDL
Tipo III IDL
Tipo IV VLDL
Tipo V Quilomícrons e VLDL

IDL: lipoproteína de densidade intermediária; LDL: lipoproteína de baixa densidade; VLDL: lipoproteína de muito baixa densidade.

4.2. Definição de Hipertrigliceridemia

Do ponto de vista laboratorial, define-se HTG quando a concentração plasmática de triglicérides estiver >150mg/dL. No entanto, quando a coleta do perfil lipídico não for realizada em jejum, considera-se HTG com valores >175mg/dL.1

Desse modo, podemos classificar as HTG10 em:

  • Discretas: triglicérides plasmáticos >150mg/dL;

  • Moderadas: entre 151 e 499mg/dL;

  • Graves: entre 500 e 1.000mg/dL;

  • Muito graves: >1.000mg/dL.

As HTG resultam do acúmulo de lipoproteínas ricas em ácidos graxos e glicerol (como VLDL, IDL e remanescentes). A principal anormalidade lipoproteica nas formas graves e muito graves é a quilomicronemia, definida como a presença de quilomícrons circulantes no estado de jejum. Com concentrações de triglicérides >1.000mg/dL, já se pode detectar a presença de quilomícrons no sangue; contudo, a quilomicronemia é mais provável quando essas concentrações ultrapassarem 1.500mg/dL. A relevância clínica das formas graves e muito graves da HTG deve-se à sua associação com um risco duas vezes maior de pancreatite aguda, cuja incidência aumenta em 3% para cada 100mg/dL >1.000mg/dL de trigliceridemia.11

5. Definição de quilomicronemia – síndrome da quilomicronemia familiar e síndrome da quilomicronemia multifatorial: critérios clínicos, laboratoriais e modo de transmissão da doença.

5.1. Introdução

Quilomicronemia é caracterizada por acúmulo de quilomícrons na circulação e aumento importante da concentração plasmática de triglicérides.

Quanto maior a concentração de triglicérides plasmático, maior o risco de ocorrer pancreatite. Entretanto, casos de valores >1.000mg/dL ou quadro de HTG muito grave são mais propensos a desenvolver pancreatite aguda. Essas alterações laboratoriais devem ser associadas a alterações clínicas que estariam presentes desde a infância ou adolescência, para suspeitar-se do diagnóstico de SQF. Entre essas alterações, estariam: lipemia retinalis , xantomas eruptivos, hepatoesplenomegalia e, principalmente, pancreatites agudas, que ajudariam a confirmar o diagnóstico de SQF.12

A relevância clínica das formas graves e muito graves da HTG deve-se à sua associação com um risco duas vezes maior de pancreatite aguda. Além de ser uma emergência médica potencialmente fatal, a pancreatite aguda também pode levar a várias complicações clínicas, tais como pancreatite crônica, insuficiência pancreática e diabetes mellitus .11 , 13

Os quilomícrons são formados pela incorporação dos lípides provenientes da dieta com as apolipoproteínas (A1, A2, A4, B48, C2, C3 e E) e secretados na linfa mesentérica.14 A LPL é uma enzima que se localiza na superfície endotelial dos capilares do tecido adiposo e de músculos, que, ao ser ativada, inicia o processo de hidrólise dos triglicérides dos quilomícrons, gerando os remanescentes de quilomícrons. A atividade da LPL é modulada pela ação da APOC2 e da APOA5, que atuam como cofatores na sua ativação; pelo fator de maturação da lipase 1 (LMF1; do inglês, lipase maturation factor 1 ), necessário para a produção de LPL em adipócitos e miócitos; e pela GPIHBP1 ( glycosylphosphatidylinositol anchored high-density lipoprotein binding protein 1 ), que transporta LPL do espaço intersticial para o lúmen capilar. Qualquer alteração na função e/ou ativação da LPL resulta em aumento da meia-vida dos quilomícrons na corrente sanguínea e, consequentemente, quilomicronemia.14

Existem duas formas distintas de quilomicronemia: a SQF e a SQM. Estas são, respectivamente, os protótipos das condições monogênicas e poligênicas subjacentes à HTG grave de origem genética. Estima-se que a quilomicronemia possa ser encontrada em 1:600 adultos, mas os pacientes com SQF representam apenas 5% desses indivíduos.15

A diferenciação entre as duas doenças pode ser feita pelas características clínicas e/ou laboratoriais de seus portadores. Pacientes com SQF costumam se apresentar geralmente com pancreatite, e os com SQM são mais propensos a terem doença cardiovascular aterosclerótica. O diagnóstico precoce e correto das duas entidades é fundamental para o sucesso terapêutico e a prevenção de mortalidade.

Devido à sua considerável sobreposição fenotípica, as duas formas são difíceis de distinguir, e ainda existem várias perguntas sem resposta relacionadas à prevalência, às características clínicas e genéticas e ao manuseio clínico.

5.2. Conceitos

5.2.1. Síndrome da Quilomicronemia Familiar

A SQF é uma doença metabólica grave e muito rara, caracterizada por quilomicronemia associada a episódios recorrentes de dor abdominal e/ou pancreatite.

A estimativa mundial é que a SQF ocorra em 1 para cada 500.000 a 1.000.000 pessoas.15 , 16 Frequentemente, manifesta-se na infância ou adolescência e tem sido descrita em todas as etnias, com maior prevalência em algumas áreas geográficas, como Quebec, devido ao efeito fundador.17

Também chamada de hiperlipoproteinemia tipo I de Fredrickson,15 a SQF é um distúrbio lipídico monogênico, autossômico recessivo, cujo diagnóstico é baseado na detecção de mutações raras, bialélicas (homozigoto ou heterozigoto composto) na LPL (>80% dos casos) e em outros genes que codificam as proteínas necessárias para sua atividade, tais como APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 e LMF1 , levando a uma redução drástica da depuração dos quilomícrons.15 , 18 Normalmente, esses pacientes têm pouca resposta a medicamentos para reduzir os triglicérides plasmáticos, de modo que seu tratamento representa um desafio clínico. A pedra angular da terapia da SQF é representada por uma redução drástica da ingestão de gordura (8 a 10% do total de calorias), terapêutica esta difícil de ser mantida ao longo do tempo. A adesão a restrições alimentares dessa magnitude ao longo da vida do paciente é difícil, afeta negativamente a qualidade de vida e não elimina completamente o risco de pancreatite em todos os pacientes. A pancreatite aguda recorrente ocorre em 50% dos pacientes com SQF; a taxa geral de mortalidade associada é de 5 a 6%, mas aumenta para 30% em subgrupos de pacientes que evoluem com necrose pancreática ou falência persistente de múltiplos órgãos.15 , 19

5.2.2. Síndrome da Quilomicronemia Multifatorial

A SQM, também chamada de hiperlipoproteinemia tipo V de Fredrickson, é um distúrbio lipídico oligogênico ou poligênico agravado pela presença de comorbidades conhecidas por aumentar a trigliceridemia (diabetes não controlado, hipotireoidismo, gravidez, obesidade), fatores ambientais (consumo abusivo de álcool e dieta rica em gorduras e açúcares simples) e certos medicamentos, como glicocorticoides, etinilestradiol e neurolépticos.20 A ocorrência de SQM tende a crescer de forma linear com o aumento da prevalência de obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2 na população mundial. Nos portadores dessa síndrome, a quilomicronemia é flutuante e, na grande maioria, se manifesta tardiamente.15 Respondem bem a modificações no estilo de vida e ao tratamento de fatores secundários, com boa resposta às farmacoterapias redutoras de triglicérides. Caracteriza-se por um risco aumentado de pancreatite aguda, mas o odds ratio estimado em 50 é claramente menor que o odds ratio de 360 relatado em pacientes com SQF.16 , 21

É possível diferenciar essas duas formas de quilomicronemia com base na eletroforese de lipoproteínas ou na ultracentrifugação (presença de lipoproteína de densidade muito baixa [VLDL] e quilomícrons na SQM; apenas quilomícrons na SQF). O procedimento padrão-ouro atual para identificar pacientes com SQF continua sendo o teste genético ou a atividade da LPL pós-heparina.22 Como o tratamento dessas duas formas de quilomicronemia é muito diferente, é importante fazer um diagnóstico apropriado. Novas terapias, como inibidores da APOC3, estão em desenvolvimento para diminuir os triglicérides em indivíduos com SQF.23

6. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Mundo e no Brasil

6.1. Definição de Síndrome da Quilomicronemia Familiar e Aspectos Clínicos

A SQF é uma doença herdada, muito rara, acometendo cerca de 1-2:1.000.000 de indivíduos, com modo de transmissão autossômico recessivo, caracterizada por concentrações muito elevadas de triglicérides (em geral, muito acima de 1.000mg/dL), acompanhada de soro lipêmico com aspecto cremoso, lipemia retinalis , dores abdominais recorrentes, xantomas eruptivos, episódios de pancreatites de repetição, distúrbios cognitivos e neurológicos e comprometimento da qualidade de vida e da sociabilidade.24

As manifestações clínicas, no entanto, aparecem em frequência variável nos portadores de SQF. Os xantomas eruptivos foram descritos em 17 a 23%; a lipemia retinalis , em 4 a 36%; hepatoesplenomegalia ou esplenomegalia isolada, em 12% a 25%; dor abdominal, em 26 a 63%; pancreatite, em 60% a 88%; com múltiplas pancreatites, em 17 a 48% dos pacientes com SQF.23 , 25 , 26 O aspecto do soro é importante para diferenciar situações que causam o aumento do glicerol livre no sangue, levando a uma superestimação dos níveis de triglicérides, sem a turvação do soro, observado após permanecer por 12h em geladeira e excluindo-se causas de aumento de hiperglicerolemia (exercício físico recente, ingestão alcóolica, doença hepática aguda, diabetes descompensado, nutrição parenteral ou medicação intravenosa contendo glicerol).27 , 28

Na SQF, a HTG grave resulta da incapacidade da metabolização dos triglicérides e outras gorduras. As gorduras são absorvidas pelo intestino delgado, no qual os quilomícrons são formados. Quando a LPL tem sua atividade normal, ela participa da hidrólise dos triglicérides de quilomícrons em ácidos graxos livres, por meio da via dependente da LPL.20 Na SQF, os quilomícrons, os quilomícrons remanescentes e as lipoproteínas ricas em triglicérides não podem ser metabolizados e se acumulam no plasma. Dessa forma, o acúmulo de triglicérides pode prejudicar o fluxo sanguíneo pancreático e ativar processos inflamatórios, resultando em pancreatite aguda.19 , 29 - 30

O papel da LPL e de seus cofatores é crucial para se entender o metabolismo das lipoproteínas ricas em triglicérides.24 A síntese de LPL ocorre no intracelular de adipócitos e células musculares lisas. Ela é produzida como um monômero, e o fator de maturação da lipase (LMF-1) é necessário para que ocorra a correta homodimerização da LPL. Após esse passo, a GPIHBP1, uma glicoproteína envolvida no transporte da LPL no lúmen dos capilares, facilita a ancoragem da LPL aos capilares endoteliais, em que hidrolisa os triglicérides dos quilomícrons e de VLDL (do inglês, very-low-density lipopprotein ). As apolipoproteínas C2 e A5 participam como cofatores na ativação da LPL. A hidrólise dos triglicérides dessas lipoproteínas libera ácidos graxos livres e monoglicerídeos, que são transportados aos miócitos ou adipócitos, em que são utilizados para produção de energia ou para estocar lípides.24

Mutações em 5 genes diferentes têm sido implicadas no desenvolvimento de SQF, todas com efeito sobre a atividade da LPL, responsável pela remoção dos triglicérides dos quilomícrons e de outras lipoproteínas ricas em triglicérides na circulação, quebrando-os em ácidos graxos livres. Pacientes com SQF têm perda de função do gene LPL levando a níveis de quilomícrons extremamente elevados na circulação e, portanto, HTG grave. Outros genes também foram descritos como cofatores na ativação da LPL, a saber: APOC2 , APOA5 , LMF1 e GPIHBP1 .15

6.1.1. Primeiros Casos de Síndrome da Quilomicronemia Familiar

A primeira descrição da SQF foi feita por Gaskins et al .,28 em 1953, quando acompanhou três casos em uma família de oito pessoas, com diagnóstico de hiperlipoproteinemia familiar idiopática. Os pacientes apresentavam soro leitoso, com triglicérides muito elevados, e a dieta restrita em gorduras, seguida da administração de heparina endovenosa, reduzia muito os triglicérides, sugerindo que o defeito fosse relacionado à remoção de triglicérides da circulação.28

Em 1960, essa família foi estudada e suspeitou-se que a LPL, enzima ancorada ao endotélio vascular e liberada da parede pela heparina, seria a responsável pelo defeito lipídico.31 Ao estudar três irmãos afetados pela condição, os autores também sugeriram que outro defeito, além da LPL, poderia causar a então chamada síndrome da hiperlipoproteinemia familiar idiopática.

6.2. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Mundo

Por ser uma doença muito rara, os relatos de especialistas contribuem grandemente nas estimativas de prevalência. Hegele et al .32 reportaram que, de uma série de amostras biológicas de 381 pacientes com triglicérides >1.000mg/dL, quatro pacientes (ou 1%) apresentavam duas mutações com largo efeito por perda de função em ambos os alelos do gene da LPL , caracterizando a clássica deficiência da LPL autossômica recessiva. Quando foram considerados pacientes com mutações em ambos os alelos dos quatro genes ditos menores (do inglês, minor ), que modulam a atividade da LPL – a saber, apolipoproteína C2 ( APOC2 ), apolipoproteína A5 ( APOA5 ), fator de maturação da lipase 1 ( LMF1 ), e no gene glycoprotein-inositol high-density lipoprotein–binding protein 1 ( GPIHBP1 ) –, foram encontrados outros quatro pacientes, ou seja, mais 1%.33 , 34

Pacientes com duas mutações no gene LPL ou em seus genes reguladores, os heterozigotos compostos, possuem duas mutações diferentes com perda de função, e aqueles com duas mutações em heterozigose em dois genes causais distintos, ou seja, heterozigotos duplos, somaram mais 1%.33 , 34

Assim, estimou-se que cerca de 3% dos pacientes com HTG grave (triglicérides ≥1.000mg/dL) dessa amostra tinham mutações em ambos os alelos dos genes que codificam a LPL ou uma das proteínas moduladoras de sua atividade. Esses pacientes podem ser homozigotos, heterozigotos compostos ou heterozigotos duplos. Essas condições foram descritas entre os franco-canadenses da província de Quebec, onde a porcentagem de pacientes com dois alelos mutantes é maior devido a efeito fundador. Tal prevalência pode parecer pequena se comparada à imensa maioria de pacientes com HTG grave. Contudo, na ausência de teste genético, não se pode separar a SQF (tipo I) da SQM (ou tipo V) em pacientes com triglicérides ≥1.000mg/dL. Na verdade, a maioria dos pacientes com HTG grave (97%) apresenta uma base genética, ainda não muito bem esclarecida, que inclui heterozigose para uma mutação com perda de função no gene LPL ou seus cofatores e outras variantes de menor impacto, ou, ainda, possuem forte componente de fatores ambientais. Há, assim, uma base poligênica com muitas variantes possíveis em diferentes combinações que estão super-representadas entre esses pacientes com HTG graves, que perfazem a forma multifatorial (SQM).32 - 37

Os dados de Surendran et al .33 mostram que dos cinco genes causais, 34% das mutações encontradas foram no gene LPL .33 Comparando-se os dados clínicos e laboratoriais de pacientes com SQF de várias etiologias genéticas, as SQF decorrentes de defeito no gene LPL são fenotipicamente muito semelhantes aos defeitos não relacionados ao gene LPL . No entanto, pacientes com defeito no gene LPL apresentam menor atividade da lipase pós-heparina e tendem a ter triglicérides mais elevados. Já as concentrações de LDL-C são, em geral, maiores entre os portadores de defeitos em genes que não a LPL .38

Utilizando-se dos dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 2001 a 2006, estimou-se a prevalência de HTG grave entre 5.680 adultos com mais de 20 anos, que dispunham de resultados de triglicérides obtidos em jejum. Nesses, a prevalência de triglicérides entre 500 e 2.000mg/dL foi de 1,7% (87 indivíduos), e >2.000mg/dL, encontrou-se apenas em três indivíduos.20 Esses dados extrapolados para a população norte-americana dariam uma estimativa de 3.357.214 de adultos com HTG grave com triglicérides entre 500 e 2.000mg/dL e 81.877 ≥2.000mg/dL.39

Um estudo retrospectivo transversal avaliou pacientes da Oregon Health & Science University de julho de 2012 a julho de 2017.40 Foram revisados os dados eletrônicos dos pacientes atendidos naquele período baseando-se em quatro critérios: triglicérides ≥880mg/dL, história de pancreatite aguda, ausência de causas secundárias de HTG e resposta insuficiente (<20%) à terapia redutora de triglicérides. Quando três desses quatro critérios eram preenchidos, considerava-se provável SQF. Na presença de quatro critérios, ou se houvesse confirmação da presença de mutação em genes causais, considerava-se diagnóstico definitivo de SQF. Dos 2.342.136 dados eletrônicos avaliados, 578 pacientes tinham triglicérides ≥880mg/dL (0,025%), dos quais 86 tinham história documentada de pancreatite. Cinco pacientes que preencheram os critérios de SQF foram identificados e três obtiveram confirmação genética, resultando em uma prevalência estimada de 1-2 por 1.000.000 de pessoas. Já a SQM foi identificada em 186 pacientes, correspondendo a uma prevalência estimada de 1 em 12.000 pessoas. Houve 5.181 casos de pancreatite (0,22% de toda a coorte), 86 destes ocorreram em indivíduos com triglicérides ≥880mg/dL (1,7% dos casos de pancreatite). As taxas de pancreatite nesta subamostra se elevaram para 6,5%, 100%, e 17,8% entre pacientes com SQM, SQF e HTG de causas secundárias, respectivamente.40

Em outro estudo retrospectivo, com dados de 70.201 pacientes atendidos na Cleveland Clinic Lipid Center de janeiro a dezembro de 2006, usando o valor de corte de triglicérides ≥750mg/dL e a presença de pancreatite prévia como critérios, foram encontrados 369 indivíduos que perfaziam essas condições. Desses, 333 correspondiam a causas secundárias, ou os dados eram inconsistentes ou faltantes e foram excluídos. Dos 36 participantes restantes, 14 tinham critérios de SQF.41 Segundo os autores, nessa coorte de SQF, a prevalência encontrada foi de pelo menos 1:5.000, com base em critérios diagnósticos estabelecidos.22 , 42 Esses dados representam uma prevalência >20-200 vezes os dados de prevalência de relatos anteriores. Um rastreamento de pacientes com triglicérides ≥1.000mg/dL e história de pancreatite a partir dos dados eletrônicos da North Texas Division of the Baylor Scott & White Health System , no período de setembro de 2015 a setembro de 2016, evidenciou que de 297.891 pacientes adultos com valores disponíveis de triglicérides, 334 (0,11%) tinham valores de triglicérides ≥1.000mg/dL, e 30 (9%) desses tiveram pancreatite. Desses, seis casos foram excluídos devido a causas secundárias. Dos 24 casos restantes, os maiores valores médios de triglicérides encontrados foram de 3.085 +/- 1.211mg/dL. Assim, o rastreio eletrônico dos triglicérides ≥1.000mg/dL e a história de pancreatite permitiram afastar 99,99% das HTG graves, restando 24 casos em que a SQF não pôde ser excluída, sugerindo uma prevalência de 1 em 12.413 pessoas. Uma importante limitação aos dados desses dois estudos foi a indisponibilidade de confirmação genética.43

Outro estudo em Quebec avaliou a aparência do plasma e classificou os pacientes de acordo com os valores de triglicérides, a provável etiologia e as características bioquímicas. Um total de 354 pessoas com plasma lactescente foi comparado a 482 pacientes com plasma claro, mas com triglicérides >5mmol/L (cerca de 440mg/dL) e com 364 controles normolipidêmicos (triglicérides <2mmol/L, ou <176mg/dL). Os autores observaram que o plasma lactescente representava um grupo heterogêneo de pacientes de alto risco e, entre aqueles, foram encontrados 28 pacientes com SQF, 62 com disbetalipoproteinemia (por defeitos no gene APOE , E2E2), 182 com HTG tipo IV e 82 pacientes com HTG tipo V. Do ponto de vista clínico, quanto maiores as concentrações de triglicérides e quanto mais leitoso o plasma, houve maior risco de pancreatites. O exame visual do plasma e o fenótipo clínico foram úteis para estabelecer o risco cardiometabólico dos pacientes, sendo o reconhecimento do plasma lactescente uma ferramenta diagnóstica simples que pode auxiliar na identificação daqueles de maior risco.44

Já os dados de Dron et al.36 sugeriram que apenas 1 a 2% dos pacientes com HTG ≥1.000mg/dL tinham SQF, sendo a maioria dos demais SQM. Analisando variantes raras e comuns em duas coortes independentes de 251 e 312 pacientes caucasianos com HTG grave e, sequenciando-se por NGS ( next generation sequencing ) 73 genes e 185 polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) associados com hiperlipidemia, além dos cinco genes causais para SQF ( LPL , APOC2 , GPIHBP1 , APOA5 , e LMF1 ), encontrou-se que 1,1% tinha variantes bialélicas raras, 14,4% tinham variantes raras em heterozigose e 32% dispunham de um acúmulo de variantes comuns, ou seja, um escore poligênico elevado, e 52% permaneceram não identificados. Os pacientes com HTG grave eram 5,77 vezes mais propensos a carrear uma dessas variantes de suscetibilidade do que os controles.36

Um relato de SQF em uma família com três membros afetados que apresentavam HTG grave e episódios de pancreatite teve seu painel genético analisado.45 O caso índice era de uma mulher com múltiplos episódios de pancreatite, um deles durante a gestação e que necessitou de plasmaférese. Foi também avaliada a prevalência de HTG grave a partir de dados populacionais obtidos de um laboratório de referência onde foram afastadas causas secundárias (207.926 participantes, com idade de 58 anos, 52% mulheres) e diabetes. A mulher de 28 anos tinha HTG e pancreatites recorrentes, com início aos 3 meses de idade. Obtinha controle razoável dos triglicérides com dieta pobre em gorduras até os 20 anos, quando passou a apresentar episódios recorrentes de pancreatites, e triglicérides em jejum >2.000mg/dL, necessitando de múltiplas hospitalizações, a despeito do tratamento. Além da dieta restrita, recebeu fenofibrato, triglicérides de cadeia média, ácido nicotínico e ácidos graxos ômega-3, sem resposta satisfatória. Durante a gestação, aos 30 anos, necessitou de plasmaférese semanal ou a cada 2 semanas, até o parto. Seus pais e uma irmã tinham HTG e história de pancreatite. A paciente era heterozigótica composta para mutações no gene LPL (deleção c.708delA [p.G237fs*15] e variante missense c.644G.A [p.G215E]), que comprometem a função da LPL. O pai apresentava a variante com deleção c.708delA (p.G237fs*15), a mãe e a irmã, a variante c.644G.A (p.G215E). A análise de 207.926 indivíduos da população encontrou 25 com triglicérides em jejum >2.000mg/dL, sem evidências de causas secundárias, estimando-se uma prevalência de 120/1 milhão de indivíduos.45

Em outro estudo, a prevalência de SQF foi avaliada em uma área basicamente rural na região central do estado de Nova York com uma população estimada em 870.000 habitantes. Analisando-se os dados de prontuários eletrônicos de 385.000 pacientes, foram encontrados 998 com triglicérides >750mg/dL, sendo que 994 foram eliminados por causas secundárias de HTG, resposta satisfatória ao tratamento ou por dados incompletos. Restaram 4 pacientes com critérios de SQF. Assim, a chance de encontrar 4 casos em 870.000 seria de 0,01, o que sugere que a prevalência de 1/1.000.000 seja subestimação. Atribuiu-se a alta prevalência a um provável efeito fundador.46

A prevalência de SQF foi também avaliada de maneira retrospectiva a partir de dados de prontuários eletrônicos de 7.699.288 pacientes da Universidade da Califórnia do Sul, com triglicérides >880mg/dL, pelo menos um episódio de pancreatite, resposta à terapia hipolipemiante <20% e afastadas causas secundárias. Essa análise mostrou uma prevalência de SQF de 0,26 a 0,65 por milhão de indivíduos.47

Finalmente, a prevalência de SQF foi determinada em um centro de atenção quaternária.48 Foram revistos dados de 1.627.763 pacientes atendidos no Hospital Johns Hopkins de 2013 a 2017. O critério para SQF incluiu pacientes com a) triglicérides >750mg/dL em pelo menos uma dosagem, b) história de pancreatite aguda, dores abdominais recorrentes não explicadas e/ou história familiar de HTG e c) ausência de causas secundárias de HTG. Foram encontrados 21 casos de SQF e 89 de causas secundárias de HTG. A prevalência de SQF nesse estudo foi de 13:1.000.000 (IC95% 8-20).48

6.3. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar em Crianças

Em crianças, não existem dados acerca da prevalência de HTG grave e de SQF. Análise retrospectiva de prontuários eletrônicos de um hospital pediátrico terciário ( Children’s Medical Center , Dallas ) e dos dados do NHANES de 2000-2015 foram pesquisados. De 30.623 crianças do Children’s Medical Center , 36 (1 em 1.000) tinham triglicérides com elevação extrema (≥2.000mg/dL), e um terço dessas desenvolveu pancreatite aguda. A maioria desses casos correspondia a causas secundárias de HTG, sendo a prevalência estimada de SQF em crianças de 1:6.000 em um centro de atenção terciária e de 1:300.000 em crianças da população geral. Dos dados do NHANES 2.000-2015, nenhuma das 2.362 crianças preencheu os critérios de HTG extrema, enquanto, nos adultos do NHANES, a prevalência estimada era de 0,02%.49

6.4. Epidemiologia da Síndrome da Quilomicronemia Familiar no Brasil

Em nosso país, os relatos de casos de SQF são muito escassos. São descritos casos de SQF em várias regiões do país, com maior concentração de casos em regiões onde existe efeito fundador, especialmente na região Nordeste, porém não foram encontradas publicações sobre o tema. Foram identificadas apresentações em congressos, com publicações em anais dos eventos.

O primeiro relato de caso foi de uma criança do sexo masculino, com 3 anos de idade, que apresentou soro lipêmico e concentrações de triglicérides plasmáticos de 25.000mg/dL aos 3 meses de idade com aleitamento materno exclusivo. Aos 3 anos, apresentava hepatoesplenomegalia e, após dieta restrita em gorduras e leite desnatado, os triglicérides foram para 990mg/dL. Apresentava atividade da LPL nula e foi detectada a mutação G188E no éxon 5 da lipoproteína lipase em homozigose na criança, e em heterozigose nos pais.50

Outro relato consiste em dois casos de crianças, uma com 21 dias e a outra com 4 meses e 15 dias de vida. Em ambos os casos, a HTG foi achado casual realizado a partir do aspecto descrito como xantocrômico do sangue durante coleta de exames. Os níveis de triglicérides ao diagnóstico eram de 18.019mg/dL e 5.333mg/dL, respectivamente. Após intervenção dietética hospitalar e ambulatorial, os menores níveis alcançados de triglicérides foram de 602mg/dL e 615mg/dL. Um dos pacientes evoluiu com episódios recorrentes de pancreatite aguda, relacionados a níveis elevados de triglicérides.51

Outro caso descrito é de uma criança de 15 meses com quilotórax e perfil lipídico sugestivo de SQF, com triglicérides >1.000mg/dL, sem episódios de pancreatite, em paciente oriundo de região no Rio Grande do Norte.52 Outro caso identificado foi o de uma mulher de 45 anos com HTG grave e diabetes e xantomas eruptivos exuberantes.53

Dois outros casos de irmãos com SQF com confirmação genética de mutação no gene LPL foram identificados, oriundos de região do interior da Paraíba.54 Outro relato de caso é de uma criança de 45 dias de vida com queixa de vômitos e irritabilidade, triglicérides de 6541mg/dL e com análise molecular alterada em 3 variantes: Chr8:19.811.733 G>A, promovendo a substituição do aminoácido glicina no códon 215 por glutamato (p.Gly215Glu); Chr8:19.813.385 G>A, promovendo a substituição do aminoácido arginina no códon 270 por histidina (p.Arg270His); e Chr8:19.811.823 T>C, promovendo a substituição do aminoácido isoleucina no códon 245 por treonina (p.Ile245Thr). A conduta dietética foi leite desnatado, triglicérides de cadeia média (TCM) e vitaminas A, D, E e K. Após a alta, foi mudada a dieta, recebendo fórmula láctea que levou a aumento dos triglicérides (11760mg/dL). Foi instituído jejum e restituída a conduta dietética anterior, o que permitiu controle razoável da trigliceridemia, crescimento e ganho ponderal adequados.55

Lima et al.56 publicaram recentemente 12 casos de SQF em pacientes com mutação em homozigose em região intrônica do gene GPIHBP1 , todos com HTG grave (2351mg/dL [885-20600mg/dL]), HDL-c baixo (18mg/dL [5-41mg/dL]) e 33% com episódios de pancreatite aguda. Todos os pacientes eram oriundos de cidades do Nordeste do país, sugerindo um efeito fundador.56

A falta de critérios clínicos padronizados, a semelhança com a SQM, a escassez de testes genéticos confirmatórios, a falta de registros nacionais e internacionais e, ainda, o efeito fundador dos genes causais fazem com que os dados de prevalência da SQF sejam tão variáveis de estudo para estudo.

7. Manifestações clínicas mais frequentes na síndrome da quilomicronemia familiar

7.1. Manifestações Clínicas na Síndrome da Quilomicronemia Familiar

As manifestações clínicas das formas monogênicas de quilomicronemia, em geral, ocorrem na infância ou início da vida adulta. Entretanto, por se tratar de uma doença relativamente rara, atrasos no diagnóstico são comuns, fazendo com que o mesmo ocorra na vida adulta, quando as complicações já estão estabelecidas.2

Uma revisão de base de dados do estudo APPROACH demonstrou que a média de idade ao diagnóstico era 24 anos, com mais da metade dos 66 pacientes tendo sido diagnosticados após os 20 anos de idade. Ao diagnóstico, 75% já haviam apresentado o primeiro episódio de pancreatite.57 Outras séries descrevem uma média de avaliação por cinco médicos diferentes antes de o diagnóstico vir a ser estabelecido.58

Estes reforçam a importância do diagnóstico precoce e oportuno. As principais manifestações clínicas da SQF estão descritas a seguir.

7.1.1. Hipertrigliceridemia

Na avaliação laboratorial, os pacientes afetados têm hiperquilomicronemia, apresentando-se com grande aumento dos triglicérides – em geral, na faixa de 1.500 a 5.000mg/dL –, às custas de aumento de VLDL-colesterol ( very low-density lipoproteins ) e, principalmente, quilomícrons circulantes. Como uma pequena quantidade de colesterol também é transportada e encontra-se presente nos quilomícrons, o colesterol total pode estar elevado, em geral em uma proporção triglicérides/colesterol <5:1. Muitos pacientes têm aumento moderado da VLDL-c, mas com níveis de LDL-colesterol e apolipoproteína B <100mg/dL.21

Na Classificação de Friedrickson, apesar de o fenótipo do tipo V ser o mais comum, o tipo I parece ser mais específico para o diagnóstico de SQF em adultos. Em crianças, o fenótipo tipo 1 é mais frequentemente observado.21

Habitualmente, a HTG grave dos pacientes com SQF apresenta pouca resposta a fibratos e/ou demais medicações hipolipemiantes. Para esses casos, que constituem enorme desafio na prática clínica diária, a principal arma terapêutica é a dieta com redução drástica de ingestão de gordura (8 a 10% do total de calorias diárias). Não raramente, a severidade da dieta dificulta a adesão dos pacientes ao tratamento a longo prazo e impacta de forma significativa a sua qualidade de vida.5 , 21

7.1.2. Dor Abdominal e Pancreatite Aguda

Dor abdominal recorrente é uma manifestação presente em até 50% dos pacientes e não é necessariamente associada com os quadros de pancreatite aguda, podendo ser incapacitante.27

Em média, a partir do nível de triglicérides >1.000mg/dL, ocorre aumento da incidência de 3% no risco de pancreatite a cada elevação de 100mg/dL de triglicérides.59

Um estudo canadense comparou um grupo de 25 indivíduos com SQF e outro com 36 pacientes com SQM e demonstrou que, apesar de apresentarem mesmos níveis médios de triglicérides, o grupo com SQF apresentou 10 vezes mais risco (60 x 6%) de pancreatite.22 Provavelmente, isso decorre de um maior tempo de exposição à hiperquilomicronemia, que, no caso da SQF, tende a ocorrer nos primeiros anos de vida.

Os múltiplos episódios de pancreatite aguda e a severidade das restrições alimentares impactam de forma negativa a qualidade da vida do paciente e aumentam consideravelmente a morbimortalidade pela doença. Pancreatite recorrente ocorre em 50% dos pacientes com SQF; a taxa geral de mortalidade associada é de 5 a 6%, podendo chegar a 30% em subgrupos de pacientes que evoluem com necrose pancreática ou falência persistente de múltiplos órgãos.59

7.1.3. Manifestações Neurológicas

Fadiga, confusão mental, irritabilidade e déficits cognitivos – descritos como “ mental fog ” – estão entre os sintomas mais comumente descritos entre os pacientes acometidos com SQF.57 , 58

7.1.4. Hepatosplenomegalia

A hepatosplenomegalia é um dos achados reversíveis com o tratamento e resulta do acúmulo do excesso de quilomícrons nos macrófagos do sistema reticuloendotelial na SQF.57

7.1.5. Xantomas Eruptivos

Os xantomas correspondem a lesões cutâneas eruptivas, de coloração amarelada, geralmente com halo eritematoso e cerca de 2 a 5 mm de diâmetro. São encontrados em superfícies extensoras (cotovelos e joelhos) e nádegas. Sua prevalência é baixa (acomete de 17 a 33% dos pacientes), e nem sempre se correlacionam com a ocorrência dos episódios de pancreatite.27

7.1.6. Lipemia Retinalis

Trata-se da aparência leitosa do sangue nos vasos retinianos ao fundo de olho, e pode ser observada em até 30% dos pacientes, correlacionando-se com níveis maiores de triglicérides.57

7.1.7. Qualidade de Vida

O estudo IN-FOCUS, com 166 pacientes com SQF, mostrou o importante impacto da doença na qualidade de vida. As taxas de internação podem interferir nas condições sociais e possibilidades de emprego, e mais de 22% referiram depressão ou ansiedade relacionada à dor ou a episódios de pancreatite.58

7.1.8. Escore Diagnóstico

Algumas escalas ou escores de pontuação a partir das manifestações clínicas têm sido propostas para diagnóstico de SQF; entretanto, sua validação precisa ser feita em maiores amostras de populações com HTG grave.21 Adicionalmente, sua aplicabilidade é questionável, visto que utilizam a presença de episódios de pancreatite prévios nos seus critérios de pontuação.59 Fundamentalmente, o objetivo de utilização de escores de diagnóstico consiste em rastreamento de pacientes assintomáticos e prevenção de complicações como a pancreatite aguda. A avaliação de bases de dados com maior número de pacientes com SQF e o detalhamento de formas clínicas deverão contribuir para elaboração de critérios com melhor sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da SQF.

O escore mais utilizado é o de Moulin et al.,21 que utiliza como critério de seleção a presença de HTG grave (>1.000mg/dL em jejum e fora da fase aguda), e pontua quando há presença de valores elevados de triglicérides, afastadas causas secundárias, história de pancreatite, dor abdominal recorrente, falta de resposta ao tratamento usual para redução de triglicérides, além de idade de início dos sintomas ( Quadro 1 ). Esse escore foi testado em coortes de pacientes com confirmação genética de SQF e na SQM, tendo sido validado em outras coortes mostrando uma área sob a curva de 0,91. Tal posicionamento recomenda que seja utilizado na triagem para o teste genético.

Quadro 1. – Escore clínico para suspeição de síndrome da quilomicronemia familiar.
Critério Pontuação
TG em jejum > 1.000mg/dL em 3 dosagens não necessariamente consecutivas + 5
* TG em jejum pelo menos uma vez > 1.760mg/dL + 2
TG prévio <200mg/dL - 5
Sem fatores secundários, exceto gestação e etinilestradiol + 2
História de pancreatite + 1
Dor abdominal recorrente sem outra causa + 1
Sem história de hiperlipidemia familiar combinada + 1
Sem resposta ao tratamento hipolipemiante (redução de TG <20%) + 1
Idade de início dos sintomas:  
<40 anos + 1
< 20 anos + 2
< 10 anos + 3
Escore SQF  
  • Muito provável

≥10
  • Improvável

≤ 9
  • Muito improvável

≤ 8

TG: triglicérides; SQF: síndrome da quilomicronemia familiar. *Apenas se o critério anterior (TG em jejum > 1.000mg/dL em 3 dosagens não necessariamente consecutivas) for sim. Adaptado de Moulin et al. Atherosclerosis 2018;275:265-272. 21

7.2. Diagnóstico Diferencial

7.2.1. Síndrome da Quilomicronemia Multifatorial

Em adultos, o principal diagnóstico diferencial da SQF é com a SQM. Anteriormente denominada hiperlipoproteinemia tipo V de Fredrickson ou HTG severa poligênica, a HTG multifatorial é um distúrbio poligênico, que inclui variantes heterozigotas raras nos cinco genes SQF ou variantes comumente associadas a hipetrigliceridemia, agravado pela presença de comorbidades ou causas secundárias de aumento dos triglicérides como diabetes não controlado, hipotireoidismo, obesidade e síndrome metabólica.22 Fatores dietéticos, como uso abusivo de álcool, dieta rica em gorduras, açúcares simples e outros carboidratos de elevado índice glicêmico são causas comuns de exacerbação da hipetrigliceridemia. Entre as causas ambientais, destaca-se, ainda, a utilização de certos medicamentos (glicocorticoides, estrógenos orais, diuréticos tiazídicos, betabloqueadores não cardiosseletivos, antipsicóticos de segunda geração, inibidores de protease, ciclofosfamida, sequestrantes de ácidos biliares, amiodarona, ácido retinoico, isotretinoína, sirolimo, L-asparaginase e imunossupressores, como interferon e ciclosporina) e condições fisiológicas como gestação, principalmente no terceiro trimestre.22 , 60 Em geral, a prevalência de SQM tende a crescer de forma linear com o aumento da prevalência das causas secundárias mais comuns (obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2). Entre os portadores da SQM, a quilomicronemia é flutuante e se manifesta em fases mais tardias da vida quando comparada à SQF. Adicionalmente, a SQM tende a apresentar melhor resposta terapêutica às modificações no estilo de vida e ao tratamento dos fatores secundários, bem como às farmacoterapias redutoras de triglicérides. A SQM caracteriza-se por um risco aumentado de pancreatite, porém menor que aquele relatado em pacientes com SQF.22 , 28 , 60

7.2.2. Lipodistrofias

Outro relevante diagnóstico diferencial da SQF são as lipodistrofias, um grupo heterogêneo de enfermidades caracterizadas pela perda seletiva de tecido adiposo e que podem cursar com HTG grave e pancreatite. As lipodistrofias podem ser herdadas ou adquiridas e, quanto à extensão do acometimento, generalizadas ou parciais, sendo as formas parciais associadas à infecção pelo HIV as mais comuns. As lipodistrofias herdadas são distúrbios raros, que podem se manifestar no nascimento ou apresentar perda de gordura em fases mais tardias da vida. Tais condições ainda são um desafio diagnóstico, principalmente as formas parciais, que devem ter sua suspeita diagnóstica considerada na presença de HTG moderada a grave associada à medida de prega cutânea da coxa <22mm em mulheres, ou menor que 10 mm em homens, e/ou casos de diabetes com necessidade de uso de insulina subcutânea em doses diárias >2UI/kg.61 , 62

7.3. Abordagem das Complicações da Síndrome da Quilomicronemia Familiar

7.3.1. Pancreatite Aguda

Pancreatite aguda é um evento relativamente frequente, com diferentes causas, incluindo a HTG. Identificar a causa específica é fundamental para estabelecer o tratamento e prevenir futuros episódios. Nas diversas séries, colelitíase é a principal causa, seguida por consumo de álcool e HTG (menos de 10%).63 Apesar de ser uma causa menos frequente, valores elevados de trigliceridemia em pacientes com pancreatite se associam com maior mortalidade e pior prognóstico.64 , 65 Na gestação, o estrógeno estimula a produção de VLDL hepático e reduz a remoção de triglicérides pela LPL no fígado e tecido adiposo, de modo que a HTG passa a ser a causa mais frequente de pancreatite aguda.66

Os episódios de pancreatite em decorrência de HTG geralmente acontecem com valores de trigliceridemia >1.000mg/dL.67 Esse risco, bem como a severidade, aumenta mais ainda naqueles pacientes com valores >2.000mg/dL.68 , 69 Isso independe de a causa básica da HTG ser primária (genética) ou secundária. Contudo, as causas genéticas geralmente cursam com valores mais elevados de trigliceridemia e, consequentemente, apresentam risco mais elevado de pancreatite.

Na classificação de Fredrickson, os tipos I (quilomícron), IV (VLDL) e V (quilomícron e VLDL) apresentam HTG, sendo que a SQF (tipo I) apresenta valores mais elevados e podem evoluir com pancreatites independentemente de fatores desencadeantes (diabetes descompensado, obesidade, uso de corticoide, estrógenos ou outras drogas que causam HTG).

O mecanismo causador da pancreatite não é totalmente conhecido, mas os triglicérides, por si só, não parecem atuar diretamente no pâncreas. O acúmulo de ácidos graxo livre nas células pancreáticas acontece na presença de lipase pancreática e desencadeia a lesão celular e a inflamação pancreática.70 Outro potencial mecanismo é decorrente do acúmulo de GAD (descarboxilase do ácido glutâmico). Na falta de ação da LPL e consequente acúmulo de quilomícrons, há também aumento de GAD que desencadeia inflamação mediada por TNF-alfa e IL6. Também, o próprio quilomícron pode obstruir a circulação pancreática distal e causar isquemia.

Independentemente da etiologia, a apresentação clínica da pancreatite é semelhante. Não raramente, pacientes com SQF apresentam episódios repetidos de pancreatite, e alguns referem na anamnese que não sabem quantos foram, mas que foram muitos. Isso desencadeia alterações psicológicas, comprometendo a qualidade de vida.58 Alguns pacientes até evitam ir para festas e reuniões, porque temem comer e desencadear a pancreatite. Crianças precisam de vigilância constante dos pais, pois, uma vez que não entendem adequadamente a doença, querem comer como os colegas que não apresentam a doença. Após apresentarem um primeiro episódio de pancreatite (muitas vezes na adolescência, após a menarca), a dor do quadro agudo e a necessidade do internamento hospitalar são fatores que motivam seguir mais rigorosamente a dieta restritiva exigida para o controle da HTG severa.

Xantomas eruptivos não são frequentes, mesmo com a HTG severa. No entanto, quando presentes em um paciente com pancreatite aguda, sugerem a HTG como causa etiológica. Superfícies extensoras de braços e pernas são os locais mais frequentes. Infiltração gordurosa de fígado e baço, levando à hepatoesplenomegalia, também pode acontecer, mas é mais inespecífica.

O diagnóstico da pancreatite aguda deve se iniciar com uma suspeita clínica (dor abdominal aguda e persistente, que se irradia para o dorso), sendo confirmada por exames laboratoriais (amilase ou lipase três vezes ou mais o limite superior de normalidade) e de imagem (ultrassonografia, tomografia ou ressonância). Pelo menos dois desses três achados devem estar presentes para confirmação diagnóstica, e isso independe da etiologia da pancreatite. Não raramente, pacientes podem apresentar dor abdominal isolada, sem alterações laboratoriais ou de imagem. Na ausência de um quadro clínico sugestivo, dosagens de lipase e amilase podem mais confundir que ajudar. Valores de triglicérides <1.000mg/dL durante o episódio clínico sugestivo de pancreatite deixam a HTG como causa improvável da pancreatite.67

Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento deverá objetivar reduzir/eliminar a dor, bem como manter hidratação adequada e, mesmo com dieta oral suspensa, permitir nutrição adequada ao quadro agudo. A redução da trigliceridemia é fundamental para reverter o processo inflamatório e, sendo ela às custas de quilomícron, responderá mais facilmente à restrição da dieta oral. Nos casos mais severos (temperatura corporal >38,5 ou <35,0; frequência cardíaca >90bpm; frequência respiratória >20/min ou pCO2<32mmHg; leucócitos >12.000 ou <4000/mL), com necessidade de uma redução mais rápida da trigliceridemia, plasmaférese pode ser utilizada. Se uma dieta adequada não for instituída ou fator desencadeante não forem controlados, a remissão do quadro é mais difícil. Insulina estimula LPL e também pode ser utilizada em alguns casos (insulina regular 0,1 a 0,3U/kg/h). Da mesma forma, heparina também atua estimulando a LPL, mas seu uso deve ser avaliado, pois pode não trazer benefícios ao médio prazo (aumenta risco de sangramento e de liberação de componentes tóxicos dos triglicérides).63

Uma vez que o paciente saia do quadro agudo da pancreatite, deve-se avaliar e tratar o fator que desencadeou o processo inflamatório. Manter peso adequado, praticar exercícios regularmente e evitar medicações ou outros fatores desencadeantes de HTG ajudam a prevenir novos eventos de pancreatite.

Diferentemente de outras causas de HTG que respondem bem aos fibratos, a SQF, caracteristicamente, não apresenta redução significativa da trigliceridemia com essas medicações, não sendo utilizada com finalidade de prevenir pancreatites nesses pacientes. A apo C3 é um fator inibitório da LPL, e sua inibição com o volanesorsen (um oligonucleotídeo antissentido da apo C3), com uma aplicação por semana, reduziu significativamente (77%) a trigliceridemia e, consequentemente, a chance de pancreatite.23 Do ponto de vista fisiopatológico e considerando os benefícios demonstrados nos estudos clínicos, pacientes com SQF se beneficiam do uso de volanesorsen. Entretanto, aqueles pacientes com pancreatites frequentes (geralmente um ou mais episódios por ano) e com dificuldade para controlar a trigliceridemia com o tratamento usual dietético teriam maior benefício.

8. Diagnóstico Laboratorial da Síndrome da Quilomicronemia Familiar

O laboratório clínico tem um papel coadjuvante no diagnóstico da SQF. O aspecto do soro leitoso é o principal indicador da presença de quilomícrons e acompanha os altos níveis de triglicérides. Algumas considerações devem ser observadas para que o diagnóstico laboratorial seja eficaz no rastreamento da SQF. As fases responsáveis pelo resultado da análise laboratorial dos exames que fazem parte da investigação da SQF são: pré-analítica, analítica e pós-analítica.

8.1. Fase Pré-analítica (Orientações para Pacientes)

8.1.1. Instruções para Coleta

O jejum deixou de ser obrigatório para o exame do perfil lipídico; no entanto, em situações como nos distúrbios no metabolismo dos triglicérides, ele se impõe para a confirmação diagnóstica da SQF. Nesses casos, o jejum deve ser de 12 horas para os adultos acima de 20 anos.2 , 71 - 73 Para crianças, o tempo varia de acordo com a faixa etária. Para lactentes, até 1 ano, o jejum é de 3 horas ou imediatamente antes da próxima mamada; em não lactentes, de 2 a 5 anos, o jejum é de 6 horas. E para crianças acima de 5 anos e adolescentes, o jejum é de 12 horas.

8.1.2. Interferentes Pré-analíticos para Análise dos Triglicérides

O preparo para a coleta da amostra para o exame dos triglicérides para o adulto (>20 anos) consta de jejum prévio de 12 horas, em que o paciente deve estar com a sua alimentação habitual mantida; o consumo de álcool deve ser evitado nas 72 horas antes, e não deve realizar exercícios físicos extenuantes nas 24 horas anteriores.74

Algumas situações causam o aumento do glicerol livre no sangue, levando a uma superestimação dos níveis de triglicérides, sem o acompanhamento de turvação do soro. Nesses casos, deve ser observado se o paciente teve um dos eventos descritos na literatura: exercício físico recente, ingestão alcóolica, doença hepática aguda, diabetes descompensado, nutrição parenteral ou medicação intravenosa contendo glicerol.74

8.1.3. Orientações para o Laboratório (Período Pré-analítico)

Na HTG, o aspecto do soro varia de turvo para leitoso. Grau I – levemente turvo; Grau 2 – turvo; Grau 3 – muito turvo; Grau 4 – leitoso. Como o aspecto do soro é subjetivo, somente após a dosagem de triglicérides e o repouso de 12 horas do soro em geladeira teremos a informação da observação visual.74

8.2. Fase Analítica

8.2.1. Metodologias que Avaliam os Quilomícrons

As metodologias que podem ser utilizadas para indicar a presença de quilomícrons (Q) no soro são mostradas a seguir.

8.2.1.1. Ultracentrifugação

É o método padrão-ouro que separa as frações de lipoproteínas de acordo com o teor de lípides e a sua densidade. Contudo, esse método apresenta limitações inerentes, entre as quais falta de disponibilidade em laboratórios clínicos, alto custo e morosidade para a realização da técnica, tornando-se inviável nos laboratórios brasileiros.

8.2.1.2. Aspecto do Soro

Para a observação de quilomícrons no soro leitoso, recomendamos o uso de tubo coletor de sangue total com sistema de separação de fases na centrifugação e obtenção do soro no sobrenadante.75 Quando não for possível, depois da centrifugação e da retirada do volume para as análises laboratoriais, fazer a transferência de 1mL de soro para um tubo de hemólise descartável transparente (cristal). O soro leitoso obtido, em qualquer situação, deverá ficar em repouso na geladeira por 12 horas para ser observada a formação de uma capa cremosa, na superfície do tubo, indicando a presença de quilomícrons que deve ser reportada no laudo do paciente.74

8.2.1.3. Eletroforese de Lipoproteínas

O teste de eletroforese de lipoproteínas, também chamado de lipidograma, pode auxiliar na confirmação de presença de quilomícrons com uma banda colorida no ponto de aplicação da amostra.74 - 76 Contudo, esse método de separar as frações lipídicas no soro deixou de ser utilizado na rotina clínica por ser semiquantitativo e porque as frações de colesterol foram adotadas como marcadores de risco para a doença cardiovascular (DCV), não sendo recomendado o uso dessa metodologia por este documento.

Das três metodologias mencionadas, a mais acessível em todos os laboratórios é o aspecto do soro, que é a recomendada por este documento.

8.2.2. Metodologias que Avaliam os Triglicérides

A metodologia para dosar os triglicérides pode ser por reação enzimática colorimétrica e ou enzimática UV. Os métodos são precisos e de baixo custo. A reação inicia com a hidrolise de triglicérides em três ácidos graxos e um glicerol.75 Portanto, para cada molécula de triglicérides, teremos uma molécula de glicerol que irá reagir e dar a concentração de triglicérides naquela amostra. Qualquer situação fisiológica que elevar o glicerol no soro irá superestimar os níveis de triglicérides. Está descrita uma doença genética rara, glycerol kinase deficiency (GKD), também chamada de pseudo-hipertrigliceridemia, que causa a hiperglicerolemia e a HTG sem observação de soro lipêmico.77

8.2.3. Interferência no Resultado dos Triglicérides

A lipemia, dependendo da sua intensidade, acarreta concentrações falsamente elevadas de triglicérides devido à associação da coloração do método e a turbidez do soro. Nesse caso, para obtenção de resultado fidedigno, será necessária uma diluição da amostra, em salina tamponada (pH 7,4) ou com o diluente da automação, que é plataforma-dependente.75

A diluição do soro pode seguir uma escala em relação aos valores de triglicérides e ao intervalo analítico do método. Por exemplo, se o intervalo analítico for de 8 a 885mg/dL, pode-se estipular as diluições sugeridas: diluir 1:4 (triglicérides 400 a 600), 1:6 (triglicérides 601 a 1.000), 1:10 (triglicérides 1.001 a 2.000), ou 1:20 (triglicérides ≥2.001).

FUNDAMENTAL: Mesmo após realizar a diluição, deve-se manter os resultados obtidos inseridos na faixa dinâmica; isso é indispensável para mantermos a linearidade e/ou reprodutibilidade do método em uso.

IMPORTANTE: A utilização de um branco da amostra, usando-se a amostra diluída, para descontar a turvação mesmo após diluição. Usar a diferença (delta) das leituras = amostra diluída – branco amostra diluída, multiplicando esse “delta” pela diluição utilizada, e somente após isso associá-la aos controles e/ou calibradores da plataforma.

EXEMPLO: Se o resultado do soro diluído 1:4 foi de 250mg/dL, multiplica-se por 4, e o resultado será de 1.000mg/dL de triglicérides. Porém, ao realizar o branco da amostra e obtiver 50mg/dL, subtrair esse valor do soro diluído 1:4 (250 – 50 = 200) e, multiplicando por 4, o resultado será de 800mg/dL de triglicérides. Portanto, é fundamental descontar a turvação no soro diluído. Quanto maior a diluição, maior poderá ser a superestimação de triglicérides, caso o branco da amostra não seja utilizado.

Assim, é indispensável analisarmos a descrição técnica da metodologia em uso para obtermos informações e indicações, tais como intervalo analítico (faixa dinâmica), relação da diluição a ser utilizada, material diluente, uso de branco da amostra ou mesmo alteração na programação em uso (automação). Essas descrições são método-plataforma e fabricante-dependentes, e devem ser seguidas de acordo com as suas informações.75

8.2.4. Interferência dos Triglicérides em Outros Analitos

8.2.4.1. LDL-C

A análise laboratorial do LDL-C é prejudicada pela elevada quantidade de triglicérides no soro lipêmico. O cálculo do LDL-C pela fórmula de Friedewald, de uso comum, além de ser limitado aos níveis de triglicérides até 400mg/dL, também pode ser subestimado, e deixa-se de tratar o paciente pela interferência de triglicérides. No entanto, a fórmula de Martin aplica fatores de correção na fórmula de Friedewald que permitem estimar com maior fidedignidade o LDL-C e pode ser aplicada com valores de triglicérides de até 13.975mg/dL. Além disso, a dosagem pela metodologia direta pode ser usada, mas irá apresentar uma limitação, a depender do grau da lipemia.2 , 71 - 73

Na SQF, ou na SQM, a HTG é severa pela presença de Q, VLDL e seus remanescentes. O paciente apresenta uma redução da hidrólise da lipoproteína VLDL que leva a uma diminuição da produção da lipoproteína LDL no plasma e elevada quantidade de partículas grandes e ricas em triglicérides (Q e VLDL), quando comparado no mesmo volume de amostra do indivíduo normal. Nesse caso, não importa a metodologia, o LDL-C calculado ou dosado pelo método direto, os valores sempre se apresentam inferiores à sensibilidade analítica do método. Recomendamos para os laboratórios liberarem os valores de LDL-C muito baixo ou negativos como sendo <10mg/dL.73 , 78

8.2.4.2. Plaquetas

A contagem das plaquetas em automações de hematologia é realizada com o efeito de impedância e, no caso da lipemia, a interferência possivelmente acarretará redução de sua contagem. Essa mesma associação ocorre com a determinação do hematócrito – nesse caso, com uma importante informação, e seus resultados são calculados a partir da associação entre determinação da hemoglobina e a contagem de eritrócitos.75

8.2.4.3. Analitos com Avaliação Colorimétrica

Os métodos com leituras colorimétricas de “ponto final” geralmente apresentam maiores restrições frente à lipemia. Isso também pode ocorrer, mesmo em menor intensidade, nos sistemas de leitura em UV. Tal interferência é diretamente proporcional à turbidez do soro, mas nem sempre proporcional à concentração dos triglicérides. Deve-se considerar que as lipoproteínas apresentam diferentes tamanhos e percentuais de triglicérides em sua constituição.75

8.2.4.4. Enzimas

As reações enzimáticas cinéticas, colorimétricas e/ou UV podem sofrer interferência da lipemia, dependendo da sua intensidade. Assim, temos fosfatase alcalina e a gama GT que se apresentam com maiores limitações, pois empregam em seus ensaios o p-nitrofenilfosfato (método colorimétrico). Contudo, o uso de métodos exclusivamente UV também pode ter restrições com a lipemia.75

8.2.4.5. Eletrólitos

Na determinação do sódio, no soro e/ou plasma, com valores elevados de triglicérides, o resultado será falsamente baixo. Nesse caso, pode-se usar um cálculo para correção do valor do sódio: triglicérides (g/dL) x 4 – 0,60 = fator percentual.75

Exemplo: Na+ 122 mmol/L e triglicérides 2.100mg/dL, teríamos: 2,10×40,60=7,8%

Na+122×7,8%=131,5mmol/L(Na+corrigido)

8.2.5. Análises Laboratoriais para Diagnóstico Diferencial

8.2.5.1. Atividade da LPL com Heparina

A atividade da LPL não é realizada em rotina laboratorial, mas pode ser útil em triagem para a realização do diagnóstico genético da SQF. Quando o laboratório permite que o ensaio de atividade de LPL seja realizado antes e 10 minutos após a injeção de heparina (heparina IV [50UI/kg]), o sangue total deve ser obtido do outro braço, em tubo heparinizado, e transportado em gelo úmido para o laboratório. O tubo da coleta deverá ser centrifugado durante 10 minutos, 3.000 rpm a 4oC, e o plasma deverá ser separado imediatamente. Armazenar o tubo com o plasma a -80oC até o dia da realização da análise, seguindo o protocolo adotado ou enviar para um laboratório de referência em dislipidemias.

A atividade de LPL é encontrada drasticamente diminuída em SQF pela alteração genética da LPL em homozigose, e frequentemente reduzida quando as alterações ocorrem em cofatores da LPL (APOC2, APOA5, GPIHBP1 e LMF1), em casos de homozigose ou em heterozigose composta. No entanto, foi demonstrado por pesquisadores que a capacidade discriminativa desse teste na identificação de portadores de variantes comuns nos genes LPL é limitada, o que justifica não ser recomendado neste documento.79

8.2.5.2. Dosagem de Apolipoproteína C3 Plasmática

Níveis plasmáticos elevados de apolipoproteína C3 (APOC3) são um importante fator de risco para HTG. Estudos recentes concluíram que APOC3 também inibe uma via independente de LPL de lipoproteína rica em triglicérides. A dosagem de APOC3 é viável nos laboratórios clínicos de grande porte ou nos laboratórios de apoio aos demais laboratórios.71

8.3. Fase Pós-analítica

8.3.1. Recomendações para as NOTAS nos Laudos Laboratoriais21,23

  • - Em adultos, valores de triglicérides >1.000mg/dL, avaliados após jejum de 12 horas, em três coletas diferentes e descartadas causas secundárias de HTG, o diagnóstico de hiperquilomicronemia deve ser considerado.

  • - Em crianças e adolescentes, valores de triglicérides >880mg/dL, independentemente do tempo de jejum, em três coletas diferentes e descartadas causas secundárias de HTG, o diagnóstico de hiperquilomicronemia deve ser considerado.

  • - Em crianças ou adultos, a presença de uma dosagem de triglicérides <170mg/dL EXCLUI a investigação de hiperquilomicronemia.

Recomendação: O adulto deve ficar em jejum de 12h, alimentação habitual, sem álcool (72 horas) e sem exercícios físicos (24 horas). Para crianças, o tempo varia de acordo com a faixa etária. Para lactentes, até 1 ano, o jejum é de 3 horas ou imediatamente antes da próxima mamada; não lactentes, de 2 a 5 anos, o jejum é de 6 horas. E para crianças acima de 5 anos e adolescentes, o jejum é de 12 horas. O excesso de glicerol livre no sangue superestima os níveis de triglicérides. O soro leitoso deve ficar na geladeira por 12 horas para verificar a presença de quilomícrons. Na dosagem dos triglicérides, observar o intervalo analítico, a relação da diluição, o material diluente e o uso de branco da amostra ou a alteração na automação. Na HTG severa, SQF ou SQM, os valores do LDL-C calculado ou dosado pelo método direto, muito baixo ou negativos, devem ser liberados como sendo <10mg/dL. A lipemia, dependendo da sua intensidade, interfere na contagem das plaquetas, nos métodos colorimétricos, nas reações enzimáticas (cinéticas, colorimétricas e/ou UV) e na determinação do sódio. A atividade da LPL com heparina não é recomendada neste documento. A dosagem de APOC3 é viável nos laboratórios clínicos. Recomendamos constar nos laudos laboratoriais que o diagnóstico de SQF, após descartadas as causas secundárias de HTG, deve ser considerado nas situações: 1) adultos em jejum de 12 horas com triglicérides >1.000mg/dL, em três coletas diferentes; 2) crianças e adolescentes, com valores de triglicérides >880mg/dL, independentemente do tempo de jejum, em três coletas diferentes; 3) em crianças e adultos, a presença de uma dosagem de triglicérides <170mg/dL EXCLUI a investigação de hiperquilomicronemia. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência C).

9. Aconselhamento Genético e as Etapas no Diagnóstico e Acompanhamento das Hipertrigliceridemias Graves

A Sociedade Americana de Genética Humana define o aconselhamento genético como um processo de comunicação que lida com problemas humanos associados com a ocorrência, o risco de ocorrência ou de recorrência de uma determinada doença genética em uma família.80

O termo aconselhamento genético surgiu pela primeira vez em 1947, utilizado por Sheldon Reed,81 como uma forma de, em um mundo pós-segunda guerra mundial, enfrentar os conceitos eugenistas que permeavam muito a sociedade científica e médica quanto às doenças genéticas e às deficiências de modo geral. A partir de então, passou a munir-se dos princípios do modelo psicossocial de abordagem ao paciente, utilizando como base a empatia e as habilidades da comunicação humana, de reconhecer o processo do luto e dos procedimentos de autodefesa. O profissional utiliza a neutralidade moral e a não diretividade – dois princípios fundamentais do Aconselhamento Genético – para orientar o paciente e a família, fornecendo respostas e informações mais completas possíveis para que o próprio consulente possa tomar suas decisões, consciente dos riscos e das alternativas.

O termo Aconselhamento, na realidade, não expõe o verdadeiro objetivo da orientação, pois a etimologia do verbo aconselhar indica “dar conselhos”, quando, na realidade, não é esse o objetivo do procedimento. O mais próximo da tradução original, genetic counseling ,82 seria consultoria genética : o objetivo é, como dito, orientar para que o paciente sinta segurança na tomada de decisões, entendendo que não existe certo ou errado, tão qual não deve existir uma sugestão de conduta. Dito isso, é importante entender que ao realizar o aconselhamento genético, o profissional deve respeitar os valores éticos e religiosos da família, seguindo sempre os três princípios que regem a ética médica: autonomia, beneficência e não maleficência.83

Vale observar que, o que muitos chamam de aconselhamento genético, é uma etapa do processo como um todo.84 , 85 O Aconselhamento Genético envolve, no total, cinco fases:

  1. Estabelecimento e/ou confirmação do diagnóstico, que envolve a realização de anamnese, exame físico, elaboração de hipótese diagnóstica, solicitação e interpretação de exames complementares, podendo levar semanas, meses ou anos até o diagnóstico;

  2. Cálculo do risco genético, uma fase mais teórica e muitas vezes fora do contato familiar, cujo objetivo é calcular o risco de ocorrência ou de recorrência de uma determinada condição de origem genética. Essa condição pode ter etiologia monogênica, cromossômica, multifatorial ou, ainda, desconhecida. Para cada situação, um risco diferente pode ser calculado, e a necessidade de conhecer a etiologia é fundamental para estabelecer o risco mais preciso possível;

  3. Comunicação, a fase no qual se orienta sobre os riscos, muitas vezes envolvendo também conversas sobre opções terapêuticas e prognósticos. A combinação entre a fase 2 e a fase 3 é aquela que comumente as pessoas se referem quando usam o termo Aconselhamento Genético;

  4. Decisões e Ação, fase que envolve auxiliar a família e o paciente frente às decisões tomadas na fase de comunicação, tanto em relação ao tratamento como possíveis decisões quanto a métodos contraceptivos;

  5. Seguimento, representando uma fase contínua no qual o paciente ou a família são acompanhados, observando as necessidades individuais e a história natural da condição genética diagnosticada.

Dito isso, vale a pena observar que algumas etapas do aconselhamento genético envolvem condutas médicas, enquanto outras podem ser realizadas por diversos profissionais da saúde, desde que devidamente treinados nas habilidades de comunicação citadas anteriormente e nos conhecimentos de genética humana e médica.84 , 85

As duas fases que mais representam o aconselhamento genético, sem dúvida, são as fases de cálculo de risco genético e a de comunicação. Apesar de parecerem simples, concluir o risco de ocorrência ou de recorrência de determinada condição genética envolve um amplo conhecimento sobre as bases da genética e da hereditariedade. Falar de um risco de recorrência compatível com uma herança autossômica dominante ou autossômica recessiva parece simples quando pensamos nas Leis da Hereditariedade de Mendel, mas basta lembrarmos de alguns fatores confundidores para as leis da hereditariedade, como os conceitos de penetrância incompleta, expressividade variável, mosaicismo ou a heterogeneidade gênica. Cada um desses fatores pode dificultar o diagnóstico clínico entre formas diferentes da doença, tornando a orientação sobre o risco um desafio.

A confirmação de uma variante patogênica que explique o fenótipo pode ser fundamental para considerar o risco correto nesses casos. Também é importante observar que diferentes modos de herança, fora ao mendelismo, podem apresentar riscos mais complexos de serem calculados. Por exemplo, no risco multifatorial, devemos levar em consideração o número de afetados na família, a proximidade com o probando, além de fatores que podem variar caso a caso, como idade de início dos sintomas, gravidade e fatores ambientais envolvidos. Em um contexto de herança multifatorial, identificar esses riscos e considerar o quanto eles influenciam no risco total pode ser totalmente impossível, e, por isso, consideramos um risco de recorrência sempre aproximado ou empírico, levando em conta o conhecimento empírico e os riscos de recorrência calculados com base em estudos populacionais.84 , 85

Assim, fica mais nítida a compreensão de que, para falarmos sobre risco de ocorrência ou de recorrência, a definição clara entre SQF20 ou de SQM36 deve ser conhecida.

A SQF é herdada de uma maneira autossômica recessiva, ou seja, é necessário que o indivíduo tenha uma variante em homozigose ou duas variantes em heterozigose composta, ambas patogênicas ou provavelmente patogênicas, para que o indivíduo apresente o fenótipo.

Essa forma de herança autossômica recessiva, por mutação bialélica em homozigose (mesma mutação nas duas cópias) ou em heterozigose composta (uma mutação em cada cópia) está presente tanto nos casos de LPL como dos demais genes envolvidos com as formas monogênicas: APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 e LMF.86

Dessa forma, sabemos que os progenitores de um indivíduo com SQF terão uma variante em uma das cópias do gene afetado cada. Assim sendo, a irmandade de uma pessoa que apresenta SQF tem 25% de risco de também herdar a síndrome. Por fim, um indivíduo com SQF irá sempre passar uma das variantes para seus filhos. Caso a(o) companheira(o) também tenha uma variante no mesmo gene em questão, o risco para os filhos é de 50% a partir dessa combinação.18

Uma vez que foi reconhecido que o fenótipo de HTG pode também ser mais causado pela presença de variantes comuns raras ou funcionais em genes que aumentam triglicérides, configurando um modo de herança poligênico, faz-se necessário diagnóstico molecular para adequado aconselhamento genético.86

As chances de que outras pessoas na família apresentem também SQF vai depender da história familiar; portanto, a realização de um heredograma deve ser sempre considerada para auxiliar no cálculo do risco. Cabe aqui citar que, embora indivíduos com variante patogênica em heterozigose possam apresentar níveis elevados de triglicérides, a dosagem individualmente não deve ser usada para considerar o estado de portador, visto que indivíduos com a variante em heterozigose podem apresentar triglicérides em níveis normais, ao passo que indivíduos que não tenham a variante podem apresentar variação nos níveis de triglicérides por fatores ambientais.86

Apenas 1% dos casos de HTG apresenta mutações bialélicas. Por outro lado, estima-se que 14% dos pacientes com HTG sejam portadores de mutações raras em heterozigose, o que é 3 a 5 vezes maior que o da população geral. O uso de calculadoras de risco poligênico pode ser útil para identificar esses indivíduos.20 , 38 , 87

A indicação de testagem genética avalia pontos (p. ex., história familiar positiva, presença de um padrão de herança reconhecido na família, fatores secundários ausentes, paciente relativamente jovem e alterações bioquímicas importantes) que auxiliam na interpretação dos exames e, por conseguinte, no aconselhamento genético acerca do risco de recorrência familiar.20 , 38 , 87

10. Orientação Nutricional na Quilomicronemia em Adultos, Crianças e Adolescentes

O tratamento da SQF baseia-se no seguimento de dieta com restrição severa de gorduras,88 com a finalidade de prevenir a síntese de quilomícrons, partículas formadas exclusivamente no enterócito e que são responsáveis pelo transporte da gordura e colesterol de origem alimentar.89 , 90 Pelo fato de os portadores de SQF apresentarem mutações associadas à enzima lipoproteína lipase ou a seus cofatores, a hidrólise dos triglicérides alimentares se encontra comprometida.21 , 91 Por esse motivo, a dieta recomendada é bastante restrita e deve fornecer, no máximo, 10% das calorias ou 15 a 20g na forma de gorduras.92

Em função da gravidade da doença, os pacientes devem ser muito bem orientados quanto à importância do seguimento rigoroso das orientações, e o nutricionista deve indicar opções alimentares que contribuam com maior aderência ao tratamento. Alguns autores apontam a SQF como condição devastadora para os pacientes e frustrante para médicos e nutricionistas, no tocante ao principal alvo da terapia – o controle da HTG severa.25 A SQF impacta de forma adversa a qualidade de vida dos pacientes pela dificuldade em seguir dieta com restrição rigorosa, o que compromete de maneira significante o convívio social.24 O desconhecimento da SQF impede a compreensão sobre a seriedade da doença por amigos e familiares. O estudo IN-FOCUS,93 conduzido em 166 portadores de SQF de 10 países, mostrou que mais de 90% dos participantes apresentaram elevada dificuldade na aderência ao seguimento da dieta. A avaliação do banco de dados de um subgrupo (n=60) de participantes do mesmo estudo58 mostrou que 22% dos participantes relataram ansiedade, medo e preocupação em relação à quantidade e qualidade dos alimentos que devem ser consumidos, especialmente em situações sociais e de trabalho. Esses sintomas foram experimentados pelo menos uma vez ao mês, ou várias vezes durante a semana.

A equipe de saúde pode utilizar entrevistas motivacionais para auxiliar os conflitos internos dos portadores de SQF e promover maior aderência ao seguimento de dieta restrita em gorduras.92 Isso auxiliará o paciente a elaborar seu plano alimentar com auxílio do nutricionista e compreender sua responsabilidade no autogerenciamento da doença.

Embora a restrição de gorduras seja o ponto mais importante no tratamento da SQF, a dieta também deve ser isenta de açúcares de adição, como sacarose e xarope de milho,92 por induzirem vias lipogênicas hepáticas. A dieta também deve ser isenta de álcool, cujo consumo se associa de forma linear à concentração plasmática de triglicérides.91 Além disso, o monitoramento da ingestão de vitaminas lipossolúveis, minerais e ácidos graxos essenciais é recomendado, e a sua suplementação pode ser necessária.94 , 95 Especificamente em relação às gorduras da dieta, é fundamental considerar o tipo e o comprimento de cadeia dos ácidos graxos, uma vez que apresentam formas distintas de absorção e influenciam a concentração plasmática de triglicérides e a produção de quilomícrons.

10.1. Classificação e Absorção dos Ácidos Graxos

Os ácidos graxos saturados (SAT) são classificados em função do tamanho da cadeia carboxílica em curta, média ou longa, características que influenciam seu processo de absorção. Os ácidos graxos de cadeia curta são acetato (C2:0), propionato (C3:0) e butirato (C4:0), e os de cadeia média classificam-se em caproico (C6:0), caprílico (C8:0) e cáprico (C10:0). Já os ácidos graxos com mais de 12 carbonos são classificados como de cadeia longa: láurico (C12:0), mirístico (C14:0), palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0).96 Os ácidos graxos de cadeia curta são provenientes da fermentação bacteriana no intestino, enquanto os de cadeia média são encontrados nos óleos de coco e de palma.96 , 97 A principal fonte do ácido láurico na dieta é a gordura de coco, e é encontrada em mínimas quantidades em outros alimentos. O ácido graxo mais abundante na dieta é o palmítico, cujas principais fontes são as carnes vermelhas e o óleo de palma. Por ser uma gordura estruturalmente estável, tornou-se muito utilizada nos alimentos industrializados.98 As principais fontes de ácido mirístico são gordura de coco, leite e derivados, enquanto o ácido esteárico tem o cacau como fonte referência.99 Todos os ácidos graxos insaturados apresentam cadeia longa e são classificados em monoinsaturados (MONO) ou poli-insaturados (POLI). Os principais ácidos graxos monoinsaturados são o palmitoleico (C16:1 ω7) e oleico (18:1, ω9), com apenas uma dupla ligação em sua estrutura.100 , 101 A principal fonte alimentar de palmitoleico é a macadâmia, enquanto o oleico é encontrado principalmente nos óleos de oliva e canola, e também em oleaginosas como amendoim, avelã, macadâmia, amêndoas e castanha-de-caju.102 Encontram-se presentes também nas gorduras da carne de boi, frango e porco, podendo representar entre 40% e 50% das gorduras totais desses alimentos.103 , 104

Os ácidos graxos poli-insaturados contêm duas ou mais duplas ligações e fazem parte das séries ômega-6 (ω6) ou ômega-3 (ω3), em função da localização da primeira dupla ligação na cadeia carbônica a partir do terminal metila. Ácidos graxos da série ω6 são representados pelo linoleico (C18:2), cujas principais fontes são óleos vegetais (girassol, milho e soja), nozes e castanhas. O ácido araquidônico (C20:4), outro representante ω6, é sintetizado endogenamente por meio de ação enzimática a partir do ácido linoleico. O ácido alfalinolênico (ALA [C18:3]), da série ω3, tem origem nos óleos vegetais, principalmente nos óleos de canola e soja, e também na linhaça e chia.105 Os ácidos graxos ω3 de origem animal são o eicosapentaenoico (EPA [C20:5]) e docosaexaenoico (DHA [C22:6]), encontrados nos óleos de peixes e crustáceos, principalmente nos habitats de águas frias e profundas.106 - 108 Os ácidos graxos linoleico e linolênico são considerados essenciais, pois não são sintetizados no organismo de humanos, razão pela qual devem ser providos pela dieta, e, em condições especiais de carência, recomenda-se sua suplementação.88

Os ácidos graxos trans também apresentam cadeia longa, categoria representada principalmente pelo ácido elaídico (18:1, n-9 t ), encontrado em gorduras vegetais, provenientes da hidrogenação parcial de óleos vegetais durante sua confecção.109 , 110 Os ácidos graxos trans são encontrados em mínimas quantidades nas carnes e leite sob a forma de ácido vacênico (18:1, n-11 t ), que é produzido por meio da bio-hidrogenação de gorduras sob ação da microbiota do rúmen de animais ruminantes.109

10.2. Absorção das Gorduras

As gorduras presentes nos alimentos são compostas por triglicérides (90 a 95%), fosfolípides, colesterol e vitaminas lipossolúveis. Embora o principal local para digestão das gorduras seja o intestino, esse processo inicia-se minimamente na boca, por meio da lipase lingual, seguindo ao estômago, no qual ocorre a liberação de 10 a 30% de ácidos graxos, com início do processo de emulsificação das gorduras.89 , 111 O processo tem continuidade no intestino, que, sob ação da lipase pancreática, induz hidrólise dos triglicérides remanescentes, liberando ácidos graxos e monoacilglicerol.112 , 113

O mecanismo de absorção dos ácidos graxos é complexo, pois conta com múltiplos sistemas absortivos.114 Os ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato) são primariamente absorvidos por transporte ativo dependente ou não de sódio, por meio de transportadores monocarboxílicos. Contudo, receptores acoplados à proteína G (GPCRs), como os GPR41 e GPR43, também podem participar do processo absortivo desses ácidos graxos. Os ácidos graxos de cadeia média (cáprico, caprílico e caproico) são absorvidos predominantemente por transporte passivo, mas o GPR84 também pode participar de sua incorporação na superfície do enterócito.115 Após absorção, são conjugados à albumina, direcionados ao fígado, via sistema porta.114 Por outro lado, os ácidos graxos de cadeia longa, saturados, insaturados ou trans , necessitam de mecanismos mais complexos envolvidos no processo de absorção, e seu transporte no plasma depende da formação de quilomícrons.96 , 97 Podem ser absorvidos por difusão passiva, quando a concentração do lúmen é superior que a intracelular, ou por meio de receptores/transportadores de membrana. Por exemplo, o transportador CD36 ( cluster of differentiation 36) possibilita captação de ácidos graxos de cadeia longa, mesmo quando suas concentrações luminais são menores que as intracelulares.116 A proteína FATP4 (proteína-4 transportadora de ácidos graxos) é amplamente distribuída no intestino, sendo um dos principais transportadores de ácidos graxos de cadeia longa.117 No interior dos enterócitos, os AGs são transportados pelas proteínas FABP1 e 2 (proteína ligadora de ácido graxo 1 e 2)116 e reesterificados, retornando ao formato de triglicérides por meio da enzima diacilglicerol aciltransferase.89 A seguir, os triglicérides são incorporados às apolipoproteínas B48 (ApoB48) por meio da proteína microssomal de transferência de triglicérides (MTP), que dá início à formação dos quilomícrons.118 Os quilomícrons são processados no complexo de Golgi e, posteriormente, secretados na linfa e direcionados à circulação sistêmica, via ducto torácico.89 , 90

Na circulação sanguínea, os triglicérides dos quilomícrons são hidrolisados pela enzima LPL, que se encontra aderida ao endotélio dos tecidos extra-hepáticos, liberando ácidos graxos livres, posteriormente ligados à albumina, que seguem para armazenamento no tecido adiposo e minimamente no tecido muscular.119 Com a hidrólise dos quilomícrons, são formados os remanescentes de quilomícrons (remQM), que são removidos da circulação por meio de sua interação com receptores hepáticos do tipo B/E e LRP (proteína relacionada ao receptor de LDL).120

10.3. Tratamento Nutricional

10.3.1. Gorduras

Como na SQF ocorre comprometimento da lipólise dos triglicérides pela presença de mutações na LPL ou de seus cofatores ( GPIHBP1 , LMF1 , APOA5 ou APOC2 ), os ácidos graxos de cadeia longa devem ser minimamente consumidos, com finalidade de prevenir a elevação da concentração plasmática de quilomícron.27 Recomenda-se, assim, o consumo de 10% do valor calórico total (VCT), na forma de gorduras da dieta.92 No entanto, dependendo da gravidade da doença, a restrição pode ser ainda mais severa, chegando à recomendação máxima de 5% na forma de gorduras.91

Além de manter limite severo com relação à quantidade total de gorduras, alimentos ricos em ácidos graxos saturados devem ser consumidos em menor quantidade. Os ácidos graxos saturados estão envolvidos em importantes vias lipogênicas hepáticas ao ativarem a proteína ligadora ao elemento responsivo ao esterol-1c (SREBP1c), que atua como fator de transcrição codificador dos genes da acetil-CoA carboxilase (ACC), ácido graxo sintase (FAS) e estearoil-CoA-dessaturase (SCD1),121 , 122 enzimas envolvidas na síntese de ácidos graxos, precursores para a síntese dos triglicérides, por meio da enzima diacilglicerol aciltransferase (DGAT).123

Importante salientar que, embora os ácidos graxos insaturados do tipo ω3 regulem a síntese de triglicérides ao bloquearem a SREBP1c, não são recomendados para o tratamento da SQF, mesmo em doses elevadas, pois os indivíduos não apresentam defeito na síntese hepática de triglicérides, mas, sim, em sua hidrólise.27

Por outro lado, por serem considerados essenciais, pode ser necessária a suplementação tanto do ácido alfalinolênico (ω3) como do ácido linoleico (ω6) para portadores de SQF, com a finalidade de evitar sua deficiência. O Global Burden of Disease Study, 124 estudo conduzido em 197 países, sugere consumo ideal de ω6 de 11% do VCT, embora o consumo médio global seja de 4,5% do VCT. Quanto ao ω3, o consumo ótimo indicado é de 0,25g/d, sendo o consumo médio global de 0,1g/d.124 Já o Recommended Dietary Allowences (RDA) preconiza o consumo diário de w3 entre 0,5g e 1,4g, dependendo da faixa etária.125

10.3.2. Triglicérides de Cadeia Média

Os triglicérides de cadeia média são constituídos por ácidos graxos saturados caproico (C6:0), caprílico (C8:0) ou cáprico (C10:0), obtidos pelo fracionamento do óleo de coco ou palma e são encontrados comercialmente, juntos ou isolados. Podem apresentar pequena quantidade de ácido láurico (no máximo, 1 a 2%).126 , 127 O uso de TCM é permitido para indivíduos portadores de SQF, uma vez que esses ácidos graxos são absorvidos quase em sua totalidade via sistema portal, sendo minimamente incorporados aos quilomícrons.128 , 129 É importante reforçar a ideia de que o ácido láurico (C12:0) é considerado de cadeia longa, e seu transporte ocorre principalmente via quilomícron. Somente ocorre via porta quando excede a sua capacidade de armazenamento nessa lipoproteína.129 , 130 Assim, é fundamental observar com atenção a composição de ácidos graxos do produto, devendo este, preferencialmente, ser isento ou conter concentrações mínimas de láurico, a fim de evitar o incremento nas concentrações de quilomícrons.

O uso de TCM para portadores de SQF é indicado com a finalidade de contribuir com aporte calórico tanto para lactentes, crianças e adultos, sendo coadjuvante ao tratamento, mas sua tolerabilidade deve ser testada, visto que diversas pessoas relatam desconforto gastrintestinal com seu uso.92

10.3.3. Carboidratos

Recomenda-se consumo de alimentos fontes de carboidratos complexos, ricos em fibras, como (arroz integral, feijão, ervilha, lentilha, grão de bico). A ingestão de frutas é recomendada em quantidades adequadas, sendo, no máximo, 3 a 4 porções ao dia, para não extrapolar o consumo de açúcar. Alguns autores preconizam o limite de 60% das calorias na forma de carboidratos totais.92 Quanto aos açucares de adição (sacarose e xarope de milho), devem ser excluídos totalmente, por induzirem aumento da síntese hepática de ácidos graxos, contribuindo à elevação da concentração plasmática de triglicérides. Os açucares são constituídos por glicose e frutose, sendo que a frutose promove intensa lipogênese hepática, não somente por servir como substrato à síntese de ácidos graxos, mas por estimular expressão de enzimas envolvidas na de novo lipogênese via ativação da proteína ligadora ao elemento responsivo a carboidratos (ChREBP) e esterol (SREBP1c).131 - 133 Além disso, o excesso de frutose diminui a betaoxidação de ácidos graxos, por induzir modificações pós-traducionais nas proteínas mitocondriais, diminuindo o número e o tamanho dessas organelas.134

Em virtude da intensa atividade lipogênica induzida pela frutose, sucos de frutas concentrados devem ser excluídos para portadores de SQF.

10.3.4. Álcool

As bebidas alcoólicas devem ser totalmente excluídas por elevarem a concentração plasmática de triglicérides. O processo de metabolização do álcool se inicia minimamente no estômago pela ação da enzima álcool desidrogenase (ADH), mas é principalmente metabolizado no fígado, por meio de três vias: citocromo P450 2E1, catalase e ADH. Durante o processo de metabolização do álcool, ocorre formação de acetaldeído, que é convertido em acetado, pela enzima aldeído desidrogenase (ALDH), com participação principal da ADH.135 O acetato pode ser convertido a ácidos graxos, precursor da síntese de triglicérides.136

10.3.5. Lactentes e Primeira Infância

A alimentação nos 2 primeiros anos de vida com quantidade e qualidade adequados de nutrientes é imprescindível para promover crescimento e desenvolvimento cognitivo adequados, além de consolidar hábitos alimentares saudáveis. No entanto, a elaboração do plano alimentar para lactentes e crianças portadoras de SQF é desafiadora para o nutricionista e para a família, a fim de garantir quantidades recomendadas de macro e micronutrientes, em função da rigorosa restrição de gorduras. A capacitação do nutricionista nessa área é de fundamental importância para harmonizar a dieta, oferecer sugestões de cardápios para a família e acompanhar de forma intensiva a implementação dos novos hábitos alimentares. A família deve estar ciente de que o consumo de gorduras além do permitido, mesmo em quantidades mínimas, pode provocar elevação indesejável da concentração plasmática de quilomícrons.

Para bebês portadores de SQF em aleitamento materno, a amamentação deve ser interrompida assim que o diagnóstico for confirmado, o que traz frustação e tristeza para o lactente e a mãe. O leite materno tem aproximadamente 3,2% de gorduras, com fração lipídica composta em aproximadamente 98% de triglicérides. A composição exata em ácidos graxos depende da alimentação materna e varia significativamente durante o período de amamentação.137 Os triglicérides do leite são formados predominantemente por ácidos graxos de cadeia longa saturados (35 a 40%), monoinsaturados (45 a 50%) e poli-insaturados (15%), com predomínio do palmítico, oleico e linoleico, respectivamente.137 , 138 Ácidos graxos insaturados com mais de 20 carbonos na cadeia, contendo duas ou mais duplas ligações, representam apenas 2% do total de ácidos graxos do leite.138 Ácidos graxos da série ω3 encontram-se em pequenas quantidades no leite materno: alfalinolênico (0,019g/100mL), EPA (0,003g/100mL) e DHA (0,008g/100mL).139 , 140

Importante estudo conduzido na Europa ( European Childhood Obesity Project) acompanhou 174 crianças desde o nascimento até completarem 1 ano, e contribuiu para melhor compreender o consumo calórico de lípides, carboidratos e proteínas nesse estágio de vida, cujos resultados podem ser extrapolados para orientação alimentar de crianças impossibilitadas de receber leite materno.139 O consumo calórico diário médio foi de 419kcal no primeiro mês, 589kcal no sexto mês e 860kcal em 12 meses. O consumo de gorduras foi de 21g/dia até os 6 primeiros meses, com aumento gradativo até 34,2g no final de 12 meses. Com relação aos ácidos graxos essenciais, até o terceiro mês com aleitamento materno praticamente exclusivo, o consumo médio diário de alfalinolênico (ω3) foi de 0,118g, e linoleico (ω6) de 2,40g. Quanto aos ácidos graxos marinhos, o consumo de EPA foi de 0,022g e de DHA foi de 0,048g.139 De acordo com a Academy of Nutrition and Dietetics , a recomendação de ácidos graxos ω3 para lactentes e crianças de 0 a 12 meses é de 0,5g e, para crianças de 1 a 3 anos, é de 0,7g/dia, enquanto para os ácidos graxos ω6, a recomendação é de 4,6g para crianças de 0 a 6 meses, e 7g/dia para a faixa de 7 a 12 anos.125

Em virtude da intensa restrição de gorduras na dieta, recomenda-se o monitoramento do consumo de vitaminas lipossolúveis (A, E, D e K),92 cuja recomendação para lactentes e crianças encontra-se disponível na tabela da Dietary Reference Intake.95

Em substituição ao leite materno, recomendam-se fórmulas lácteas especiais, que se assemelham parcialmente à composição nutricional do leite materno.92 Com relação ao teor de gorduras, as fórmulas devem ser exclusivamente preparadas com ácidos graxos de cadeia média (cáprico, caprílico e caproico), além de fornecer vitaminas lipossolúveis e quantidades permitidas de ácidos graxos essenciais. Além disso, o TCM pode ser recomendado para alcance do aporte calórico ideal, de acordo com a tolerância, uma vez que são minimamente transportados pelos quilomícrons.128 , 129

A inclusão de alimentos sólidos como hortaliças, frutas, carnes magras (peixe, frango sem pele, cortes magros de carne de vaca) grãos etc. deve seguir as recomendações das sociedades nacionais e internacionais de Pediatria, mantendo, no máximo, 10% das calorias na forma de gordura.

Recomenda-se consumo de líquidos em quantidades adequadas e suficientes para manutenção do balanço hídrico, que irá contribuir com a função pancreática. É sabido que desidratação prolongada induzida por vômitos e diarreia pode aumentar o risco para pancreatite associada à SQF.92

A orientação alimentar deve ser individualizada e agradável, respeitar hábitos culturais e ser sustentável a longo prazo. Crianças devem ser aconselhadas quanto à importância da leitura dos rótulos dos alimentos, e a família deve ser orientada quanto a preparações contendo quantidades mínimas de gordura, além de informar sobre a importância de refeições/alimentos preparados em casa.

10.3.6. Gestantes

Durante a gestação, sobretudo ao final do 2º e 3º trimestre, o aumento das concentrações plasmáticas de lípides é esperado, com concentrações de triglicérides aumentadas de 2 a 4 vezes, mas bem toleradas. Nessa fase, o aumento da resistência à insulina e a ação de hormônios placentários contribuem para maior lipólise do adiposo. Além disso, há maior produção hepática de VLDL e diminuição da atividade da lipase hepática. A atividade da LPL também se encontra diminuída, o que prejudica a hidrólise de triglicérides das lipoproteínas. Em virtude dessas alterações, as lipoproteínas ricas em triglicérides têm seu clearance reduzido, consecutivamente, permitindo elevação nas concentrações plasmáticas de triglicérides.141 , 142

O aumento de triglicérides durante a gestação implica maior risco de complicações para mãe e bebê, pois eleva o risco de pancreatite aguda, podendo induzir antecipação do parto, aborto e mortalidade. Na gestação, apesar de rara, a pancreatite aguda é normalmente causada por litíase biliar. A elevação das concentrações de colesterol e a hipomotilidade da vesícula biliar ocasionada pelo perfil hormonal característico da gestação predispõem à formação de cálculos que podem vir a obstruir o ducto pancreático. Por outro lado, mulheres portadoras de SQF apresentam elevação pronunciada das concentrações de triglicérides, que pode desencadear pancreatite aguda. Gestantes portadoras de SQF apresentam elevação de 4% no risco para pancreatite aguda, com concentrações de triglicérides >1.000mg/dL, bem como aumento de 14% quando >2.600mg/dL.94

O tratamento dietoterápico de gestantes portadoras de SQF tem como objetivo manter as concentrações plasmáticas de triglicérides inferiores a 500mg/dL ao longo da gestação. Para isso, é necessário o seguimento de dieta, com restrição de gorduras (inferior a 20g/dia), adequação do consumo de vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, de acordo com as recomendações de ingestão para o estágio de vida, incluindo monitoramento do ganho de peso. Dietas com restrição severa do consumo de gorduras devem ser constantemente monitoradas, para garantir adequação da ingestão de calorias, macro e micronutrientes, em especial os ácidos graxos essenciais143 e vitaminas lipossolúveis.92

O uso de TCM (livre de ácidos graxos de cadeia longa) pode ser indicado a fim de alcançar aporte de calorias, quando necessário. Além disso, recomenda-se salientar a importância do consumo adequado de líquidos a fim de se manter o balanço hidroeletrolítico adequado. Gestantes com SQF associada ao diabetes mellitus tipo 2 ou ao diabetes gestacional necessitam maior atenção na adequação da dieta, requerendo acompanhamento multidisciplinar, a fim de controlar as concentrações lipídicas e glicêmicas, bem como desenvolvimento fetal.92

Até o momento, tratamento dietoterápico da SQF é a única ferramenta disponível para controle das concentrações plasmáticas de triglicérides nesta condição, conforme demonstrado em recente publicação do acompanhamento de gestante que apresentava concentração plasmática de triglicérides de 8.683mg/dL e que referia episódios de pancreatites anteriores.144

O nutricionista deve auxiliar a paciente a elaborar o plano alimentar, fornecendo auxílio com receitas e estratégias que facilitem o seguimento da dieta. Preferências alimentares, hábitos culturais e estilo de vida devem ser considerados, bem como adequação nutricional e de calorias. A severa restrição de alimentos dificulta o seguimento da dieta; assim, é de extrema importância que haja acompanhamento por equipe multidisciplinar para que se mantenha o controle das concentrações de lípides e minimize o risco de complicações.92

10.3.7. Recomendações Gerais

  1. Restringir a ingestão de gordura na dieta (10% a 15% do VCT);

  2. Exclusão de açúcares de adição (sacarose e xarope de milho);

  3. Exclusão de sucos de frutas concentrados;

  4. Exclusão de bebidas alcoólicas;

  5. Consumo de carboidratos complexos em quantidades adequadas;

  6. Garantia da adequação de ácidos graxos essenciais;

  7. Monitoramento do consumo de vitaminas lipossolúveis, com suplementação quando necessário;

  8. Inclusão de TCM com a finalidade de aporte calórico, de acordo com tolerância.

10.4. Exemplos de Cardápios

Cardápio 1.500kcal Porção Lípides kcal
Café da manhã      
Leite desnatado 200mL 0 61
Pão integral 2 fatias 1,6 120
Queijo cottage 1 colher de sopa 0,8 28
Papaia ½ unidade 0 46
Aveia 1 colher de sopa 1,7 40
Lanche da manhã      
Figo 3 unidades 0 80
Almoço      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino 1 prato raso 0 10
Molho 1 colher de sopa 0 5
Arroz cozido sem óleo 3 colheres sopa 0,2 100
Feijão (50% caldo) sem óleo 1 concha 0,4 65,3
Cação em posta com molho de tomate e manjericão 200g 1,6 232
Brócolis refogados com alho e cebola 1 colher de servir 0 30
Abacaxi 1 fatia 0,1 70
Lanche da tarde      
Iogurte desnatado 200mL 0,6 88
Pão integral 1 fatia 1,9 60
Geleia sem açúcar 1 colher de sobremesa   30
Creme de ricota light 1,5 colher de sopa 2,1 44
Jantar      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino   0 10
Molho 1 colher de sopa 0 5
Omelete de clara recheado com espinafre tomate e abobrinha 2 claras 0 80
Batata assada com alho, sal grosso e alecrim 1 unidade média 0 100
Banana assada com canela 1 unidade 0 70
Ceia      
Iogurte desnatado 200mL 0,6 88
Total em gramas   11,6 1462,3
% kcal   7,1  
Cardápio 1.800kcal Porção Lípides kcal
Café da manhã      
Leite desnatado 200mL 0 61
Pão integral 2 fatias 1,6 120
Queijo minas frescal light 1 fatia 2,3 50
Banana 1 unidade 0 70
Aveia em flocos 1 colher de sopa 1,7 40
Lanche da manhã      
Caqui 1 unidade 0,2 70
Tapioca 3 colheres de sopa 0 100
Creme de ricota light 1,5 colher de sopa 2,1 44
Almoço      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino 1 prato raso 0 10
Molho   0 5
Arroz com legumes 4 colheres de sopa 0,3 128
Lentilha (50% caldo) 1 concha 0 93
Pescadinha mediterrânea 120g 1,3 91
Legumes assados com alecrim 1 colher de servir 0 80
Goiaba 1 unidade 0,5 60
Lanche da tarde      
Leite desnatado batido com papaia e maçã 200mL 0 150
Pão integral 1 fatia 1,9 60
Ricota com tomate e orégano no forno 30g 2,4 53
Jantar      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino 1 prato raso 0 10
Molho 1 colher de sopa 0 5
Macarrão com molho de tomate cozido sem óleo 150g 0,7 185
Frango grelhado com alecrim 80g 2 127
Salada de frutas 150mL 0 120
Ceia      
Iogurte desnatado 200mL 0,6 88
Total em gramas   17,6 1820
% kcal   8,7  
Cardápio gestante 1.800kcal Porção Lípides kcal
Café da manhã      
1 copo de leite desnatado 250mL 0 75
Pão integral light 2 fatias 0,5 96
Queijo minas frescal ligjt 1 fatia 2,3 50
Banana 1 unidade 0 70
Farelo de aveia 1 colher de sopa 1,1 49
Lanche da manhã      
Iogurte desnatado 200mL 0 88
Morango 10 unidades 0,3 30
Almoço      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino 1 prato raso 0 10
Molho 2 colheres de sopa 0 5
Arroz integral cozido sem óleo 4 colheres de sopa 0,6 120
Feijão (50% caldo) sem óleo 1 concha 0 50
Pescadinha ao molho de maracujá 150g 1,7 114
Legumes assados com alecrim 1 colheres de servir 1 120
Melão 2 fatias 0 60
Lanche da tarde      
Leite desnatado batido com 250mL 0 75
Frutas vermelhas 50g   28
Ricota 30g 2,4 53
Tapioca 2 colheres d sopa 0 74
Geleia sem açúcar 1 colher de sobremesa 0 30
Jantar      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino 1 prato raso 0 10
Molho 2 colheres de sopa 0 5
Macarrão com molho de tomate cozido sem óleo 150g 0,7 185
Atum no forno com ervas 150g 1,1 180
Papaia ½ unidade 0 46
Ceia      
Iogurte desnatado 200mL 0,6 88
Aveia em flocos 1 colher de sopa 1,7 40
Total em gramas   14 1.751
% kcal   7,2  
Cardápio infantil 1.400kcal Porção Lípides kcal
Café da manhã      
Mingau de aveia com banana      
1 copo de leite desnatado + vitaminas A+D+E 200mL 0 67
Banana 1 unidade 0 70
Farelo de aveia 1 colher de sopa 1,1 49
Pão integral 1 fatia 0,8 60
Creme de ricota light 15g 1 22
Lanche da manhã      
Iogurte desnatado batido com 200mL 0 99
papaia e com 1/2 unidade 0 46
Leite desnatado em pó enriquecido com vitaminas A+D+E 1 colher de sopa 0 50
Almoço      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, milho e ervilha 1 prato de sobremesa 0 28
Molho 1 colher de sopa 0 5
Arroz integral 3 colheres de sopa 0,6 75
Feijão (50% caldo) 3 colheres de sopa 0 50
Peito de frango desfiado com molho de tomate 4 colheres de sopa 2 127
Abobrinha refogada 3 colheres de sopa 0 30
Melão 1 fatia 0 28
Lanche da tarde      
Tapioca com 30 0 108
Queijo minas frescal light 30 2,3 50
Tomate e orégano 0 0 0
Suco de maracujá sem açúcar 0 0 0
Jantar      
Salada de folhas verdes, tomate, palmito, pepino   0 0
Molho   0 5
Arroz com legumes 2 colheres de sopa 0,15 75
Lentilha 3 colheres de sopa   45
Peito de peru com alecrim 70 2,5 130
Tâmara 2 unidades 0 70
Ceia      
Leite desnatado morno (enriquecido com vitaminas A+D+E) com cravo e canela 200mL 0 67
Cacau em pó 1 colher de sopa 1,4 26
Total em gramas   11,85 1382
% kcal   7,7  

Alimentos com baixo teor de gordura (< 5g por porção)

  EM 100g Por porção
qtd de gordura gordura ω6 g ω3 g retinol (ug) g alimento g de gordura
PEIXES            
filé de abadejo cru 0,4 tr nd tr 120 0,5
cação em posta cru 0,67 tr nd 6 120 0,8
atum cru 0,9 0,01 0,01 20 120 1,1
pescadinha crua 1,1 0,01 0,01 tr 120 1,3
pintado cru, sem pele 1,3 0,02 0,02 tr 120 1,6
corvina crua 1,6 0,01 0,02 65 120 1,9
merluza crua 2 0,03 0,05 tr 120 2,4
filé de linguado 3 nd nd nd 120 3,6
filé de pescada cru 4 0,03 0,04 48 120 4,8
  EM 100g Por porção
CARNES gordura ω6 g ω3 g retinol (ug) g alimento g de gordura
maminha grelhada 2,4 0,19 0,04 nd 80 1,9
peito de frango sem pele grelhado 2,5 0,31 0,01 tr 80 2,0
lagarto cru 5,2 0,06 0,01 3 80 4,2
patinho sem gordura grelhado 7,3 0,17 0,03 tr 80 5,8
lagarto cozido 9,1 0,12 0,02 2 80 7,3
paleta sem gordura cozida 7,4 0,16 0,01 tr 80 5,9
coxa de frango sem pele cozida 5,8 1,1 0,05 tr 80 4,6
músculo sem gordura cozido 6,7 0,09 0,03 2 80 5,4
  EM 100g Por porção
LÁCTEOS gordura ω6 g ω3 g retinol (ug) g alimento g de gordura
Iogurte desnatado 0,3 tr nd nd 200 0,6
leite desnatado 0 nd nd tr 200 0,0
queijo cottage light 0 nd nd nd 30 0,0
queijo cottage 2,6 nd nd nd 30 0,8
creme de ricota light 7,1 nd nd nd 30 2,1
ricota 8,1 0,14 0,02 53 30 2,4
requeijão light 13 nd nd nd 20 2,6
queijo minas frescal light 7,7 nd nd nd 30 2,3
creme de queijo minas light 14,7 nd nd nd 15 2,2
queijo muçarela light 17 nd nd nd 30 5,1
queijo muçarela 25,2 0,31 0,08 109 30 7,6
queijo minas frescal 20,2 0,28 0,06 161 30 6,1
  EM 100g Por porção
OVOS gordura ω6 g ω3 g retinol(ug) g alimento g de gordura
clara de ovo cozida 0,1 0 0 0 3,2 0,0
ovo inteiro de galinha 9,5 0,94 0,02 32 50 4,8
  EM 100g Por porção
PÃES E MASSAS gordura ω6 g ω3 g retinol(ug) g alimento g de gordura
tapioca 0 0 0 0 45 0,0
espaguete cozido 0,9 nd nd nd 100 0,9
macarrão trigo cru 1,3 nd nd nd 50 0,7
pão integral com fibras 3,31 nd nd nd 25 0,8
pão integral light 1 nd nd nd 50 0,5
  EM 100g Por porção
CEREAIS gordura ω6 g ω3 g retinol(ug) g alimento g de gordura
quinoa flocos           0,0
arroz cozido sem óleo 0,41 0,31 0,01 nd 60 0,2
arroz integral cozido sem óleo 0,2 0,06 nd nd 60 0,1
milho de pipoca 4 nd nd nd 16 0,6
aveia em farelo 7 nd nd nd 20 1,4
aveia em flocos crua 8,5 2,95 0,06 nd 20 1,7
linhaça 32,3 5,42 19,81 nd 10 3,2
chia 34,4 17,36 62,02 nd 10 3,4
  EM 100g Por porção
LEGUMINOSAS gordura ω6 g ω3 g retinol(ug) g alimento g de gordura
grão-de-bico cozido 2,6 2,71 0,13 nd 65 1,7
lentilha cozida 0,5 0,21 0,04 nd 50 0,3
feijão cozido com caldo 0,5 0,16 0,14 nd 86 0,4
cacau em pó sem açúcar 13,5 nd nd nd 10 1,4
frutas proibidas gordura por porção          
pequi 18       60 10,8
abacate 8,4       100 8,4
coco 4       30 12,6
açaí 3,9       250 9,8

nd: não disponível; tr: traços; lípides (g) por porção. Inline graphic

11. Aférese

Valores de triglicérides >1.000mg/dL aumentam o risco de pancreatite nos pacientes com SQF. Classe IIA, Nível C.

Nos pacientes com SQF, a pancreatite aguda (PA) á a complicação mais frequente, com prevalência de 60 a 88%.145 Valores de triglicérides plasmáticos >1.000mg/dL aumentam, em muito, o risco, ou podem ser indicativos da presença de pancreatite hipertriglicridêmica (PH).

A mortalidade da PA nesses pacientes é em torno de 6%, podendo chegar até 30%, conforme a presença de complicações.146 , 147 Estudos de coorte têm demonstrado evolução mais grave desses pacientes, com prevalência maior de complicações (choque, insuficiência renal, respiratória, sepse), quando comparados a outras etiologias de PA.148 , 149

11.1. Diagnóstico e Tratamento

Os procedimentos diagnósticos e terapêuticos iniciais da PH devem seguir as mesmas recomendações de práticas estabelecidas para quadros de PA em geral (incluindo hidratação intravenosa intensiva, tratamento analgésico e jejum). A determinação mais precoce possível dos níveis séricos de triglicérides é crucial, pois esses podem diminuir seus níveis séricos nas primeiras 48 horas, após o início da pancreatite, pelo jejum inicialmente estabelecido.150

Nos pacientes com SQF, a PH pode ocorrer espontaneamente, sem causa aparente, ou ser desencadeada por fatores secundários que incluem: diabetes mellitus não controlado, uso abusivo de álcool, gravidez e medicamentos (estrogênios orais, tamoxifeno, propofol, ácido valproico, isotretinoína, clomifeno, betabloqueadores, inibidores de protease e mirtazapina).68

11.2. Tratamento Não Medicamentoso

A base da terapia inicial da pancreatite aguda consiste em internação em unidade de terapia intensiva (UTI), bem como a restrição da ingestão oral, de fluidos intravenosos e analgesia.

A evolução clínica é dependente da redução dos triglicérides plasmáticos nas primeiras 24 a 48 horas.

A maioria dos pacientes com PH apresenta curso clínico não complicado, com bom prognóstico. Em geral, os níveis séricos de triglicérides diminuem nas 24 a 48 horas e alcançam valores <500mg/dL, no quarto ou quinto dia, apenas com medidas de suporte.151 Uma vez que a dor desapareça e o trânsito intestinal esteja estabelecido, uma dieta oral sem gordura pode ser reiniciada.

11.3. Tratamento Farmacológico

A infusão de heparina endovenosa na PH nos pacientes com SQF não é recomendada. Classe de recomendação: III, Nível de evidência: C.

As infusões de heparina e insulina têm sido usadas como terapia principal para PH. A maioria das evidências para ambas as drogas vem de casos isolados ou séries de casos.152 - 156

A infusão de heparina não fracionada é capaz de liberar a lipase lipoproteica (LLP) ligada às células endoteliais, com redução transitória dos triglicérides séricos. Nos quadros de PH grave, a infusão de heparina endovenosa a longo prazo pode esgotar a LLP da superfície das células endoteliais, permitindo que os níveis de triglicérides séricos se elevem novamente.157 - 159 Além disso, alguns autores relutam em usar heparina endovenosa em pacientes com necrose pancreática, pelo risco de transformação hemorrágica.151

O uso de heparina de baixo peso molecular está indicado como profilaxia para trombose venosa profunda na PH nos pacientes com SQF. Classe de recomendação: IIa, Nível de evidência: C.

Não há contraindicação para o uso de heparina de baixo peso molecular160 como profilaxia para trombose venosa profunda na PH.

A insulina endovenosa deve ser utilizada apenas em pacientes com diabetes tipo 1 e 2 descompensado, para controle glicêmico, na PH nos pacientes com SQF . Classe de recomendação: IIa, Nível de evidência: C.

A insulina aumenta a atividade da LLP e ajuda a reverter os efeitos hepáticos da resistência à insulina. A infusão de insulina é especialmente útil em pacientes com diabetes não controlado e hiperglicemia, além da HTG. Não há evidência clara do benefício de insulina nos pacientes com PH, que não sejam diabéticos.19

A terapêutica com insulina intravenosa é obrigatória para pacientes com diabetes tipo 1 descompensado e HTG grave com PH.160 - 162 A insulina endovenosa deve ser usada em pacientes com HTG grave e PH, com diabetes tipo 2 descompensado.163 - 165

11.4. Aférese

A plasmaférese deve ser indicada para pacientes com PH nos portadores de SQF de forma individualizada. Os candidatos potenciais seriam os pacientes que apresentam PH grave, ou que persistem com valores de triglicérides >1.000mg/dL, após as primeiras 24 a 48 horas. Classe de recomendação: IIb, Nível de evidência: C.

Relatos e séries de casos têm demonstrado eficácia da plasmaférese na remoção dos triglicérides da circulação dos pacientes com PH, com redução média dos valores de triglicérides entre 65 e 85% após uma ou duas sessões.166 - 170

Pelo fato de a PH ser uma condição com risco de vida, alguns centros utilizam a plasmaférese como procedimento de escolha na redução rápida dos quilomícrons circulantes, tão logo seja estabelecido o diagnóstico, removendo assim o agente causador do dano pancreático. A utilização desse procedimento precocemente na redução dos triglicérides plasmáticos preveniria a geração e o acúmulo de ácidos graxos livres, diminuindo seus efeitos locais e sistêmicos.171 - 172 O mecanismo da pancreatite aguda induzida por HTG é provavelmente causado pelo excesso de triglicérides, que, ao sofrerem hidrólise pela lipase pancreática, extravasam das células acinares para o leito vascular do pâncreas, resultando em acúmulo de ácidos graxos livres e lisolecitina. Os ácidos graxos livres são tóxicos e podem causar danos às células acinares e ao endotélio capilar.173 Além disso, as concentrações elevadas de quilomícrons aumentam a viscosidade sanguínea das veias com prejuízo do fluxo sanguíneo local, resultando em isquemia pancreática e piora da lesão tecidual.174 Os ácidos graxos livres ativam o tripsinogênio que inicia o edema local e a pancreatite necrotizante.173 Em série de casos publicada em hospital terciário da Turquia, com 33 pacientes admitidos com pancreatite aguda relacionada à HTG, foi demonstrada redução média de triglicérides de 54,4% após uma única sessão. Após uma segunda sessão, houve redução de triglicérides de 79,4%. Durante a evolução, 13 pacientes apresentaram coleção pancreática; 1 paciente com pancreatite necrotizante, não sendo observados casos de pseudocisto. A mortalidade nos pacientes com PH grave foi de 33,3%, e a mortalidade geral foi de 3%, sem casos relacionados ao procedimento de plasmaférese. Esse estudo demonstrou que a plasmaférese é um tratamento seguro e eficaz para pacientes com PH. São necessários mais estudos que comparem aférese + tratamento conservador e apenas tratamento conservador nos pacientes com PH.175

Chen et al.167 analisaram retrospectivamente os resultados clínicos em pacientes com PH antes (n = 34) e após (n = 60) a disponibilidade de aférese na instituição. Esses grupos apresentavam características clínicas semelhantes. Nos 20 pacientes do último grupo, foi optado por plasmaférese, com tempo médio de 3 dias para a realização do procedimento, após os sintomas iniciais. Não houve diferenças significativas quanto à mortalidade e complicações entre os pacientes submetidos ou não à plasmaférese. As limitações desse estudo se devem ao seu desenho retrospectivo, experiência de um único centro e pequeno tamanho da amostra.167

Alguns centros realizam plasmaférese na admissão, pouco antes de 24 horas, enquanto outros incluem pacientes entre 24 e 72 horas da admissão. Estudos têm enfatizado a importância do início precoce da plasmaférese na PH, enquanto outros não detectaram qualquer diferença na morbidade ou mortalidade relativa a um início precoce ou tardio do procedimento.167

Um benefício claro da plasmaférese na redução da gravidade de pacientes com PH ainda não foi demonstrado de forma conclusiva.

A plasmaférese não é isenta de riscos, além de ser um procedimento com custo elevado. Requer acesso intravenoso central e anticoagulação transitória com complicações associadas que incluem bacteremia, trombose venosa e sangramento. Os candidatos potenciais seriam os que apresentam PH grave, ou os que continuam com níveis persistentes de triglicérides maiores que 1.000mg/dL após as primeiras 24 a 48 horas.175

Pela falta de evidências, as recomendações para o procedimento de plasmaférese em adultos com PH nos portadores de SQF devem ser individualizadas.

Nas recentes diretrizes da American Society for Apheresis (ASFA), a recomendação de plasmaférese em pacientes com PH é de 2C (recomendação fraca) com nível de evidência III.176

11.5. Gestação e PH nos Pacientes com Síndrome da Quilomicronemia Familiar

A indicação de plasmaférese na gestação, apesar de segura e eficaz, deve ser individualizada, pela escassez de evidências até o momento. Classe de recomendação: IIb, Nível de evidência: C.

A gravidez normal é caracterizada por alterações adaptativas do metabolismo lipídico, destinadas a garantir as necessidades da placenta e as necessidades de glicose e lipídios para o crescimento fetal, incluindo aumento da produção de glicose, síntese de progesterona, lipogênese e redução da lipólise.177 , 178 Pacientes com alterações do metabolismo lipídico geneticamente determinadas, caracterizadas por redução da lipólise intravascular, podem evoluir durante a gestação com HTG grave e pancreatite.179

O quadro de PH aparece no terceiro trimestre da gestação ou no início do período pós-parto, com impacto elevado na morbidade e mortalidade materno-fetal.180

Já foram descritas taxas de mortalidade materna consequente a quadros de PH de 37% e de mortalidade fetal de 60%, mas, atualmente, esses números estão em declínio pelos avanços diagnósticos e terapêuticos.181 - 183

Quadros de pancreatite associada à gravidez podem ocorrer no contexto de doença do cálculo biliar, uso abusivo de álcool e HTG.146 Nos casos de PH, o escore de gravidade e o pior prognóstico são mais prevalentes que as outras etiologias de PA.64 , 184

Relatos de casos clínicos têm demonstrado que o uso de plasmaférese em gestantes tem se mostrado eficaz e seguro.185 - 188 Pela escassez de evidências, a indicação de plasmaféres na gestação complicada com PH, em pacientes com SQF, deve ser individualizada.

12. Novas Terapêuticas para o Tratamento da Síndrome da Quilomicronemia Familiar

Os tratamentos disponíveis para tratamento da SQF, visando à redução da trigliceridemia, não são efetivos para controle da quilomicronemia nesses pacientes.24 O uso de terapia gênica com AAV1-LPL(S447X) utilizando um vírus adenoassociado foi testado na SQF (Glybera, alipogene tiparvovec), visando expressar a LPL(S447X). No entanto, a despeito de resultados promissores, seu uso comercial não foi possível devido ao elevado custo.189 Assim, a única terapêutica que reduz os triglicérides <880mg/dL, ou 10mmol/L, nesses pacientes, e que parece reduzir o risco de pancreatite, é a dieta com grande restrição de gordura associada à restrição de álcool e certas medicações.92 A adesão ao longo da vida a essas restrições é difícil, e episódios de quilomicronemia, dores abdominais e pancreatites recorrentes são comuns. Assim, terapias adicionais são necessárias para manter os triglicérides <880mg/dL.

12.1. ApoC3

A APOC3 é uma glicoproteína que consiste em 79 aminoácidos, sintetizada principalmente no fígado e, em menor proporção, no intestino, e está associada às lipoproteínas contendo ApoB, incluindo os quilomícrons e as VLDLs ( very-low density lipoprotein ), bem como as HDLs ( high-density lipoprotein ).190 - 192 Em estudos genéticos, pré-clínicos e estudos de fase 1, a APOC3 surgiu como um regulador das concentrações plasmáticas de triglicérides.192 A APOC3 é um inibidor da atividade da LPL,190 sendo um potente inibidor da ativação da LPL, que é mediada pela APOC2, resultando em inibição da lipólise de lipoproteínas ricas em triglicérides.190 A APOC3 inibe a atividade da lipase hepática, para promover a montagem e a secreção da VLDL193 e inibir o clareamento das lipoproteínas remanescentes ricas em triglicérides.194 Contudo, a importância desses mecanismos independentes da LPL não é bem compreendida.

12.1.1 Antissentido Anti-APOC3

A volanesorsena é uma droga antissentido de segunda geração, inibidora da síntese da APOC3 modificado. O ISIS 304801 contém uma terminação 2′-O-(2- metoxietil).192 A inibição da síntese da APOC3 no fígado ocorre por uma ligação sequência-específica do ISIS 304801 ao mRNA da APOC3 , o qual, por sua vez, leva à degradação do mRNA da APOC3 por uma RNase H1, uma ribonuclease endógena expressa em células de mamíferos.191 Em estudos de fase 1 com voluntários saudáveis, o ISIS 304801 promoveu redução dose-dependente e prolongada das concentrações plasmáticas de APOC3 com concomitante redução dos triglicérides.192 Em estudos de fase 2, o ISIS 304801 foi efetivo na redução de triglicérides em pacientes com VLDL elevado por uma série de condições.195

Como os pacientes com SQF apresentam atividade da LPL muito baixa e por ser um modo de ação da APOC3, a inibição da lipólise pela via LPL-dependente, seria predito que o ISIS 304801 seria inefetivo na redução dos triglicérides ou tivessem um efeito mínimo na redução dos triglicérides em portadores dessa síndrome. No entanto, deve existir um mecanismo de escape independente da via da LPL para a sobrevivência desses pacientes. Estudos pré-clínicos sugerem que a APOC3 modula os níveis de triglicérides por uma via independente da LPL. Para isso, foi feito um estudo com o ISIS 304801 em pacientes com SQF e triglicérides de 1.406 a 2.083mg/dL. Após 13 semanas de tratamento com 300mg de volanesorsena, as concentrações plasmáticas de APOC3 foram reduzidas de 71 a 90% e os triglicérides, de 56 a 86%. Durante o tratamento, todos os pacientes apresentaram triglicérides <500mg/dL. Os dados iniciais mostraram o papel da APOC3 como um regulador na via LPL-independente no metabolismo dos triglicérides.191

Esses dados foram replicados no estudo clínico Approach,57 um estudo de fase 3 duplo-cego, randomizado, com duração de 52 semanas, que avaliou a eficácia e a segurança de volanesorsena em 66 pacientes com SQF. Os pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber volanesorsena ou placebo. O desfecho primário foi a variação percentual dos triglicérides em jejum do período basal aos 3 meses (na semana 12 ou na semana 13). Nove desfechos secundários foram priorizados e analisados em ordem hierárquica. Se a análise do primeiro desfecho fosse significante, o segundo desfecho seria analisado quanto à significância em ordem hierárquica, e assim por diante. Se, na sequência hierárquica, um desfecho não fosse significante, os seguintes teriam análise exploratória. As variações percentuais entre o período basal e os 6 e os 12 meses foram comparadas entre os tratamentos por ANCOVA.

Foram selecionados 130 pacientes e, destes, 67 foram randomizados, e 1 no grupo placebo retirou o consentimento. Dos 66 pacientes randomizados, 41 eram homozigotos ou heterozigotos compostos para uma das 25 mutações inativadoras do gene LPL , e 11 pacientes apresentavam mutações bialélicas em proteínas acessórias ou eram heterozigotos duplos para mutações nos genes LPL e APOA5 ou LMF1 ; 14 pacientes não apresentavam mutações definidas, mas foram incluídos com base no seu fenótipo e na baixa atividade da LPL.23

Os pacientes incluídos tinham entre 20 e 75 anos, 80% brancos, 55% mulheres, e o índice de massa corporal foi de 25,0 ± 5,7, O diagnóstico de SQF foi feito com idades entre 1 e 75 anos. Lipemia retinalis estava presente em 21%, e xantomas eruptivos em 23; 76% tinham história de pancreatite documentada e, destes, 23 pacientes tiveram 53 episódios adjudicados nos 5 anos anteriores. Sete pacientes tinham pancreatite crônica. No período basal, 53% usavam fibratos, ácidos graxos ômega-3 ou ambos, e 20% recebiam estatinas. Sete pacientes tinham sido tratados previamente com alipogene tiparvovec (Glybera) mais de 2 anos antes da inclusão no estudo. Os valores basais de triglicérides eram elevados e não diferiram entre o grupo recebendo a medicação e o placebo (2.209±1.199mg/dL), bem como os quilomícrons de VLDL (1.849±1.176mg/dL) e APOB48 (10,2±6,6mg/dL). A APOC3 era elevada (30,2 ± 14,2mg/dL). O tratamento com volanesorsena reduziu os níveis médios de APOC3 em 84% do basal aos 3 meses, e em 83% ao sexto mês (p<0,001 para ambas comparações), com correspondente redução de 25,7 e 25,6mg/dL, respectivamente. Houve aumento de APOC3 de 6,1% (1,9mg/dL) após 3 meses e redução de 5,2% (1,7mg/dL) após 6 meses entre os pacientes que receberam placebo. O desfecho primário de eficácia, ou seja a variação percentual dos triglicérides entre o período basal e 3 meses, foi a redução de 77% no grupo volanesorsena versus aumento de 18% no grupo placebo (p<0,001), o que correspondeu à redução de 1.712mg/dL, intervalo de confiança – IC 95% 1.330 a 2.094mg/dL no grupo recebendo a volanesorsena, comparado a um aumento de 92,0mg/dL (IC 95%: 301 a 486mg/dL) no grupo placebo (p<0,001). Foram significantes os resultados da análise do primeiro desfecho secundário, ou seja, a taxa de resposta, definidos como alcance de triglicérides em jejum <750mg/dL aos 3 meses. No grupo volanesorsena, 77% dos pacientes, em comparação a 10% dos pacientes que receberam placebo, alcançaram níveis de triglicérides <750mg/dL ( odds ratio , OR 186,16; IC 95%, 12,86 a um valor que não pode ser estimado; p<0,001). O desfecho secundário subsequente, variação percentual dos triglicérides em jejum do basal aos 6 meses, também foi significante, com redução de 53% nos triglicérides correspondendo a 1.380mg/dL, comparado ao placebo com aumento de 25% ou 224mg/dL. A diferença entre os grupos foi de −77,8% (IC 95%, −106,4 a −49,1; p<0,001). A análise do terceiro desfecho secundário, variação percentual dos triglicérides em jejum do basal aos 12 meses, foi significante, e a volanesorsena reduziu triglicérides em 40% (986mg/dL) e o placebo teve aumento de 9%, ou 39mg/dL, com uma diferença entre os grupos de −49,1% (IC 95%, −94,7 a −3,5; p=0,03). O desfecho subsequente, a média da máxima intensidade das dores abdominais autorreferidas pelos pacientes durante o tratamento na análise hierárquica, não foi significante.23

Entre os pacientes do grupo recebendo volanesorsena, 19 completaram as 52 semanas de tratamento. Seis receberam 300mg por semana por todo o período de tratamento; entre os 13 restantes, a frequência das doses foi reduzida para 300mg a cada 2 semanas, foi pausada, ou ambas. Entre os pacientes que não tiveram redução de dose, a redução de triglicérides do basal ao terceiro mês foi de 79%, de 80% aos 6 meses e 72% aos 12 meses (reduções absolutas com relação ao basal de 1.670mg/dL, 1.656mg/dL e 1.454mg/dL, respectivamente, enquanto as reduções absolutas dos triglicérides entre os 13 pacientes que tiveram redução de dose foram de 71% aos 3 meses, 52% aos 6 meses, e 54% aos 12 meses (redução média do basal de 1.933mg/dL, 1.564mg/dL e 1.400mg/dL, respectivamente). Entre os seis pacientes cujas doses não foram reduzidas, 5 alcançaram triglicérides <750mg/dL aos 6 meses, e 4 alcançaram níveis de triglicérides <750mg/dL aos 12 meses. Dos 13 pacientes que tiveram redução de doses, 6 alcançaram valores de triglicérides <750mg/dL aos 6 meses e 6 alcançaram triglicérides <750mg/dL aos 12 meses; 3 pacientes alcançaram triglicérides <750mg/dL aos 6 e aos 12 meses.23

Em análise exploratória, os pacientes que receberam volanesorsena reduziram os triglicérides dos quilomícrons em 83%, APOB48 em 76%, não HDL-c em 46%, e VLDL-c em 58%, e aumento de HDL-c em 46%, APOA1 em 14%, LDL-c em 136%, e APOB em 20%.23

A volanesorsena reduziu os triglicérides independentemente do diagnóstico genético ou do tipo de mutação. Aos 3 meses, os valores médios de triglicérides foram reduzidos em 65% em 17 pacientes com mutações bialélicas no gene LPL , e em 75% nos 9 pacientes com defeitos genéticos não relacionados à LPL . Pacientes com mutações nos genes APOC2, GPIHBP1, APOA5 e LMF1 , todos, mostraram redução de triglicérides de 69 a 88%. O tratamento foi efetivo independentemente dos valores basais de triglicérides, e foi igualmente efetivo nos pacientes recebendo terapia concomitante com fibratos, ácidos graxos ômega-3 ou ambos, e os pacientes não recebendo essas terapias (redução média do basal aos 3 meses de 76 e 73%, respectivamente).23

Devido ao tamanho do estudo, por tratar-se de doença rara, a mudança no número de episódios de pancreatite não foi um desfecho pré-especificado. No entanto, foi feita análise exploratória dos episódios de pancreatite adjudicados que ocorreram durante o estudo. No período de tratamento, três pacientes no grupo placebo tiveram quatro episódios de pancreatite, enquanto um paciente no grupo volanesorsena teve um episódio 9 dias após ter recebido a última dose.23

Os efeitos adversos mais comuns durante o período de tratamento foram as reações no local da injeção e plaquetopenia.

No grupo volanesorsena, 20 (61%) pacientes tiveram pelo menos uma reação no local da injeção, em grau leve a moderado e, em média, 12% das aplicações de volanesorsena versus zero% das injeções de placebo foram associadas com essas reações. Um paciente foi retirado do estudo devido à reação no local da injeção. Plaquetopenia confirmada <140.000 por microlitro foi observada em 25 (76%) pacientes no grupo recebendo a volanesorsena e em 8 (24%) pacientes no grupo placebo; plaquetopenia confirmada <100.000 por microlitro foi observada em 16 pacientes (48%) que receberam volanesorsena, mas em nenhum dos que receberam placebo. Como não havia história documentada de plaquetopenia importante em humanos tratados com essa classe de drogas antissentido,20 o protocolo inicial requeria monitoramento da contagem de plaquetas a intervalos de 4 a 6 semanas. Entretanto, durante o estudo, trombocitopenia grau 4 (<25.000 plaquetas por microlitro) foi observada em dois pacientes no grupo volanesorsena, e o tratamento foi descontinuado. Não houve sangramentos maiores em nenhum desses pacientes, e ambos alcançaram valores normais de plaquetas em 23 e 33 dias após descontinuação do fármaco. Um paciente recebeu prednisona oral na dose de 60mg por 23 dias. O outro paciente recebeu metilprednisolona na dose de 125mg por 11 dias, seguida de prednisona oral na dose de 70mg, reduzida para 50mg por 21 dias, bem como imunoglobulina na dose de 60g e 80g em dias sucessivos, seguida de 4 dias de imunoglobulina na dose 40g diariamente por mais 5 dias. Três outros pacientes com menor grau de plaquetopenia (grau 1 ou 2) foram retirados do estudo por parte dos investigadores. Após os dois casos de trombocitopenia, um protocolo de monitoramento de plaquetas com dosagens a cada 2 semanas foi estabelecido, com um limiar de <100.000 plaquetas para redução da frequência das doses para cada 2 semanas, e um novo limiar passando de 75.000 para 50.000 plaquetas por microlitro para interrupção da medicação. Após essas medidas, nenhum paciente apresentou declínio de plaquetas <50.000 por microlitro, e não ocorreu descontinuação das doses relacionada à plaquetopenia. Ocorreu redução da frequência das doses de volanesorsena em 13 pacientes, sendo que, em 9 pacientes, estas foram relacionadas à plaquetopenia. Houve 14 pacientes randomizados para volanesorsena versus 2 no grupo placebo que não completaram as 52 semanas de tratamento. Nove descontinuaram por eventos adversos, sendo 5 por plaquetopenia e 4 por outros efeitos adversos relacionados à volanesorsena. Outros 4 retiraram voluntariamente o consentimento. Não houve morte durante o estudo.23

O estudo Re-FOCUS196 foi uma pesquisa retrospectiva global, aberta, realizada com pacientes com SQF que receberam volanesorsena por 3 meses ou mais na fase de extensão aberta do estudo. A pesquisa incluiu questões sobre experiências dos pacientes antes e após o tratamento com volanesorsena. Vinte e dois participantes tinham recebido volanesorsena por uma mediana de 222 dias. Volanesorsena reduziu significantemente o número de sintomas por paciente nos domínios físico, emocional e cognitivo. Houve redução significante nos episódios de esteatorreia, dor pancreática, e constante preocupação sobre um ataque de dor ou de pancreatite. Os participantes reportaram, ainda, que volanesorsena melhorou o manejo dos sintomas e reduziu a interferência da SQF nas responsabilidades do trabalho, ou na vida escolar. Houve reduções no impacto negativo da SQF na vida pessoal, profissional ou social. O tratamento com volanesorsena teve o potencial de reduzir a carga da doença em pacientes com SQF pela modulação nos múltiplos domínios de sintomas.

A volanesorsena foi aprovada pela Anvisa em 23 de agosto de 2021com base nos dados do estudo Approach e Compass, e tem indicação para pacientes adultos (acima de 18 anos) com confirmação genética de SQF e alto risco de pancreatite.197 O fármaco tem aprovação da agência europeia (European Medicines Agency) para uso em adultos com SQF desde 2014.

A volanesorsena não foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), embora tenha sido avaliada no estudo Approach em pacientes com SQF. A doença é considerada ultrarrara e debilitante. A SQF causa pancreatites de ocorrência imprevisível e potencialmente fatais, complicações crônicas decorrentes de dano permanente ao órgão e impacto severo na vida diária dos pacientes. A característica típica da SQF consiste nos níveis muito elevados de triglicérides. Os resultados do estudo de fase 3 Approach – o maior estudo conduzido com pacientes portadores de SQF – mostraram que, em comparação ao placebo, o tratamento com a volanesorsena reduziu os triglicérides em 77% (-94% quando comparado ao placebo). As recomendações das sociedades médicas são para a redução dos triglicérides como alvo do tratamento dos pacientes com SQF. Os eventos adversos mais comuns foram as reações no local de injeção e redução na contagem de plaquetas.

A alegação do FDA foram questões de segurança, especialmente risco de sangramento devido à plaquetopenia, apesar das recomendações para mitigar efeitos adversos. Durante o estudo, quando foi detectada a possibilidade de ocorrência de plaquetopenia, o manejo desse evento adverso foi feito com monitoramento de plaquetas a cada 15 dias, podendo ser mais frequente conforme os exames subsequentes. Da mesma maneira, foi recomendado o espaçamento de doses de acordo com a contagem de plaquetas.

13. Aspectos Sociais, Psicológicos e Impacto Econômico da Doença

A variabilidade na precocidade, as diferenças na severidade dos sintomas e as variações no grau de limitações funcionais decorrentes do estado físico dos pacientes são características da expressão da SQF que interagem com outros aspectos, tais como perfil sociodemográfico e econômico; características de personalidade; fatores psicossociais e sociocognitivos; habilidades pessoais de enfrentamento de situações adversas em saúde; capacidade de exercer a autorregulação e manter o sentido de eficácia no contexto do adoecimento.198 A articulação de todos esses aspectos citados e de outros aspectos contextuais agrega complexidade ao manejo da SQF, podendo, além de interferir na habilidade adaptativa dos pacientes e cuidadores, demandar diferentes desenhos de intervenção médica centrados na singularidade das pessoas afetadas.

A falta de reverberação da fala dos pacientes na comunicação social, causada pela ausência do tema no discurso comum e sua restrição no discurso científico,199 estabelece um padrão de silêncio acerca da SQF. A falta de familiaridade para com essa condição, na sociedade médica, é agravante do estresse biopsicossocial experimentado pelas pessoas afetadas, o que leva a empreender uma peregrinação entre especialidades em busca da realização do diagnóstico, que, via de regra, acontece tardiamente e não conduz a resposta terapêutica medicamentosa eficaz. As lacunas na comunicação e no conhecimento impõem aos pacientes e cuidadores o desafio de conviver com uma doença que provoca limitadas reações empáticas, uma vez que não apresenta sentido e significado socialmente construído e tampouco identidade clinicamente reconhecida.199 Nesse panorama, para além do grave efeito deletério da doença no estado de saúde e na capacidade funcional, é relevante o desdobramento do estado da arte na vida real.

Estudo200 sobre a qualidade de vida dos pacientes com SQF, ao demonstrar a validade dos instrumentos de autorrelato, no contexto da doença rara, coloca em evidência o forte impacto negativo do tratamento, realizado fundamentalmente por meio de restritivo controle alimentar. Ao dar a conhecer qual a experiência da doença no cotidiano,201 o quanto adoecer prejudica a percepção pessoal de satisfação com a qualidade de vida e o estado de saúde,202 e deixar entrever o impacto do tratamento na capacidade adaptativa das pessoas afetadas,203 amplia a conscientização acerca dos desdobramentos psicossociais da SQF. Na Quadro 2 , estão listados os aspectos abordados na autoavaliação da qualidade de vida por meio de instrumentos de autorrelato.

Quadro 2. – Aspectos elencados na avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS).

Avaliação pessoal do:
Grau das limitações no desempenho de atividades do dia a dia por interferência do estado clínico
Grau das limitações na capacidade funcional para realizar atividades cotidianas de esforço leve, moderado e intenso
Estado geral de saúde
Grau de interferência da dor no cotidiano
Grau de interferência da saúde geral (física e mental) nas relações interpessoais
Grau de vitalidade no cotidiano (grau de envolvimento e motivação com a vida)
Grau das limitações no desempenho de atividades do dia a dia por interferência do estado emocional ou cognitivo
Estado de humor predominante no tempo definido

Ao possibilitar a escuta das pessoas afetadas pela doença, de modo estruturado e padronizado, o emprego do instrumento psicométrico de autorrelato permite romper com o padrão de silenciamento, característico das doenças raras ou pouco conhecidas.199 Embora os estudos de doenças de baixa prevalência contemplem número reduzido de sujeitos, em comparação aos realizados no enquadre das doenças crônicas e frequentes, são capazes de retratar a realidade dos pacientes e cuidadores e apontar tendências, e podem colaborar na orientação de estratégias comportamentais de enfrentamento.

13.1. Aspecto Social na Síndrome da Quilomicronemia Familiar

O paciente diagnosticado com doença rara, também nomeada doença órfã, é uma pessoa que, em alguma medida, perde suas referências sociais e se afasta do modo de cuidado à saúde usual, de senso comum, passando a depender dos norteamentos técnico-científicos na condução da doença. A carência de informações sobre a história da doença na vida real e a falta de diretrizes, ou posicionamentos norteadores de condutas e orientações médicas seguras e eficazes, impactam a habilidade pessoal na construção das rotinas, de projetos e manutenção das relações interpessoais como idealizadas pelos pacientes. O desconhecimento sobre a doença interfere no sentido de pertencimento, sustenta sentimentos de desamparo e isolamento. A invisibilidade da doença no cotidiano reduz a chance de os pacientes e cuidadores contarem com suporte social.198 Estudo204 evidencia que o forte sentimento de incompreensão pode impulsionar os pacientes e cuidadores a criarem respostas adaptativas restauradoras de familiaridade e pertencimento em ambientes religiosos.

Tem se evidenciado204 que as lacunas no conhecimento médico sobre a SQF dificultam a comunicação na práxis clínica. A falta de entendimento acerca dos objetivos da proposta terapêutica pode conduzir os pacientes a alimentarem expectativas pouco realistas quanto ao alcance do tratamento. A Figura 1 mostra quais as expectativas mais frequentes dos pacientes relacionadas à aderência ao tratamento na SQF.202

Figura 1. – Expectativas do paciente com SQF diante da aderência ao tratamento.

Figura 1

Evidenciados os aspectos físicos e psicossociais mais gravemente afetados pela SQF, na perspectiva do paciente, vale sublinhar que a crença de recuperação da condição de normalidade experimentada antes da experiência de adoecimento, a esperança depositada no tratamento, pode ser melhor manejada conforme os profissionais se encontrem mais atualizados e hábeis a realizar e comunicar o diagnóstico e as evidências que sustentam orientações terapêuticas, e conversar sobre os resultados esperados.204

13.2. Aspectos Psicológicos na Síndrome da Quilomicronemia Familiar

Sentimento de impotência diante da doença, sintomas de fadiga e confusão mental são aspectos de campo interdisciplinar que podem persistir durante toda a vida dos pacientes com SQF. A preocupação quanto ao efeito da doença na saúde e na vida, ao longo do tempo, o desejo de ser capaz de viver uma vida normal e a preocupação com o impacto financeiro da doença afetam sobremaneira a estabilidade emocional dos pacientes e cuidadores, podendo produzir sentimentos de baixa autoestima e ansiedade, interferir na habilidade de raciocínio e de elaboração de soluções, e reduzir a qualidade do sono.206 Depressão, sentimentos de constrangimento, vergonha e inadequação social, percepção de mudanças no funcionamento cognitivo, por influência de dificuldades de concentração e memória, são aspectos da doença que corroboram para o declínio na qualidade de vida pessoal e profissional dos afetados.207 Segundo os pacientes conviver com a SQF consome o tempo e exaure a energia física e mental, tornando-os incapazes de se projetarem na vida.208 Revisão sistemática199 indica que os adultos com diagnóstico de SQF podem expressar significativos prejuízos psicológicos relacionados à falta de autonomia e de liberdade na condução da vida, para além da doença. Tal aspecto precisa ser mais bem conhecido na SQF.

13.2.1. Os Pais das Crianças com Diagnóstico de Síndrome da Quilomicronemia Familiar

A SQF é uma doença que se apresenta no final da infância e adolescência, embora alguns casos sejam encontrados nos primeiros anos de vida e entre neonatos.209 Doenças raras são desafiadoras não somente para os pacientes, mas também para aqueles familiares que lhes oferecem cuidado. Estudo210 identifica a elevada frequência de relatos parentais acerca da falta de suporte social e ausência de empatia por parte dos profissionais de saúde, o que se expressa em forma de queixas recorrentes de falta de informação e orientação, de modo geral, e de falta de aconselhamento quanto ao modo adequado de interagir/agir com a criança doente. Tal estudo mostra que os pais tendem a expressar mais preocupações com o futuro, e as mães, com o tempo presente. Além disso, evidencia que o relato sobre a avaliação pessoal de prejuízo na qualidade das relações sociais, familiares e profissionais é mais comum entre as mães, pois tende a ocupar mais de seu tempo com os cuidados básicos e a rotina diária. Tais diferenças, interpretadas com relação às questões de gênero, precisam ser melhor conhecidas.

13.3. Para Reduzir os Impactos da Doença: Modos de Enfrentamento

A aderência às recomendações gerais, usualmente dispostas como consensos médicos, é essencial para a promoção e a prevenção da saúde em âmbito primário, secundário e nos processos de reabilitação. Entre os comportamentos em saúde, a aderência terapêutica é um dos comportamentos de autorregulação mais estudados, e refere-se à participação ativa do paciente no manejo da doença para fim de preservação da saúde e qualidade de vida no contexto do adoecimento.211 Vale lembrar que a proposta de aderência terapêutica total e permanente pode gerar conflitos pessoais e sociais, e encontrar resistência por parte dos pacientes ou falta de colaboração social, na medida em que pode impactar projetos de vida pactuados/interpessoais ao interferir na decisão de ter filhos, na capacidade de trabalhar, no tempo livre para aproveitar momentos de lazer etc.207

13.3.1. Modelos Ativos e Passivos de Enfrentamento: Foco no Paciente

Visando a maior sucesso na aderência terapêutica na SQF, é indispensável o envolvimento do paciente nas decisões. Para tanto, preconiza-se lançar mão de estratégias passivas e ativas de enfrentamento. Dados da revisão sistemática199 mostram que são exemplos de abordagens passivas de enfrentamento: obtenção/busca por informação; aconselhamento clínico; aconselhamento genético; educação em saúde. São exemplares de abordagens ativas de enfrentamento na atuação/ação comportamental, no caso da SQF: autocontrole na restrição no consumo de gorduras, álcool e carboidratos; autorregulação na ingestão de remédios sem indicação médica, evitando a interação medicamentosa prejudicial; autoadministração dos fármacos indicados para redução das concentrações plasmáticas de triglicérides; realização de exames de acompanhamento na frequência indicada pelo médico de referência.

Estudo211 que investigou o efeito do uso da internet na capacidade adaptativa de pais de crianças com doenças raras mostrou que o ganho de conhecimento é essencial para a adaptação gradual ao contexto de saúde. O referido estudo ressalta que a livre busca por expertise pelo paciente tanto pode elevar seu sentido de eficácia como aumentar a expressão de sintomas de ansiedade. Enquanto realidade contemporânea, o impacto da busca por formação/informação online pelos pacientes e cuidadores, no processo adaptativo à SQF, precisa ser mais bem conhecido.

13.3.2. Modelo Social de Enfrentamento: Foco nos Pares

Sabe-se que o suporte social obtido em grupos de pares pode contribuir melhorando a percepção de bem-estar geral e gerar motivação para o exercício da autorregulação.212 O estudo CONNEC213 mostra que as pessoas afetadas pela SQF podem se beneficiar ao estabelecer contato com outros portadores da doença. Esse estudo sugere que a participação em grupos afins, seja por meio de leitura de textos, participação em sites e rodas de conversa presencial ou online , interagindo ou apenas observando as narrativas de outros pacientes, pode influenciar positivamente a autopercepção de qualidade de vida, a reavaliação da severidade dos sintomas físicos e a redução da sintomatologia psiquiátrica, além de mitigar o estresse psicossocial. Como parte da implantação de medidas amplas de enfrentamento e manejo da doença, preconiza-se o preenchimento das lacunas técnico-científicas, o incentivo dos pacientes à socialização terapêutica e a difusão do conhecimento sobre o efeito psicossocial adverso da SQF, o que pode colaborar acelerando processos de construção da identidade social da doença e estabelecimento de expertise na atenção à saúde.93 , 94

13.4. Custo-efetividade do Manejo de Riscos Psicossociais

Sabendo-se que a avaliação custo-eficácia das intervenções em saúde busca apontar soluções de menor gasto não relacionado à doença, por meio das quais, a alocação do investimento para que seja contabilizado o melhor resultado,214 é de se admitir que a aplicação em recursos terapêuticos colaborativos, que contemplem intervenções atentas aos aspectos clínicos e sintomas psicoemocionais,215 traga retorno custo-eficaz, visto que manifestações psiquiátricas, embora não específicas da SQF, prejudicam a aderência terapêutica e precipitam recorrentes urgências e internações hospitalares. 219 Nesse sentido, corrobora a revisão de literatura216 que mostra haver robusta evidência de que o investimento em ações combinadas, de intervenção nas doenças cardiovasculares junto à intervenções nos quadros de ansiedade e depressão, acarreta resultado custo-eficaz positivo. Finalmente, o estudo ReFOCUS196 mostra que o tratamento farmacológico adequado pode produzir o controle da evolução da doença, reduzir o estresse gerado pelo controle alimentar restritivo severo e, inclusive, modificar expectativas em relação ao futuro. Nessa perspectiva, não cabe dúvida acerca da estreita articulação da SQF com aspectos psicossociais, e do potencial custo-eficaz projetado nos estudos e intervenções que buscam desenvolver tratamento medicamentoso efetivo para pacientes diagnosticados para SQF.217

14. Resumo das Recomendações

  Grau de recomendação Nível de evidência
A coleta de sangue para as dosagens de triglicérides no adulto deve ser feita em jejum de 12 horas, com alimentação habitual, sem álcool (72 horas) e sem exercícios físicos (24 horas). Para crianças, o tempo varia de acordo com a faixa etária. Para lactentes, até 1 ano, o jejum é de 3 horas ou imediatamente antes da próxima mamada. Em não lactentes, de 2 a 5 anos, o jejum é de 6 horas; e, em crianças acima de 5 anos e adolescentes, o jejum é de 12 horas (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
Para a suspeita diagnóstica de SQF, após afastadas as causas secundárias de HTG, recomenda-se que os valores de triglicérides sejam: 1) adultos em jejum de 12 horas com triglicérides >1.000mg/dL, em três coletas diferentes; 2) crianças e adolescentes, com valores de triglicérides >880mg/dL, independentemente do tempo de jejum, em três coletas diferentes; 3) em crianças e adultos, a presença de uma dosagem de triglicérides <170mg/dL exclui a investigação de hiperquilomicronemia (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
Valores de triglicérides >1.000mg/dL aumentam o risco de pancreatite nos pacientes com SQF (Grau de Recomendação: IIa, Nível de Evidência: C). IIa C
Os valores de LDL-c na SQF são inacurados por qualquer método de dosagem. Se calculados, devem utilizar a fórmula de Martin ou, preferencialmente, ser dosados pelo método direto (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
O escore diagnóstico de SQF é ferramenta útil na suspeita diagnóstica de SQF, sendo recomendado como triagem para o teste genético (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
Este documento não recomenda a dosagem da atividade da lipoproteína lipase com heparina, pois esse teste pode ter capacidade discriminativa limitada em portadores de variantes comuns (Grau de Recomendação: III, Nível de Evidência: C). III C
O sequenciamento genético dos genes LPL , APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 e LMF1 confere diagnóstico de certeza para SQF se houver homozigose, heterozigotos duplos ou compostos para variantes patogênicas ou provavelmente patogênicas (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
Diante de um caso confirmado de SQF, o aconselhamento genético deve ser realizado visando calcular o risco de ocorrência ou de recorrência da condição, tanto para tomada de decisões quanto para escolha do método contraceptivo, especialmente em uniões consanguíneas (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C). I C
A terapia nutricional deve ter como recomendações gerais:
  1. Restrição do consumo de gorduras (10 a 15% do VCT)

  2. Exclusão de açúcares de adição (sacarose e xarope de milho)

  3. Exclusão de sucos de frutas concentrados

  4. Exclusão de bebidas alcoólicas

  5. Consumo de carboidratos complexos em quantidades adequadas

  6. Garantia da adequação de ácidos graxos essenciais

  7. Monitoramento do consumo de vitaminas lipossolúveis, com suplementação quando necessário

  8. Inclusão de TCM com a finalidade de aporte calórico, de acordo com tolerância. (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: C).

I C
A infusão de heparina endovenosa na pancreatite hipertrigliceridêmica (PH) nos pacientes com SQF não é recomendada. (Grau de Recomendação: III, Nível de Evidência: C). III C
O uso de heparina de baixo peso molecular está indicado como profilaxia para trombose venosa profunda na PH nos pacientes com SQF. (Grau de Recomendação: IIa, Nível de Evidência: C). IIa C
A insulina endovenosa deve ser utilizada apenas em pacientes com diabetes tipo 1 e 2 descompensado, para controle glicêmico, na PH nos pacientes com SQF. (Grau de Recomendação: IIa, Nível de Evidência: C) IIa C
A plasmaférese deve ser indicada para pacientes com PH nos portadores de SQF de forma individualizada. Os candidatos potenciais seriam os pacientes que apresentam PH grave, ou que persistem com valores de triglicérides >1.000mg/dL, após as primeiras 24 a 48 horas. (Grau de Recomendação: IIb, Nível de Evidência: C). IIb C
A indicação de plasmaférese na gestação, apesar de segura e eficaz, deve ser individualizada pela escassez de evidências até o momento. (Grau de Recomendação: IIb, Nível de Evidência: C). IIb C
O uso de antissentido anti-APOC3 está indicado para adultos acima de 18 anos com diagnóstico genético confirmado de SQF que não sejam responsivos ao tratamento usual e sob alto risco de pancreatite (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: B). I C
O monitoramento de plaquetas durante o tratamento com o antissentido anti-APOC3 deve ser feito inicialmente a cada 2 semanas, e ajustado conforme a contagem de plaquetas (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: B). I B
O tratamento com o antissentido anti-APOC3 deve ter suas aplicações espaçadas caso as plaquetas estejam <100.000/uL, e o fármaco deve ser interrompido se a contagem de plaquetas for <75.000/uL (Grau de Recomendação: I, Nível de Evidência: B). I B

Realização: Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DA/SBC)

Conselho de Normatizações e Diretrizes responsável: Carisi Anne Polanczyk (Coordenadora), Humberto Graner Moreira, Mário de Seixas Rocha, Jose Airton de Arruda, Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva – Gestão 2022-2024

Esta diretriz deverá ser citada como: Izar MCO, Santos-Filho RD, Assad MHV, Chagas ACP, AO Toledo-Júnior AO, Nogueira ACC, et al. Posicionamento Brasileiro sobre Síndrome da Quilomicronemia Familiar – 2023. Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203

Nota: Estas diretrizes se prestam a informar e não a substituir o julgamento clínico do médico que, em última análise, deve determinar o tratamento apropriado para seus pacientes.

Errata: Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203

No “Posicionamento Brasileiro sobre Síndrome da Quilomicronemia Familiar – 2023”, com número de DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230203, publicado no periódico Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203, na página 1, realizar as seguintes correções:

  • Incluir o nome da autora Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez, cuja instituição é Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), São Paulo, SP – Brasil, número 7 da lista de instituições.
  • Corrigir o nome da autora “Ana Maria Pitta Lottenberg” para “Ana Maria Lottenberg”.

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Brazilian Position Statement for Familial Chylomicronemia Syndrome – 2023

Maria Cristina de Oliveira Izar 1, Raul Dias dos Santos Filho 2, Marcelo Heitor Vieira Assad 3, Antonio Carlos Palandri Chagas 4, Alceu de Oliveira Toledo Júnior 5, Ana Cláudia Cavalcante Nogueira 6, Ana Cristina Carneiro Fernandes Souto 7, Ana Maria Lottenberg 8,9, Ana Paula Marte Chacra 7, Carlos Eduardo dos Santos Ferreira 9, Charles Marques Lourenço 10, Cynthia Melissa Valerio 11, Dennys Esper Cintra 12, Francisco Antonio Helfenstein Fonseca 1, Gustavo Aguiar Campana 13, Henrique Tria Bianco 1, Josivan Gomes de Lima 14, Maria Helane Costa Gurgel Castelo 15, Marileia Scartezini 16, Miguel Antonio Moretti 7, Natasha Slhessarenko Fraife Barreto 15,17, Rayana Elias Maia 18, Renan Magalhães Montenegro Junior 19, Renato Jorge Alves 20, Roberta Marcondes Machado Figueiredo 9,21, Rodrigo Ambrosio Fock 1, Tânia Leme da Rocha Martinez 22, Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez 7

Brazilian Position Statement for Familial Chylomicronemia Syndrome – 2023
The report below lists declarations of interest as reported to the SBC by the experts during the period of the development of these statement, 2022.
Expert Type of relationship with industry
Alceu de Oliveira Toledo Júnior
  • Nothing to be declared

Ana Cláudia Cavalcante Nogueira
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Servier: Vastarel/Angina. Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - PTC: Waylivra/FCS.

  • Any economically relevant equity interest in companies in the healthcare or education industry or in any companies competing with or supplying to SBC:

  • - Teaching and clinical research area.

Ana Cristina Carneiro Fernandes Souto
  • Nothing to be declared

Ana Maria Pitta Lottenberg
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - PTC Therapeutics: Financial support for lectures.

Ana Paula Marte Chacra
  • Nothing to be declared

Antonio Carlos Palandri Chagas
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Any other interest (financial or other) that should be declared considering the position taken in SBC that has not been expressly listed above:

  • - Member of the Vita Nova Institute Scientific Committee.

Carlos Eduardo dos Santos Ferreira
  • Nothing to be declared

Charles Marques Lourenço
  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Sanofi: Biomarin/Achondroplasia; PTC: NiemannPick B/AADC deficiency.

Cynthia Melissa Valerio
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Saxenda, Rybelsus, Ozempic; PTC: Waylivra; Amryt: Myalept.

  • B - Research funding under your direct/personal responsibility (directed to the department or institution) from the Brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amryt: Metreleptina.

Dennys Esper Cintra
  • Nothing to be declared

Francisco Antonio Helfenstein Fonseca
  • Nothing to be declared

Gustavo Aguiar Campana
  • Nothing to be declared

Henrique Tria Bianco
  • Nothing to be declared

Josivan Gomes de Lima
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Semaglutida.

Marcelo Heitor Vieira Assad
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Rybelsus.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Rybelsus.

Maria Cristina de Oliveira Izar
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: Repatha; Amryt Pharma: Lojuxta; AstraZeneca: Dapagliflozina; Aché: Trezor, Trezete; Biolab: Livalo; Abbott: Lipidil; EMS: Rosuvastatina; Eurofarma: Rosuvastatina; Sanofi: Praluent, Zympass, Zympass Eze, Efluelda; Libbs: Plenance, Plenance Eze; Novo Nordisk: Ozempic, Victoza; Servier: Acertamlo, Alertalix; PTCBio: Waylivra.

  • B - Research funding under your direct/personal responsibility (directed to the department or institution) from the Brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - PTCBio: Waylivra; Amgen: Repatha; Novartis: Inclisiran, Pelacarsen; NovoNordisk: Ziltivekimab.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk: Diabetes.

Maria Helane Costa Gurgel Castelo
  • Nothing to be declared

Marileia Scartezini
  • Nothing to be declared

Miguel Antonio Moretti
  • Nothing to be declared

Natasha Slhessarenko Fraife Barreto
  • Nothing to be declared

Raul Dias dos Santos Filho
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: Evolocumabe; Astra Zenec:Dapagliflozina; Aché:/Rosuvastatina; PTC Therapeutics:Volanesorsen; Novartis: Inclisiran; Novo Nordisk: Semaglutide; Sanofi: Rosuvastatina; Libbs: Rosuvastatina.

  • B - Research funding under your direct/personal responsibility (directed to the department or institution) from the Brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: Evolocumabe; Sanofi: Alirocumabe; Novartis: Inclisiran; Esperion: Ácido Bempedóico; Novartis: Pelacarsen; Kowa: Pemafibrato.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: Cholesterol; Ache: Cholesterol; AstraZeneca: Diabete; Libbs: Cholesterol; Novartis: Cholesterol; Novo Nordisk: Diabetes; Eli-Lilly: Diabetes; Merck: Diabetes; Biolab: Cholesterol.

Rayana Elias Maia
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: PTC: Volanersorsen.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Amgen: PTC: Volanersorsen.

Renan Magalhães Montenegro Junior
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Boheringer, AstraZeneca, Novo Nordisk, PTC, Nestlé, Amryt, Jansen.

  • Outros relacionamentos

  • Financiamento de atividades de educação médica continuada, incluindo viagens, hospedagens e inscrições para congressos e cursos, provenientes da indústria farmacêutica, de órteses, próteses, equipamentos e implantes, brasileiras ou estrangeiras:

  • - Novo Nordisk, Amryt, PTC, Boheringer, Abbott.

Renato Jorge Alves
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Boheringer, AstraZeneca, Novo Nordisk, PTC, Nestlé, Amryt, Jansen.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Novo Nordisk, Amryt, PTC, Boheringer, Abbott.

Roberta Marcondes Machado Figueiredo
  • Financial declaration

  • A - Economically relevant payments of any kind made to (i) you, (ii) your spouse/partner or any other person living with you, (iii) any legal person in which any of these is either a direct or indirect controlling owner, business partner, shareholder or participant; any payments received for lectures, lessons, training instruction, compensation, fees paid for participation in advisory boards, investigative boards or other committees, etc. From the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - PTC Therapeutics.

  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - PTC Therapeutics.

Rodrigo Ambrosio Fock
  • Other relationships

  • Funding of continuing medical education activities, including travel, accommodation and registration in conferences and courses, from the brazilian or international pharmaceutical, orthosis, prosthesis, equipment and implants industry:

  • - Biomarin.

Tânia Leme da Rocha Martinez
  • Nothing to be declared

Contents

1. Cover Letter 5

2. Document Objectives 6

3. Definition of Grades of Recommendation and Levels of Evidence 6

4. Definition of Hypertriglyceridemia (> 150 mg/dL), Severe Hypertriglyceridemia (> 500 mg/dL), and Chylomicronemia (> 1,000 mg/dL) 6

4.1. Introduction 6

4.2. Definition of Hypertriglyceridemia 7

5. Definition of Chylomicronemia – Familial Chylomicronemia Syndrome and Multifactorial Chylomicronemia Syndrome: Clinical and Laboratory Criteria and Patterns of Transmission 7

5.1. Introduction 7

5.2. Concepts 8

5.2.1. Familial Chylomicronemia Syndrome 8

5.2.2. Multifactorial Chylomicronemia Syndrome 8

6. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in the World and in Brazil 8

6.1. Definition of Familial Chylomicronemia Syndrome and Clinical Aspects 8

6.1.1. First Cases of Familial Chylomicronemia Syndrome 9

6.2. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in the World 9

6.3. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in Children 11

6.4. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in Brazil 11

7. Clinical Manifestations of Familial Chylomicronemia Syndrome, Differential Diagnosis, and Management of Complications 11

7.1. Clinical Manifestations in Familial Chylomicronemia Syndrome 11

7.1.1. Hypertriglyceridemia 12

7.1.2. Abdominal Pain and Acute Pancreatitis 12

7.1.3. Neurological Manifestations 12

7.1.4. Hepatosplenomegaly 12

7.1.5. Eruptive Xanthomas 12

7.1.6. Lipemia Retinalis 12

7.1.7. Quality of Life 12

7.1.8. Diagnostic Score 12

7.2. Differential Diagnosis 12

7.2.1. Multifactorial Chylomicronemia Syndrome 12

7.2.2. Lipodystrophies 13

7.3. Managing Complications of Familial Chylomicronemia Syndrome 13

7.3.1. Acute Pancreatitis 13

8. Laboratory Diagnosis of Familial Chylomicronemia Syndrome 14

8.1. Pre-analytical Phase (Patient Instructions) 14

8.1.1. Collection Instructions 14

8.1.2. Pre-analytical Causes of Interference in Triglyceride Analyses 14

8.1.3. Pre-analytical Phase (Laboratory Instructions) 14

8.2. Analytical Phase 15

8.2.1. Methodologies Assessing Chylomicrons 13

8.2.1.1. Ultracentrifugation 15

8.2.1.2. Serum Appearance 15

8.2.1.3. Lipoprotein Electrophoresis 15

8.2.2. Methodologies for Assessing Triglycerides 15

8.2.3. Interferences to Triglyceride Results 15

8.2.4. Interferences of Triglycerides to Other Analytes 15

8.2.4.1. LDL-C 15

8.2.4.2. Platelets 16

8.2.4.3. Analytes with Colorimetric Analysis 16

8.2.4.4. Enzymes 16

8.2.4.5. Electrolytes 16

8.2.5. Laboratory Analyses for Differential Diagnosis 16

8.2.5.1. Post-heparin Lipoprotein Lipase Activity 16

8.2.5.2. Plasma ApoC3 Measurement 16

8.3. Post-analytical Phase 16

8.3.1. Recommendations for NOTES in Laboratory Reports 16

9. Genetic Counseling and Stages of Diagnosis and Follow–up of Severe Hypertriglyceridemia 17

10. Nutritional Guidance for Chylomicronemia in Adults, Children, and Adolescents 18

10.1. Fatty Acid Classification and Absorption 18

10.2. Fat Absorption 19

10.3. Nutritional Treatment 19

10.3.1. Fats 19

10.3.3. Carbohydrates 20

10.3.4. Alcohol 20

10.3.5. Infants and Early Childhood 20

10.3.6. Pregnant Women 21

10.3.7. General Recommendations 21

10.4. Sample Menus 21

11. Apheresis 26

11.1. Diagnosis and Treatment 26

11.2. Nondrug Therapy 26

11.3. Pharmacological Treatment 26

11.4. Apheresis 26

12. New Therapies for the Treatment of Familial Chylomicronemia Syndrome 27

12.1. APOC3 27

12.1.1 Antisense Inhibition of ApoC3 27

13. Social and Psychological Aspects and Economic Impact of the Disease 27

13.1. Social Aspects in Familial Chylomicronemia Syndrome 29

13.2. Psychological Aspects in Familial Chylomicronemia Syndrome 30

13.2.1. Parents of children diagnosed with Familial Chylomicronemia Syndrome 30

13.3. Reducing the Impact of the Disease: Ways of Coping 30

13.3.1. Active and Passive Models for Coping: Focus on the Patient 31

13.3.2. Social Model for Coping: Focus on Peers 31

13.4. Cost-effectiveness in the Management of Psychosocial Risks 31

14. Summary of Recommendations 32

References 33

1. Cover Letter

Familial chylomicronemia syndrome (FCS) is a severe form of dyslipidemia characterized by multiple signs and symptoms associated with a deficiency in lipoprotein lipase or one of its cofactors, leading to compromised triglyceride metabolism. FCS has an autosomal recessive pattern of inheritance and affects approximately 1 to 2 people per million, but it may be more frequent in consanguineous relationships. Knowledge of this condition is still limited, often contributing to delayed diagnosis when complications have already set in. Patients with FCS may have recurrent abdominal pain, episodes of pancreatitis, eruptive xanthomas, lipemia retinalis , hepatosplenomegaly, and a milky appearance of serum.

In classic, severe forms, clinical symptoms are present at birth or even in childhood, but they may manifest at any age, especially in carriers of new mutations. Patients with FCS usually see several specialists before a diagnosis is made. The clinical presentation of FCS may also be indistinguishable from that of multifactorial chylomicronemia syndrome, which is more common and also has a genetic basis, although it is influenced by environmental and lifestyle factors. In addition, multifactorial chylomicronemia syndrome may result from conditions such as hypothyroidism, uncontrolled diabetes, kidney disease, alcohol abuse, and use of certain medications, which makes its diagnosis even more difficult.

A few centers in Brazil use a panel of causal genes to genetically confirm FCS. FCS diagnosis can be confirmed by the presence of a homozygous mutation in one of the causal genes or two different mutations in the same gene (compound heterozygote) or in different causal genes (double heterozygote), although in some cases, a causal mutation cannot be found. Validated algorithms may assist in the clinical suspicion of FCS and indicate which patients should undergo genetic testing.

FCS treatment requires a multidisciplinary approach, including a nutritionist and psychologist, among other health professionals, with the aim to maintain the individual’s well-being and nutritional status. Restriction of fats and simple carbohydrates and supplementation with fat-soluble vitamins and essential fatty acids should be recommended for life. Psychological support aims to help patients live with strict dietary restrictions.

Conventional pharmacological treatment is often less than 20% effective in reducing triglycerides, which is why patients’ hopes lie on the approval of new medications in Brazil that have proven beneficial in triglyceride reduction. Peculiar situations in the management of FCS are pregnancy and episodes of recurrent pancreatitis, for which mortality rates can be high and individualized treatment is required.

The purpose of this document is to make health professionals aware of the peculiar characteristics of FCS and to help them recognize early signs and symptoms and develop an adequate approach, mitigating patients’ suffering and the complications caused by a delayed diagnosis. Members of the Atherosclerosis Department of the Brazilian Society of Cardiology and renowned specialists from Brazil gathered together with the aim of describing in a clear and objective way the best scientific information available on FCS to improve clinical practice.

Yours sincerely,

Prof. Dra. Maria Cristina de Oliveira Izar

Prof. Dr. Raul Dias Santos

Prof. Dr. Antonio Carlos Palandri Chagas

Dr. Marcelo Heitor Vieira Assad

Coordinators

2. Document Objectives

This document aims to make health professionals, especially cardiologists, clinicians, and endocrinologists, aware of a very rare, underdiagnosed, and undertreated disease that causes intense suffering in those affected and which was not diagnosed until recently. Written by experts in the field, the Brazilian Position Statement for Familial Chylomicronemia Syndrome (FCS) fills a gap in the knowledge of epidemiological data in Brazil and the world about clinical manifestations, laboratory and genetic diagnoses, and differential diagnosis of other forms of severe hypertriglyceridemia (HTG). In addition, the peculiar nutritional management associated with the condition and the treatment of infants, children, and pregnant women and complications such as pancreatitis are highlighted in this document. Of note, a new antisense therapy against apolipoprotein C3 (ApoC3) has been recently approved in Brazil, with evidence of triglyceride reduction and prospects of preventing complications and improving the quality of life of patients.

3. Definition of Grades of Recommendation and Levels of Evidence

Classes (grades) of recommendation:

Class I – Conditions for which there is conclusive evidence or, if not, a consensus that the procedure is safe and useful/effective.

Class II – Conditions for which there is conflicting evidence and/or divergence of opinions on the safety and usefulness/efficacy of the procedure.

Class IIa – Evidence or opinion in favor of the procedure. The majority agrees.

Class IIb – Safety and usefulness/efficacy are less well established, and there is no predominance of opinions in favor of the procedure.

Class III – Conditions for which there is evidence and/or a consensus that the procedure is not useful/effective, and in some cases may be harmful.

Levels of evidence:

Level A – Data obtained from several large, randomized studies showing concurring results and/or a robust meta-analysis of randomized controlled trials.

Level B – Data obtained from a less robust meta-analysis, a single randomized study, or from nonrandomized (observational) studies.

Level C – Data obtained from consensual expert opinions.

4. Definition of Hypertriglyceridemia (> 150 mg/dL), Severe Hypertriglyceridemia (> 500 mg/dL), and Chylomicronemia (> 1,000 mg/dL)

4.1. Introduction

Some relevant factors should be considered before defining values and classifying HTG as mild, moderate, or severe. For lipid profile assessment, patients should maintain a stable metabolic state and their usual diet but should not consume alcohol 5 days before blood collection. Possible within-person biological variations and variations between laboratories should be considered when interpreting lipid measurements. Such variations can reach values of 10% for total cholesterol, high-density lipoprotein cholesterol (HDL-C), and low-density lipoprotein cholesterol (LDL-C) and up to 25% for triglycerides.1

The most recent Brazilian guidelines for dyslipidemia and diabetes state that fasting is not required for serum triglyceride assessment. However, if plasma triglyceride concentrations are > 400 mg/dL, plasma triglycerides should be measured again after a 12-hour fast due to the possibility of primary HTG, for which fasting is required.2 , 3 For HTG values > 400 mg/dL, the Friedewald formula, which is commonly used to calculate cholesterol fractions, is no longer used.4 Some publications suggest increased cardiovascular risk associated with postprandial HTG.5 , 6 In 2016, the European Atherosclerosis Society (EAS) and the European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine guidelines stated that fasting was no longer required for lipid profile assessment.7

The Brazilian Guidelines for Dyslipidemia and Atherosclerosis classification of dyslipidemia is described in Table 1 .

Table 1. – Laboratory classification of dyslipidemia according to the Brazilian Guidelines for Dyslipidemia and Atherosclerosis 2 .

Isolated Hypercholesterolemia Increased LDL-C (> 160 mg/dL)
Isolated Hypertriglyceridemia Increased triglycerides (> 150 mg/dL with fasting or > 175 mg/dL without fasting)
Mixed hyperlipidemia Increased LDL-C and triglycerides
Decreased HDL-C HDL-C < 40 mg/dL in men or < 50 mg/dL in women, with or without increased LDL-C or triglycerides

HDL-C: high-density lipoprotein cholesterol; LDL-C: low-density lipoprotein cholesterol. Class of recommendation: I; Level of evidence: C.

Fredrickson’s classification of phenotypes ( Table 2 ) is based on lipoprotein fraction separation by electrophoresis and/or ultracentrifugation. Despite the known importance of this classification, it is currently only available in specialty centers and is no longer widely used in clinical practice. To demonstrate its relevance, we will describe patients with HTG with different phenotypic classifications according to primary lipoprotein abnormality: FCS (type I), familial combined hyperlipidemia (type IIb), dysbetalipoproteinemia (type III), simple primary HTG (type IV), and HTG with chylomicronemia (type V).8 , 9

Table 2. – Fredrickson’s classification of phenotypes 8 .

Classification Increased lipoprotein
Type I Chylomicrons
Type IIa LDL
Type IIb LDL and VLDL
Type III IDL
Type IV VLDL
Type V Chylomicrons and VLDL

IDL: intermediate-density lipoprotein; LDL: low-density lipoprotein; VLDL: very low-density lipoprotein.

4.2. Definition of Hypertriglyceridemia

In laboratory tests, HTG is defined as plasma triglyceride concentrations > 150 mg/dL. However, if the lipid profile is measured without fasting, HTG is defined as triglycerides > 175 mg/dL.1

Thus, HTG may be classified into10 :

  • Mild: plasma triglycerides > 150 mg/dL;

  • Moderate: plasma triglycerides from 151 to 499 mg/dL;

  • Severe: plasma triglycerides from 500 to 1,000 mg/dL;

  • Very severe: plasma triglycerides > 1,000 mg/dL.

HTG results from the accumulation of lipoproteins rich in fatty acids and glycerol (such as very low-density lipoprotein [VLDL], intermediate-density lipoprotein, and remnants). Chylomicronemia is the main lipoprotein abnormality in severe and very severe forms, defined as the presence of circulating chylomicrons during fasting. The presence of chylomicrons can be detected in the blood if triglyceride concentrations are > 1,000 mg/dL; however, chylomicronemia is more likely to be detected when concentrations exceed 1,500 mg/dL. The severe and very severe forms of HTG are clinically relevant because of their association with a 2-fold increased risk of acute pancreatitis (AP), whose incidence increases by 3% for each 100 mg/dL > 1,000 mg/dL of triglyceridemia.11

5. Definition of Chylomicronemia – Familial Chylomicronemia Syndrome and Multifactorial Chylomicronemia Syndrome: Clinical and Laboratory Criteria and Patterns of Transmission

5.1. Introduction

Chylomicronemia is characterized by an accumulation of chylomicrons in the circulation and a significant increase in plasma triglyceride concentrations.

The higher the plasma triglyceride concentration, the greater the risk of pancreatitis. However, patients with concentrations > 1,000 mg/dL or very severe HTG are more likely to develop AP. To consider a diagnosis of FCS, laboratory abnormalities should be associated with the presence of clinical abnormalities since childhood or adolescence. Such abnormalities include lipemia retinalis , eruptive xanthomas, hepatosplenomegaly, and especially AP, which would help confirm the diagnosis of FCS.12

The severe and very severe forms of HTG are clinically relevant because of their association with a 2-fold increased risk of AP. AP is a potentially life-threatening condition that may also lead to a number of clinical complications, such as chronic pancreatitis, pancreatic insufficiency, and diabetes.11 , 13

Chylomicrons are formed by the incorporation of dietary lipids into Apos (A1, A2, A4, B48, C2, C3, and E) and then secreted into the mesenteric lymph.14 Lipoprotein lipase (LPL) is an enzyme located on the endothelial surface of adipose and muscle tissue capillaries; when activated, it initiates the process of hydrolysis of chylomicron triglycerides, generating chylomicron remnants. LPL activity is modulated by the action of apoC2 and apoA5, which act as cofactors in its activation, lipase maturation factor 1 (LMF1), which is necessary for the production of LPL in adipocytes and myocytes, and by the action of glycosylphosphatidylinositol anchored high-density lipoprotein binding protein 1 (GPIHBP1), which transports LPL from the interstitial space to the capillary lumen. Any alteration in the function and/or activation of LPL results in an increase in the half-life of chylomicrons in the bloodstream, consequently leading to chylomicronemia.14

There are two distinct forms of chylomicronemia: FCS and multifactorial chylomicronemia syndrome (MCS). These are, respectively, the prototypes of the monogenic and polygenic conditions underlying severe HTG of genetic origin. Chylomicronemia is estimated to affect 1:600 adults, but patients with FCS account for only 5%.15

The two forms of the disease can be differentiated by clinical and/or laboratory characteristics of patients. Patients with FCS usually present with pancreatitis, whereas those with MCS are more likely to have atherosclerotic cardiovascular disease. Early and accurate diagnosis of both conditions is essential for therapeutic success and mortality prevention.

The two forms are difficult to distinguish due to a considerable phenotypic overlap, and there are still many unanswered questions related to prevalence, clinical and genetic features, and clinical management.

5.2. Concepts

5.2.1. Familial Chylomicronemia Syndrome

FCS is a serious and very rare metabolic disease characterized by chylomicronemia associated with recurrent episodes of abdominal pain and/or pancreatitis.

The worldwide estimate is that FCS affects 1 in every 500,000 to 1,000,000 people.15 , 16 The condition often manifests in childhood or adolescence and has been described in all ethnicities, with a higher prevalence in some geographic areas, such as Quebec, due to the founder effect.17

Also called Fredrickson type I hyperlipoproteinemia,15 FCS is a monogenic, autosomal recessive lipid disorder whose diagnosis is based on the detection of rare, biallelic mutations (homozygous or compound heterozygous) in LPL (> 80% of cases) or other genes that encode the proteins necessary for their activity (such as APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 , and LMF1 ), leading to a dramatic reduction in chylomicron clearance.15 , 18 Typically, patients’ response to lipid-lowering drugs is limited, and thus treatment represents a clinical challenge. The cornerstone of FCS therapy consists of a dramatic reduction in fat intake (8% to 10% of total calories), which is difficult to maintain over time. Lifetime adherence to such an extremely restrictive treatment is difficult, negatively impacts quality of life, and does not completely eliminate the risk of pancreatitis in all patients. Recurrent AP occurs in 50% of patients with FCS; the overall associated mortality rate is 5% to 6% but increases to 30% in subgroups of patients who develop pancreatic necrosis or persistent multiple organ failure.15 , 19

5.2.2. Multifactorial Chylomicronemia Syndrome

MCS, also called Fredrickson type V hyperlipoproteinemia, is an oligogenic or polygenic lipid disorder aggravated by the presence of comorbidities known to increase triglycerides (uncontrolled diabetes, hypothyroidism, pregnancy, obesity), environmental factors (alcohol abuse and diet rich in fats and simple sugars), and certain drugs, such as glucocorticoids, ethinylestradiol, and neuroleptics.20 MCS incidence tends to increase linearly with the increase in the prevalence of obesity, metabolic syndrome, and type 2 diabetes in the world population. In patients with this syndrome, chylomicronemia is intermittent and, in most cases, manifests later.15 It responds well to changes in lifestyle and treatment of secondary factors, with good response to triglyceride-lowering agents. MCS is characterized by an increased risk of AP, but the estimated odds ratio (OR) of 50 is clearly lower than the OR of 360 reported in patients with FCS.16 , 21

The two forms of chylomicronemia can be differentiated on the basis of lipoprotein electrophoresis or ultracentrifugation (presence of VLDL and chylomicrons in MCS; only chylomicrons in FCS). The current gold standard procedure for identifying patients with FCS is genetic testing or post-heparin LPL activity.22 Considering that the treatment for the two forms of the disease is very different, a correct diagnosis must be made. New therapies, such as apoC3 inhibitors, are under development to lower triglycerides in people with FCS.23

6. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in the World and in Brazil

6.1. Definition of Familial Chylomicronemia Syndrome and Clinical Aspects

FCS is a very rare inherited disease that affects approximately 1-2:1,000,000 people. It has an autosomal recessive mode of transmission and is characterized by very high concentrations of triglycerides (usually well above 1,000 mg/dL), turbid lipemic serum, with a milky aspect, lipemia retinalis , recurrent abdominal pain, eruptive xanthomas, episodes of recurrent pancreatitis, cognitive and neurological disorders, and impaired quality of life and sociability.24

However, the frequency of clinical manifestations in patients with FCS is variable. Eruptive xanthomas have been described in 17% to 23% of patients with FCS, lipemia retinalis in 4% to 36%, hepatosplenomegaly or splenomegaly alone in 12% to 25%, abdominal pain in 26% to 63%, pancreatitis in 60% to 88%, and multiple pancreatitis in 17% to 48%.23 , 25 , 26 Serum appearance is important to differentiate between the situations that increase free glycerol in the blood, leading to an overestimation of triglyceride levels, with no serum turbidity after 12 hours of refrigeration and excluding causes of hyperglycerolemia (recent physical activity, alcohol intake, acute liver disease, decompensated diabetes, parenteral nutrition, or intravenous medication containing glycerol).27 , 28

In FCS, severe HTG results from the inability to metabolize triglycerides and other fats. Fats are absorbed by the small intestine, where chylomicrons are formed. When LPL activity is normal, LPL participates in the hydrolysis of chylomicron triglycerides into free fatty acids via the LPL-dependent pathway.20 In FCS, chylomicrons, chylomicron remnants, and triglyceride-rich lipoproteins cannot be metabolized and accumulate in the plasma. Thus, the accumulation of triglycerides can impair pancreatic blood flow and activate inflammatory processes, resulting in AP.19 , 29 - 30

The role of LPL and its cofactors is crucial for understanding the metabolism of triglyceride-rich lipoproteins.24 LPL synthesis occurs intracellularly in adipocytes and smooth muscle cells. It is produced as a monomer, and adequate LPL dimerization is dependent on LMF-1. After this step, GPIHBP1, a glycoprotein involved in the transport of LPL to the capillary lumen, facilitates anchorage of LPL to the endothelial capillary, where it hydrolyzes the triglyceride content of chylomicrons and VLDL. ApoC2 and apoA5 participate as cofactors in LPL activation. Hydrolysis of triglycerides from these lipoproteins releases free fatty acids and monoglycerides, which are transported into myocytes or adipocytes, where they are used for energy production or lipid storage.24

Mutations in five different genes have been implicated in the development of FCS, all of which have an effect on LPL activity, which is responsible for removing triglycerides from chylomicrons and other triglyceride-rich lipoproteins in the circulation, breaking them down into free fatty acids. Patients with FCS have loss-of-function mutations in the LPL gene, leading to extremely high levels of chylomicrons in the circulation and, therefore, severe HTG. Other genes have also been described as cofactors in LPL activation, namely: APOC2 , APOA5 , LMF1 , and GPIHBP1 .15

6.1.1. First Cases of Familial Chylomicronemia Syndrome

FCS was first described by Gaskins et al.28 in 1953, when they followed up three cases of familial idiopathic hyperlipoproteinemia in a family of eight people. The patients had a milky appearance of serum and markedly increased triglycerides. A low-fat diet followed by the administration of intravenous heparin greatly reduced triglycerides, suggesting that the defect was related to triglyceride removal from the circulation.28

This family was studied in 1960 and LPL, an enzyme anchored to the vascular endothelial surface and released from the wall by heparin, was suspected to be responsible for the lipid defect.31 When studying three brothers affected by the condition, the authors also suggested that another defect in addition to LPL could cause the so-called familial idiopathic hyperlipoproteinemia syndrome.

6.2. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in the World

Because FCS is a very rare disease, expert reports contribute greatly to prevalence estimates. Hegele et al.32 reported that, in a series of biological samples from 381 patients with triglycerides > 1,000 mg/dL, four patients (or 1%) had two large-effect loss-of-function mutations on both alleles of the LPL gene, which characterizes the classic autosomal recessive LPL deficiency. When considering patients with mutations in both alleles of the four so-called minor genes that modulate LPL activity – namely, APOC2 , APOA5 , LMF1 , and GPIHBP1 –, another four patients were identified, that is, another 1%.33 , 34

Patients with two mutations in the LPL gene or in its regulatory genes (compound heterozygotes) have two different loss-of-function mutations, and those with two heterozygous mutations in two different causal genes (double heterozygotes) added up to 1% more.33 , 34

Thus, it was estimated that approximately 3% of patients with severe HTG (triglycerides ≥ 1,000 mg/dL) in this sample had mutations in both alleles of genes that encode LPL or one of the proteins that modulate its activity. These patients may be homozygous, compound heterozygous, or double heterozygous. These conditions have been described among French Canadians from the province of Quebec, where the percentage of patients with two mutant alleles is higher due to a founder effect. Such prevalence may seem small compared to the vast majority of patients with severe HTG; however, in the absence of genetic testing, one cannot separate FCS (type I) from MCS (type V) in patients with triglycerides ≥ 1,000 mg/dL. In fact, most patients with severe HTG (97%) have a genetic basis for a heterozygous loss-of-function mutation in the LPL gene or its cofactors and other minor variants, or a strong component of environmental factor. There is, therefore, a polygenic basis with several possible variants in different combinations that are overrepresented among patients with severe HTG, which correspond to the multifactorial form (MCS).32 - 37

Surendran et al.33 reported that among five causal genes, 34% of identified mutations were in the LPL gene.33 Comparing the clinical and laboratory data of patients with FCS of various genetic etiologies, FCS resulting from a defect in the LPL gene is phenotypically very similar to that resulting from defects unrelated to the LPL gene. However, patients with a defect in the LPL gene have lower post-heparin lipase activity and tend to have higher triglycerides. Conversely, LDL-C concentrations are generally higher among people with defects in genes other than LPL .38

Using data from the National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) from 2001 to 2006, severe HTG was estimated to affect 5,680 adults over 20 years of age whose fasting triglyceride results were available. In these patients, the prevalence of triglycerides between 500 and 2,000 mg/dL was 1.7% (87 individuals), and levels > 2,000 mg/dL were found in only three patients.20 If these data were extrapolated to the North American population, they would indicate an estimated 3,357,214 adults with severe HTG (triglycerides between 500 and 2,000 mg/dL) and 81,877 with triglycerides ≥ 2,000 mg/dL.39

A retrospective cross-sectional study evaluated patients from Oregon Health & Science University from July 2012 to July 2017.40 The electronic records of patients seen during that period were reviewed based on 4 criteria: triglycerides ≥ 880 mg/dL, history of AP, absence of secondary HTG, and lack of response to triglyceride-lowering pharmacotherapy (< 20%). When 3 of 4 criteria were met, patients were considered to have likely FCS. When all 4 criteria were met, or if there was confirmation of culprit mutations by genetic testing, patients were considered to have definite FCS. Of 2,342,136 electronic records evaluated, 578 patients showed triglyceride measurements ≥ 880 mg/dL (0.025%), of whom 86 also had a history of pancreatitis. Five patients who met FCS criteria were identified and 3 of them had genetically confirmed FCS, resulting in an estimated prevalence of 1-2 per 1,000,000 people. MCS was identified in 186 patients, suggesting an estimated prevalence of 1 in 12,000 people. There were 5,181 cases of pancreatitis (0.22% of the entire cohort), 86 of which occurred in those with triglycerides ≥ 880 mg/dL (1.7% of pancreatitis cases). The rates of pancreatitis in this subsample increased to 6.5%, 100%, and 17.8% in patients with MCS, FCS, and secondary causes of HTG, respectively.40

In a retrospective study with data from 70,201 patients treated at the Cleveland Clinic Lipid Center from January to December 2006, 369 met the criteria of triglycerides ≥ 750 mg/dL and previous pancreatitis. Of these, 333 cases were due to secondary causes or had missing data and were excluded. Of the remaining 36 patients, 14 met criteria for FCS.41 In this cohort of FCS, the authors reported the prevalence to be at least 1:5,000 based on established diagnostic criteria.22 , 42 The prevalence reported in this study is > 20-200 times higher than the prevalence reported in previous reports. Using electronic data from the North Texas Division of the Baylor Scott & White Health System from September 2015 to September 2016, a screening of patients with triglycerides ≥ 1,000 mg/dL and a history of pancreatitis showed that, of 297,891 adult patients with available triglyceride levels, 334 (0.11%) had triglyceride levels ≥ 1,000 mg/dL and 30 (9%) of them had pancreatitis. Of these, six cases were excluded due to secondary causes. Of the 24 remaining cases, the average maximum triglyceride level was 3.085 ± 1.211 mg/dL. Thus, electronic screening of triglycerides ≥ 1,000 mg/dL and a history of pancreatitis allowed ruling out 99.99% of severe HTG cases, resulting in 24 cases in which FCS could not be excluded, suggesting a prevalence of 1 in 12,413 people. An important data limitation in both studies is the lack of genetic confirmation.43

Another study in Quebec evaluated plasma appearance and classified patients according to triglyceride values, probable etiology, and biochemical characteristics. A total of 354 people with lactescent plasma were compared with 482 patients with clear plasma but triglycerides > 5 mmol/L (approximately 440 mg/dL) and with 364 normolipidemic controls (triglycerides < 2 mmol/L, or < 176 mg/dL). The authors observed that lactescent plasma represented a heterogeneous group of high-risk patients among whom 28 had FCS, 62 had dysbetalipoproteinemia (due to defects in the APOE gene, E2E2), 182 had type IV HTG, and 82 had type V HTG. From a clinical point of view, the higher the triglyceride concentrations and the more lactescent the plasma, the greater the risk of pancreatitis. Visual examination of plasma and clinical phenotype were useful to establish the cardiometabolic risk in these patients, and identification of lactescent plasma is a simple diagnostic tool that can help identify those at increased risk.44

Dron et al.36 suggested that only 1% to 2% of patients with triglycerides ≥ 1,000 mg/dL had FCS, with the remaining majority having MCS. The authors assessed rare and common variants in two independent cohorts of 251 and 312 Caucasian patients with severe HTG. Targeted next-generation sequencing of 73 genes and 185 single nucleotide polymorphisms associated with dyslipidemia, in addition to five causal genes for FCS ( LPL , APOC2 , GPIHBP1 , APOA5 , and LMF1 ), was conducted. The authors found that 1.1% had biallelic rare variants, 14.4% had heterozygous rare variants, 32% had an extreme accumulation of common variants (that is, a high polygenic score), and 52% remained genetically undefined. Patients with severe HTG were 5.77 times more likely to carry one of these variants of genetic susceptibility compared with controls.36

A family with three members affected by FCS who had severe HTG and episodes of pancreatitis underwent genetic panel analysis.45 The index case was a woman with multiple episodes of pancreatitis, one of them during pregnancy, requiring plasmapheresis. The prevalence of severe HTG was also evaluated based on population data obtained from a reference laboratory where secondary causes (207,926 participants, aged 58 years, 52% women) and diabetes were ruled out. The 28-year-old woman had recurrent HTG and pancreatitis with onset at 3 months of age. Triglyceride levels were reasonably well-controlled with a low-fat diet until her early 20s, when she experienced recurrent attacks of pancreatitis and fasting triglyceride levels > 2,000 mg/dL, requiring multiple hospitalizations despite treatment. In addition to a restricted diet, she was placed on fenofibrate, niacin, medium chain triglycerides (MCTs), and omega-3 (ω3), with poor response. She became pregnant at age 30 and required weekly or biweekly plasma exchanges until delivery. Her father and sister had HTG and a history of pancreatitis. The patient was a compound heterozygote for two LPL mutations: c.708delA (p.G237fs*15) deletion and c.644G.A (p.G215E), which are known to impair LPL function. Her father had the c.708delA (p.G237fs*15) deletion variant, whereas her mother and sister had the c.644G.A (p.G215E) variant. Of 207,926 participants, 25 had fasting triglycerides > 2,000 mg/dL with no evidence of secondary causes, suggesting an estimated prevalence of 120/1 million people.45

In another study, the prevalence of FCS was assessed in a largely rural area in central New York State with an estimated population of 870,000. A review of electronic medical records from 385,000 patients identified 998 patients with triglycerides > 750 mg/dL, of whom 994 were excluded for secondary causes of HTG, satisfactory response to therapy, or lack of complete information. Four patients met criteria for FCS. Thus, the probability of finding 4 out of 870,000 would be 0.01, suggesting that the 1/1,000,000 prevalence is an underestimation. The high prevalence was attributed to a probable founder effect.46

The prevalence of FCS was also retrospectively assessed by reviewing the electronic medical records from 7,699,288 patients from the University of Southern California who had triglycerides > 880 mg/dL, at least one episode of pancreatitis, response to lipid-lowering therapy < 20%, and no documented secondary causes. The analysis showed an FCS prevalence of 0.26 to 0.65 per million individuals.47

Finally, the prevalence of FCS was determined in a quaternary care center.48 Data from 1,627,763 patients seen at Johns Hopkins Hospital from 2013 to 2017 were reviewed. FCS criteria included patients with a) at least one fasting triglyceride value > 750 mg/dL, b) history of AP, unexplained recurrent abdominal pain, and/or family history of HTG, and c) absence of secondary causes of HTG. Twenty-one patients with FCS and 89 with secondary HTG were identified, and FCS prevalence in this study was 13:1.000.000 (95%CI, 8-20).48

6.3. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in Children

There are no data regarding the prevalence of severe HTG and FCS among children. A retrospective analysis of electronic medical records from a tertiary pediatric hospital (Children’s Medical Center, Dallas) and NHANES data from 2000-2015 showed that, of 30,623 children at the Children’s Medical Center, 36 (1 in 1,000) had extremely elevated triglyceride levels (≥ 2,000 mg/dL), and one-third of them developed AP. Most of these cases corresponded to secondary causes of HTG, with an estimated prevalence of FCS of 1:6,000 in children in a tertiary care center and 1:300,000 in children in the general population. According to the 2000-2015 NHANES data, none of the 2,362 children met the criteria for severe HTG, whereas the estimated prevalence among adults was 0.02%.49

6.4. Epidemiology of Familial Chylomicronemia Syndrome in Brazil

In Brazil, case reports of FCS are very scarce. Although cases of FCS have been described in several regions of the country, with a higher concentration in regions with a founder effect (especially in the Northeast region), no publications on the subject have been found except for conference publications published in annals.

The first case report consisted of a 3-year-old boy who presented with lipemic serum and plasma triglyceride concentrations of 25,000 mg/dL at 3 months of age with exclusive breastfeeding. At 3 years of age, he developed hepatosplenomegaly and, after a diet restricted in fat and skim milk, triglycerides reached 990 mg/dL. He had zero LPL activity, and a G188E mutation was detected in exon 5 of LPL in homozygosis for him and in heterozygosis for the parents.50

Another report consisted of two children, one aged 21 days and the other aged 4 months and 15 days. In both cases, HTG was casually diagnosed by the xanthochromic aspect of blood during sample collection. Triglyceride levels at diagnosis were 18,019 mg/dL and 5,333 mg/dL, respectively. After in-hospital and outpatient dietary intervention, the lowest triglyceride levels achieved were 602 mg/dL and 615 mg/dL. One of the patients developed recurrent episodes of AP related to high triglyceride levels.51

There was a report of a 15-month-old infant from the state of Rio Grande do Norte with chylothorax and a lipid profile suggestive of FCS, with triglycerides > 1,000 mg/dL and no documented pancreatitis.52 Another publication reported the case of a 45-year-old woman with severe HTG, diabetes, and profuse eruptive xanthomas.53

Two other cases of siblings with FCS with a genetically confirmed mutation in the LPL gene were identified in the rural area of Paraíba.54 Another report consisted of a 45-day-old infant experiencing vomiting and irritability, with triglycerides of 6,541 mg/dL and altered molecular analysis in 3 variants: Chr8:19,811,733 G>A, promoting the replacement of the amino acid glycine at codon 215 by glutamate (p.Gly215Glu); Chr8:19,813,385 G>A, promoting the replacement of the amino acid arginine in codon 270 by histidine (p.Arg270His); and Chr8:19,811,823 T>C, promoting the replacement of the amino acid isoleucine at codon 245 by threonine (p.Ile245Thr). Dietary behavior consisted of skim milk, MCTs, and vitamins A, D, E, and K. After the patient was discharged, the diet was changed to include infant formula, which led to an increase in triglycerides (11,760 mg/dL). The patient underwent fasting and the previous dietary behavior was subsequently restored, which allowed reasonable control of triglyceridemia, adequate growth, and weight gain.55

Lima et al.56 recently reported 12 cases of FCS in patients with a homozygous mutation in the intronic region of the GPIHBP1 gene, all with severe HTG (2,351 mg/dL [885-20,600 mg/dL]) and low HDL-C (18 mg/dL [5-41 mg/dL]) and 33% with episodes of AP. All patients were from cities in the Northeast of the country, suggesting a founder effect.56

Data on the prevalence of FCS varies greatly between studies due to the lack of standardized clinical criteria, the similarity with MCS, the scarcity of tests for genetic confirmation, the lack of national and international registries, and the founder effect of causal genes.

7. Clinical manifestations of familial chylomicronemia syndrome, differential diagnosis, and management of complications

7.1. Clinical Manifestations in Familial Chylomicronemia Syndrome

Clinical manifestations of monogenic forms of chylomicronemia usually happen during childhood or in the beginning of adult life. However, as this is a relatively rare disease, diagnostic delays are common and lead to diagnosis in adult life, when complications are already established.2

A review of the APPROACH study database demonstrated that the mean age at diagnosis was 24 years; more than half of the 66 patients were diagnosed after 20 years old. At diagnosis, 75% of patients had already presented an episode of pancreatitis.57 Other series describe a mean assessment by five different medical professionals before reaching a diagnosis.58

These data reinforce the importance of early and timely diagnosis. The main clinical manifestations of FCS are described in the following sections.

7.1.1. Hypertriglyceridemia

On laboratory assessment, the affected patients presented hyperchylomicronemia, with sharp increases in triglycerides – in general, between 1,500 and 5,000 mg/dL – at the expense of increased VLDL cholesterol (VLDL-C) and especially circulating chylomicrons. Since a small amount of cholesterol is also transported by and is present in chylomicrons, total cholesterol may be increased, usually in triglycerides: cholesterol ratio > 5:1. Many patients have a moderate increase in VLDL-C, with LDL-C and ApoB levels < 100 mg/dL.21

According to the Fredrickson Classification, although type V phenotype is more common, type I seems to be more specific for the diagnosis of FCS in adults. In children, type I phenotype is more frequently observed.21

Severe HTG in patients with FCS usually presents a poor response to fibrates and/or other lipid-lowering drugs. In these cases, which comprise a huge challenge to clinical practice, the main therapeutic alternative is a diet with a drastic reduction in fat intake (8% to 10% of the daily calory intake). The strictness of this diet not rarely makes adhesion to long-term treatment difficult and also significantly affects the patients’ quality of life.5

7.1.2. Abdominal Pain and Acute Pancreatitis

Recurrent abdominal pain is present in up to 50% of patients, is not necessarily associated with AP, and can be debilitating.27

When triglyceride levels are > 1,000 mg/dL, the risk of pancreatitis increases in 3% for every 100 mg/dL.59

A Canadian study compared a group of 25 individuals with FCS to a group of 36 patients with MCS and demonstrated that, despite presenting similar mean triglyceride levels, the group with FCS presented a 10-fold higher risk (60% vs 6%) of pancreatitis.22 This is probably due to a longer duration of exposure to hyperchylomicronemia, which in FCS tends to happen in the first years of life.

Multiple episodes of AP and the severity of dietary restrictions negatively affect the patient’s quality of life and considerably increase morbidity and mortality by the disease. Recurrent pancreatitis occurs in 50% of patients with FCS; the overall associated mortality rate is of 5% to 6% and can reach 30% in subgroups of patients who progress to pancreatic necrosis or persistent multiple organ failure.59

7.1.3. Neurological Manifestations

Fatigue, mental confusion, irritability, and cognitive deficit – described as “mental fog” – are the most described symptoms among patients with FCS.57 , 58

7.1.4. Hepatosplenomegaly

Hepatosplenomegaly is one of the findings that are reversible with treatment and results from excess chylomicrons in macrophages of the reticuloendothelial system in FCS.57

7.1.5. Eruptive Xanthomas

Xanthomas correspond to yellow, eruptive skin lesions with an erythematous halo measuring around 2 to 5 mm diameter. These are found on extensor surfaces (elbows and knees) and on the buttocks. Their prevalence is low (affecting 17% to 33% of the patients), and they are not always correlated with episodes of pancreatitis.27

7.1.6. Lipemia Retinalis

Milky white appearance of the blood in retinal vessels on fundus examination, which can be seen in up to 30% of the patients and is correlated with higher levels of triglycerides.57

7.1.7. Quality of Life

The IN-FOCUS study, with 166 patients with FCS, showed an important impact of the disease on quality of life. Hospitalization rates can interfere with social conditions and job possibilities, and more than 22% of patients reported depression or anxiety related to the pain or pancreatitis episodes.58

7.1.8. Diagnostic Score

Some scales or scores that consider clinical manifestations have been proposed for diagnosing FCS; however, they need to be validated in larger samples of populations with severe HTG.21 Additionally, their applicability is questionable because they include previous pancreatitis episodes among their scoring criteria.59 Fundamentally, the aim of using diagnostic scores consists in screening asymptomatic patients and preventing complications such as AP. The assessment of databases with a larger number of patients with FCS and further detailing of clinical forms should contribute to the elaboration of criteria with higher sensitivity and specificity for diagnosing FCS.

The most widely used score is that by Moulin et al.,21 which uses as selection criteria the presence of severe HTG (> 1,000 mg/dL of fasting triglycerides and outside of the acute phase) and attributes points to increased triglyceride levels once secondary causes are ruled out, to a history of pancreatitis, recurrent abdominal pain, unresponsiveness to usual triglyceride-lowering treatment, and age of symptom onset ( Chart 1 ). This score was tested in cohorts of patients with genetic confirmation of FCS and MCS, being validated in other cohorts showing an area under the curve of 0.91. This position statement recommends its use when screening for genetic testing.

Chart 1. – Clinical score for suspecting FCS.
Criterium Score
Fasting triglycerides ≥ 1,000 mg/dL in 3 not necessarily consecutive analyses + 5
* Fasting triglycerides at least once ≥ 1,760 mg/dL + 2
Previous triglycerides < 200 mg/dL - 5
No secondary factors, except for pregnancy and ethinylestradiol + 2
History of pancreatitis + 1
Unexplained recurrent abdominal pain + 1
No history of familial combined hyperlipidemia + 1
No response to lipid-lowering treatment (triglyceride decrease < 20%) + 1
Symptom onset at age:  
< 40 years + 1
< 20 years + 2
< 10 years + 3
FCS score  
  • Very likely

≥ 10
  • Unlikely

≤ 9
  • Very unlikely

≤ 8

FCS: familial chylomicronemia syndrome. * Only if the previous criterium (fasting triglycerides ≥ 1,000 mg/dL in 3 not necessarily consecutive analyses) is positive. Adapted from Moulin et al. Atherosclerosis 2018; 2018;275:265-272. 21

7.2. Differential Diagnosis

7.2.1. Multifactorial Chylomicronemia Syndrome

In adults, the main differential diagnosis for FCS is MCS. Previously named Fredrickson type V hyperlipoproteinemia or severe polygenic HTG, multifactorial HTG is a polygenic disorder that includes rare heterozygous variants in the five FCS genes or variants commonly associated with HTG, being worsened by the presence of comorbidities or secondary causes of increased triglycerides such as uncontrolled diabetes, hypothyroidism, obesity, and metabolic syndrome.22 Dietary factors, such as alcohol abuse and diets high in fats, simple sugars, and other carbohydrates with high glycemic index are common causes of HTG exacerbation. Among environmental causes, we highlight the use of certain medications (glucocorticoids, oral estrogens, thiazide diuretics, noncardioselective beta blockers, second-generation antipsychotics, protease inhibitors, cyclophosphamide, bile acid sequestrants, amiodarone, retinoic acid, isotretinoin, sirolimus, L-asparaginase, and immunosuppressants such as interferon and cyclosporine) and physiological conditions such as pregnancy, especially in the third trimester.22 The prevalence of MCS usually tends to grow linearly with the increase in prevalence of the most common secondary causes (obesity, metabolic syndrome, and type 2 diabetes). Among patients with MCS, chylomicronemia fluctuates and is manifested in later stages of life when compared to FCS. Additionally, MCS tends to have a better therapeutic response to lifestyle changes and treatment of secondary factors, as well as triglyceride-lowering pharmacotherapies. MCS is characterized by an increased risk of pancreatitis, albeit lower than that reported in patients with FCS.22 , 28 , 60

7.2.2. Lipodystrophies

Other relevant differential diagnoses for FCS are lipodystrophies, which are a heterogeneous group of diseases characterized by the selective loss of adipose tissue that can progress with severe HTG and pancreatitis. Lipodystrophies can be inherited or acquired and are classified as generalized or partial as to their extension; partial forms associated with HIV infection are the most common ones. Inherited lipodystrophies are rare disorders that can manifest at birth or display loss of fat in later stages of life. These conditions still represent a diagnostic challenge, especially considering the partial forms, whose diagnostic suspicion should be raised in the presence of moderate to severe HTG associated with a thigh skinfold measurement < 22 mm in women or < 10 mm in men, and/or cases of diabetes that require subcutaneous insulin in daily doses > 2 IU/kg.61

7.3. Managing Complications of Familial Chylomicronemia Syndrome

7.3.1. Acute Pancreatitis

AP is a relatively frequent event, with different causes that include HTG. Identifying the specific cause is fundamental for establishing treatment and preventing future episodes. In various case series, cholelithiasis is the main cause, followed by alcohol consumption and HTG (less than 10%).63 Despite being a less frequent cause, increased triglyceride levels in patients with pancreatitis are associated with higher mortality and a worse prognosis.64 During pregnancy, estrogen stimulates liver VLDL production and reduces the removal of triglycerides by LPL in the liver and fatty tissue, which makes HTG the most frequent cause of AP.66

Episodes of pancreatitis due to HTG usually occur with triglyceride levels > 1,000 mg/dL.67 The risk and disease severity increase even further in patients with levels > 2,000 mg/mL.68 This happens regardless of whether the basic cause of HTG is primary (genetic) or secondary. However, genetic causes usually come with higher triglyceride levels and, consequently, a higher risk of pancreatitis.

According to the Fredrickson classification, type I (chylomicron), IV (VLDL), and V (chylomicron and VLDL) present HTG, of which FCS (type I) has higher levels and can lead to pancreatitis regardless of triggering factors (decompensated diabetes, obesity, use of corticosteroids, estrogens, or other drugs that cause HTG).

The mechanism causing pancreatitis is not completely understood, but triglycerides themselves do not seem to act directly in the pancreas. The accumulation of free fatty acids in the pancreatic cells happens in the presence of pancreatic lipase and triggers cell injury and pancreatic inflammation.70 Another potential mechanism stems from the accumulation of glutamic acid decarboxylase (GAD). In the absence of LPL activity and consequent accumulation of chylomicrons, there is also an increase in GAD that triggers TNF-alpha- and IL-6-mediated inflammation. Chylomicrons themselves can also obstruct distal pancreatic blood flow and cause ischemia.

The clinical presentation of pancreatitis is similar regardless of its etiology. Patients with FCS not rarely present recurrent pancreatitis episodes, and some of them report an unknown number during anamnesis. This triggers psychological changes, compromising quality of life.58 Some patients even avoid going to parties and gatherings, because they fear eating could trigger pancreatitis. Children require constant vigilance, as they do not fully understand the disease and want to eat just as their colleagues who do not have the disease. After a first pancreatitis episode (many times during adolescence, after menarche), the acute pain and need for hospitalization are factors that motivate a more rigorous adherence to the restrictive diet required for controlling severe HTG.

Eruptive xanthomas are infrequent even in severe HTG. However, when present in a patient with AP, these lesions suggest HTG as etiology. Extensor surfaces of the arms and legs are the most frequent sites. Fatty infiltration in the liver and spleen can occur, leading to hepatosplenomegaly, but these are unspecific findings.

The diagnosis of AP should begin with a clinical suspicion (acute and persistent abdominal pain, irradiating to the dorsal region), confirmed by laboratory examinations (amylase or lipase values three times the upper normal limits) and imaging tests (ultrasonography, computed tomography, or magnetic resonance imaging). At least 2 of these 3 findings should be present for diagnostic confirmation, and this does not depend on the etiology of pancreatitis. Not rarely, patients present only abdominal pain, without laboratory or imaging alterations. In the absence of a suggestive clinical picture, lipase and amylase analyses may be more of a hindrance than a help. Triglyceride levels < 1,000 mg/dL during a clinical episode suggesting pancreatitis leave HTG as an unlikely cause of pancreatitis.67

Once diagnosis is confirmed, treatment should aim to reduce/relieve pain and maintain adequate hydration; even though oral nutrition is suspended, adequate nutrition should be provided to a patient in an acute setting as early as possible. Reducing triglyceride levels is fundamental for reversing the inflammatory process, and considering this happens through chylomicrons, greater reduction should be achieved when interrupting oral nutrition. In the most severe cases (body temperature > 38.5ºC or < 35.0; heart rate > 90 bpm; respiratory rate > 20/min or pCO2< 32 mmHg; leukocytes > 12,000 or < 4,000/mL), requiring a faster reduction of triglyceride levels, plasmapheresis may be used. In case an adequate diet is not instituted or triggering factors are not controlled, achieving remission becomes more difficult. Insulin stimulates LPL and can also be used in some cases (regular insulin, 0.1 to 0.3 U/kg/h). Similarly, heparin also acts by stimulating LPL, but its use should be carefully considered because it may not bring benefits in the medium term (increases risk of bleeding and release of toxic components of triglycerides).63

Once the patient is clear of AP, the factor that triggered the inflammatory process should be assessed and treated. Maintaining adequate weight, exercising regularly, and avoiding medications or other triggering factors for HTG help prevent new episodes of pancreatitis.

Differently from other HTG causes that respond well to fibrates, FCS does not present a significant reduction of triglyceride levels with these drugs, which are not used to prevent pancreatitis in these patients. ApoC3 is an inhibitor of LPL; its inhibition by volanesorsen (an antisense oligonucleotide against ApoC3) used once a week significantly reduced (77%) triglyceride levels and, consequently, the chances of pancreatitis.23 From a pathophysiological point of view and considering the benefits demonstrated in clinical studies, patients with FCS benefited from the use of volanesorsen. However, patients with frequent pancreatitis (usually one or more episodes a year) and difficulties controlling triglyceride levels with usual diet treatment would benefit from it the most.

8. Laboratory Diagnosis of Familial Chylomicronemia Syndrome

Clinical laboratories have a supporting role in the diagnosis of FCS. Lactescent (milky white) serum is the main indicator of the presence of chylomicrons and follows high triglyceride levels. Some aspects should be considered for the effective laboratory diagnosis of FCS. The phases responsible for the result of a laboratory analysis comprising an FCS investigation are: pre-analytical, analytical, and post-analytical.

8.1. Pre-analytical Phase (Patient Instructions)

8.1.1. Collection Instructions

Fasting is no longer mandatory for lipid panels; however, in situations such as triglyceride metabolism disorders, it is required for diagnostic confirmation of FCS. In these cases, adults over 20 years old should fast for 12 hours.2 , 71 - 73 In children, this duration varies according to the age group. Infants (up to 1 year) should fast for 3 hours or collection should be done immediately before the next feeding; non-infants (2 to 5 years) should fast for 6 hours. Children over 5 years old and adolescents should fast for 12 hours.

8.1.2. Pre-analytical Causes of Interference in Triglyceride Analyses

The preparation for sample collection considering triglyceride analyses in adults (> 20 years) consists in the patient’s usual diet, with 12 hours of fasting; alcohol consumption should be avoided at least 72 hours before the test; and no strenuous exercise should be performed 24 hours before the test.74

Some situations increase the free glycerol blood level, leading to an overestimation of triglyceride levels with no serum cloudiness. In these cases, the patient should be evaluated for one of the events described in the literature: recent physical exercise, alcohol consumption, acute liver disease, decompensated diabetes, parenteral nutrition, or intravenous glycerol-containing drugs.74

8.1.3. Pre-analytical Phase (Laboratory Instructions)

In HTG, the serum varies from cloudy to lactescent. Grade 1 – slightly cloudy; Grade 2 – cloudy; Grade 3 – very cloudy; Grade 4 – lactescent. Since serum appearance is a subjective issue, only after measuring triglyceride levels and storing the serum for 12 hours under refrigeration that we can proceed with visual inspection.74

8.2. Analytical Phase

8.2.1. Methodologies Assessing Chylomicrons

Methodologies that can be used to indicate the presence of chylomicrons in serum are demonstrated in the following paragraphs.

8.2.1.1. Ultracentrifugation

The gold standard for separating fractions of lipoproteins according to their lipid content and density. However, this method has inherent limitations that include its lack of availability at clinical laboratories, high cost, and delays in executing the technique, becoming unfeasible for Brazilian laboratories.

8.2.1.2. Serum Appearance

For observing chylomicrons in the lactescent serum, we recommend the use of whole blood collection tubes with serum-separating devices for centrifugating and collecting the serum from the supernatant.75 When this is not possible, after centrifuging and removing samples for laboratory analyses, 1 mL of serum should be transferred to a transparent disposable hemolysis tube. The lactescent serum obtained in any situation should sit in a refrigerator for 12 hours so that a creamy layer is observed on its surface, indicating the presence of chylomicrons, which should be specified in the patient’s report.74

8.2.1.3. Lipoprotein Electrophoresis

Lipoprotein electrophoresis, also named lipidogram, can help confirm the presence of chylomicrons with a colorful band at the site of sample application.74 - 76 However, this method of separating serum lipid fractions is no longer used in routine clinical practice because it is semiquantitative and cholesterol fractions were adopted as risk markers for cardiovascular disease; therefore, we do not recommend the use of this methodology in this document.

Out of the three mentioned methodologies, the most widely accessible at various laboratories is serum appearance, which is the one recommended by this document.

8.2.2. Methodologies for Assessing Triglycerides

The methodology for measuring triglycerides can use an enzymatic colorimetric reaction and/or ultraviolet (UV) detection. These methods are precise and inexpensive. The reaction begins with the hydrolysis of triglycerides into three fatty acids and one glycerol molecule.75 Therefore, for each triglyceride molecule, one glycerol molecule will react and provide the triglyceride concentration in the sample. Any physiological situation that increases serum glycerol levels will overestimate triglyceride levels. The literature describes a rare genetic disease, glycerol kinase deficiency, also named pseudohypertriglyceridemia; this disorder causes hyperglycerolemia and HTG without the lipemic appearance of the serum.77

8.2.3. Interferences to Triglyceride Results

Lipemia, depending on its intensity, leads to falsely increased triglyceride levels due to the association between the method coloration and serum cloudiness. In this case, the sample should be diluted in buffered saline solution (pH 7.4) or in the automation diluent (platform-dependent) for obtaining a reliable result.75

Serum dilution may follow a scale according to triglyceride levels and the method’s analytical range. For example, if the analytical range is 8 to 885 mg/dL, the following dilutions may be suggested: 1:4 (triglycerides 400-600), 1:6 (triglycerides 601-1,000), 1:10 (triglycerides 1,001-2,000), or 1:20 (triglycerides ≥ 2,001).

FUNDAMENTAL: Even after diluting the sample, the obtained results should be kept in the dynamic range; this is essential for maintaining the method’s linearity and reproducibility.

IMPORTANT: Using a sample blank (diluted sample) for considering cloudiness even after the dilution. The difference (delta) between reads should be used = diluted sample - diluted sample blank, multiplying the delta value by the dilution rate; only then the value should be associated with control and/or platform calibrator samples.

EXAMPLE: If the result of a diluted (1:4) sample was 250 mg/dL, it should be multiplied by 4, and the result will be 1,000 mg/dL triglycerides. However, if the sample blank reads 50 mg/dL, this value should be subtracted from the diluted (1:4) sample (250 - 50 = 200); this value is then multiplied by 4 and the result will be 800 mg/dL triglycerides. Therefore, it is essential to account for the cloudiness of the diluted serum. The greater the dilution, the higher the overestimation of triglyceride levels in case the sample blank is not accounted for.

Therefore, the methodology’s technical description must be analyzed for obtaining information and instructions, such as its analytical range (dynamic range), possible dilutions that can be done, the diluent material, use of sample blank, or even changes to the automated program. These descriptions are method-platform-, and manufacturer-dependent, and should be followed according to their respective information.75

8.2.4. Interferences of Triglycerides to Other Analytes

8.2.4.1. LDL-C

The laboratory analysis of LDL-C is hindered by increased triglyceride levels in the lipemic serum. LDL-C calculation via the commonly used Friedewald formula not only is limited to patients with triglyceride levels up to 400 mg/dL but can also be underestimated, and the patient ends up not receiving treatment due to triglyceride interference. On the other hand, Martin’s equation applies correction factors to the Friedewald formula, allowing a more reliable estimation of LDL-C, and can be applied with triglyceride levels up to 13,975 mg/dL. In addition, the direct method can be used to measure LDL-C but will present limitations depending on the degree of lipemia.2 , 71 - 73

In FCS or in MCS, HTG is severe due to the presence of chylomicrons, VLDL, and their remaining components. The patient presents a reduction in VLDL lipoprotein lipolysis, which leads to a decrease in LDL lipoprotein production in the plasma and a high amount of large and triglyceride-rich particles (chylomicrons and VLDL) when compared to a normal individual. In this case, no matter the methodology (calculated or directly measured LDL-C), the values are always lower than the method’s analytical sensitivity. We recommend that laboratories release LDL-C results that are extremely low or negative as < 10 mg/dL.73

8.2.4.2. Platelets

Platelet counts in automated hematology are performed by using impedance and, in case of lipemia, interferences will possibly decrease their count. The same association happens when determining hematocrit – in this case, with an important piece of information, and the results are calculated from the association between hemoglobin and erythrocyte count.75

8.2.4.3. Analytes with Colorimetric Analysis

Methods with colorimetric endpoint readings usually present more restrictions regarding lipemia. This can also happen less intensely in systems with UV detection. This interference is directly proportional to serum cloudiness but is not always proportional to triglyceride concentration. It should be noted that lipoproteins have different sizes and are constituted by different percentages of triglycerides.75

8.2.4.4. Enzymes

Kinetic, colorimetric, and/or UV enzymatic reactions can suffer interferences by lipemia, depending on its intensity. Therefore, alkaline phosphatase and gamma-glutamyl transferase have greater limitations, because they employ p-nitrophenyl phosphate in their assays (colorimetric methods). However, the use of exclusively UV-based methods can also face restrictions with lipemia.75

8.2.4.5. Electrolytes

When determining sodium in the serum and/or plasma with increased triglyceride levels, results will be falsely low. In this case, the sodium value can be corrected by calculating: triglycerides (g/dL) x 4 - 0.60 = percentage factor.75

Example: Na+122 mmol/L and triglycerides 2,100 mg/dL; 2.10×40.60=7.8%

Na+122×7.8%=131.5mmol/L(correctedNa+

8.2.5. Laboratory Analyses for Differential Diagnosis

8.2.5.1. Post-heparin LPL Activity

LPL activity is not measured in laboratory routine analysis, but it may be useful when screening for genetic testing for FCS. When the laboratory allows the LPL activity assay to be performed before and 10 minutes after heparin injection (IV heparin [50IU/kg]), whole blood should be collected from the other arm using a heparinized tube and transported on ice to the laboratory. The collection tube should be centrifuged for 10 minutes at 3,000 rpm and 4ºC, and plasma should be immediately separated. The tube with plasma should be stored at -80ºC until the day of analysis using the adopted protocol or sent to a specialized laboratory.

LPL activity is drastically decreased in FCS by homozygous genetic alterations to LPL, and it is frequently reduced when these alterations occur in LPL cofactors ( APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 , and LMF1 genes) in cases of homozygosity or compound heterozygosity. However, researchers have demonstrated that the discriminating capacity of this test for identifying patients with common variants of LPL genes is limited, which justifies the absence of a recommendation in this document.79

8.2.5.2. Plasma ApoC3 Measurement

Increased plasma levels of ApoC3 are an important risk factor for HTG. Recent studies concluded that ApoC3 also inhibits an LPL-independent triglyceride-rich lipoprotein pathway. ApoC3 measurement is feasible at large clinical laboratories or support laboratories.71

8.3. Post-analytical Phase

8.3.1. Recommendations for NOTES in Laboratory Reports21,23

  • - In adults, in case of triglyceride levels > 1,000 mg/dL assessed after 12 hours of fasting, in 3 different blood collections and once secondary causes of HTG are ruled out, the diagnosis of hyperchylomicronemia should be considered.

  • - In children and adolescents, in case of triglyceride levels > 880 mg/dL regardless of fasting, in 3 different blood collections and once secondary causes of HTG are ruled out, the diagnosis of hyperchylomicronemia should be considered.

  • - In children or adults, a triglyceride level < 170 mg/dL EXCLUDES the investigation of hyperchylomicronemia.

Recommendation: Adults should maintain normal diets, fast for 12 hours, avoid alcohol (72 hours) and exercise (24 hours). For children, fasting periods vary according to the age group. Infants (up to 1 year) should fast for 3 hours or collection should be done immediately before the next feed; non-infants (2 to 5 years) should fast for 6 hours. Children over 5 years old and adolescents should fast for 12 hours. Excess free glycerol in the blood leads to an overestimation of triglyceride levels. Lactescent serum should sit in the fridge for 12 hours for verifying the presence of chylomicrons. When measuring triglycerides, the analytical range, dilution rate, diluent material, and use of sample blank or changes to automation should be kept in mind. In severe HTG, FCS, or MCS, LDL-C levels (calculated or directly measured) that are too low or negative should be reported as < 10 mg/dL. Lipemia, depending on its intensity, interferes with platelet counts, colorimetric methods, enzymatic reactions (kinetic, colorimetric, and/or UV), and sodium determination. The post-heparin LPL activity assay is not recommended in this document. ApoC3 measurement is viable at clinical laboratories. We recommend that laboratory reports mention that an FCS diagnosis, after ruling out the secondary causes of HTG, should be considered in the following situations: 1) Adults with 12 hours of fasting and triglyceride levels > 1,000 mg/dL, in 3 different collections; 2) children and adolescents with triglyceride levels > 880 mg/dL, regardless of fasting, in 3 different collections; 3) in children and adults, a triglyceride level < 170 mg/dL EXCLUDES the investigation of hyperchylomicronemia. (Grade 1 Recommendation, Level of Evidence C).

9. Genetic Counseling and Stages of Diagnosis and Follow-up of Severe Hypertriglyceridemia

The American Society of Human Genetics defines genetic counseling as a communication process that handles human problems associated with the occurrence and risk of occurrence or recurrence of a certain genetic disease in a family.80

The term genetic counseling was used for the first time in 1947 by Sheldon Reed,81 as a way of, in a world post-World War II, face the eugenic concepts that permeated the scientific and medical societies as to genetic diseases and disabilities in general. Since then, it incorporated the principles of the psychosocial model of patient care, using as foundation the empathy and human skills involving communication, recognizing the grieving process, and self-defense mechanisms. The professional should use ethical neutrality and nondirectivity – two fundamental principles of genetic counseling – for guiding the patient and the family, providing answers and information as completely as possible so that the individual seeking guidance can make his or her decisions, being aware of the risks and alternatives.

The term “aconselhamento,” used in the Portuguese translation, actually does not indicate the true objective of this process, because the etymology of the verb indicates “to give advice,” when in reality, this is not the goal of this procedure. The closest Portuguese translation for genetic counseling82 would be “consultoria genética”: its goal is to provide guidance so that the patient feels secure when making decisions, understanding that there is no right or wrong and no conduct should be suggested. That being said, it is important to understand that, when performing genetic counseling, the professional should respect the family’s ethical and religious values, following the three principles that govern medical ethics: autonomy, beneficence, and nonmaleficence.83

It is worth noting that what many call genetic counseling is just a stage of the whole process.84 Genetic counseling involves, in total, five phases:

  1. Establishing and/or confirming diagnosis, which involves anamnesis, physical examination, elaboration of a diagnostic hypothesis, request and interpretation of complementary examinations; this could last for weeks, months, or years until diagnosis is achieved.

  2. Calculating genetic risk: a more theoretical phase that is many times separated from the family; it aims to calculate the risk of occurrence or recurrence of a certain genetic condition. The condition’s etiology can be monogenic, chromosomal, multifactorial, or even unknown. For each situation, a different risk can be calculated, thus disease etiology is fundamental for establishing risk as precisely as possible.

  3. Communication; in this phase, patients receive guidance regarding the risks, many times involving conversations about therapeutic and prognostic options. The combination between phases 2 and 3 represents what is commonly referred to as genetic counseling.

  4. Decisions and Action: phase that involves helping the family and the patient with the decisions taken in the Communication phase, regarding both the treatment and possible contraceptive methods.

  5. Follow-up, representing a continuous phase where the patient or the family are followed up, observing their individual needs and the natural history of the genetic condition.

It is important to note that some stages of genetic counseling involve medical conducts, whereas others can be performed by various health professionals, as long as they are properly trained on the previously mentioned communication abilities and human and medical genetics.84

The two phases that represent genetic counseling the most are undoubtedly those of genetic risk calculation and communication. Although apparently simple, defining the risk of occurrence or recurrence of a certain genetic condition involves broad knowledge of the basis of genetics and inheritance. Talking about a risk of recurrence compatible with autosomal dominant or recessive inheritance seems simple when considering Mendel’s laws of genetic inheritance, but some confounding factors should be kept in mind, such as incomplete penetrance, variable expression, mosaicism, or genetic heterogeneity. Each of these factors can interfere with the clinical diagnosis of different forms of the disease, making a challenge out of adequately guiding patients through the risks.

The confirmation of a pathogenic variant explaining a phenotype can be fundamental for considering the correct risk in these cases. It is also important to note that different inheritance patterns (apart from mendelian inheritance) can present risks that require a more complex estimation. For example, in multifactorial risk, one should consider the number of affected individuals in a family, relationship with the proband, and factors that may vary from case to case, such as the age of symptom onset, symptom severity, and environmental factors. In a context of multifactorial inheritance, identifying these risks and considering how much they affect the total risk may be completely impossible, thus we consider a risk of recurrence that is always approximate or empirical, considering the whole empirical knowledge and risks of recurrence calculated based on population-based studies.84

This way, in order to talk about risk of occurrence or recurrence, a clear definition between FCS20 or MCS36 should be established.

FCS is inherited in an autosomal recessive pattern, that is, an individual needs a homozygous variant or two variants in compound heterozygosity, both of which pathogenic or probably pathogenic, in order to present the phenotype.

This pattern of autosomal recessive inheritance, by biallelic homozygous mutation (same mutation in both copies) or compound heterozygosity (one mutation in each copy), is present both in cases of LPL and other genes involved with the monogenic forms: APOC2 , APOA5 , GPIHBP1, and LMF1 .86

It is known that the progenitors of an individual with FCS will each have a copy of the affected variant. This way, the siblings of a person with FCS have 25% of risk of also inheriting the syndrome. Finally, an individual with FCS will always pass one of the variants to his or her children. In case the person’s partner also has a variant of the same gene, the risk to their children from this combination is 50%.18

Since the HTG phenotype can also be caused by the presence of common or rare functional variants of genes that increase triglyceride levels, making up a polygenic inheritance pattern, molecular diagnosis is required for proper genetic counseling.86

The chances of other family members also presenting FCS will depend on their family history; therefore, a pedigree should always be considered to help with risk calculation. It is important to mention that, although individuals with a heterozygous pathogenic variant may present increased triglyceride levels, individual triglyceride measurement should not be used for considering a carrier status, as individuals with a heterozygous variant may present normal levels of triglycerides while individuals without the variant may present variations in triglyceride levels due to environmental factors.86

Only 1% of HTG cases present biallelic mutations. On the other hand, 14% of patients with HTG are estimated to carry rare heterozygous mutations, a rate 3 to 5 times higher than that the general population. The use of polygenic risk scores may be useful for identifying these individuals.20 , 38 , 87

The indication of genetic testing evaluates aspects (eg, positive family history, presence of a recognized inheritance pattern in the family, absence of secondary factors, relatively young patient age, and important biochemical alterations) that help interpret test results and consequently help with genetic counseling regarding the risk of family recurrence.20 , 38 , 87

10. Nutritional Guidance for Chylomicronemia in Adults, Children, and Adolescents

The treatment of FCS is based on severe dietary fat restriction88 to prevent the synthesis of chylomicrons, particles formed exclusively in the enterocyte which are responsible for the transport of dietary fat and cholesterol.89 , 90 Patients with FCS have mutations associated with LPL or its cofactors, which compromise the hydrolysis of dietary triglycerides.21 , 91 For this reason, a fat-restricted diet is recommended, limiting fat to a maximum of 10% of daily total energy intake (TEI) (15 to 20 g of fat per day).92

Because of the severity of the disease, patients should be very well informed of the importance of strictly following the guidelines, and the nutritionist should indicate food options that contribute to greater adherence to treatment. Some authors consider FCS to be a devastating condition for patients and a frustrating one for physicians and nutritionists regarding the main treatment target – controlling severe HTG.25 FCS adversely impacts patients’ quality of life because of the difficulty in following a strictly restricted diet, which significantly compromises social interaction.24 Limited knowledge of FCS prevents friends and family from apprehending the seriousness of the disease. The IN-FOCUS study,93 involving 166 patients with FCS from 10 countries, showed that more than 90% of the participants found following a strict diet to be difficult. Database evaluation of a subgroup (n = 60) of participants from the same study58 showed that 22% of the participants reported anxiety, fear, and worry about the quantity and quality of food to be consumed, especially in social and work situations. These symptoms were experienced at least once a month, or several times a week.

The health care team can use motivational interviews to help patients with FCS resolve their internal conflicts and to promote greater adherence to a fat-restricted diet.92 This may help patients develop their own eating plan with the assistance of a nutritionist and accept their personal responsibility for self-management of the disease.

Although fat restriction is the mainstay of FCS treatment, patients should also avoid foods with added sugars, such as sucrose and corn syrup,92 because they induce hepatic lipogenic pathways. Patients should also abstain from consuming alcohol, because its consumption is linearly associated with plasma triglyceride levels.91 In addition, monitoring dietary intake of fat-soluble vitamins, minerals, and essential fatty acids is recommended, and their supplementation may be necessary.94 , 95 Specifically concerning dietary fat, it is essential to consider fatty acid type and chain length, because they are absorbed differently and can influence the plasma concentration of triglycerides and the production of chylomicrons.

10.1. Fatty Acid Classification and Absorption

Saturated fatty acids (SFAs) are classified according to chain length of the carboxylic acid into short-, medium-, or long-chain, and these characteristics influence their absorption process. Short-chain fatty acids include acetate (C2:0), propionate (C3:0), and butyrate (C4:0), whereas medium-chain fatty acids include caproic (C6:0), caprylic (C8:0), and capric (C10:0) acids. Long-chain fatty acids contain more than 12 carbons and include lauric (C12:0), myristic (C14:0), palmitic (C16:0), and stearic (C18:0) acids.96 Short-chain fatty acids are produced by colonic bacterial fermentation, whereas medium-chain fatty acids are found in coconut and palm oils.96 , 97 Coconut fat is the main dietary source of lauric acid, which is found in minute amounts in other foods. Palmitic acid is the most abundant fatty acid in the diet, and the main sources are red meat and palm oil. Because palm oil is a structurally stable fat, it has been widely used in the food industry.98 The main sources of myristic acid are coconut fat, milk, and dairy products, whereas the main source of stearic acid is cocoa.99 All unsaturated fatty acids have a long chain and are classified as monounsaturated (MUFAs) or polyunsaturated fatty acids (PUFAs). The main MUFAs are palmitoleic (C16:1 ω7) and oleic (18:1, ω9) acids, with a single double bond in their structure.100 , 101 The main dietary source of palmitoleic acid is macadamia, whereas oleic acid is found mainly in olive and canola oils, and also in nuts such as peanuts, hazelnuts, macadamia nuts, almonds, and cashew nuts.102 They are also present in beef, chicken, and pork fats, accounting for 40% to 50% of total fat content in these foods.103 , 104

PUFAs contain two or more double bonds and are part of the omega-6 (ω6) or ω3 series depending on the position of the first double bond counted from the methyl end of the carbon chain. Fatty acids of the ω6 series are represented by linoleic acid (C18:2), whose main sources are vegetable oils (sunflower, corn, and soybean oils), walnuts, and chestnuts. The ω6 series also includes arachidonic acid (C20:4), which is synthesized endogenously from linoleic acid by enzymatic activity. Alpha-linolenic acid (ALA [C18:3]), of the ω3 series, is obtained from vegetable oils, mainly canola and soybean oils, and also from flaxseeds and chia seeds.105 The ω3 fatty acids of animal origin are eicosapentaenoic acid (EPA [C20:5]) and docosahexaenoic acid (DHA [C22:6]), found in the oils of fish and crustaceans mainly from cold- and deep-water habitats.106 - 108 Linoleic and linolenic acids are considered essential fatty acids because they are not synthesized in the human body. They should therefore be provided by the diet, and their supplementation is recommended in special conditions of deficiency.88

Trans fatty acids also have a long chain and are mainly represented by elaidic acid (18:1, n-9t), found in vegetable fats resulting from the partial hydrogenation of vegetable oils during preparation.109 , 110 Trans fatty acids are found in minute amounts in meat and milk in the form of vaccenic acid (18:1, n-11t), which is produced through the biohydrogenation of fats under the action of the rumen microbiota of ruminants.109

10.2. Fat Absorption

Dietary fats include triglycerides (90% to 95%), phospholipids, cholesterol, and fat-soluble vitamins. Although the intestine is the major site for digestion of fats, this process begins minimally in the oral cavity, through exposure to lingual lipases, followed by the stomach, where 10% to 30% of fatty acids are released, starting the process of fat emulsification.89 , 111 Digestion continues in the intestine, where hydrolysis of the remaining triglycerides is induced by pancreatic lipase activity, releasing fatty acids and monoacylglycerol.112 , 113

The mechanism of fatty acid absorption is complex because of multiple absorption systems.114 Short-chain fatty acids (acetate, propionate, and butyrate) are absorbed primarily via sodium-dependent or non-sodium-dependent active transport mediated by monocarboxylate transporters. However, G protein-coupled receptors (GPCRs) may also participate in the absorption of these fatty acids, such as GPR41 and GPR43. Medium-chain fatty acids (capric, caprylic, and caproic acids) are absorbed mainly via passive transport, but GPR84 may also play a role in their incorporation into the enterocyte surface.115 After absorption, they bind to albumin and travel via the portal circulation to the liver.114 Conversely, more complex mechanisms are required to absorb long-chain fatty acids (saturated, unsaturated, or trans), and their transport in the plasma depends on the formation of chylomicrons.96 , 97 They can be absorbed by passive diffusion, when the luminal concentration is higher than the intracellular concentration, or through membrane receptors/transporters. For example, the transporter cluster of differentiation 36 (CD 36) allows the uptake of long-chain fatty acids even when their luminal concentrations are lower than those inside the cell.116 The fatty acid transporter protein 4 (FATP4) is widely distributed in the intestine and one of the main long-chain fatty acid transporters.117 Within enterocytes, fatty acids are transported by proteins such as fatty acid-binding protein 1 (FABP1) and FABP2116 and re-esterified, returning to the form of triglyceride by the action of the diacylglycerol acyltransferase (DGAT) enzyme.89 Triglycerides are then incorporated into ApoB48 via the microsomal triglyceride transfer protein, which initiates the formation of chylomicrons.118 Chylomicrons are processed in the Golgi complex and subsequently secreted into the lymph, entering the blood circulation via the thoracic duct.89 , 90

In the bloodstream, chylomicron triglycerides are hydrolyzed by LPL, which is adhered to the endothelium of extrahepatic tissues, releasing free fatty acids that subsequently bind to albumin, being stored mostly in adipose tissue and only minimally in muscle tissue.119 Chylomicron hydrolysis generates chylomicron remnants, which are removed from the circulation through their interaction with hepatic B/E receptors and LDL receptor-related protein.120

10.3. Nutritional Treatment

10.3.1. Fats

Triglyceride lipolysis is defective in FCS because of mutations in the LPL gene or its cofactors ( GPIHBP1 , LMF1 , APOA5 , or APOC2 ), so long-chain fatty acids should be minimally consumed to prevent elevated plasma chylomicron concentrations.27 Restricting dietary fat intake to 10% of daily TEI is therefore recommended.92 However, depending on the severity of the disease, total fat intake can be further restricted to less than 5% daily calories.91

In addition to strict adherence to a very-low-fat diet, SFA-rich foods should be consumed in small amounts. SFAs are involved in important hepatic lipogenic pathways by activating the sterol regulatory element binding protein-1c (SREBP-1c), which acts as a transcription factor coding for the genes of acetyl-CoA carboxylase, fatty acid synthase, and stearoyl-CoA desaturase-1,121 , 122 enzymes involved in fatty acid synthesis, precursors of the synthesis of triglycerides, by the action of DGAT.123

Although ω3 unsaturated fatty acids regulate triglyceride synthesis by blocking SREBP-1c, they are not recommended for the treatment of FCS even at high doses, because individuals do not have a defect in the hepatic synthesis of triglycerides, but rather in triglyceride hydrolysis.27 However, because they are considered essential fatty acids, both ALA (ω3) and linoleic acid (ω6) supplementation may be necessary for patients with FCS to prevent deficiency. The Global Burden of Disease Study , 124 a study conducted in 197 countries, suggests an optimal intake of ω6 of 11% of daily TEI, although the global average consumption is 4.5% of TEI. Regarding ω3, the optimal intake is 0.25 g/d, with a global average consumption of 0.1 g/d.124 The Recommended Dietary Allowances (RDA) recommend a daily ω3 intake of 0.5 to 1.4 g, depending on the age group.125

10.3.2. Medium-chain Triglycerides

MCTs contain caproic (C6:0), caprylic (C8:0), or capric (C10:0) SFAs, which are obtained by fractionating coconut or palm oils and are commercially available, together or separately. They may have a small amount of lauric acid (maximum of 1% to 2%).126 , 127 Individuals with FCS are allowed to consume MCTs because these fatty acids are absorbed almost entirely via the portal circulation, being minimally incorporated into chylomicrons.128 , 129 It is important to note that lauric acid (C12:0) is considered a long-chain fatty acid that is transported mainly via chylomicrons, being transported via the portal circulation only when its storage capacity in this lipoprotein is exceeded.129 , 130 Therefore, it is essential to carefully observe the fatty acid composition of the product, which should preferably contain no or minimal concentrations of lauric acid to prevent an increase in chylomicron concentrations.

MCTs are indicated to contribute to energy intake in infants, children, and adults with FCS, as an adjunct to treatment. However, tolerability must be tested because people have reported gastrointestinal discomfort after use of MCTs.92

10.3.3. Carbohydrates

Food sources of complex carbohydrates, rich in fiber, should be consumed, such as brown rice, beans, peas, lentils, and chickpeas. Fruit intake is recommended in adequate amounts, with a maximum of 3 to 4 servings per day, so as not to exceed the recommended daily sugar intake. Some authors suggest limiting total carbohydrate intake to 60% of daily TEI.92 Added sugars (sucrose and corn syrup) should be avoided because they induce an increase in the hepatic synthesis of fatty acids, contributing to elevated plasma triglyceride concentrations. Sugars contain glucose and fructose, and the latter promotes intense hepatic lipogenesis not only by serving as a substrate for fatty acid synthesis but also by stimulating the expression of enzymes involved in de novo lipogenesis via activation of carbohydrate-responsive element binding protein and SREBP-1c.131 - 133 In addition, excessive fructose intake decreases fatty acid beta-oxidation by inducing post-translational modifications in mitochondrial proteins, reducing the number and size of these organelles.134

Therefore, patients with FCS should avoid the consumption of concentrated fruit juices because of intense fructose-induced lipogenic activity.

10.3.4. Alcohol

Patients should abstain from consuming alcohol because it can elevate plasma triglyceride concentrations. Alcohol metabolization begins minimally in the stomach by the action of alcohol dehydrogenase (ADH), but it is metabolized mainly by the liver through three pathways: cytochrome P450 2E1, catalase, and ADH. Alcohol metabolization leads to form acetaldehyde, which is converted into acetate by aldehyde dehydrogenase, with the main participation of ADH.135 Acetate can be converted to fatty acids, precursors of triglyceride synthesis.136

10.3.5. Infants and Early Childhood

Providing infants with adequate quantity and quality of nutrients during the first 2 years of life is essential to promote adequate growth and cognitive development, in addition to consolidating healthy eating habits. However, developing an eating plan for infants and children with FCS that ensures proper dietary intake of recommended amounts of macronutrients and micronutrients is a challenging task for the nutritionist and the family because of the severe dietary fat restriction. Nutritionist training in this area is of paramount importance to balance the diet, to develop sample menus for the family, and to closely monitor the implementation of new eating habits. The family should be aware that dietary fat intake above the recommended amount, even in minimal amounts, can cause an undesirable increase in plasma chylomicron concentrations.

For breastfed infants with FCS, breastfeeding must be discontinued as soon as the diagnosis is confirmed, which can cause frustration and sadness for both the mother and child. Breast milk has approximately 3.2% fat, with triglycerides accounting for approximately 98% of the lipid fraction. The exact fatty acid composition depends on the mother’s diet and varies significantly during the breastfeeding period.137 Milk triglycerides consist mainly of long-chain SFAs (35% to 40%), MUFAs (45% to 50%), and PUFAs (15%), with a predominance of palmitic, oleic, and linoleic acids, respectively.137 , 138 Unsaturated fatty acids with a chain length of more than 20 carbons, containing two or more double bonds, represent only 2% of the total fatty acids present in breast milk.138 Fatty acids of the ω3 series are found in small amounts in breast milk: ALA (0.019 g/100 mL), EPA (0.003 g/100 mL), and DHA (0.008 g/100 mL).139 , 140

An important study conducted in Europe (European Childhood Obesity Project) followed up 174 children from birth to age 1 year and contributed to a better understanding of the caloric intake of lipids, carbohydrates, and proteins through the first year of life, with results that can be extrapolated to provide dietary guidance for infants who cannot be breastfed.139 Average daily energy intake was 419 kcal at 1 month, 589 kcal at 6 months, and 860 kcal at 12 months. Fat intake was 21 g/day within the first 6 months, gradually increasing to 34.2 g at the end of 12 months. Regarding essential fatty acids, considering exclusive breastfeeding up to 3 months of age, the average daily intake of ALA (ω3) was 0.118 g and of linoleic acid (ω6) was 2.40 g. Regarding marine fatty acids, the average daily intake of EPA was 0.022 g and of DHA was 0.048 g.139 According to the Academy of Nutrition and Dietetics, the recommended intake of ω3 fatty acids is 0.5 g/day for infants aged 0 to 12 months and 0.7 g/day for children aged 1 to 3 years, whereas the recommended intake of ω6 fatty acids is 4.6 g/day for infants aged 0 to 6 months and 7 g/day for children aged 7 to 12 years.125

Given the severe dietary fat restriction, monitoring dietary intake of fat-soluble vitamins (A, E, D, and K) is recommended,92 and the RDA for infants and children are available in the table of the Dietary Reference Intakes.95

Special infant formulas that partially resemble the nutritional composition of breast milk are recommended as a substitute for breast milk.92 Regarding fat content, formulas should be prepared only with medium-chain fatty acids (capric, caprylic, and caproic acids), in addition to providing fat-soluble vitamins and allowed amounts of essential fatty acids. In addition, MCTs can be recommended to achieve optimal energy intake, according to tolerance, because they are minimally transported by chylomicrons.128 , 129

The introduction of solid foods such as vegetables, fruits, and lean meats (e.g., fish, skinless chicken breast, lean beef), and grains should follow the recommendations of national and international pediatric societies, limiting dietary fat intake to 10% of daily TEI.

Adequate fluid intake is recommended to maintain fluid balance, which will contribute to pancreatic function. Prolonged dehydration induced by vomiting and diarrhea is known to increase the risk of pancreatitis associated with FCS.92

Dietary guidelines should be individualized and enjoyable, respect cultural habits, and be sustainable in the long term. Children should be informed of the importance of reading food labels, and the family should be instructed to prepare meals containing minimal amounts of fat, in addition to highlighting the importance of preparing meals/foods at home.

10.3.6. Pregnant Women

During pregnancy, a rise in plasma lipid concentrations is expected especially at the end of the second and third trimesters, with two- to four-fold increased triglyceride concentrations, which are well tolerated by the patient. In this phase, increased insulin resistance and the action of placental hormones contribute to greater adipose tissue lipolysis. In addition, there is increased hepatic output of VLDL and decreased hepatic lipase activity. LPL activity is also reduced, which impairs the hydrolysis of lipoprotein triglycerides. Because of these alterations, hepatic clearance of triglyceride-rich lipoproteins is consecutively reduced, leading to elevated plasma triglyceride concentrations.141 , 142

Increased triglyceride levels during pregnancy are associated with an increased risk of complications for the mother and child by increasing the risk of AP, which may lead to miscarriage, early delivery, and even death. During pregnancy, although rare, AP is often caused by biliary lithiasis. Elevated cholesterol concentrations and gallbladder hypomotility caused by the hormonal profile characteristic of pregnancy predisposes women to calculus formation, which may obstruct the pancreatic duct. Women with FCS show a marked increase in triglyceride concentrations, which may trigger AP. Pregnant women with FCS are at a 4% increased risk of developing AP with triglyceride levels > 1,000 mg/dL, and at a 14% increased risk with levels > 2,600 mg/dL.94

The dietary treatment of pregnant women with FCS aims to maintain plasma triglyceride levels less than 500 mg/dL throughout pregnancy. To this end, a fat-restricted diet (less than 20 g/day) is required, along with adequate intake of vitamins, minerals, and essential fatty acids, according to the recommended intake for the stage of pregnancy, including monitoring of maternal weight gain. Patients following a very-low-fat diet should be monitored regularly to ensure proper dietary intake of calories, macronutrients, and micronutrients, especially essential fatty acids143 and fat-soluble vitamins.92

MCTs (without long-chain fatty acids) may be indicated to achieve optimal energy intake if necessary. In addition, adequate fluid intake is recommended to maintain adequate fluid and electrolyte balance. Pregnant women with FCS associated with type 2 diabetes mellitus or gestational diabetes need greater attention for proper adherence to the diet, requiring multidisciplinary follow-up to manage lipid levels, glycemia, and fetal development.92

Dietary management of FCS is the only tool available to control plasma triglyceride levels in this condition, as demonstrated in a recent case report of a pregnant woman with plasma triglyceride levels of 8,683 mg/dL who experienced previous episodes of pancreatitis.144

The nutritionist should help patients develop their own eating plan, providing assistance with recipes and strategies that facilitate adherence to the diet. Dietary preferences, cultural habits and lifestyle should be considered, as well as nutritional adequacy of the diet and energy intake. An extreme very-low-fat diet is difficult to maintain. Therefore, monitoring by a multidisciplinary team is extremely important to manage lipid levels and minimize the risk of complications.92

10.3.7. General Recommendations

  1. Restricting dietary fat intake (10% to 15% of TEI);

  2. Avoiding added sugars (sucrose and corn syrup);

  3. Avoiding concentrated fruit juices;

  4. Abstaining from consuming alcohol;

  5. Consuming complex carbohydrates in adequate amounts;

  6. Ensuring adequate intake of essential fatty acids;

  7. Monitoring the intake of fat-soluble vitamins, with supplementation if necessary;

  8. Introducing MCTs to achieve adequate energy intake, according to tolerance.

10.4. Sample Menus

Menu 1,500 kcal Servings Lipids kcal
Breakfast      
Skim milk 200 mL 0 61
Whole wheat bread 2 slices 1.6 120
Cottage cheese 1 tablespoon 0.8 28
Papaya ½ unit 0 46
Oat 1 tablespoon 1.7 40
Morning snack      
Fig 3 units 0 80
Lunch      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing 1 tablespoon 0 5
Rice, cooked without oil 3 tablespoons 0.2 100
Black beans (50% broth) without oil 1 ladle 0.4 65.3
Shark meat with tomato sauce and basil 200 g 1.6 232
Sautéed broccoli with garlic and onion 2 tablespoons 0 30
Pineapple 1 slice 0.1 70
Afternoon snack      
Nonfat yogurt 200 mL 0.6 88
Whole wheat bread 1 slice 1.9 60
Sugar-free jam ½ tablespoon   30
Light ricotta cream 1.5 tablespoon 2.1 44
Dinner      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing 1 tablespoon 0 5
Egg white omelet filled with spinach, tomato, and zucchini 2 egg whites 0 80
Baked potato with garlic, coarse salt, and rosemary 1 medium unit 0 100
Baked banana with cinnamon 1 unit 0 70
Supper      
Nonfat yogurt 200 mL 0.6 88
Total in grams   11.6 1462.3
% kcal   7.1  
Menu 1,800 kcal Servings Lipids kcal
Breakfast      
Skim milk 200 mL 0 61
Whole wheat bread 2 slices 1.6 120
Light Minas cheese 1 slice 2.3 50
Banana 1 unit 0 70
Rolled oats 1 tablespoon 1.7 40
Morning snack      
Persimmon 1 unit 0.2 70
Tapioca 3 tablespoons 0 100
Light ricotta cream 1.5 tablespoon 2.1 44
Lunch      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing   0 5
Rice with vegetables 4 tablespoons 0.3 128
Lentils (50% broth) 1 ladle 0 93
Mediterranean acoupa weakfish 120 g 1.3 91
Roasted vegetables with rosemary 2 tablespoons 0 80
Guava 1 unit 0.5 60
Afternoon snack      
Skim milk blended with papaya and apple 200 mL 0 150
Whole wheat bread 1 slice 1.9 60
Oven-baked ricotta with tomato and oregano 30 g 2.4 53
Dinner      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing 1 tablespoon 0 5
Pasta with tomato sauce, cooked without oil 150 g 0.7 185
Grilled chicken with rosemary 80 g 2 127
Fruit salad 150 mL 0 120
Supper      
Nonfat yogurt 200 mL 0.6 88
Total in grams   17.6 1820
% kcal   8.7  
Menu for pregnant women 1,800 kcal Servings Lipids kcal
Breakfast      
1 glass of skim milk 250 mL 0 75
Light whole wheat bread 2 slices 0.5 96
Light Minas cheese 1 slice 2.3 50
Banana 1 unit 0 70
Oat bran 1 tablespoon 1.1 49
Morning snack      
Nonfat yogurt 200 mL 0 88
Strawberry 10 units 0.3 30
Lunch      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing 2 tablespoons 0 5
Brown rice, cooked without oil 4 tablespoons 0.6 120
Black beans (50% broth) without oil 1 ladle 0 50
Acoupa weakfish with passion fruit sauce 150 g 1.7 114
Roasted vegetables with rosemary 2 tablespoons 1 120
Melon 2 slices 0 60
Afternoon snack      
Skim milk blended with 250 mL 0 75
berries 50 g   28
Ricotta 30 g 2.4 53
Tapioca 2 tablespoons 0 74
Sugar-free jam ½ tablespoon 0 30
Dinner      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber 1 dinner plate 0 10
Dressing 2 tablespoons 0 5
Pasta with tomato sauce, cooked without oil 150 g 0.7 185
Oven-baked tuna with herbs 150 g 1.1 180
Papaya ½ unit 0 46
Supper      
Nonfat yogurt 200 mL 0.6 88
Rolled oats 1 tablespoon 1.7 40
Total in grams   14 1,751
% kcal   7.2  
Menu for children 1,400 kcal Servings Lipids kcal
Breakfast      
Oat porridge with banana      
1 glass of skim milk + vitamins A+D+E 200 mL 0 67
Banana 1 unit 0 70
Oat bran 1 tablespoon 1.1 49
Whole wheat bread 1 slice 0.8 60
Light ricotta cream 15 g 1 22
Morning snack      
Nonfat yogurt blended with 200 mL 0 99
papaya and ½ unit 0 46
Fortified skim milk powder (with vitamins A+D+E) 1 tablespoon 0 50
Lunch      
Green salad, tomato, heart of palm, corn, and beans 1 dessert plate 0 28
Dressing 1 tablespoon 0 5
Brown rice 3 tablespoons 0.6 75
Black beans (50% broth) 3 tablespoons 0 50
Shredded chicken breast with tomato sauce 4 tablespoons 2 127
Sautéed zucchini 3 tablespoons 0 30
Melon 1 slice 0 28
Afternoon snack      
Tapioca with 30 0 108
light Minas cheese 30 2.3 50
Tomato and oregano 0 0 0
Sugar-free passion fruit juice 0 0 0
Dinner      
Green salad, tomato, heart of palm, cucumber   0 0
Dressing   0 5
Rice with vegetables 2 tablespoons 0.15 75
Lentil 3 tablespoons   45
Turkey breast with rosemary 70 2.5 130
Dates 2 units 0 70
Supper      
Warm fortified skim milk (with vitamins A+D+E) with cloves and cinnamon 200 mL 0 67
Cocoa powder 1 tablespoon 1.4 26
Total in grams   11.85 1382
% kcal   7.7  

LOW-FAT FOODS (< 5 g per serving)

  IN 100 g Per serving
amount of fat fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
FISH            
raw pollock fillet 0.4 tr nd tr 120 0.5
raw sevengill shark in steak 0.67 tr nd 6 120 0.8
raw tuna 0.9 0.01 0.01 20 120 1.1
raw acoupa weakfish 1.1 0.01 0.01 tr 120 1.3
raw spotted sorubim, skin removed 1.3 0.02 0.02 tr 120 1.6
raw corvina 1.6 0.01 0.02 65 120 1.9
raw hake 2 0.03 0.05 tr 120 2.4
fish sole fillet 3 nd nd nd 120 3.6
raw hake fillet 4 0.03 0.04 48 120 4.8
  IN 100 g Per serving
MEATS fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
grilled beef top rump 2.4 0.19 0.04 nd 80 1.9
grilled chicken breast, skin removed 2.5 0.31 0.01 tr 80 2.0
raw beef eye of round 5.2 0.06 0.01 3 80 4.2
grilled beef bottom sirloin without fat 7.3 0.17 0.03 tr 80 5.8
cooked beef eye of round 9.1 0.12 0.02 2 80 7.3
cooked beef foreshank without fat 7.4 0.16 0.01 tr 80 5.9
cooked chicken drumstick, skin removed 5.8 1.1 0.05 tr 80 4.6
cooked beef shin without fat 6.7 0.09 0.03 2 80 5.4
  IN 100 g Per serving
DAIRY fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
nonfat yogurt 0.3 tr nd nd 200 0.6
skim milk 0 nd nd tr 200 0.0
light cottage cheese 0 nd nd nd 30 0.0
cottage cheese 2.6 nd nd nd 30 0.8
light ricotta cream 7.1 nd nd nd 30 2.1
ricotta 8.1 0.14 0.02 53 30 2.4
light cream cheese 13 nd nd nd 20 2.6
light Minas cheese 7.7 nd nd nd 30 2.3
light Minas cream cheese 14,7 nd nd nd 15 2.2
light mozzarella cheese 17 nd nd nd 30 5.1
mozzarella cheese 25,2 0.31 0.08 109 30 7.6
Minas cheese 20,2 0.28 0.06 161 30 6.1
  IN 100 g Per serving
EGGS fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
boiled egg white 0.1 0 0 0 3.2 0.0
whole chicken egg 9.5 0.94 0.02 32 50 4.8
  IN 100 g Per serving
BREAD AND PASTA fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
tapioca 0 0 0 0 45 0.0
cooked spaghetti 0.9 nd nd nd 100 0.9
raw wheat pasta 1.3 nd nd nd 50 0.7
fiber-rich whole grain bread 3.31 nd nd nd 25 0.8
light whole wheat bread 1 nd nd nd 50 0.5
  IN 100 g Per serving
CEREALS fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
quinoa flakes           0.0
rice, cooked without oil 0.41 0.31 0.01 nd 60 0.2
brown rice, cooked without oil 0.2 0.06 nd nd 60 0.1
popcorn kernel 4 nd nd nd 16 0.6
oat bran 7 nd nd nd 20 1.4
raw rolled oats 8.5 2.95 0.06 nd 20 1.7
flaxseeds 32.3 5.42 19.81 nd 10 3.2
chia seeds 34.4 17.36 62.02 nd 10 3.4
  IN 100 g Per serving
LEGUMES fat ω6 g ω3 g retinol (ug) g food g of fat
cooked chickpeas 2.6 2.71 0.13 nd 65 1.7
cooked lentils 0.5 0.21 0.04 nd 50 0.3
cooked black beans with broth 0.5 0.16 0.14 nd 86 0.4
sugar-free cocoa powder 13.5 nd nd nd 10 1.4
fruits to avoid fat per serving          
pequi (souari nut) 18       60 10.8
avocado 8.4       100 8.4
coconut 4       30 12.6
acai 3.9       250 9.8

na: not available; tr: traces; lipids (g) per serving. Inline graphic

11. Apheresis

Triglycerides > 1,000 mg/dL increase the risk of pancreatitis in patients with FCS. Class IIA, Level C.

AP is the most frequent complication in patients with FCS, with a prevalence of 60% to 88%.145 Plasma triglycerides > 1,000 mg/dL may be indicative or greatly increase the risk of hypertriglyceridemic pancreatitis (HP).

AP mortality in patients with FCS is approximately 6% but may reach up to 30%, depending on the presence of complications.146 , 147 Cohort studies have demonstrated a more severe evolution in these patients, with a higher prevalence of complications (shock, renal and respiratory failure, sepsis) compared with other etiologies of AP.148 , 149

11.1. Diagnosis and Treatment

The initial diagnostic and therapeutic procedures for HP should follow the same practices recommended for AP cases in general (including intravenous fluid therapy, analgesic treatment, and fasting). The earliest possible determination of serum triglyceride levels is crucial, as they may decrease in the first 48 hours after the onset of pancreatitis as a result of fasting.150

In patients with FCS, HP may occur spontaneously, with no apparent cause, or be triggered by secondary factors including uncontrolled diabetes, alcohol abuse, pregnancy, and medications (oral estrogens, tamoxifen, propofol, valproic acid, isotretinoin, clomiphene, beta blockers, protease inhibitors, and mirtazapine).68

11.2. Nondrug Therapy

The mainstay of initial AP therapy is admission to the intensive care unit, as well as oral intake restriction, intravenous fluids, and analgesia. Clinical evolution depends on the reduction of plasma triglycerides within the first 24 to 48 hours of admission. Most patients with HP have an uncomplicated clinical course, with good prognosis. In general, serum triglyceride levels decrease within 24 to 48 hours of admission and reach values < 500 mg/dL on the fourth or fifth day only with support measures.151 Once the pain subsides and gastrointestinal transit is established, an oral fat-free diet may be reinstated.

11.3. Pharmacological Treatment

Intravenous heparin infusion for HP is not recommended in patients with FCS. Class of recommendation: III, Level of evidence: C.

Heparin and insulin infusions have been used as the main therapy for HP, with most evidence coming from single cases or case series.152 - 156 The infusion of unfractionated heparin can release LPL bound to endothelial cells, leading to a temporary reduction in serum triglycerides. In severe cases of HP, long-term intravenous heparin infusion can deplete LPL from the surface of endothelial cells, allowing serum triglyceride levels to rise again.157 - 159 In addition, some authors are reluctant to recommend the use of intravenous heparin in patients with pancreatic necrosis due to the risk of hemorrhagic transformation.151

The use of low-molecular-weight heparin is indicated as prophylaxis for deep venous thrombosis in HP in patients with FCS. Class II A, level C.

There are no contraindications for the use of low-molecular-weight heparin160 as prophylaxis for deep vein thrombosis in HP.

Intravenous insulin should only be used for glycemic control in HP in patients with FCS and decompensated type 1 or 2 diabetes. Class of recommendation: IIa, Level of evidence: C.

Insulin increases LPL activity and helps to reverse the effects of insulin resistance on the liver. Insulin infusion is especially useful in patients with uncontrolled diabetes and hyperglycemia in addition to HTG. There is no clear evidence of the benefit of insulin in patients with HP who are not diabetic.19

Intravenous insulin therapy must be initiated in patients with severe HTG and HP who also have uncompensated type 1 diabetes.160 - 162 Intravenous insulin should be initiated in patients with severe HTG and HP who also have decompensated type 2 diabetes.163 - 165

11.4. Apheresis

Plasmapheresis should be indicated in patients with FCS and HP on an individual basis. Potential candidates are patients with severe HP or persistent triglycerides > 1,000 mg/dL after the first 24 to 48 hours. Class of recommendation: IIb, Level of evidence: C.

Case reports and series have demonstrated the efficacy of plasmapheresis in removing triglycerides from the circulation of patients with HP, with a mean reduction in triglyceride levels between 65% and 85% after 1 or 2 sessions.166 - 170

Because HP is a life-threatening condition, some centers use plasmapheresis as the procedure of choice to rapidly reduce circulating chylomicrons as soon as the diagnosis is established, thus removing the agent responsible for pancreatic damage. The early use of this procedure to reduce plasma triglycerides would prevent the production and accumulation of free fatty acids, reducing their local and systemic effects.171 - 172 The mechanism of HTG-induced AP is probably caused by excess triglycerides, which leak from acinar cells into the vascular bed of the pancreas when hydrolyzed by pancreatic lipase, resulting in accumulation of free fatty acids and lysolecithin. Free fatty acids are toxic and can cause damage to acinar cells and the capillary endothelium.173 In addition, elevated concentrations of chylomicrons increase the blood viscosity of veins with impaired local blood flow, resulting in pancreatic ischemia and worsening of tissue damage.174 Free fatty acids activate trypsinogen, which leads to local edema and necrotizing pancreatitis.173 A case series published in a tertiary hospital in Turkey included 33 patients with HTG-related AP and showed a mean triglyceride reduction of 54.4% after a single session of plasmapheresis. After a second session, there was a 79.4% reduction in triglycerides. During clinical course, 13 patients had pancreatic fluid collection, with 1 case of necrotizing pancreatitis and no cases of pseudocyst. Mortality in patients with severe HP was 33.3%, and overall mortality was 3%, with no cases related to plasmapheresis. The study demonstrated that plasmapheresis is a safe and effective treatment for patients with HP. More studies are needed to compare apheresis + conservative treatment with only conservative treatment in patients with HP.175

Chen et al.167 retrospectively analyzed clinical outcomes in patients with HP before (n = 34) and after (n = 60) the availability of apheresis at their institution. The groups had similar clinical features. In 20 patients from the second group, plasmapheresis was initiated with a mean time of 3 days after symptom onset. There were no significant differences in terms of mortality and complications between patients undergoing or not undergoing plasmapheresis. Study limitations include the retrospective design, single-center experience, and small sample size.167

Some centers perform plasmapheresis on admission, shortly before 24 hours, whereas others perform the procedure within 24 to 72 hours of admission. Studies have emphasized the importance of early initiation of plasmapheresis in HP, whereas others have not detected any difference in morbidity and mortality with early or late initiation of the procedure.167 A clear benefit of plasmapheresis in reducing HP severity has yet to be conclusively demonstrated.

Plasmapheresis is not risk-free and is a costly procedure. It requires central intravenous access and temporary anticoagulation, with associated complications that include bacteremia, venous thrombosis, and bleeding. Potential candidates are those with severe HP or persistent triglyceride levels > 1,000 mg/dL after the first 24 to 48 hours of admission.175

Due to the lack of evidence, recommendations for plasmapheresis in adults with HP and FCS should be individualized. In recent American Society for Apheresis (ASFA) guidelines, the recommendation for plasmapheresis in patients with HP is 2C (weak recommendation), with a level of evidence of III.176

11.5. Pregnancy and HP in Patients with FCS

The indication of plasmapheresis during pregnancy, although safe and effective, should be individualized due to the scarcity of evidence to date. Class of recommendation: IIb, Level of evidence: C.

Normal pregnancy is characterized by adaptive changes in lipid metabolism to meet the needs of the placenta and the glucose and lipid requirements for fetal growth, including increased glucose production, progesterone synthesis, lipogenesis, and reduced lipolysis.177 , 178 Patients with genetically determined alterations in lipid metabolism, characterized by reduced intravascular lipolysis, may evolve during pregnancy with severe HTG and pancreatitis.179

HP is developed in the third trimester of pregnancy or at the beginning of the postpartum period, with a major impact on maternal and fetal morbidity and mortality.180 Rates of maternal and fetal mortality due to HP of 37% and 60%, respectively, have already been described, but these numbers are currently declining due to diagnostic and therapeutic advances.181 - 183

Pregnancy-associated pancreatitis may occur in the setting of gallstone disease, alcohol abuse, and HTG.146 In cases of HP, the severity score and the worst prognosis are more prevalent than other etiologies of AP.64 , 184 Clinical case reports have shown that the use of plasmapheresis in pregnant women is effective and safe.185 - 188 However, due to the scarcity of evidence, the indication of plasmapheresis in pregnancy complicated by HP, in patients with FCS, should be individualized.

12. New Therapies for the Treatment of Familial Chylomicronemia Syndrome

Treatments available for patients with FCS aimed at reducing triglyceride levels are not effective in controlling chylomicronemia.24 Gene therapy with AAV1-LPL(S447X) using an adeno-associated virus was tested in the setting of FCS (Glybera, alipogene tiparvovec) with the aim of expressing LPL(S447X). However, despite promising results, the commercial use of AAV1-LPL (S447X) was not possible due to its high cost.189 Thus, the only therapy that reduces triglycerides to < 880 mg/dL, or 10 mmol/L, in patients with FCS and which seems to reduce the risk of pancreatitis is a fat-restricted diet associated with alcohol restriction and certain medications.92 Lifelong adherence to these restrictions is difficult, and episodes of chylomicronemia, abdominal pain, and recurrent pancreatitis are common. Thus, additional therapies are needed to maintain triglycerides levels < 880 mg/dL.

12.1. APOC3

ApoC3 is a glycoprotein consisting of 79 amino acids, synthesized primarily in the liver and to a lesser extent in the intestine, and is associated with ApoB-containing lipoproteins, including chylomicrons, VLDLs, and HDLs.190 - 192 In genetic, preclinical, and phase 1 studies, ApoC3 has emerged as a regulator of plasma triglyceride concentrations.192 ApoC3 is an inhibitor of LPL activity190 and a potent inhibitor of LPL activation that is mediated by ApoC2, resulting in the inhibition of lipolysis of triglyceride-rich lipoproteins.190 ApoC3 has also been shown to inhibit hepatic lipase activity, to promote VLDL assembly and secretion,193 and to inhibit clearance of triglyceride-rich lipoproteins remnants.194 However, the importance of these LPL-independent mechanisms is not well understood.

12.1.1 Antisense Inhibition of ApoC3

Volanesorsen is a second-generation antisense drug that inhibits the synthesis of modified apoC3. ISIS 304801 has a 2’-O-(2-methoxyethyl) end.192 Inhibition of ApoC3 synthesis in the liver occurs through sequence-specific binding of ISIS 304801 to APOC3 mRNA, which in turn leads to the degradation of APOC3 mRNA by RNase H1, an endogenous ribonuclease expressed in mammalian cells.191 In phase 1 studies with healthy volunteers, ISIS 304801 promoted a dose-dependent and prolonged reduction of ApoC3 plasma concentrations with concomitant triglyceride lowering.192 In phase 2 studies, ISIS 304801 was effective in lowering triglycerides in patients with elevated VLDL due to different conditions.195

Because patients with FCS have very low LPL activity and because lipolysis inhibition by the LPL-dependent pathway is a mechanism of action of ApoC3, ISIS 304801 would be predicted to be ineffective or to have a minimal effect in lowering triglycerides in patients with this syndrome. However, there must be an LPL-independent escape mechanism for the survival of these patients. Preclinical studies suggest that ApoC3 modulates triglyceride levels through an LPL-independent pathway. A study was conducted with ISIS 304801 in patients with FCS and triglycerides levels from 1,406 to 2,083 mg/dL. After 13 weeks of treatment with 300 mg of volanesorsen, plasma concentrations of ApoC3 and triglycerides were reduced in 71% to 90% and from 56% to 86%, respectively. During treatment, all patients had triglycerides < 500 mg/dL. Initial data showed the role of ApoC3 as a regulator of triglyceride metabolism through LPL-independent pathways.191

These outcomes were replicated in the Approach clinical trial,57 a 52-week, randomized, double-blind, phase 3 study that evaluated the efficacy and safety of volanesorsen in 66 patients with FCS. Patients were randomly assigned in a 1:1 ratio to receive volanesorsen or placebo. The primary endpoint was the percentage change in fasting triglycerides from baseline to 3 months (at week 12 or week 13). Nine secondary endpoints were prioritized and analyzed in hierarchical order. If analysis of the first endpoint was significant, the second endpoint in the hierarchy would be analyzed for significance, and so on. If an endpoint was nonsignificant in the hierarchy, analysis of all subsequent endpoints would be exploratory. Percentage changes from baseline to 6 months and to 12 months were compared between treatments using analysis of covariance (ANCOVA).

A total of 130 patients were selected, of whom 67 underwent randomization; 1 patient from the placebo group withdrew consent. Of the 66 patients, 41 were homozygous or compound heterozygous for at least 1 of 25 inactivating mutations in LPL , and 11 patients had biallelic mutations in accessory proteins or were double heterozygous for LPL and APOA5 or LMF1 mutations. Fourteen patients had no defined mutations but were included on the basis of their clinical phenotype and low LPL activity.23

Included patients were aged 20 to 75 years, 80% were white, and 55% were women; the mean body mass index was 25.0 ± 5.7. Age at FCS diagnosis ranged from 1 to 75 years. Lipemia retinalis occurred in 21% and eruptive xanthomas in 23% of patients; 76% had a documented history of AP, of whom 23 had had 53 adjudicated AP episodes in the previous 5 years. Seven patients had chronic pancreatitis.

At baseline, 53% of patients were taking fibrates, ω3 fatty acids, or both, and 20% were receiving statins. Seven patients had been treated with alipogene tiparvovec (Glybera) more than 2 years before they were included in the study. Baseline triglyceride levels were elevated and did not differ between patients who were receiving medication and those who were receiving placebo (2,209 ± 1,199 mg/dL), likewise VLDL chylomicrons (1,849 ± 1,176 mg/dL) and ApoB48 (10.2 ± 6.6mg/dL). ApoC3 levels were elevated (30.2 ± 14.2 mg/dL).

Treatment with volanesorsen reduced mean ApoC3 levels from baseline by 84% after 3 months and by 83% after 6 months (P < 0.001 for both comparisons), corresponding to decreases of 25.7 mg/dL and 25.6 mg/dL, respectively. APOC3 levels increased by 6.1% (1.9 mg/dL) after 3 months and decreased by 5.2% (1.7 mg/dL) after 6 months among patients receiving placebo. The primary efficacy endpoint, ie, the percentage change in triglycerides between baseline and 3 months, was a 77% decrease in the volanesorsen group vs an 18% increase in the placebo group (P < 0.001), corresponding to a decrease of 1,712 mg/dL (95%CI, 1,330 to 2,094) in the volanesorsen group compared with an increase of 92.0 mg/dL (95%CI, -301 to 486 mg/dL) in the placebo group (p < 0.001).

The results of the analysis of the first-ranked secondary endpoint (ie, treatment response rate, defined as a fasting plasma triglyceride level of < 750 mg/dL at 3 months) were significant. Compared with 10% of patients in the placebo group, 77% of patients in the volanesorsen group achieved triglyceride levels < 750 mg/dL (OR, 186.16; 95%CI, 12.86 to could not be estimated; p < 0.001). The results of the second-ranked secondary endpoint (ie, percentage change in fasting triglyceride levels from baseline to 6 months) were also significant: there was a 53% reduction in triglyceride levels in the volanesorsen group (1,380 mg/dL) vs a 25% increase in the placebo group (224 mg/dL). The mean difference between groups was -77.8% (95%CI, -106.4 to -49.1; p < 0.001). The analysis of the third-ranked secondary endpoint (ie, percentage change in fasting triglyceride levels from baseline to 12 months) was significant; volanesorsen reduced triglyceride levels by 40% (986 mg/dL), whereas there was a 9% increase (39 mg/dL) in the placebo group. The between-group difference was -49.1% (95%CI, -94.7 to -3.5; p = 0.03). The subsequent endpoint (ie, the average of maximum intensity of patient-reported abdominal pain during the treatment period in the hierarchical analysis) was not significant.23

Among patients in the volanesorsen group, 19 completed the full 52-week treatment period. Six patients received 300 mg per week for the entire treatment period; among the remaining 13 patients, dose frequency was reduced to 300 mg every 2 weeks, treatment was paused, or both. Among patients who did not have a dose reduction, the decrease in triglyceride levels from baseline was 79% at 3 months, 80% at 6 months, and 72% at 12 months (absolute decreases from baseline of 1,670 mg/dL, 1,656 mg/dL, and 1,454 mg/dL, respectively). Absolute decreases in triglyceride levels among the 13 patients whose doses were reduced was 71% at 3 months, 52% at 6 months, and 54% at 12 months (mean decreases from baseline of 1,933 mg/dL, 1,564 mg/dL, and 1,400 mg/dL, respectively). Among the 6 patients whose doses were not reduced, 5 had triglyceride levels < 750 mg/dL at 6 months, and 4 had triglyceride levels < 750 mg/dL at 12 months. Of the 13 patients whose doses were reduced, 6 had triglyceride levels < 750 mg/dL at 6 months, and 6 had triglyceride levels < 750 mg/dL at 12 months; 3 patients achieved triglycerides < 750 mg/dL at 6 and 12 months.23 In exploratory analysis, the levels of chylomicron triglycerides, ApoB48, non-HDL-C, and VLDL-C in patients receiving volanesorsen were reduced by 83%, 76%, 46%, and 58%, respectively; in the same patients, the levels of HDL-C, ApoA1, LDL-C, and ApoB were increased by 46%, 14%, 136%, and 20%, respectively.23

Volanesorsen reduced triglyceride levels irrespective of patients’ genetic diagnoses or type of mutation. At 3 months, mean triglyceride levels were decreased by 65% in the 17 patients with biallelic mutations in the LPL gene and by 75% in the 9 patients with non- LPL genetic deficiencies. Patients with mutations in the APOC2 , GPIHBP1 , APOA5 , and LMF1 genes all showed triglyceride decreases from 69% to 88%. Treatment was also effective irrespective of baseline triglyceride levels and was equally effective in patients receiving concomitant fibrate therapy, ω3 fatty acids, or both and patients not receiving those therapies (mean decrease from baseline to 3 months of 76% and 73%, respectively).23

Because of the limited sample size due to the rarity of FCS, a change in the number of AP episodes was not a prespecified endpoint. However, exploratory analysis of adjudicated episodes of AP that occurred during the trial was conducted. During the treatment period, 3 patients in the placebo group had 4 episodes of AP, whereas 1 patient in the volanesorsen group had 1 episode 9 days after receiving the final dose.23

The most common adverse events during the treatment period were injection-site reactions and thrombocytopenia. In the volanesorsen group, 20 patients (61%) had at least one mild-to-moderate injection-site reaction and, on average, 12% of volanesorsen injections vs 0% of placebo injections were associated with these reactions. One patient was excluded from the trial due to an injection-site reaction. Confirmed thrombocytopenia < 140,000 per microliter was observed in 25 patients (76%) in the volanesorsen group and in 8 patients (24%) in the placebo group; confirmed thrombocytopenia < 100,000 per microliter was observed in 16 patients (48%) who received volanesorsen but in no patients who received placebo. Because there was no documented history of marked thrombocytopenia in humans treated with this class of antisense drugs,20 the initial protocol required platelet count monitoring at intervals of 4 to 6 weeks. However, during the trial, grade 4 thrombocytopenia (< 25,000 platelets per microliter) was observed in 2 patients in the volanesorsen group, and the treatment was discontinued. There were no major bleeding events in any of these patients, and both patients reached normal platelet counts 23 and 33 days after drug discontinuation. One patient received oral prednisone at a dose of 60 mg for 23 days. The other patient received methylprednisolone at a dose of 125 mg for 11 days, followed by oral prednisone at a dose of 70 mg tapered to 50 mg for 21 days, as well as immunoglobulin at a dose of 60 g and 80 g on successive days, followed 4 days later by immunoglobulin at a dose of 40 g daily for 5 more days. Three other patients with lower grades (1 or 2) of thrombocytopenia were withdrawn from the trial by the investigators. After the two cases of thrombocytopenia, a platelet monitoring program consisting of assessments every 2 weeks was established, with a threshold of < 100,000 platelets per microliter for reduction in dose frequency to every 2 weeks, and a new threshold of 75,000 platelets per microliter (changed from 50,000 per microliter) for medication interruption. After these measures were implemented, no patient presented platelet-count declines to < 50,000 per microliter, and no thrombocytopenia-related dose discontinuation occurred. There was a reduction in the frequency of volanesorsen doses in 13 patients, and in 9 patients this was due to thrombocytopenia. Fourteen patients randomly assigned to volanesorsen vs 2 patients randomly assigned to placebo did not complete the 52-week treatment period. Nine discontinued the trial because of adverse events, which included 5 cases of platelet decreases and 4 cases of other volanesorsen-related adverse effects. Four other patients voluntarily withdrew consent. There were no deaths during the study.23

The Re-FOCUS196 was a retrospective global web-based survey conducted with patients with FCS who received volanesorsen for ≥ 3 months in an open-label extension study. The survey included questions about patients’ experiences before and after treatment with volanesorsen. Twenty-two participants had received volanesorsen for a median of 222 days. Volanesorsen significantly reduced the number of symptoms per patient on the physical, emotional, and cognitive domains. There were significant reductions in episodes of steatorrhea, pancreatic pain, and constant worry about an attack of pain or AP. Respondents also reported that volanesorsen improved overall management of symptoms and reduced interference of FCS with work/school responsibilities. Reductions in the negative impact of FCS on personal, social, and professional life were also reported. Treatment with volanesorsen has the potential to reduce disease burden in patients with FCS through modulation of multiple symptom domains.

Volanesorsen was approved by Anvisa on August 23, 2021, based on data from the Approach and Compass studies. It is indicated for adult patients (> 18 years old) with genetic confirmation of FCS and high risk of pancreatitis.197 The drug has been approved by the European Medicines Agency for use in adults with FCS since 2014.

Volanesorsen is not approved by the FDA, although it was investigated in the Approach study in patients with FCS. The disease is considered ultra-rare and debilitating. FCS causes unpredictable and potentially fatal pancreatitis, chronic complications resulting from permanent organ damage, and severe impact on patients’ daily lives. The typical feature of FCS is very high levels of triglycerides. Results from the phase 3 Approach study – the largest study conducted in patients with FCS – showed that, compared with placebo, treatment with volanesorsen reduces triglycerides by 77% (-94% compared with placebo). Medical societies recommend triglyceride reduction as the treatment target for patients with FCS. The most common adverse events are injection-site reactions and reduction in platelet counts.

The FDA’s claim for not approving the drug was safety concerns, especially risk of bleeding due to thrombocytopenia, despite recommendations to mitigate adverse effects. If a possibility for thrombocytopenia was detected during the trial, management with platelet monitoring every 15 days was conducted, which may be more frequent depending on subsequent tests. Likewise, reduction of dose frequency according to platelet count was recommended.

13. Social and Psychological Aspects and Economic Impact of the Disease

Variability in early development, differences in symptom severity, and variations in the degree of functional limitations due to physical condition are characteristics of FCS manifestation that interact with other aspects, such as sociodemographic and economic profiles, personality traits, psychosocial and sociocognitive factors, personal skills for coping with adverse health situations, and ability for self-regulation and maintaining a sense of efficacy in the setting of illness.198 The link between all these aspects and other contextual aspects makes the management of FCS more complex, which may, in addition to interfering with the adaptive ability of patients and caregivers, demand different medical interventions that are centered on the uniqueness of each patient.

The lack of dissemination of patient statements in the media, caused by the absence of the theme on popular discourse and its limited presence in scientific discourse,199 has promoted a pattern of silence surrounding FCS. The lack of familiarity with this condition in the medical community aggravates the biopsychosocial stress experienced by patients, as they have to consult several different specialties in the search for a diagnosis, which usually happens late and does not lead to an effective response to drug therapy. Communication and knowledge gaps challenge patients and caregivers to live with a disease that is often associated with limited empathy, since it lacks socially constructed meaning and a clinically recognized identity.199 Therefore, further developing the state of the art of FCS in real life is relevant for reasons beyond the severe deleterious effects of the disease on health and functional capacity.

A study200 on the quality of life of patients with FCS demonstrated the validity of self-report instruments in the setting of a rare disease and highlighted the strong negative impact of FCS treatment, which fundamentally consists of restrictive dietary control. Reporting how the disease affects everyday life,201 how getting sick affects the perception of satisfaction with quality of life and health status,202 and how treatment affects the adaptive capacity of patients203 helps to promote awareness of the psychosocial burden of FCS. Topics covered by the self-evaluation of quality of life instrument are listed in Chart 2 .

Chart 2. – Topics covered by the self-evaluation of health-related quality of life instrument.

Self-evaluation of:
Degree of limitation caused by the condition when performing activities of daily living
Degree of limitation in functional capacity to perform light, moderate, and intense activities of daily living
General health status
Degree of pain interference on daily life
Degree of general health interference (physical and mental) with interpersonal relationships
Degree of vitality in daily life (degree of involvement and motivation with life)
Degree of limitation caused by emotional or cognitive state when performing activities of daily living
Predominant mood at specified time

By providing a standardized and structured instrument to listen to patients with FCS, the psychometric self-report instrument allows to break the pattern of silence, which is characteristic of rare or uncommon diseases.199 Although studies of low prevalence diseases include a small number of participants compared with those of chronic and common diseases, they are able to portray the reality of patients and caregivers and point out trends, as well as collaborate in the recommendation of behavioral coping strategies.

13.1. Social Aspects in Familial Chylomicronemia Syndrome

Patients diagnosed with a rare disease (also known as an orphan disease) lose, to some extent, their social references and, as they begin to rely more on technical and scientific guidelines to manage their condition, move away from usual health care practices. The lack of information on the history of the disease in real life and the lack of guidelines or position statements for safe and effective medical conduct and guidance impact the personal ability to establish a routine and projects and to maintain interpersonal relationships, as idealized by patients. Lack of knowledge of the disease interferes with the sense of belonging and sustains feelings of helplessness and isolation. Disease invisibility in everyday life reduces the chances of patients and caregivers receiving social support.198 A study204 showed that strong feelings of misunderstanding may drive patients and caregivers to create adaptive responses that restore familiarity and belonging in religious environments.

Gaps in the medical knowledge of FCS have been shown to hinder communication in clinical practice.204 Not understanding the objectives of a therapeutic proposal may lead patients to have unrealistic expectations of treatment scope. The most frequent expectations regarding adherence to treatment among patients with FCS are shown in Figure 1 .202

Figure 1. – Expectations of patients with FCS regarding adherence to treatment.

Figure 1

Having described the physical and psychosocial aspects most severely affected by FCS from a patient perspective, it is worth mentioning that patients’ hopes of restoring a normal lifestyle with treatment can be better managed if professionals are up to date and capable of communicating the diagnosis and the evidence supporting therapeutic recommendations, as well as talk about expected results.204

13.2. Psychological Aspects in Familial Chylomicronemia Syndrome

Feelings of impotence in the face of the disease, fatigue, and mental confusion are interdisciplinary symptoms that may persist throughout the lives of patients with FCS. Concerns about the impact of the disease on health and life over time, the desire to restore a normal lifestyle, and concerns about the financial impact of the disease greatly affect the emotional stability of patients and caregivers and may produce feelings of low self-esteem and anxiety, interfere with the ability to reason and come up with solutions, and reduce sleep quality.206 Depression, feelings of embarrassment, shame, and social inadequacy, and perception of changes in cognitive function due to concentration and memory problems contribute to the decline in the personal and professional quality of life of those affected.207 According to patients, living with FCS is time-consuming and drains physical and mental energy, making them unable to plan their lives.208 A systematic review199 suggests that adults diagnosed with FCS may express significant psychological damage related to the lack of autonomy and freedom in controlling their lives beyond the disease. Those treating or caring for patients with FCS need to be more aware of the psychological aspects associated with the disease.

13.2.1. Parents of children diagnosed with Familial Chylomicronemia Syndrome

FCS manifests in late childhood and adolescence, but some cases have been reported to occur in the first years of life and in neonates.209 Rare diseases are challenging not only for patients, but also for family members who care for them. A study210 found an increased frequency of parental reports of lack of social support and empathy from health professionals, including complaints about general lack of information and guidance and lack of advice regarding the appropriate way to interact/act with the child. The study showed that fathers tend to be more concerned about the future, whereas mothers are more concerned about the present. The study also revealed that mothers are more likely to report impairments in the quality of social, family, and professional relationships, as they tend to occupy more of their time with basic care and daily routine. Such differences among genders need to be more well known.

13.3. Reducing the Impact of the Disease: Ways of Coping

Adherence to general recommendations, usually presented as medical consensus, is essential for health promotion and prevention in primary and secondary health care, as well as for rehabilitation processes. Among health behaviors, therapeutic adherence is one of the most studied self-regulation behaviors, and refers to patients’ active participation in disease management to preserve health and quality of life in the setting of illness.211 It should be noted that the proposal of total and permanent therapeutic adherence may generate personal and social conflicts, as well as find resistance on the part of patients or lack of social collaboration, insofar as it can impact interpersonal life projects by interfering with the decision to have children, ability to work, free leisure time, etc.207

13.3.1. Active and Passive Models for Coping: Focus on the Patient

Aiming at greater success in therapeutic adherence to FCS treatment, patient involvement in decision-making is essential. For this purpose, the use of passive and active coping strategies is recommended. Data from a systematic review199 show that passive coping approaches include obtaining/searching for information, clinical advice, genetic counseling, and health education. Examples of active coping approaches in behavioral performance/action in FCS include self-control in restricting fat, alcohol, and carbohydrate consumption; self-regulation in self-medication, avoiding harmful drug interactions; self-administration of drugs for reduction of plasma triglyceride concentrations; and attending follow-up consultations as indicated by the primary care physician.

A study211 investigating the effect of Internet use on the adaptive capacity of parents of children with rare diseases showed that gaining knowledge is essential for gradually adapting to the new health reality. The study emphasized that searching for information about the disease can both increase patients’ sense of efficacy and increase anxiety symptoms. As a contemporary reality, the impact of searching for training/information on the Internet by patients and caregivers on the adaptive process of FCS needs to be better understood.

13.3.2. Social Model for Coping: Focus on Peers

Obtaining social support through peer groups is known to help improve the perception of general well-being and promote motivation for self-regulation.212 The CONNEC study213 showed that people affected by FCS may benefit from having contact with other people affected by the disease. The study suggests that participating in support groups, whether by reading texts, joining websites and face-to-face or online conversation circles, interacting with or just learning about other patients, positively affects perception of quality of life and reduces perception of symptom severity and psychological distress, in addition to mitigating psychosocial stress. The implementation of comprehensive measures for coping with and managing the disease such as filling technical and scientific gaps, encouraging patients to engage in therapeutic socialization, and disseminating information about the adverse psychosocial effects of FCS can help promote the construction of a social identity for the disease and establish expertise in health care.93 , 94

13.4. Cost-effectiveness in the Management of Psychosocial Risks

Knowing that the cost-effectiveness evaluation of health interventions seeks solutions with lower disease-related costs, through which investment allocation can achieve the best results,214 it can be assumed that investing in collaborative therapeutic resources for interventions focused on clinical aspects and psychoemotional symptoms215 would have a cost-effective return, given that although psychiatric manifestations are not specific to FCS, they hinder therapeutic adherence and lead to recurrent urgencies and hospital admissions.219In this sense, it supports data from literature review216 showing robust evidence that investing in combined interventions for cardiovascular diseases and anxiety and depression conditions leads to a positive cost-effective result. Finally, the ReFOCUS196 study shows that adequate pharmacological treatment can promote symptom control, reduce stress generated by severe dietary restriction, and modify expectations regarding the future. From this perspective, there is no doubt about the close link between FCS and psychosocial aspects and about the potential cost-effectiveness projected in studies and interventions that seek to develop effective drug treatments for patients diagnosed with FCS.217

14. Summary of Recommendations

  Class of recommendation Level of evidence
Blood collection for triglyceride measurements in adults should be performed after a 12-hour fast. Patients should maintain their usual diet but should not consume alcohol (72 hours) or engage in physical exercise (24 hours). In children, fasting duration varies according to the age group. In infants up to 1 year, blood should be collected after a 3-hour fast or immediately before the next feeding. In noninfants from 2 to 5 years, blood should be collected after a 6-hour fast. Children over 5 years old and adolescents should fast for 12 hours I C
To confirm a suspected case of FCS after excluding secondary causes of HTG, triglyceride levels should be: 1) > 1,000 mg/dL, in 3 different measurements, for adults after a 12-hour fasting; 2) > 880 mg/dL, in 3 different measurements, for children and adolescents irrespective of fasting time; 3) in children or adults, a triglyceride level < 170 mg/dL excludes the investigation of hyperchylomicronemia I C
Triglycerides > 1,000 mg/dL increase the risk of pancreatitis in patients with FCS IIa C
Levels of LDL-C in FCS may be underestimated irrespective of measurement method. However, if measured, Martin’s formula or, preferably, direct LDL testing should be performed I C
The FCS diagnostic score is a useful tool for suspected FCS and is recommended as a screening tool for genetic testing I C
This document does not recommend measuring LPL activity with heparin, as it may have limited discriminative capacity in carriers of common variants III C
Genetic sequencing of the LPL , APOC2 , APOA5 , GPIHBP1 , and LMF1 genes provides a definitive diagnosis of FCS in case of homozygosis or double/compound heterozygosis for pathogenic or probably pathogenic variants I C
For confirmed cases of FCS, genetic counseling should be conducted to calculate the risk of condition occurrence or recurrence, both for decision-making and for choosing the contraceptive method, especially in consanguineous unions I C
Nutritional therapy should include the following general recommendations:
  1. Restriction of fat consumption (10% to 15% of TEI)

  2. Exclusion of added sugars (sucrose and corn syrup)

  3. Exclusion of concentrated fruit juices

  4. Exclusion of alcoholic beverages

  5. Consumption of complex carbohydrates in adequate amounts

  6. Ensuring the adequacy of essential fatty acids

  7. Monitoring consumption of fat-soluble vitamins, with supplementation when necessary

  8. Inclusion of MCT for the purpose of calorie intake, according to tolerance

I C
Intravenous heparin infusion for HP is not recommended in patients with FCS III C
The use of low-molecular-weight heparin is indicated as prophylaxis for deep venous thrombosis in HP in patients with FCS IIa C
In patients with FCS and HP, intravenous insulin should only be used in those with decompensated type 1 and 2 diabetes, for glycemic control IIa C
Plasmapheresis should be indicated for patients with FCS and HP on an individual basis. Potential candidates include patients with severe HP or who persist with triglycerides > 1,000 mg/dL after the first 24 to 48 hours IIb C
The indication of plasmapheresis during pregnancy, although safe and effective, should be individualized due to the scarcity of evidence to date IIb C
The use of antisense treatment against ApoC3 is recommended for adults aged > 18 years with genetic confirmation of FCS who did not respond to usual treatment and have high risk of pancreatitis I C
Platelet monitoring during antisense treatment against ApoC3 should be done initially every 2 weeks and subsequently adjusted according to platelet count I B
Antisense treatment against ApoC3 should be spaced if platelets < 100,000/uL, and the drug should be discontinued if platelet count < 75,000/uL I B

Development: Department of Atherosclerosis of the Brazilian Society of Cardiology (Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia – DA/SBC)

Norms and Guidelines Council responsible: Carisi Anne Polanczyk (Coordinator), Humberto Graner Moreira, Mário de Seixas Rocha, Jose Airton de Arruda, Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva – Management 2022-2024

How to cite this Guideline: Izar MCO, Santos-Filho RD, Assad MHV, Chagas ACP, AO Toledo-Júnior AO, Nogueira ACC, et al. Brazilian Position Statement for Familial Chylomicronemia Syndrome – 2023. Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203

Note: These guidelines are for information purposes and should not replace the clinical judgment of a physician, who must ultimately determine the appropriate treatment for each patient.

Erratum: Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203

In the “Brazilian Position Statement for Familial Chylomicronemia Syndrome – 2023”, with DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230203, published in the journal Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Arq Bras Cardiol. 2023;120(4):e20230203, on page 1, make the following corrections:

  • Include the name of the author Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez, whose institution is Instituto do Coração (Incor) of the Hospital das Clínicas of the Faculty of Medicine of the University of São Paulo (HCFMUSP), São Paulo, SP – Brazil, number 7 on the list of institutions.
  • Correct the name of the author “Ana Maria Pitta Lottenberg” to “Ana Maria Lottenberg”

Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

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