Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
letter
. 2023 Mar 20;120(3):e20220234. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20220234
View full-text in English

Transplante Cardíaco Ortotópico em Receptor com Covid-19

Leonardo Rufino Garcia 1, André Monti Garzesi 1, Julia Bazzo Sinatora 1, Rejane Maria Tommasini Grotto 2, Andréia Cristina Passaroni 1, Nelson Leonardo Kerdahi Leite de Campos 1, Antônio Sérgio Martins 1, Marcello Laneza Felicio 1, Flávio de Souza Brito 1
PMCID: PMC10392859  PMID: 37018788

Introdução

A pandemia pelo coronavírus acometeu mais de 480 milhões de pessoas ao redor do mundo.1 Receptores de órgãos sólidos constituem um grupo altamente vulnerável devido à necessidade de imunossupressão e às várias comorbidades que podem estar associadas,2 muitas das quais persistem mesmo após a realização do transplante.3

Pacientes transplantados podem apresentar um espectro de manifestações clínicas decorrentes da COVID-19, desde assintomáticos, sintomas leves ou falência respiratória aguda e óbito.4 Alguns estudos sugerem que no caso de quadros com desfecho favorável, a imunização prévia e a imunossupressão necessária após transplante contribuem para uma resposta inflamatória menos exacerbada e, consequentemente, menor lesão orgânica.3,5 Entretanto, alguns relatos e revisões da literatura evidenciam pior prognóstico em transplantados, possivelmente devido às comorbidades, idade avançada e linfopenia frequentemente presentes.3,4,6

Dessa forma, descrevemos o caso de paciente com RT-PCR positivo para Sars-Cov-2 submetido a transplante cardíaco ortotópico bicaval com evolução satisfatória e sem sequelas respiratórias crônicas até o momento. Trata-se de um dos primeiros casos descritos submetido a transplante de coração durante vigência de COVID-19.

Descrição

Homem, 64 anos, com insuficiência cardíaca de etiologia isquêmica com fração de ejeção reduzida em classe funcional IV. Hipertenso, diabético, submetido à cirurgia de revascularização do miocárdio em 2014 e implante de cardiodesfibrilador em 2019. Havia recebido duas doses de vacina contra COVID-19, do fabricante Astrazeneca, completando o esquema em setembro de 2021. Internado em hospital terciário, foi priorizado para transplante cardíaco em uso de dobutamina e assistência circulatória com balão intra-aórtico e classificado como INTERMACS-3.7 Estava em ventilação espontânea, sem queixas respiratórias e sem necessidade de oxigenioterapia. Foi submetido a transplante cardíaco ortotópico bicaval em fevereiro de 2022 sem intercorrências cirúrgicas com tempo de isquemia total de quatro horas e 30 minutos.

No primeiro dia pós-operatório, o exame de RT-PCR para COVID-19 coletado imediatamente antes da cirurgia de acordo com protocolo institucional resultou positivo. A variante viral identificada posteriormente pelo método de sequenciamento em larga escala foi a Ômicron BA.1. Foi iniciada imunossupressão habitual com tacrolimus, micofenolato mofetil e corticosteróides. Sulfametoxazol/trimetoprima e ganciclovir foram introduzidos para profilaxias de infecções em imunossuprimidos. Para profilaxia cirúrgica foram utilizados meropenem e vancomicina por cinco dias. Seguiu-se evolução favorável com diminuição gradual de drogas vasoativas e do suporte de balão intra-aórtico até sua retirada. O paciente foi mantido em isolamento, em ventilação espontânea, em uso de cateter nasal de oxigênio a 2l/min e sem queixas respiratórias. Realizada tomografia de tórax no 12º dia de pós-operatório, com achados de aspecto atípico para pneumonia de etiologia viral. Novo RT-PCR colhido no 13º dia resultou negativo. Recebeu alta hospitalar 30 dias após o transplante.

Durante seguimento ambulatorial três meses após o transplante houve elevação de marcadores laboratoriais de rejeição ao enxerto (troponina, peptídeo natriurético atrial e proteína C reativa), porém com ausência de sintomas. Optou-se por realização de pulsoterapia com metilprednisolona. Ecocardiograma sem alterações em comparação a exame prévio, mantinha fração de ejeção de 60% e sem aumento de espessura das paredes. Biópsia endomiocárdica mostrou fragmento com infiltrado inflamatório predominantemente linfocitário perivascular e ausência de agressão ao cardiomiócito, sendo classificação ISHLT (International Society for Heart and Lung Transplantation) para rejeição celular grau zero e para rejeição humoral pAMR zero.8 Mantida imunossupressão com tacrolimus, prednisona e micofenolato mofetil, paciente evoluiu com normalização dos marcadores laboratoriais de rejeição e permaneceu assintomático.

Discussão

A necessidade de imunossupressão crônica em pacientes transplantados é fator de risco para complicações e desfecho negativo quando associada a infecções. Devido a experiência da pandemia por H1N1 em 2009, esperava-se que tais pacientes tivessem pior prognóstico quando acometidos por COVID-19, evoluindo com pneumonia e síndrome do desconforto respiratório agudo mais frequentemente do que a população geral. Porém, uma hipótese é que a imunossupressão nesses casos reduza a intensidade da síndrome hiperinflamatória secundária à tempestade de citocinas, presente na maioria dos casos de morte por coronavírus.5

Apesar de manifestações clínicas semelhantes à população geral, a mortalidade parece ser maior no grupo de pacientes transplantados cardíacos conforme demonstrado em alguns relatos de caso.9-11 Contudo, não é possível dizer se a causa de pior prognóstico está relacionada à imunossupressão ou às múltiplas comorbidades, idade avançada ou quadros infecciosos mais graves em tais pacientes.4 Há relatos de piores desfechos com infecção por COVID-19 na população geral relacionados com linfopenia,6 que também pode estar presente nos pacientes transplantados devido a efeito colateral de medicações imunosupressoras. Além disso, o prognóstico também se mostrou pior quando há elevação de biomarcadores como proteína C reativa e procalcitonina, tanto na população geral quanto nos pacientes transplantados.12,13

O manejo dos imunossupressores nesses casos deve ser individualizado, pesando-se o risco de piora infecciosa e o risco de rejeição ao enxerto. Ballout et al.,4 elaboraram um fluxograma para guiar a imunossupressão em pacientes transplantados cardíacos que apresentaram COVID-19: manutenção de micofenolato mofetil em doses mais baixas caso o paciente não apresentasse linfopenia ou sinais de infecção grave; inibidores da calcineurina foram mantidos em faixa terapêutica e prednisona também foi utilizada, exceto quando houvesse indicação do uso de dexametasona (nesses casos, a prednisona foi suspensa durante tratamento com dexametasona). Além disso, se o paciente apresentasse elevação de marcadores de rejeição e enzimas cardíacas, recomendou-se a realização de biópsia endomiocárdica a fim do diagnóstico diferencial entre rejeição ao enxerto e miocardite viral por COVID-19.4

Em revisão da literatura, alguns autores concluíram que a resposta imune inata nos pacientes transplantados cardíacos deva ser parecida à da população geral, com níveis semelhantes de marcadores inflamatórios e interleucina-6 em ambos os grupos de pacientes hospitalizados. Em relação à resposta humoral, também se notou que a formação de anticorpos foi semelhante entre os pacientes transplantados e os não transplantados, sendo que anticorpos específicos foram identificados após uma a duas semanas do início dos sintomas e permaneceram por um período médio de dois meses, podendo chegar até seis meses.14

Em outro estudo com 232 pacientes concluiu-se que a formação de anticorpos contra Sars-Cov-2 em imunossuprimidos foi semelhante ao que se observa na população geral, bem como a taxa de infecção entre os dois grupos. Entretanto, neste estudo, pacientes transplantados evoluíram com pior desfecho, possivelmente devido à presença de múltiplas comorbidades associadas.15

Outro fator que pode ter contribuído para o controle da resposta inflamatória e evolução favorável foi a completude do esquema vacinal à época com uma vacina previamente testada e com eficácia comprovada. Como já mencionado, a despeito da imunossupressão, pacientes transplantados cardíacos têm resposta imune semelhante à população geral quando infectados pelo coronavírus.15 Dessa forma, mesmo com a manutenção da imunossupressão, o paciente em questão provavelmente ainda mantinha concentrações de anticorpos específicos, o que pode ter contribuído para o desfecho satisfatório. No caso exposto, o principal diferencial consistiu na vacinação prévia do paciente, o que não foi relatado nos estudos descritos pois as várias vacinas hoje disponíveis ainda se encontravam em fase de desenvolvimento.

Outro ponto ainda a ser elucidado em outros estudos e amostras maiores de pacientes consiste em entendermos como o Sars-Cov-2 pode afetar a função do enxerto e eventualmente causar rejeição uma vez que já é amplamente descrito que o vírus possui tropismo por células cardíacas podendo causar injúria miocárdica e miocardite.

Conclusão

Descrevemos um caso de paciente submetido a transplante cardíaco em vigência de COVID-19 e previamente vacinado, com evolução satisfatória. O manejo da imunossupressão deve ser considerado de forma individual nesse cenário. Para a tomada de decisões clínicas, o risco de rejeição do enxerto com piora da doença que indicou o transplante deve ser levado em conta frente à gravidade da infecção quando associada à inflamação sistêmica exacerbada.

Footnotes

Vinculação acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Aprovação ética e consentimento informado

Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores.

Fontes de financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Referências

  • 1.Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. SEADE São Paulo contra o novo coronavirus. [Citado em 28 março 2022]; [citado 28 de março de 2022];Boletim Completo. Internet. https://www.seade.gov.br/coronavirus/ [Google Scholar]
  • 2.Marcondes-Braga FG, Murad CM, Belfort DS, Dantas RC, Lira MT, Aragão CA, et al. Characteristics and Outcomes of Heart Transplant Recipients With Coronavirus-19 Disease in a High-volume Transplant Center. 10.1097/TP.0000000000003770Transplantation. 2022;106(3):641–647. doi: 10.1097/TP.0000000000003770. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 3.Lima B, Gibson GT, Vullaganti S, Malhame K, Maybaum S, Hussain ST, et al. COVID-19 in recent heart transplant recipients: Clinicopathologic features and early outcomes. 10.1111/tid.13382Transpl Infect Dis. 2020;22(5):e13382. doi: 10.1111/tid.13382. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 4.Ballout JA, Ahmed T, Kolodziej AR. COVID-19 and Heart Transplant: A Case Series and Review of the Literature. 10.1016/j.transproceed.2021.02.015Transplant Proc. 2021;53(4):1219–1223. doi: 10.1016/j.transproceed.2021.02.015. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 5.Mehta P, McAuley DF, Brown M, Sanchez E, Tattersall RS, Manson JJ. COVID-19: consider cytokine storm syndromes and immunosuppression. 10.1016/S0140-6736(20)30628-0The Lancet. 2020;395(10229):1033–1034. doi: 10.1016/S0140-6736(20)30628-0. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 6.Terpos E, Ntanasis-Stathopoulos I, Elalamy I, Kastritis E, Sergentanis TN, Politou M, et al. Hematological findings and complications of COVID-19. 10.1002/ajh.25829Am J Hematol. 2020;95(7):834–847. doi: 10.1002/ajh.25829. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 7.Bacal F, Marcondes-Braga FG, Rohde LE, Xavier JL, Jr, Brito FS, Moura LA, et al. 3a Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco. Arq Bras Cardiol. 2018;111(2):230–289. doi: 10.5935/abc.20180153. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 8.Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al. Antibody-Mediated Rejection in Cardiac Transplantation: Emerging Knowledge in Diagnosis and Management. 10.1161/CIR.0000000000000093Circulation. 2015;131(18):1608–1639. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 9.Iacovoni A, Boffini M, Pidello S, Simonato E, Barbero C, Sebastiani R, et al. A case series of novel coronavirus infection in heart transplantation from 2 centers in the pandemic area in the North of Italy. 10.1016/j.healun.2020.06.016J Heart Lung Transplant. 2020;39(10):1081–1088. doi: 10.1016/j.healun.2020.06.016. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 10.Latif F, Farr MA, Clerkin KJ, Habal MV, Takeda K, Naka Y, et al. Characteristics and Outcomes of Recipients of Heart Transplant With Coronavirus Disease 2019. 10.1001/jamacardio.2020.2159JAMA Cardiol. 2020;5(10):1165–1169. doi: 10.1001/jamacardio.2020.2159. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 11.Rivinius R, Kaya Z, Schramm R, Boeken U, Provaznik Z, Heim C, et al. COVID-19 among heart transplant recipients in Germany: a multicenter survey. 10.1007/s00392-020-01722-wClin Res Cardiol. 2020;109(12):1531–1539. doi: 10.1007/s00392-020-01722-w. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 12.Chidambaram V, Tun NL, Haque WZ, Majella MG, Sivakumar RK, Kumar A, et al. Factors associated with disease severity and mortality among patients with COVID-19: A systematic review and meta-analysis. 10.1371/journal.pone.0241541PLoS One. 2020;15(11):e024154. doi: 10.1371/journal.pone.0241541. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 13.Diaz-Arocutipa C, Carvallo-Castañeda D, Luis-Ybañez O, Pariona M, Rivas-Lasarte M, Álvarez-García J. COVID-19 in heart transplant recipients during February-August 2020: A systematic review. 10.1111/ctr.14390Clin Transplant. 2021;35(9):e14390. doi: 10.1111/ctr.14390. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 14.Phadke VK, Scanlon N, Jordan SC, Rouphael NG. Immune Responses to SARS-CoV-2 in Solid Organ Transplant Recipients. 10.1007/s40472-021-00322-5Curr Transplant Rep. 2021;8(2):127–139. doi: 10.1007/s40472-021-00322-5. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 15.Patel SR, Gjelaj C, Fletcher R, Luke A, Paschenko A, Farooq M, et al. COVID-19 in heart transplant recipients-A seroprevalence survey. 10.1111/ctr.14329Clin Transplant. 2021;35(7):e14329. doi: 10.1111/ctr.14329. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
Arq Bras Cardiol. 2023 Mar 20;120(3):e20220234. [Article in English]

Orthotopic Heart Transplantation in a Covid-19 Recipient

Leonardo Rufino Garcia 1, André Monti Garzesi 1, Julia Bazzo Sinatora 1, Rejane Maria Tommasini Grotto 2, Andréia Cristina Passaroni 1, Nelson Leonardo Kerdahi Leite de Campos 1, Antônio Sérgio Martins 1, Marcello Laneza Felicio 1, Flávio de Souza Brito 1

Introduction

The coronavirus pandemic has affected more than 480 million people around the world.1 Solid organ recipients constitute a highly vulnerable group due to the need for immunosuppression and the various comorbidities that may be associated,2 many of which persist even after transplantation.3

Transplanted patients can present a spectrum of clinical manifestations resulting from COVID-19: from asymptomatic, mild symptoms or acute respiratory failure and death.4 Some studies suggest that in the case of conditions with a favorable outcome, previous immunization and irreplaceable post-transplantation immunosuppression contribute to a response of less exacerbated inflammation and, consequently, less organic damage.3,5 Nonetheless, some reports and literature reviews show worse prognosis in transplanted patients, possibly due to comorbidities, advanced age, and lymphopenia often present.3,4,6

Indeed, we describe the case of a patient with positive RT-PCR for Sars-Cov-2 who underwent bicaval orthotopic heart transplantation with satisfactory evolution and no chronic respiratory sequelae so far. This is one of the first reported cases submitted to heart transplantation concomitant with COVID-19.

Description

Male, 64 years old, heart failure with a reduced ejection fraction of ischemic etiology in NYHA (New York Heart Association functional classification) IV. Hypertensive and diabetic, he was submitted to myocardial revascularization in 2014 and cardioverter-defibrillator implantation in 2019. He had received two doses of the AstraZeneca vaccine against COVID-19, with the last dose in September 2021. Admitted to a tertiary hospital, was prioritized for cardiac transplantation using dobutamine and circulatory assistance with an intra-aortic balloon pump and classified as INTERMACS-3.7 He was on spontaneous ventilation, with no respiratory complaints and no need for oxygen therapy. He underwent an uneventful bicaval orthotopic heart transplantation in February 2022 with a total ischemic time of four hours and 30 minutes.

On the first postoperative day, an RT-PCR exam for COVID-19 done immediately before surgery according to the institutional protocol was positive. The viral variant identified later by the large-scale sequencing method was an Omicron BA.1. Usual immunosuppression with tacrolimus, mycophenolate, and corticosteroids had then started. Trimethoprim/sulfamethoxazole and ganciclovir were introduced according to infective prophylaxis in immunosuppressed patients. For surgical prophylaxis, meropenem and vancomycin were used for five days. A favorable evolution followed with a gradual decrease in the vasoactive agent’s dosage and intra-aortic balloon support until its removal. The patient was kept in respiratory isolation, in spontaneous ventilation, using a nasal oxygen catheter at 2l/min, and without respiratory complaints. Chest tomography on the 12th postoperative day revealed an atypical appearance of viral pneumonia. A new RT-PCR performed on the 13th day was negative. He was discharged 30 days after the transplant.

During outpatient follow-up, three months after transplantation, there was an increase in laboratory markers of graft rejection (troponin, atrial natriuretic peptide and C-reactive protein), but symptoms were absent. The medical staff then opted for pulse therapy with methylprednisolone. The echocardiogram showed no changes compared to the previous examination, with an ejection fraction of 60% and no increase in wall thickness. Endomyocardial biopsy tissue showed a fragment with predominantly perivascular lymphocytic inflammatory infiltrate and absence of aggression to the cardiomyocyte, with ISHLT classification (International Society for Heart and Lung Transplantation) grade zero for cellular rejection and pAMR zero for humoral rejection.8 Immunosuppression was maintained with tacrolimus, prednisone, and mycophenolate. The patient evolved with the normalization of laboratory markers of rejection and remained asymptomatic.

Discussion

The need for chronic immunosuppression in transplant patients is a risk fator for complications and negative outcomes when associated with infections. Due to the experience of the H1N1 pandemic in 2009, the medical community expected that such patients would have a worse prognosis when affected by COVID-19, progressing to pneumonia and respiratory distress syndrome more frequently than the general population. However, one hypothesis is that the immunosuppression in these cases reduces the intensity of the secondary hyperinflammatory syndrome due to the cytokine storm present in most cases of death from COVID-19.5

Despite similar clinical manifestations to the general population, mortality seems to be higher in the group of heart transplant patients, as demonstrated in some case reports.9-11 However, it is not possible to say whether the cause of the worse prognosis is related to immunosuppression itself or multiple comorbidities, advanced age, or more severe infective scenarios in such patients.4 There are reports of worse outcomes with COVID-19 infection in the general population related to lymphopenia,6 which may also be present in transplanted patients due to the side effect of some immunosuppressive medications. In addition, the prognosis was also worse when there had been an increase in biomarkers such as C reactive protein and procalcitonin, both in the general population and transplanted patients.12,13

The management of immunosuppressants in these cases must be individualized, weighing the risk of infection worsening and graft rejection. Ballout et al.4 developed a flowchart to guide immunosuppression in heart transplant patients who presented with COVID-19: maintenance of mycophenolate at lower doses if the patient does not have lymphopenia or signs of severe infection; calcineurin inhibitors were kept in the therapeutic range, and prednisone was also used, except when there was an indication for the use of dexamethasone (in these cases, prednisone was suspended during treatment with dexamethasone). Furthermore, if the patient presented an elevation of rejection markers and cardiac enzymes, an endomyocardial biopsy was recommended to diagnose the difference between graft rejection and viral myocarditis due to COVID-19.4

In a review of the literature, some authors concluded that the innate immune response in heart transplant patients seems to be similar to the general population, with similar levels of inflammatory markers and interleukin-6 in both groups of hospitalized patients. Regarding the humoral response, it was also noted that the formation of antibodies was similar between transplanted and non-transplanted patients, with specific antibodies identified after one to two weeks of symptom onset, and they stayed for an average period of two months and could reach up to six months.14

Another study with 232 patients concluded that the formation of antibodies against Sars-Cov-2 and the infection rate in immunosuppressed individuals were similar to what is observed in the general population. However, in this study, transplanted patients evolved with a worse outcome, possibly due to multiple associated comorbidities.15

Another factor that may have contributed to the control of the inflammatory response and favorable evolution was completing the vaccination schedule at that time with a previously tested and proven effective vaccine. As already mentioned, despite immunosuppression, heart transplant patients have a similar immune response compared to the general population when infected by the Sars-Cov-2.15 Thus, even with the maintenance of immunosuppression, the patient in question probably maintained blood concentrations of specific antibodies, which may have contributed to the satisfactory outcome. In this case, the main differential consisted of the previous patient vaccination, which was not reported in the studies described since the various vaccines available today were still in development at that time.

Another point still to be elucidated in other studies and larger samples of patients is understanding how Sars-Cov-2 can affect graft function and eventually cause rejection since it is already widely described that the virus has cardiac cell tropism and may cause myocardial injury and myocarditis.

Conclusion

We describe the case of a patient who underwent heart transplantation during active COVID-19 but was previously vaccinated, with favorable evolution. The management of immunosuppression must be considered individually in this scenario. In the clinical decision-making process, the risk of graft rejection with worsening of the primary disease that indicated the transplant must be considered against the severity of the coronavirus infection when associated with exacerbated systemic inflammation.

Footnotes

Study Association

This study is not associated with any thesis or dissertation work.

Ethics approval and consent to participate

This article does not contain any studies with human participants or animals performed by any of the authors.

Sources of Funding

There were no external funding sources for this study.


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES