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editorial
. 2023 Jul 21;120(7):e20230410. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20230410
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A Válvula Esquecida não deve ser Abandonada: Impacto da Insuficiência Tricúspide nos Resultaods Clínicos após Implante de Válvula Aórtica Transcateter

Gabriel Kanhouche 1, Henrique B Ribeiro 1
PMCID: PMC10421601  PMID: 37585899

A estenose aórtica (EAo) grave é uma doença frequente e potencialmente grave se não for tratada. Apesar da ampla adoção da substituição cirúrgica da válvula aórtica (SAVR) e, mais recentemente, do implante transcateter da válvula aórtica (TAVI), as taxas de mortalidade no seguimento de médio e longo prazo permanecem relativamente altas, especialmente para pacientes de mais alto risco.1 , 2 Da mesma forma, embora a TAVI transfemoral tenha se tornado a abordagem dominante para pacientes com idade > 70 anos, permitindo uma redução significativa nas taxas de mortalidade por todas as causas e cardíacas em comparação à SAVR, o prognóstico de determinados subgrupos de pacientes ainda está comprometido.3 Portanto, estudos anteriores na área de TAVI têm se concentrado em ajudar na estratificação de risco desses pacientes. Por exemplo, Généreux et al.3 , 4 demonstraram que a extensão do dano cardíaco entre pacientes com EAo submetidos ao TAVI pode desempenhar um papel importante. Assim, um impacto gradual em mortalidade no seguimento foi demonstrado quando os pacientes com EAo também apresentavam comprometimento da câmara esquerda, com ou sem regurgitação mitral, seguida de hipertensão pulmonar, com ou sem insuficiência tricúspide (IT) e, finalmente, com disfunção do ventrículo direito.4 Vale ressaltar que os dois últimos estágios (com IT moderada ou grave e disfunção do ventrículo direito) representam a maior taxa de mortalidade, chegando a 20% em 1 ano.4 Além do grau de IT, há controvérsia sobre se as mudanças no grau IT no seguimento também podem desempenhar um papel nos resultados clínicos.

Nesta edição do jornal, Erbano et al.5 avaliaram a associação entre IT e mortalidade em uma revisão sistemática e metanálise de pacientes com EAo submetidos ao TAVI, tendo também avaliado as mudanças na gravidade da IT pós-TAVI e sua relação com a mortalidade a curto e médio prazos. O desfecho primário foi definido como a incidência de mortalidade por todas as causas de acordo com os graus de IT pré-procedimento. Os desfechos secundários incluíram mortalidade cardíaca e hospitalização por insuficiência cardíaca. Os autores incluíram 24 estudos, com mais de 45.000 pacientes, cuja idade média foi de 81,7±8,5 anos; 52% eram do sexo feminino, com média de escore de risco pelo Society of Thoracic Surgeons (STS) de 8,2±6,0. Aproximadamente 22% dos pacientes apresentavam IT moderada ou grave no início do estudo. Após um acompanhamento médio de 1,2 anos, a análise agrupada de 14 estudos revelou que graus mais altos de IT foram associados a um pior prognóstico. A IT grave foi associada a um aumento de 83% na mortalidade em comparação com IT leve no curto prazo e 56% no médio prazo. Na análise agrupada, a persistência de graus moderados/graves de IT, após um seguimento médio de 21 meses pós-TAVI, também foi associada a um aumento de 2 vezes na mortalidade por todas as causas.

Estudos prévios no campo TAVI ressaltaram o potencial impacto do dano cardíaco nos resultados clínicos em pacientes com EAo submetidos a SAVR e TAVI.5 , 6 Nesses estudos, a gravidade da IT e o envolvimento do ventrículo direito foram fatores-chave que determinaram maior mortalidade (~2,2 vezes em 2 anos de seguimento em TAVI e 1,6 vezes em 2 anos de seguimento em SAVR).6 , 7 O presente estudo amplia ainda mais essas observações, demonstrando um impacto nos desfechos clínicos de curto e médio prazo de acordo com a gravidade da IT após TAVI, mesmo após múltiplos ajustes para fatores de confusão. A EAo grave causa sobrecarga de pressão resultando em remodelamento cardíaco do ventrículo esquerdo, seguido de envolvimento das câmaras cardíacas direitas em estágios avançados.8 , 9 Se a IT representa apenas um marcador substituto de uma doença mais avançada ou um fator de risco, ainda permanece incerto.

Outro ponto importante nesta metanálise é que a gravidade da IT melhorou em pelo menos um grau em ~40% dos pacientes. Pacientes sem melhora no grau da IT pós-procedimento apresentaram piores resultados e qualidade de vida.5 Em outro estudo, Genereux et al. também demonstraram que a progressão ou regressão do dano cardíaco extravalvar no seguimento de 1 ano pós-TAVI pode se associar ao prognóstico.3 Pacientes com piora do dano cardíaco após 1 ano tiveram 95% mais chance de mortalidade.7 O impacto significativo da gravidade da IT nos desfechos clínicos pode estar relacionado a fatores clínicos como fibrilação atrial, hipertensão pulmonar e disfunção do ventrículo direito. Por exemplo, Granot et al. demonstraram mortalidade 3,3 vezes maior após TAVI entre pacientes com gravidade de IT persistente e disfunção do ventrículo direito.2 , 10

Em conjunto, esses achados sugerem que o manejo precoce da EAo, antes que ocorra dano cardíaco extravalvar, pode melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade. De fato, mesmo no tratamento de pacientes com EAo grave assintomática, realizar intervenção precoce com TAVI independentemente da condição cardíaca (EARLY TAVR; ClinicalTrials.gov: NCT03042104) ou entre aqueles com sinais incipientes de descompensação do ventrículo esquerdo, apesar da ausência de sintomas (EVOLVED; ClinicalTrials.gov: NCT03094143), também poderão mostrar um impacto significativo nos resultados clínicos em um futuro próximo. Enquanto isso, entre pacientes com doença mais avançada e maior gravidade da IT, a combinação de múltiplas intervenções transcateter tanto na valva aórtica quanto em outras valvas com doença concomitante significativa (ou seja, mitral e tricúspide) também podem melhorar os resultados clínicos.11 A presente meta-análise nesta edição, certamente esclareceu a importância da gravidade da IT em pacientes submetidos ao TAVI. Enfatiza a importância de um diagnóstico imediato e um plano de tratamento bem elaborado para pacientes com EAo, incluindo várias especialidades, tratamento clínico otimizado e intervenções adequadas e oportunas para melhorar os resultados clínicos em um grupo tão complexo e heterogêneo de pacientes.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Regurgitação Tricúspide e Mortalidade em Pacientes Submetidos à Substituição da Valva Aórtica Transcateter: Uma Revisão Sistemática e Metanálise

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2023 Jul 21;120(7):e20230410. [Article in English]

The Forgotten Valve is not to be Forgiven: Tricuspid Regurgitation Impact on Clinical Outcomes after Transcatheter Aortic Valve Implantation

Gabriel Kanhouche 1, Henrique B Ribeiro 1

Severe aortic stenosis (AS) is a frequent and potentially severe disease if left untreated. Despite the widespread adoption of surgical aortic valve replacement (SAVR) and more recently transcatheter aortic valve implantation (TAVI), mortality rates in the mid- to long-term follow-up remain relatively high, especially for higher-risk patients.1 , 2 Yet, transfemoral TAVI became the dominant approach for patients with age > 70 years, enabling a significant reduction in the all-cause and cardiac mortality rates with respect to SAVR, even though the prognosis of a certain subgroup of patients is still jeopardized.3 Therefore, prior studies in the TAVI field have focused on helping in risk stratifying such patients. For instance, Genereux et al.3 , 4 have shown that the extent of cardiac damage among patients with AS undergoing TAVI could play an important role. Accordingly, a stepwise impact in the mortality at follow-up was demonstrated when patients with AS also had left chamber involvement, with or without mitral regurgitation, followed by pulmonary hypertension, with or without tricuspid regurgitation (TR), and finally with right ventricle dysfunction.4 Of note, the last two stages (with moderate or severe TR and right ventricle dysfunction) represent the highest mortality rate, up to 20% at 1 year.4 Apart from TR grade, there is controversy on whether the changes in TR grade in the follow-up might also affect the clinical outcomes.

In this journal issue, Erbano et al.5 evaluated the association between TR and mortality in a systematic review and meta-analysis of patients with AS undergoing TAVI and further assessed the changes in TR severity post-TAVI and its relationship with short and mid-term mortality. The primary endpoint was defined as the incidence of all-cause mortality according to TR grade at baseline. Secondary endpoints included cardiac mortality and heart failure hospitalization. The authors included 24 studies and more than 45.000 patients, whose mean age was 81.7±8.5 years; 52% were female, with a mean Society of Thoracic Surgeons (STS) score of 8.2±6.0. Approximately 22% of patients had moderate or severe TR at baseline. After a mean follow-up of 1.2 years, pooled analysis of 14 studies revealed that higher grades of TR were associated with a worse prognosis. Severe TR was associated with an 83% increased mortality compared to no/mild TR in the short-term and 56% in the mid-term. In the pooled analysis, the persistence of moderate/severe TR grades, after a mean follow-up of 21 months post-TAVI, was also associated with a 2-fold increase in all-cause mortality.

Prior studies in the TAVI field have underlined the potential impact of cardiac damage on clinical outcomes among patients with AS undergoing SAVR and TAVI.5 , 6 In such studies, TR severity and right ventricle involvement were key factors determining greater mortality (~2.2-fold at 2 years follow-up in TAVI and 1.6-fold at 2 years follow-up for SAVR).6 , 7 The present study extends these observations further, demonstrating both an impact in the short- and mid-term clinical outcomes according to TR severity after TAVI, even after multiple adjustments for confounders. Severe AS causes pressure overload resulting in cardiac remodeling of the left ventricle, followed by right cardiac chambers involvement in an advanced stage.8 , 9 Whether TR represents only a surrogate marker of a more advanced disease or a risk factor remains uncertain.

Another important point in this meta-analysis is that TR severity improved by at least one grade in ~40% of patients. Patients without improved TR severity post-procedure presented worse outcomes and quality of life.5 In another study, Genereux et al. also demonstrated that progression or regression of extravalvular cardiac damage after 1 year post-TAVI may associate with prognosis.3 Patients with worsening cardiac damage after 1 year had a 95% more chance of mortality.7 The significant impact of TR severity on clinical outcomes might be related to clinical factors such as atrial fibrillation, pulmonary hypertension, and right ventricle dysfunction. For instance, Granot et al. demonstrated 3.3-fold increased mortality after TAVI among patients with persistent TR severity and right ventricle dysfunction.2 , 10

Collectively, these findings suggest that earlier management of AS, before extravalvular cardiac damage ensues, may improve prognosis and reduce mortality. Indeed, even in the treatment of patients with asymptomatic severe AS, performing an earlier intervention with TAVI irrespective of the cardiac condition (EARLY TAVR; ClinicalTrials.gov: NCT03042104) or among those with incipient signs of left ventricle decompensation, despite the absence of symptoms (EVOLVED trial; ClinicalTrials.gov: NCT03094143), might also show a noteworthy impact on the clinical outcomes in the near future. Meanwhile, among patients with more advanced disease and TR severity, the combination of multiple transcatheter interventions both in the aortic valve and other concomitant valve diseases (i.e., mitral and tricuspid) might also enhance clinical outcomes.11 The present meta-analysis in this issue has certainly shed some light on the importance of TR severity among patients undergoing TAVI. It emphasizes the importance of a prompt diagnostic and a well-elaborated treatment plan for patients with AS, including multiple specialties, optimal medical treatment, and proper, timely interventions to improve clinical outcomes in such a complex and heterogeneous group of patients.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Tricuspid Regurgitation and Mortality in Patients Undergoing Transcatheter Aortic Valve Replacement: A Systematic Review and Meta-Analysis


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