Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
editorial
. 2023 Oct 16;120(9):e20230636. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20230636
View full-text in English

Prescrição de Exercícios Aeróbicos: O Teste de Fala Supera o Teste de Caminhada de 6 Minutos

Márcio Garcia Menezes 1, Vitor Augusto Fronza 2, Leandro Franzoni 1
PMCID: PMC10586818  PMID: 37909576

As doenças cardiovasculares (DCV) representam uma realidade preocupante, levando a uma elevada taxa de morbidade e mortalidade em muitos países, com um total global de 18 milhões de mortes. Além disso, estas condições representam encargos econômicos e sociais substanciais.1-3

A reabilitação cardiovascular é uma ferramenta promissora em beneficiar pacientes com DCV, por meio de exercícios aeróbicos (EA) como aliados essenciais na melhoria da aptidão cardiorrespiratória, resistência muscular, função cardiovascular e qualidade de vida geral.1-3 Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a recomendação geral para a prática de exercícios físicos é de 150 minutos semanais, distribuídos entre três a cinco sessões.2 Um dos principais objetivos da reabilitação cardiovascular é melhorar a aptidão cardiorrespiratória através da incorporação de EA.1,3 Além disso, a prática criteriosa de atividade física visa mitigar a hipertensão, o risco de eventos cardiovasculares e a mortalidade geral em pacientes cardiovasculares.1-3

Vale ressaltar que métodos individualizados para prescrição de EA, como por exemplo, através do consumo máximo de oxigênio e limiares ventilatórios identificados por meio do teste cardiopulmonar de exercício (TCPE), são amplamente reconhecidos. Contudo, nos países em desenvolvimento, onde os custos associados a estes testes podem ser proibitivos e existe escassez de profissionais altamente qualificados, a prescrição de EA é muitas vezes baseada em testes de campo, como o Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6) e o Teste de Fala (TF).

Neste cenário, foi o que Althoff et al. 2023 3 fizeram em seu recente artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Este estudo buscou analisar a frequência cardíaca (FC) durante as etapas do TF e no pico do TC6 como parâmetro para prescrição de EA, comparada com a FC no primeiro e segundo limiares ventilatórios (LV1 e LV2) do TCPE. Para a realização do estudo foram avaliados 22 pacientes com idade entre 40 e 80 anos com diagnóstico de DCV crônica clinicamente estável. Participaram de três dias de avaliação: o primeiro dia consistiu em anamnese (entrevista estruturada e medidas antropométricas, incluindo índice de massa corporal e avaliação clínica) e TCPE, considerado padrão ouro para avaliação da função cardiopulmonar e prescrição de intensidade de exercício. Isso permitiu identificar as variáveis mais adequadas e recomendadas, como consumo de oxigênio de pico (VO2pico), carga horária, FC máxima, reserva de FC e VT1 e VT2.1,3-5O segundo dia envolveu o TC6 e o terceiro dia incluiu o TF, que é validado e acessível, baseado em um protocolo de carga incremental e utiliza a percepção de conforto de fala como marcador de intensidade do exercício.3

Em relação aos resultados, vale ressaltar que a FC no LV1 foi semelhante à FC no TF (p = 0,987) e TF± (p = 0,154) e correlacionou-se moderadamente com TF+ (r = 0,479, p = 0,024). A FC no VT2 foi semelhante à do TF (p = 0,383), mas apresentou forte correlação (r = 0,757, p < 0,001). A FC máxima durante o TC6 foi significativamente diferente da FC em TF+, TF± e VT1 (p = 0,001, p = 0,005 e P < 0,001, respectivamente), mas semelhante ao TF (p = 0,68).

Por meio desses resultados, observamos a possibilidade de identificar correlações no TF entre a FC no LV1 e TF+ e TF±, indicando semelhanças entre a FC e o VO2pico nos estágios TF e VT em pacientes com DCV. Esses achados sugerem que os estágios do TF podem ser empregados na prescrição de EA, alinhando-se com algumas evidências existentes na literatura científica.3,6,7-9 Além disso, o estudo demonstrou que o TC6 não é tão adequado para prescrição de EA quanto o TF. Apesar do conhecimento de que o TC6 é um teste submáximo, seu uso pode ser incentivado em um ambiente de baixo custo, uma vez que ainda fornece informações clinicamente relevantes, mesmo que não seja projetado especificamente para prescrição de exercícios.O aspecto distintivo deste estudo é o fornecimento de uma alternativa custo-efetiva que pode auxiliar na prescrição de exercícios no contexto da reabilitação cardíaca.

Este estudo sugere que o TF pode ser uma alternativa viável para a prescrição de EA, particularmente em ambientes com recursos limitados. Demonstrou correlações entre os estágios do TF e os limiares derivados do TCPE, indicando sua utilidade potencial na prescrição de EA para pacientes com DCV. Além disso, o TC6, embora menos adequado, continua a ser uma opção custo-efetiva, fornecendo informações clínicas valiosas em contextos de reabilitação cardíaca. Este estudo oferece informações valiosas para a prescrição de EA em ambientes de saúde desafiadores.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Prescrição de Exercício Aeróbio na Reabilitação Cardíaca Baseada na Frequência Cardíaca dos Estágios do Teste da Fala e do Teste de Caminhada de 6 Minutos

Referências

  • 1.Hansen D, Abreu A, Ambrosetti M, Cornelissen V, Gevaert A, Kemps H, et al. Avaliação e prescrição da intensidade do exercício na reabilitação cardiovascular e além: por que e como: uma declaração de posição da Seção de Prevenção Secundária e Reabilitação da Associação Europeia de Cardiologia Preventiva. Eur J Prev Cardiol. 2022;29(1):230–245. doi: 10.1093/eurjpc/zwab007. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 2.Carvalho T, Milani M, Ferraz AS, Silveira AD, Herdy AH, Hossri CA, et al. Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020;114(5):943–987. doi: 10.36660/abc.20200407. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 3.Althoff A, Vieira AM, Silveira LS, Benetti M, Karsten M. Aerobic Exercise Prescription in Cardiac Rehabilitation Based on Heart Rate from Talk Test Stages and 6-Minute Walk Test. Arq Bras Cardiol. 2023;120(9):e20230086. doi: 10.36660/abc.20230086. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 4.Belardinelli R, Lacalaprice F, Tiano L, Muçai A, Perna GP. O teste de exercício cardiopulmonar é mais preciso do que o teste de estresse por ECG no diagnóstico de isquemia miocárdica em indivíduos com dor torácica. Int J Cardiol. 2014;174(2):337–342. doi: 10.1016/j.ijcard.2014.04.102. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 5.Herdy AH, Ritt LE, Stein R, Araújo CG, Milani M, Meneghelo RS, et al. Teste de Esforço Cardiopulmonar: Antecedentes, Aplicabilidade e Interpretação. Arq Bras Cardiol. 2016;107(5):467–448. doi: 10.5935/abc.20160171. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 6.Pritchard A, Burns P, Correia J, Jamieson P, Moxon P, Purvis J, et al. Declaração ARTP sobre teste de esforço cardiopulmonar 2021. BMJ Open Respir Res. 2021;8(1):e001121. doi: 10.1136/bmjresp-2021-001121. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 7.Marroyo JA, Villa JG, López J, Foster C. Relação entre o teste de fala e os limiares ventilatórios em ciclistas bem treinados. J Strength Cond Res. 2013;27(7):1942–1949. doi: 10.1519/JSC.0b013e3182736af3. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 8.Persinger R, Foster C, Gibson M, Fater DC, Porcari JP. Consistência do teste de fala para prescrição de exercícios. Med Sci Sports Exerc. 2004;36(9):1632–1636. PMID: 15354048. [PubMed] [Google Scholar]
  • 9.Brawner CA, Vanzant MA, Ehrman JK, Foster C, Porcari JP, Kelso AJ, et al. Orientação de exercício por meio do teste de fala em pacientes com doença arterial coronariana. J Cardiopulm Rehabil. 2006;26(2):72–75. doi: 10.1097/00008483-200603000-00002. questionário 76-7. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 10.Dibben G, Faulkner J, Oldridge N, Rees K, Thompson DR, Zwisler AD, et al. Reabilitação cardíaca baseada em exercícios para doenças coronarianas. CD001800Cochrane Database of Systematic Review. 2021;11(11) doi: 10.1002/14651858.CD001800.pub4. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
Arq Bras Cardiol. 2023 Oct 16;120(9):e20230636. [Article in English]

Aerobic Exercise Prescription: The Talk Test Rises Over the 6-Minute Walk Test

Márcio Garcia Menezes 1, Vitor Augusto Fronza 2, Leandro Franzoni 1

Cardiovascular diseases (CVDs) represent a concerning reality, leading to a high morbidity and mortality rate in many countries, with a global total of 18 million deaths. Moreover, these conditions pose substantial economic and social burdens.1-3

Cardiovascular rehabilitation holds significant promise in benefiting patients with CVDs, with aerobic exercises (AE) as pivotal allies in improving cardiorespiratory fitness, muscular endurance, cardiovascular function, and overall quality of life.1-3 According to the Sociedade Brasileira de Cardiologia, the general recommendation for engaging in physical exercise is 150 minutes per week, distributed across three to five sessions.2 One of the foremost objectives in cardiovascular rehabilitation is to enhance cardiorespiratory fitness through the incorporation of AE.1,3 Furthermore, the judicious practice of physical activity aims to mitigate hypertension, the risk of cardiovascular events, and overall mortality in cardiovascular patients.1-3

It is worth noting that individualized methods for prescribing AE, such as maximal oxygen consumption and ventilatory thresholds identified through cardiopulmonary exercise testing (CPET), are widely recognized. However, in developing countries, where the costs associated with these tests can be prohibitive, and a shortage of highly skilled professionals exists, the prescription of aerobic exercises is often based on field tests, such as the 6-Minute Walk Test (6MWT) and the Talk Test (TT).

In this scenario, Althoff et al. 2023 3 published their recent article in Arquivos Brasileiros de Cardiologia. This study sought to analyze heart rate (HR) during the stages of the TT and at the peak of the 6MWT as a parameter for prescribing AE, compared with HR at the first and second ventilatory thresholds (VT1 and VT2) of the CPET. To conduct the study, 22 patients aged between 40 and 80 years with a diagnosis of clinically stable chronic CVD were evaluated. They attended three assessment days: the first day consisted of anamnesis (structured interview and anthropometric measurements, including body mass index and clinical evaluation) and CPET, considered the gold standard for assessing cardiopulmonary function and prescribing exercise intensity. This allowed for the identification of the most appropriate and recommended variables, such as peak oxygen uptake (VO2peak), workload, maximum HR, HR reserve, and VT1 and VT2.1,3-5 The second day involved the 6MWT, and the third day included the TT, which is validated and accessible, based on an incremental load protocol and uses speech comfort perception as an exercise intensity marker. 3

Regarding the results, it is worth noting that the HR at VT1 was similar to the HR at TT (p = 0.987) and TT± (p = 0.154) and moderately correlated with TT+ (r = 0.479, p = 0.024). The HR at VT2 was similar to that at TT (p = 0.383) but showed a strong correlation (r = 0.757, p < 0.001). The peak HR during the 6MWT was significantly different from the HR at TT+, TT±, and VT1 (p = 0.001, p = 0.005, and p < 0.001, respectively) but similar to TT (p = 0.68).

Through these results, we observe the possibility of identifying correlations in the TT between HR at VT1 and TT+ and TT±, indicating similarities between HR and VO2peak in TT and VT stages in patients with CVDs. These findings suggest that TT stages can be employed for AE prescription, aligning with some existing evidence in the scientific literature.3,6-9Furthermore, the study demonstrated that the 6MWT is not as suitable for AE prescription as the TT. Despite the knowledge that 6MWT is a submaximal test, its use can be encouraged in a low-cost setting, given that it still provides clinically relevant information, even if it is not specifically designed for exercise prescription. The distinctive aspect of this study is the provision of a cost-effective alternative that can assist in exercise prescription within the context of cardiac rehabilitation.

This study suggests that TT may be a viable alternative for AE prescription, particularly in resource-limited settings. It demonstrated correlations between TT stages and CPET-derived thresholds, indicating its potential utility in AE prescription for CVD patients. Additionally, the 6MWT, while less suitable, remains a cost-effective option, providing valuable clinical information in cardiac rehabilitation contexts. This study offers valuable insights for AE prescription in challenging healthcare environments.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Aerobic Exercise Prescription in Cardiac Rehabilitation Based on Heart Rate from Talk Test Stages and 6-Minute Walk Test


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES