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editorial
. 2024 Apr 9;121(2):e20240082. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20240082
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Disparidades Étnicas na Longevidade dos Medalhistas Olímpicos Brasileiros

Filipe Ferrari 1,2,, Arthur Proença Rossi 2
PMCID: PMC11081096  PMID: 38695403

A inatividade física é um contribuinte bem documentado para doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer, sendo responsável por aproximadamente 30% das doenças cardiovasculares, 27% da diabetes e 21-25% dos cânceres da mama e do cólon. 1 O impacto e os custos da inatividade física associados à saúde pública são substanciais, atingindo INT$ 53,8 bilhões em 2013. 2

Em termos de longevidade, a prática de atividade física tem sido associada a uma redução dos principais fatores de risco de mortalidade, incluindo hipertensão, diabetes, doença coronária, acidente vascular cerebral e câncer. Estudos indicam uma clara relação dose-resposta entre atividade física moderada a vigorosa e mortalidade por todas as causas, sendo a redução do risco por unidade de tempo maior para atividades mais vigorosas. 3 Indivíduos fisicamente ativos experimentam uma redução de até 35% na mortalidade por todas as causas em comparação com os seus homólogos inativos, aumentando a esperança de vida em até 7 anos. 3

Apesar dos benefícios bem estabelecidos da atividade física, os estudos que examinam o impacto de fatores étnicos, sociais e demográficos na mortalidade, especialmente entre atletas, e ainda mais em atletas de alto rendimento ao longo das décadas, são limitados. A recolecção de dados sobre a prevalência ou complicações de doenças por raça, etnia e outras identidades é frequentemente realizada em investigação médica, por departamentos de saúde pública e por sistemas de saúde individuais, mas não é muito comum em estudos de medicina desportiva. Estes dados são cruciais para compreender as disparidades na saúde e os seus mediadores. Quando devidamente analisados, os dados sobre diferenças a nível de grupo podem ser utilizados para impulsionar intervenções direcionadas a grupos para eliminar disparidades. 4

Em estudo recente dos ABC Cardiol, Braga et al. 5 investigaram a sobrevivência pós-medalha de medalhistas olímpicos brasileiros de 1920 a 1992, categorizando os atletas em brancos e não-brancos com base na determinação estruturada da etnia. As descobertas revelaram disparidades significativas nas taxas de mortalidade, com atletas não brancos enfrentando um risco significativamente elevado de mortalidade em comparação com atletas brancos. Atletas brancos demonstraram uma expectativa de vida seis anos a mais do que seus colegas não brancos após ganharem uma medalha. Como resultado, entre 123 atletas (73,9% brancos), a idade média em que conquistaram medalhas foi de 25,03 ± 4,8 anos. Durante o estudo, 18,7% dos atletas brancos e 37,5% dos atletas não brancos morreram (p = 0,031). Os atletas brancos tiveram média de idade ao óbito de 75,10 ± 18,01 anos, enquanto os não brancos tiveram média de idade de 67,13 ± 14,90 anos (p = 0,109). O tempo médio de sobrevivência restrito (TMSR), que é uma nova medida alternativa em análises de sobrevivência definida como a área sob a curva de sobrevivência até um ponto de tempo específico, 6 para atletas brancos foi de 51,59 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 49,79 a 53,39 anos), e para atletas não brancos, foi de 45,03 (IC95%, 41,31 a 48,74 anos), resultando em um ΔTMSR de 6,56 (95% IC, 2,43 a 10,70; p = 0,0018).

Segundo o estudo, os atletas olímpicos brasileiros brancos tinham uma expectativa de vida seis anos a mais do que os atletas não brancos após a conquista da medalha. Apesar disso, os dados do estudo demonstram uma discrepância significativa na mortalidade entre os grupos étnicos, mesmo dentro de uma população de atletas de alto rendimento. A literatura sugere que a atividade aeróbica e de resistência regular em idosos demonstrou melhorar a função musculoesquelética e a mobilidade, além de manter a capacidade sensorial para um envelhecimento saudável. 7 - 9 Isso pode ter um grande impacto na expectativa de vida. Porém, como limitação, não podemos determinar se os atletas do estudo ainda estavam expostos à atividade física regular. Esta poderia ser uma análise que vale a pena considerar, especialmente porque indivíduos brancos e não brancos podem ter acesso diferente a atividades físicas regulares, mesmo dentro de um grupo de atletas vencedores de medalhas olímpicas.

Embora o estudo contribua com informações valiosas sobre as disparidades de saúde entre atletas de elite, não é isento de limitações. A categorização baseada em fotografias introduz possíveis erros de classificação e o tamanho da amostra permanece limitado. Além disso, alguns pontos seriam interessantes de serem discutidos, como as comorbidades subjacentes e os esportes praticados antes e depois da medalha. Além disso, as causas específicas das mortes dos atletas enriqueceriam este estudo, permitindo-nos compreender melhor os dados apresentados. Alcançar uma inclusão abrangente de todos os atletas olímpicos brasileiros é um desafio constante, e a falta de informações sobre as causas específicas de morte e uma comparação direta com a expectativa de vida da população em geral são limitações dignas de nota.

Em conclusão, este estudo sublinha a importância de considerar a raça e a etnia na avaliação da saúde e da esperança de vida dos atletas de elite. As disparidades observadas nas taxas de mortalidade entre os atletas olímpicos brasileiros com base na etnia revelam uma área potencial para intervenções direcionadas para abordar as desigualdades em saúde, mesmo no âmbito dos esportes de alto rendimento.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Diferenças Étnicas na Sobrevida entre Medalhistas Olímpicos Brasileiros da Era Moderna de 1920 a 1992: Um Estudo de Coorte

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2024 Apr 9;121(2):e20240082. [Article in English]

Ethnic Disparities in the Longevity of Brazilian Olympic Medalists

Filipe Ferrari 1,2,, Arthur Proença Rossi 2

Physical inactivity is a well-documented contributor to cardiovascular diseases, diabetes, and certain cancers, accounting for approximately 30% of cardiovascular disease, 27% of diabetes, and 21–25% of breast and colon cancer. 1 The impact and costs associated with public health are substantial, amounting to a total direct health cost due to physical inactivity related to the main non-communicable diseases, which reached INT$ 53.8 billion in 2013. 2

In terms of longevity, engaging in physical activity has been linked to a reduction in major mortality risk factors, including hypertension, diabetes, coronary heart disease, stroke, and cancer. Studies indicate a clear dose-response relationship between moderate-to-vigorous physical activity and all-cause mortality, with risk reduction per unit of time being greater for more vigorous activity. 3 Physically active individuals experience up to a 35% decrease in all-cause mortality compared to their inactive counterparts, increasing life expectancy by up to 7 years. 3

Despite the well-established benefits of physical activity, studies examining the impact of ethnic, social, and demographic factors on mortality, especially among athletes, and further on high-performance athletes over the decades, are limited. The collection of data on disease prevalence or complications by race, ethnicity, and other identities is often performed in medical research, by public health departments, and by individual health systems, but it is not very common in sports medicine studies. These data are crucial to understanding health disparities and their mediators. When properly analyzed, data on group-level differences can be used to drive group-targeted interventions to eliminate disparities. 4

In a recent study from ABC Cardiol, Braga et al. 5 investigated the post-medal survival of Brazilian Olympic medalists from 1920 to 1992, categorizing athletes into white and non-white based on structured ethnicity determination. The findings revealed significant disparities in mortality rates, with non-white athletes facing a significantly elevated risk of mortality compared to white athletes. White athletes demonstrated a life expectancy of six years longer than their non-white counterparts after winning a medal. As a result, among 123 athletes (73.9% white), the mean age at which they achieved medals was 25.03 ± 4.8 years. During the study, 18.7% of white athletes and 37.5% of non-white athletes died (p = 0.031). White athletes had a mean age at death of 75.10 ± 18.01 years, while non-whites had a mean age of 67.13 ± 14.90 years (p = 0.109). The Restricted mean survival time (RMST), which is a novel alternative measure in survival analyses defined as the area under the survival curve up to a specific time point, 6 for white athletes was 51.59 (95% confidence interval [CI], 49.79 to 53.39 years), and for non-white athletes, it was 45.03 (95%CI, 41.31 to 48.74 years), resulting in a ΔRMST of 6.56 (95%CI, 2.43 to 10.70; p = 0.0018).

According to the study, white Brazilian Olympic athletes had a life expectancy of six years longer than non-white athletes after winning the medal. Despite this, the data from the study demonstrates a significant discrepancy in mortality between ethnic groups even within a population of high-performance athletes. Literature suggests that regular aerobic and resistance activity in older adults has been shown to improve musculoskeletal function, and mobility, and maintain sensory capacity for healthy aging. 7 - 9 This may have a great impact on life expectancy. However, as a limitation, we cannot determine if the athletes in the study were still exposed to regular physical activity. This could be an analysis worth considering, especially since white and non-white individuals may have different access to regular physical activities, even within a group of Olympic medal-winning athletes.

While the study contributes valuable insights into health disparities among elite athletes, it is not without limitations. Categorization based on photographs introduces possible classification errors, and the sample size remains limited. Furthermore, some points would be interesting to discuss, such as the underlying comorbidities, and the sports practiced before and after the medal. Furthermore, the specific causes of the athletes’ deaths would enrich this study, allowing us to better understand the data presented. Achieving a comprehensive inclusion of all Brazilian Olympic athletes is an ongoing challenge, and the lack of information about the specific causes of death and a direct comparison with the general population's life expectancy are noteworthy limitations.

In conclusion, this study underscores the importance of considering race and ethnicity in assessing the health and life expectancy of elite athletes. The observed disparities in mortality rates among Brazilian Olympic athletes based on ethnicity reveal a potential area for targeted interventions to address health inequalities, even in the realm of high-performance sports.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Ethnic Differences in Survival among Brazilian Modern-era Olympic Medalists from 1920 to 1992: A Cohort Study


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