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. 2023 Mar 1;120(3):e20220608. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20220608
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Cirurgia de Endocardite Infecciosa. Análise de 328 Pacientes Operados em um Hospital Universitário Terciário

Marcelo Serafim Jorge 1, Alfredo J Rodrigues 1, Walter Vilella A Vicente 1, Paulo Roberto B Evora 1
PMCID: PMC12080617  PMID: 36946858

Resumo

Fundamento

A endocardite infecciosa (EI) refere-se à infecção da superfície endocárdica do coração e geralmente ocorre em valvas nativas ou protéticas.

Objetivo

Este estudo teve como objetivo levantar dados de EI refletindo a terapêutica cirúrgica, em um Hospital Universitário do interior do estado de São Paulo – Brasil.

Método

Abordagem retrospectiva e observacional de 328 pacientes com EI operados entre 1982 e 2020

Resultados

Os principais dados (n=121/37%), insuficiência cardíaca congestiva (n=114/35%), valvopatia (n=92/28%), diabetes mellitus (n=85/26%), doença renal crônica (n=59/18%) e febre reumática (49/15%). A insuficiência renal é um dos principais e mais relevantes fatores de risco pré-cirúrgicos para um mau prognóstico.

Conclusão

Para um melhor resultado clínico e cirúrgico é necessário o diagnóstico sindrômico e etiológico precoce da EI, principalmente em pacientes com múltiplas comorbidades.

Keywords: Endocardite Infecciosa, Procedimentos Cirúrgicos Cardiovasculares, Prevalência, Comorbidade, Mortalidade


Figura Central. : Cirurgia de Endocardite Infecciosa. Análise de 328 Pacientes Operados em um Hospital Universitário Terciário.

Figura Central

Introdução

Conforme citado por Hubers et al., 1 Sir William Osler descreveu a endocardite infecciosa (EI) como “uma das mais formidáveis afecções cardíacas”, já que todos os pacientes naquela época morriam da doença. Embora a mortalidade tenha melhorado no último século, a EI continua sendo uma doença mortal, e mais avanços no diagnóstico e tratamento são necessários para continuar melhorando os resultados. 2 Seria importante enfatizar sua importância epidemiológica com base em sua inclusão em metanálises. Por exemplo, Urina-Jassir et al. 3 em excelente estudo, apresentam o perfil da endocardite na América Latina. Além disso, de 1955 a 2022, foram publicados 185 trabalhos indexados na MEDLINE (PUBMED) ( Figura 1 ). Há um “pico” de publicações nas décadas de 80 e 90, seguido de queda numérica. Tem-se a impressão de que um novo “pico” pode estar em andamento.

Figura 1. – Linha do tempo das publicações dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia sobre endocardite infecciosa.

Figura 1

Acreditamos que estes breves dados sejam suficientes para definir o “racional” e a motivação para esta apresentação. Portanto, este estudo foi realizado para destacar a) A prevalência de comorbidades prévias dos pacientes; b) Indicação cirúrgica; c) Os principais fatores de risco que influenciam a mortalidade; e d) O prognóstico dos pacientes com EI submetidos à cirurgia como principal terapia.

Pacientes e Métodos

Delineamento de estudo

Realizou-se um estudo observacional retrospectivo. A amostra é caracterizada por pacientes com diagnóstico de EI operados, entre 1982 e 2020, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), sem distinção de sexo, idade, raça ou nível socioeconômico. A amostra populacional foi estabelecida por amostragem por conveniência.

Aspectos éticos

A pesquisa está pautada em princípios éticos (Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP), com registro na Plataforma CAAE Brasil: 32043720.9.0000.5440. Um termo assinado dispensou a necessidade de os pacientes assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido.

Instrumento de coleta de dados

Os pacientes foram classificados como EI pela codificação da alta hospitalar, pois as informações sobre a classificação de Duke não foram regularmente documentadas. Os pesquisadores tiveram acesso aos prontuários e, consequentemente, à lista de prontuários dos pacientes no Serviço de Arquivo Médico (SAM) da FMRP-USP no segundo semestre de 2020. Realizou-se uma criteriosa possível metanálise das informações relevantes de cada paciente que pudessem contribuir ao prognóstico e ao resultado cirúrgico. Esses dados foram considerados comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca (IC), doença coronariana (DC), fibrilação atrial (FA), diabetes, insuficiência renal e doenças pulmonares; abuso de álcool e/ou drogas ilícitas; tipo de válvula infectada e localização microrganismo causador; entre outros. Os dados foram coletados e tabulados para a devida análise e publicação do estudo.

Análise de dados

Após a estruturação do banco de dados, realizou-se uma análise descritiva e exploratória. Para as variáveis categóricas, foram relatadas frequências e porcentagens. As variáveis contínuas foram apresentadas como média ± desvio padrão e as variáveis categóricas como porcentagens. Para análise de risco de mortalidade utilizou-se o cálculo de possibilidades ( odds ratio ) com intervalo de confiança de 95%. O teste do qui-quadrado foi utilizado para verificar as mudanças de prevalência. Os dados coletados foram analisados por meio do software Statistical Package for Social Science (SPSS, versão 20.0 [Inc. Chicago. IL]). Foram considerados valores significativos de p<0,05.

Resultados

As cirurgias foram realizadas eletivamente em 88% dos pacientes devido à má resposta ao tratamento clínico e à imagem ecográfica. Os outros 12 pacientes foram operados em caráter de emergência por choque cardiocirculatório grave. No total, foram incluídos neste estudo 328 pacientes com EI operados de 1982 a 2020, com idade prevalente entre 41 e 60 anos. A Tabela 1 apresenta os dados demográficos dos pacientes, bem como os dados de mortalidade, classificação de EI e principais etiologias. As demais tabelas apresentam dados pré-operatórios, comorbidades prévias ( Figura 2 ), indicação cirúrgica ( Tabela 2 ), prognóstico ( Tabela 3 ) e principais riscos de mortalidade ( Tabela 4 ) de todos os pacientes operados.

Tabela 1. – Demografia e mortalidade (N=328).

1.Demografia N=328
  Homem 119 (36%)
  Mulher 209 (64%)
2. Mortalidade global 160 (49%)
  Mortalidade em homens 100 (63%)
  Mortalidade em mulheres 60 (37%)
3 Classificação N=328
  Agudas e subagudas 308 (94%)
  Valva inespecífica 20 (6%)
4. Etiologia  
  Staphylococcus 121 (37%)
  Streptococcus 105 (32%)
   Enterococcus , gram-negativos e outras espécies de fungos 17 (5%)
  Cultura negativa 85 (26%)
5. Cirurgia N=328
  Urgente 39 (12%)
  Eletiva 289 (88%)
6. Próteses valvares 262 (80%)
  Mecânicas 92 (35%)
  Biológicas 170 (65%)
  Valvuloplastia 66 (20%)

Figura 2. – Comorbidades prévias da amostra analisada (N=328). (1) Insuficiência cardíaca congestiva; (2) Doença valvar com prótese; (3) Diabetes Mellitus; (4) Doença renal crônica; (5) Febre reumática; (6) Endocardite prévia; (7) Imunocomprometido; (8) Hemodiálise; (9) Internação prolongada com cateter venoso central; (10) HIV positivo/AIDS (11) Toxicodependência intravenosa.

Figura 2

Tabela 2. – Indicação cirúrgica da amostra analisada (N=328).

Indicação cirúrgica N Freq.
Disfunção de Ejeção Cardíaca 230 70%
Falha no Tratamento Clínico 187 57%
Vegetação > 10mm 154 47%
Disfunção da válvula 102 31%
Embolia cardiogênica 39 12%

Tabela 3. – Prognóstico da amostra analisada (N=328).

Prognóstico N Freq.
Sobrevida 168 51%
Óbito 160 49%
Mortalidade Cirúrgica 8 2%

Tabela 4. – Principais Riscos de mortalidade (N=328).

Riscos de Mortalidade Razão de chances (Odds ratio) IC 95% p
Idade 1,21 0,90 - 1,32 0,335
Insuficiência Renal 3,40 1,65 - 7,07 0,081
Insuficiência Cardíaca 0,91 0,72 - 1,66 0,090
Infecção Refratária ao Tratamento Clínico 2,35 1,65 - 5,40 0,001
Diabetes Mellitus 0,55 0,10 - 1,28 0,500
Embolismo 2,40 0,90 - 4,40 0,533

Discussão

As principais comorbidades apresentadas pelos pacientes deste estudo foram: 1) Insuficiência cardíaca congestiva do ventrículo esquerdo (35%); 2) Valvulopatia com prótese (28%); 3) Diabetes Mellitus (26%); 4) Doença renal crônica (18%) e; 5) Febre reumática (15%) ( Figura 2 , Tabela 1 )). As principais indicações cirúrgicas foram: 1) Disfunção de ejeção do ventrículo esquerdo (n=230); decorrentes de ICC e/ou disfunções valvares; 2) Falha no tratamento clínico (n=187), e; 3) Vegetação ecocardiográfica maior que 10 mm (n=154).

Revisamos arquivos de 375 pacientes submetidos à cirurgia (69,3 óbitos; 30,7% sobreviventes), entre 1982 e 2020. Encontramos uma visão semelhante entre as referências mundiais, sugerindo uma espécie de “comportamento universal”. Essas observações reforçam o raciocínio da presente investigação. A cirurgia foi realizada eletivamente em 88% da amostra. Isso é muito incomum e deve ser especulado, pois a mortalidade é extremamente alta.

A análise epidemiológica revelou que o padrão etiológico da EI mudou nas últimas três décadas, quando o Staphylococcus se tornou mais prevalente (37%) do que o Streptococcus (32%). 4 Alguns estudos sugerem que a infecção por S. aureus pode ser um importante preditor isolado de maior mortalidade em IE. 5 Este evento é justificado pela associação deste germe com o crescimento de grandes vegetações valvares e abscessos, estando também relacionado a piores desfechos neurovasculares como acidentes vasculares. 6 Culturas negativas e, portanto, não identificação do patógeno ocorreu em 26 % de pacientes (n=85). Vários fatores podem contribuir para que as culturas diagnósticas sejam negativas, como técnicas microbiológicas inadequadas e uso prévio de antibioticoterapia empírica antes da análise diagnóstica, o que pode prejudicar o tratamento antimicrobiano guiado adequado, impactando o quadro clínico, desfecho e prognóstico do paciente. 7

Para melhor estratificação de risco, cada caso deve ser individualizado, visando o melhor momento cirúrgico para o paciente. Ressalta-se que novas técnicas têm sido descritas, como a plastia da valva aórtica de Ozaki e a plastia da valva mitral transaórtica com pericárdio autólogo. 8 Na endocardite da valva tricúspide, de acordo com as diretrizes da European Society o Cardiology (ESC) e da American Association for Thoracic Surgery, o melhor reparo e preservação possível da válvula do paciente é a primeira escolha. Esses detalhes não foram considerados nesta apresentação. Não houve diferença na incidência geral de mortalidade (n=160/49%), sendo a mortalidade maior no sexo masculino (n=100/63%) do que no feminino (n=60/37%). A mortalidade neste estudo (49%) teve maior incidência em comparação com estudos recentes, que indicam taxas de mortalidade em torno de 8-21%. 9 , 10 As próteses biológicas foram prevalentes em 170 (65%) pacientes; próteses mecânicas foram utilizadas em 92 (35%) pacientes e valvoplastias foram realizadas em 60 (20%) das operações. A preferência por próteses valvares mecânicas, levando em conta uma possível suscetibilidade à infecção, não é verdadeira. Não há diferenças entre próteses biológicas e mecânicas.

O reparo da válvula é preferível quando a anatomia o permite. O reparo da valva mitral é mais frequentemente realizado quando comparado ao reparo da valva aórtica, que raramente é bem-sucedido. No entanto, a substituição da valva aórtica por uma valva mecânica ou bioprotética é o manejo de escolha. Se o paciente tiver pressão e resistência pulmonar aumentada, não é aconselhável extirpar a válvula e deixar regurgitação grave. Em casos complexos com infecção não controlada localmente, a excisão total do tecido infectado e desvitalizado deve ser seguida de troca valvar. As diretrizes da European Society of Cardiology (ESC) e da American Association for Thoracic Surgery não favorecem as válvulas mecânicas ou bioprotéticas, pois apresentam mortalidade operatória semelhante. No entanto, quando há risco de sangramento pós-operatório ou transformação de lesões cerebrais em lesões hemorrágicas, as biopróteses valvares são preferíveis para evitar a anticoagulação do paciente que ao longo do período analisado pelo estudo varia de acordo com o tipo de agente infeccioso, a extensão do envolvimento do endocárdio, o grau de disfunção ventricular esquerda e a condição clínico-hemodinâmica antes da cirurgia.

A análise multivariada mostrou que existem dois principais fatores de risco para maior mortalidade com significância estatística, que são a Insuficiência Renal (OR 3,40; IC 95% 1,65 - 7,07; p=0,081); e a Infecção Refratária ao Tratamento Clínico (OR 2,35; IC 95% 1,65 - 5,40; p<0,001). Os demais fatores preditivos como Idade, Insuficiência Cardíaca, Diabetes Mellitus e Embolia não apresentaram relevância estatística na análise multivariada deste estudo ( Tabela 4 ).

Embora este estudo não seja completo, mostra uma clara necessidade de diagnóstico sindrômico e etiológico precoce da EI, principalmente em pacientes com múltiplas comorbidades e hospitalizados, para melhor resultado clínico e cirúrgico. As taxas de mortalidade são altas nesses pacientes, em parte devido à alta incidência de hemoculturas negativas 7 e em parte pela dificuldade de abordagem cirúrgica em pacientes de alto risco cardiovascular e cirúrgico. O tratamento cirúrgico da EI é um desafio associado a significativa morbidade e mortalidade cirúrgica precoce, em pacientes com prognóstico clínico desfavorável, é uma oportunidade de aumentar a sobrevida do paciente, modificando o curso natural da doença. 8 - 10

Ao final desta investigação, com os dados da revisão da literatura, fica clara a necessidade de um diagnóstico sindrômico e etiológico precoce da EI, principalmente em pacientes com múltiplas comorbidades e hospitalizados, para um melhor resultado clínico e cirúrgico. As taxas de mortalidade são altas nesses pacientes, em parte devido à alta incidência de hemoculturas negativas e em parte devido à dificuldade de abordagem cirúrgica de pacientes de alto risco cardiovascular e cirúrgico. Embora o tratamento cirúrgico da EI seja um desafio e associado a significativa morbidade e mortalidade, a intervenção cirúrgica precoce, em pacientes com prognóstico clínico ruim, deve ser uma oportunidade para aumentar a sobrevida do paciente, modificando o curso natural da doença. Portanto, o assunto é obviamente pertinente a um “Heart Team”, uma das razões da escolha dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia para o presente relato. Ressaltamos, também, a contribuição para metanálises uma vez que estudos multicêntricos prospectivos são de elaboração prática quase impossível.

Limitações do estudo

Por fim, é possível especular se as características do hospital envolvido no estudo (um hospital universitário terciário) podem ser responsabilizadas por certo viés de avaliação. Como regra geral, os pacientes são encaminhados para tratamento cirúrgico. Assim, considerações sobre as diretrizes atuais (tratamento com antibióticos, tempo para indicação cirúrgica, fatores de risco etc.) podem ser menos relevantes. Em outras palavras, o atendimento individualizado ao paciente deve ser considerado. Haveria necessidade científica de melhor separação de casos entre operadoras e tecnologia disponível no serviço, pois há um grande período entre 1982 e 2020. Essa avaliação foi pensada, mas a consulta retrospectiva dos prontuários não foi uniforme. Pode-se dizer que todos os casos foram operados por três professores, e as tecnologias de circulação extracorpórea e técnicas anestésicas já eram de boa qualidade. Como as observações, em geral, não apresentaram grandes diferenças com os dados disponíveis na literatura, é possível especular que esses dados não tenham influência relevante.

Agradecimentos

A Júnia Adriano Wiezel pela incansável assistência no levantamento dos prontuários. A FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Vinculação acadêmica

Este artigo é parte de iniciação científica de Marcelo Serafim Jorge pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Fontes de financiamento: O presente estudo foi financiado pela FAPESP.

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2023 Mar 1;120(3):e20220608. [Article in English]

Infective Endocarditis Surgery. Insights from 328 Patients Operated in a University Tertiary Hospital

Marcelo Serafim Jorge 1, Alfredo J Rodrigues 1, Walter Vilella A Vicente 1, Paulo Roberto B Evora 1

Abstract

Background

Infectious endocarditis (IE) refers to infection of the endocardial surface of the heart and usually occurs in native or prosthetic valves.

Objective

This study aimed to raise IE data reflecting the surgical therapy in a University Hospital in the interior of the State of Sao Paulo–Brazil.

Method

Retrospective and observational approach of 328 patients with IE who underwent surgery between 1982 and 2020

Results

The main data (n=121/37%), congestive heart failure (n=114/35%), valve disease (n=92/28%), diabetes mellitus (n=85/26%), chronic kidney disease (n=59/18%), and rheumatic fever (49/15%). Renal failure is one of the main and most relevant pre-surgical risk factors for a poor prognosis.

Conclusion

For a better clinical and surgical outcome, an early syndromic and etiological diagnosis of IE is necessary, especially in patients with multiple comorbidities.

Keywords: Endocarditis, Non-Infective; Cardiovascular Surgical Procedures; Prevalence; Comorbidity; Mortality

Introduction

Hubers et al. 1 cited that Sir William Osler described IE as “one of the most formidable; of cardiac affections” since all patients in that era died of the disease. Although mortality has improved in the last century, IE continues to be a deadly disease, and further advancements in diagnosis and treatment are necessary to continue outcome improvements. 2 It would be important to emphasize its epidemiological importance based on its inclusion in meta-analyzes, as Urina-Jassir et al. 3 and his colleagues who, in an excellent study, present the profile of endocarditis in Latin America. In addition, from 1955 to 2022, 185 publications MEDLINE (PUBMED) indexed were published ( Figure 1 ). There is a “peak” of publications in the 80s and 90s, followed by a number drop. One has the impression that a new “peak” may be in progress.

Figure 1. – Time-course of MEDLINE publicações (infective endocarditis and cardiac surgery).

Figure 1

We guess these brief data are enough to define this presentation’s “rationale” and motivation. Therefore, this study was carried out to highlight a) The prevalence of previous comorbidities of patients; b) Surgical indication; c) The major risk factors that influence mortality; and d) The prognosis of patients with IE undergoing surgery as the main therapy.

Patients and Methods

Study design

I performed a retrospective observational study. The sample is characterized by patients diagnosed with IE who underwent surgery at the Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo HCFMRP-USP, without distinction of sex, age, race, or socioeconomic status, between 1982 and 2020. The population sample was established through convenience sampling.

Ethical aspects

This research is based on ethical principles (Resolution No. 466 of December 12, 2012, of the National Health Council). The research project was approved by the Research Ethics Committee of the Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP), with registration on the CAAE Platform Brazil: 32043720.9.0000.5440. A signed term dispensed with the need for patients to sign the free and informed consent form.

Data collection instrument

The patients were classified as IE by hospital discharge coding because the information about the Duke classification was not useful. The researchers had access to medical records and, consequently, to the list of patient records in the Medical Archive Service (SAM) of FMRP in the second half of 2020. It was carried out a careful possible analysis of each patient’s relevant information that could contribute to the prognosis and surgical outcome. These data were namely comorbidities, such as systemic arterial hypertension (SAH), heart failure (HF), coronary disease (CD), atrial fibrillation (AF), diabetes, renal failure, and lung diseases; alcohol and/or illicit drug abuse; type of infected valve and location; causative microorganism; among others. Data were collected and tabulated for proper analysis and publication of the study.

Data analysis

After structuring the database, they carried a descriptive and exploratory analysis out. For categorical variables, frequencies and percentages were reported. Continuous variables were presented as mean ± standard deviation, and categorical variables as percentages. For mortality risk analysis, odds ratios were calculated with a confidence interval of 95%. The chi-square test was used to verify changes in prevalence. The collected data were analyzed using the Statistical Package for Social Science software (SPSS, version 20.0 [Inc. Chicago. IL]). Significant values of p<0.05 were considered.

Results

Surgery was done electively for 88% of patients based on poor response to the clinical treatment and echo image. The other 12 patients were operated on as emergency due to severe cardiocirculatory shock. In total, 328 patients with IE who underwent surgery from 1982 to 2020, with a prevalent age between 41 and 60 years, were included in this study. Table 1 presents the patients’ demographic data and the mortality, IE classification, and main etiologies data. The other tables present preoperative data, previous comorbidities ( Figure 2 ), surgical indication ( Table 2 ), prognosis ( Table 3 ), and main risks of mortality ( Table 4 ) of all operated patients.

Table 1. – Overview of the analyzed sample (N=328).

1. Demographic and mortality N=328
  Female 119 (36%)
  Male 209 (64%)
2. Global mortality incidence 160 (49%)
  Mortality in men 100 (63%)
  Mortality in women 60 (37%)
3. Classification N=328
  Acute and subacute 308 (94%)
  Non-specific valve 20 (6%)
4. Etiology  
   Staphylococcus infection 121 (37%)
   Streptococcus infection 105 (32%)
   Enterococcus , gram-negative and }fungal species 17 (5%)
  Negative culture 85 (26%)
5. Surgery N=328
  Emergency 39 (12%)
  Elective 289 (88%)
6. Prosthesis 262 (80%)
  Mechanical 92 (35%)
  Biological 170 (65%)
  Valvuloplasty 66 (20%)

Figure 2. – Previous comorbidities of the analyzed sample (n=328). (1) Congestive heart failure; (2) Valve disease with prosthesis; (3) Diabetes mellitus; (4) Chronic kidney disease; (5) Rheumatic fever ;(6) Previous endocarditis; (7) Immunocompromised; (8)Hemodialysis; (9)Prolonged hospitalization with a central venous catheter; (10) HIV positive/AIDS; (11) Intravenous drug addiction.

Figure 2

Table 2. – Surgical indication of the analyzed sample (N=328).

Surgical Indication N Freq.
Cardiac Ejection Dysfunction 230 70%
Clinical Treatment Failure 187 57%
Vegetation >10mm 154 47%
Valve Dysfunction 102 31%
Cardiogenic Embolism 39 12%

Table 3. – Prognosis of the analyzed sample (N=328).

Prognosis N Percentage
Survival 168 51%
Death 160 49%
Surgical mortality 8 2%

Table 4. – Analysis of the main mortality risks (N=328).

Mortality Risks OR CI – 95 95% p
Age 1.21 0.90 - 1.32 0.335
Renal insufficiency 3.40 1.65 - 7.07 0.081
Cardiac insufficiency 0.91 0.72 - 1.66 0.090
Infection Refractory to Clinical Treatment 2.35 1.65 - 5.40 0.001
Diabetes Mellitus 0.55 0.10 - 1.28 0.500
Embolism 2.40 0.90 - 4.40 0.533

OR: odds rate; CI: confidence interval; p: significance.

Discussion

The main comorbidities presented by patients in this study were: 1) Left ventricle congestive heart failure (35%); 2) Valve disease with a prosthesis (28%); 3) Diabetes Mellitus (26%); 4) Chronic kidney disease (18%), and; 5) Rheumatic fever (15%) ( Figure 2 , Table 1 )). The main surgical indications were: 1) Left ventricular ejection dysfunction (n=230); resulting from CHF and/or valvular dysfunctions; 2) Failure of clinical treatment (n=187), and; 3) Echocardiography vegetation larger than 10 mm (n=154).

We reviewed files of 375 under-surgery patients (69.3 of death; 30.7% survivors) between 1982 and 2O2O. We found a similar overview among worldwide references, suggesting a “universal behavior.” These observations reinforce the rationale of the present investigation. Surgery was done electively for 88% of the sample. This is most unusual and should be speculated as the reason mortality is exceedingly high.

The epidemiological analysis revealed that the etiological pattern of IE had changed over the last three decades when Staphylococcus became more prevalent (37%) than Streptococcus (32%). 4 Some studies suggest that S. aureus infection may be an important isolated predictor of higher mortality in IE. 5 This event is justified by the association of this germ with the growth of large valve vegetations and abscesses, also related to worse neurovascular outcomes such as cerebrovascular accidents. 6 Negative cultures and no identification of the pathogen occurred in 26% of patients (n=85). Several factors can corroborate for the diagnostic cultures to be negative, such as inadequate microbiological techniques and previous use of empirical antibiotic therapy before the diagnostic analysis, which can impair the appropriate guided antimicrobial treatment, affecting the clinical outcome and prognosis of the patient. 7

Each case must be individualized for better risk stratification, aiming at the best surgical moment for the patient. It needs to emphasize that new techniques have been described, such as Ozaki aortic valve repair and transaortic mitral valve repair using autologous pericardium. 8 In tricuspid valve endocarditis, per both the European Society o Cardiology (ESC) and American Association for Thoracic Surgery guidelines, the best possible repair, and preservation of the patient’s valve is the first choice. These details were not considered in this presentation. There was no difference in the overall incidence of mortality (n=160/49%), with mortality being higher in males (n=100/63%) than in females (n=60/37%). Mortality in this study (49%) was higher than in recent studies, indicating mortality rates of around 8-21%. 9 , 10 Biological prostheses were prevalent in 170 (65%) patients; mechanical prostheses were used in 92 (35%) patients, and valvuloplasties were performed in 60 (20%) of the operations. The preference for mechanical valve prostheses, considering a possible susceptibility to infection, is not true. There are no differences between biological and mechanical prostheses.

Valve repair is preferable when the anatomy allows it. Mitral valve repair is more frequently achievable when compared with aortic valve repair, which is seldom successful. Nevertheless, aortic valve replacement with a mechanical or bioprosthetic valve is the management of choice. If the patient has increased pulmonary pressure and resistance, excising the valve and leaving severe regurgitation are not advisable. In complex cases with locally uncontrolled infection, total excision of infected and devitalized tissue should be followed by valve replacement. European Society of Cardiology (ESC) and the American Association for Thoracic Surgery guidelines do not favor mechanical or bioprosthetic valves, as they have similar operative mortality. However, when there is a risk for postoperative bleeding or transformation of brain lesions into hemorrhagic lesions, bioprosthetic valves are preferable to avoid anticoagulation. The patient’s prognosis, considering death due to IE complications, survival, and surgical mortality as the only three possible outcomes for the patient over the period analyzed by the study, varies according to the type of infectious agent, the extent of involvement of the endocardium, the degree of left ventricular dysfunction and the clinical-hemodynamic condition of the patient before surgery.

Multivariate analysis showed that there were two main risk factors for higher mortality with statistical significance, which are Renal Failure (OR 3.40; 95% CI 1.65 - 7.07; p=0.081); and Infection Refractory to Clinical Treatment (OR 2.35; 95% CI 1.65 - 5.40; p<0.001). The other predictive factors, such as Age, Heart Failure, Diabetes Mellitus, and Embolism, did not show statistical relevance in the multivariate analysis in this study ( Table 4 ).

At the end of this investigation, with the literature review data, there is an apparent need for an early syndromic and etiological diagnosis of IE, especially in patients with multiple comorbidities and hospitalized, for a better clinical and surgical outcome. Mortality rates are high in these patients, partly due to a high incidence of negative blood cultures 7 and partly due to difficulty surgically approaching patients at high cardiovascular and surgical risk. However, surgical treatment of IE is a challenge and is associated with significant morbidity and mortality. Early surgical intervention in patients with a poor clinical prognosis should be an opportunity to increase patient survival, modifying the natural course of the disease. 8 - 10 The subject is obviously a “Heart Team,” one of the reasons for choosing the Arquivos Brasileiros de Cardiologia for the present report ( Central Illustration ). We also emphasize the contribution of meta-analyses since multicenter prospective studies are practically impossible to prepare.

Central Illustration. : Infective Endocarditis Surgery. Insights from 328 Patients Operated in a University Tertiary Hospital.

Central Illustration

Study limitations

Finally, it is possible to speculate whether the hospital characteristics involved in the study (a tertiary teaching hospital) can be blamed for a certain evaluation bias. As a general rule, patients are referred for surgical treatment. Thus, considerations about current guidelines (treatment with antibiotics, time to surgical indication, risk factors, etc.) may be less relevant. In other words, individualized patient care must be considered. There would be a scientific need for better separation of cases between operators, and technology available in the service, as there is a considerable period between 1982 and 2022. This evaluation was considered, but the retrospective consultation of medical records was not uniform. It can be said that three professors operated on all cases, and the technologies of extracorporeal circulation and anesthetic techniques were already of good quality. As the observations generally did not show great differences with the data available in the literature, it is possible to speculate that these data do not have a relevant influence.

Acknowledgments

Junia Adriano Wiezel for her tireless assistance in surveying the medical records. The FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo and CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Footnotes

Study association

This article is part of the thesis of master submitted by Marcelo Serafim Jorge, from Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Sources of funding: This study was partially funded by FAPESP


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

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