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. 2020 Apr 21;70(2):184–185. [Article in Portuguese] doi: 10.1016/j.bjan.2020.04.001

O manejo do absorvedor de CO2 durante o uso do aparelho de anestesia como respirador mecânico em pacientes com COVID‐19

Management of CO2 absorbent while using the anesthesia machine as a mechanical ventilator on patients with COVID‐19

Marcelo Luis Abramides Torres 1,, Fernando Augusto Tavares Canhisares 1, Vinícius Caldeira Quintão 1
PMCID: PMC7172912  PMID: 32376057

Cara Editora,

Com a evolução da pandemia da COVID‐19, está havendo no mundo uma crise relacionada à falta de respiradores. No Brasil isso não será diferente, e talvez até pior. Segundo o censo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, existem no Brasil cerca de 42 mil leitos de UTI, sendo que nem todos os leitos possuem respiradores mecânicos.1 O Brasil possui cerca de 20 leitos para cada 100 mil habitantes, um pouco menos que a Alemanha, o país com a melhor relação da Europa, e dentro das recomendações da Organização Mundial da Saúde — de 10 a 30 leitos por 100 mil habitantes.2 Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 12 de abril de 2020, mais de 20 mil casos de COVID‐19 foram diagnosticados no Brasil, mas faltam dados de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva.3

O que se sabe é que muitos pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva necessitarão de ventilação mecânica. Dados retrospectivos de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva com COVID‐19 na Itália mostraram que 88% de 1590 pacientes necessitaram de ventilação mecânica.4 Os Estados Unidos da América, em especial o estado de Nova York, são o atual epicentro da pandemia. Por lá, a falta de respiradores mecânicos é uma grande preocupação, o que poderá ser aqui no Brasil também.5

Para tentar minimizar essa falta de respiradores, muitos grupos de pesquisadores, ligados ou não à indústria, estão tentando, em curto espaço de tempo, desenvolver novos respiradores a um custo menor. Entretanto, o desenvolvimento de tal equipamento pode levar um tempo pela complexidade técnica e pela necessidade de produção em escala. Ressalta‐se, ainda, que hoje vivemos uma crise de desabastecimento mundial de componentes eletrônicos, o que acrescenta uma dificuldade a mais.

Face a esse cenário, propõe‐se a utilização de aparelhos de anestesia como respiradores para esses pacientes em tratamento intensivo.6 Usando o aparelho de anestesia como respirador mecânico, com alto Fluxo de Gases Frescos (FGF), pode‐se manter o absorvedor de CO2 (cal sodada), que durará por um tempo maior. Mas um dos problemas que poderá ocorrer é que a utilização por períodos prolongados, dias ou semanas, com baixo FGF, levará a necessidade de troca do absorvedor de CO2 (cal sodada) várias vezes ao dia. Além do excessivo consumo desse material, que poderá acarretar desabastecimento do mercado, haverá a exposição das equipes de fisioterapia e enfermagem para realização desse procedimento.

Dessa forma, realizamos várias simulações no Laboratório de Biofísica da Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em pulmão teste com injeção de CO2 (250 mL.min–1), para detecção de eventuais situações de reinalação. Foram realizados experimentos com o aparelho de anestesia AVANCE S/5 (GE HealthcareTM, Chicago, EUA), com o reservatório de absorvedor vazio (sem cal sodada) simulando a ventilação para um pulmão com complacência normal (0,05 L.cm–1 H2O) e para um pulmão com complacência reduzida (0,02 L.cm–1 H2O).

Na simulação do pulmão normal utilizamos os seguintes parâmetros: Volume Corrente (VC) de 500 mL, Frequência Respiratória (FR) de 12 incursões por minuto, Volume‐Minuto (VM) de 6 L.min–1 e PEEP de 4 cm H2O. Para o pulmão com baixa complacência usamos os seguintes parâmetros: VC = 300 mL, FR = 40 incursões por minuto, VM = 12 L.min–1 e PEEP = 10 cm H2O (tabela 1 ). Fomos, então, variando o FGF do aparelho de anestesia e observando a fração inspirada de CO2. Podemos observar que quando utilizávamos um FGF 20% superior ao volume‐minuto utilizado, não ocorria presença de gás carbônico no gás inspirado em nenhuma das duas simulações.

Tabela 1.

Parâmetros ventilatórios utilizados na simulação

Complacência VC (mL) FR (por minuto) VM (L.min–1) PEEP (cm H2O)
0,05 L.cm–1 H2O 500 12 6 4
0,02 L.cm–1 H2O 300 40 12 10

VC, Volume Corrente; FR, Frequência Respiratória; VM, Volume‐Minuto.

Em face à crise que estamos vivendo, achamos que a incorporação dos aparelhos de anestesia no cuidado dos pacientes críticos com COVID‐19, e que necessitem de ventilação artificial, poderia dar fôlego ao sistema de saúde. Existem milhares de aparelhos de anestesia distribuídos nos centros cirúrgicos dos hospitais brasileiros prontos para serem utilizados.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Bibliografia

  • 1.AMIB divulga primeira parte do censo 2016 com mapeamento das UTIs brasileiras. 2016. Available from https://www.amib.org.br/noticia/nid/amib‐divulga‐primeira‐parte‐do‐censo‐2016‐com‐mapeamento‐das‐utis‐brasileiras/.(accessed 08 de abril 2020).
  • 2.A matemática das UTIs: 3 desafios para evitar que falte cuidado intensivo durante a pandemia no Brasil. 2020. Available from https://www.bbc.com/portuguese/brasil‐52137553.(accessed 08 de abril 2020).
  • 3.Saúde Md. Coronavírus Brasil. 2020. Available from https://covid.saude.gov.br.(accessed 08 de abril 2020).
  • 4.Grasselli G., Zangrillo A., Zanella A. Baseline Characteristics and Outcomes of 1591 Patients Infected With SARS‐CoV‐2 Admitted to ICUs of the Lombardy Region. Italy. JAMA. 2020 doi: 10.1001/jama.2020.5394. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 5.There Aren’t Enough Ventilators to Cope With the Coronavirus. 2020. Available from https://www.nytimes.com/2020/03/18/business/coronavirus‐ventilator‐shortage.html.(accessed 08 de abril 2020).
  • 6.APSF/ASA. APSF/ASA Guidance on Purposing Anesthesia Machines as ICU Ventilators. 2020. Available from https://www.asahq.org/in‐the‐spotlight/coronavirus‐covid‐19‐information/purposing‐anesthesia‐machines‐for‐ventilators.(accessed 12 de abril 2020).

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