Introdução: A doença do coronavírus-19 (COVID-19) é uma doença infecciosa causada por um vírus recém-descoberto, Sars-CoV-2. Os sintomas mais frequentes são febre, tosse seca e astenia. O espectro clínico varia de doentes assintomáticos ou oligossintomáticos, em sua maioria, a pacientes que desenvolvem desconforto respiratório, sendo que uma parcela destes evolui para insuficiência respiratória aguda com risco de óbito. Além dos sintomas respiratórios, muitos pacientes podem apresentar diferentes manifestações sistêmicas devido a acometimento cardiovascular, neurológico, renal, gastrointestinal, cutâneo e hematológico. As principais manifestações hematológicas são coagulopatia e citopenias, principalmente elevação do Dímero-D, anemia e linfopenia. Contudo, a neutropenia é um achado menos comum, sendo a agranulocitose uma condição rara, descrita em apenas oito pacientes com COVID-19 até o momento, a maioria na vigência de tratamento oncológico. Objetivo: Relatar um caso de agranulocitose em um paciente previamente hígido hospitalizado com COVID-19. Relato do caso: Paciente VSGC, masculino, 62 anos, sem doença prévia, admitido com febre, dispneia, anosmia e tomografia computadorizada do tórax com padrão em vidro fosco bilateral acometendo 50% do parênquima pulmonar. RT-PCR reagente para COVID-19 em swab de nasofaringe; Hb: 15,3 g/dL, Ht: 45%, Leucócitos: 140/mm3, Neutrófilos: 4/mm3, Linfócitos: 122/mm3 e Plaquetas: 143.000/mm3. Ferritina sérica > 2.000 ng/mL. Exames laboratoriais de coagulação (TAP e TTPA), função renal, DHL e troponina sem alterações. Mielograma, coletado somente no quarto dia de tratamento com filgrastima (G-CSF), apresentava sinais de recuperação da série granulocítica, porém ainda hipocelular com predomínio de precursores granulocitários; série eritrocítica e megacariocítica normocelulares. Além de G-CSF, o paciente recebeu cefepime por sete dias e oxigenoterapia por treze dias. Apresentou boa evolução clínica, com normalização do leucograma a partir do sexto dia de tratamento: neutrófilos: 3.124/mm3 e linfócitos: 896/mm3. Recebeu alta após 17 dias de internação, sem ter necessitado de cuidados de terapia intensiva. Discussão: A COVID-19 é considerada uma doença sistêmica com aproximadamente 80% de casos leves, 15% de casos moderados e 5% dos pacientes com manifestações respiratórias graves e necessidade de terapia intensiva. Além dos fatores de risco clássicos, como idade ≥ 60 anos, obesidade, diabetes, cardiopatia, hipertensão arterial, doença respiratória crônica, doença renal crônica e imunossupressão, alguns achados laboratoriais são considerados preditivos de pior prognóstico: linfócitos < 600/mm3 e elevação de Dímero-D, DHL, troponina e ferritina. Por outro lado, a agranulocitose é uma situação grave associada a alto risco de infecção e mortalidade. Geralmente causada por drogas, radiação ionizante, imunodeficiência adquirida, desnutrição ou fatores genéticos. A associação de agranulocitose (granulócitos < 500/mm3) e COVID-19 já foi reportada em oito pacientes, sendo somente um caso descrito em paciente sem doença prévia. Os demais pacientes estavam em terapia antineoplásica, sendo que três pacientes necessitaram de terapia intensiva e dois deles evoluíram a óbito. Em conclusão, relatamos um caso raro de agranulocitose em um paciente previamente hígido infectado por Sars-CoV-2, condição esta, que necessita de medidas terapêuticas imediatas devido ao alto risco de complicações infecciosas graves e óbito.
AGRANULOCITOSE ASSOCIADA À COVID-19
JPP Silveira
KASS Lopes
JRB Franco
TS Datoguia
L Medeiros
JE Nicolau
E Boturão-Neto
Issue date 2020 Nov.
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