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. 2020 Mar 20;114(3):564–570. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20200176
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Os Top 10 Artigos Originais Publicados nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia e na Revista Portuguesa de Cardiologia em 2019

Gláucia Maria Moraes de Oliveira 1,2, Ricardo Fontes-Carvalho 3,4, Lino Gonçalves 5,6, Nuno Cardim 7,8, Carlos Eduardo Rochitte 9,10
PMCID: PMC7792718  PMID: 32267332

Introdução

Há vários séculos Portugal e Brasil têm uma longa tradição de cooperação. Na Medicina, sobretudo na área de Cardiologia, existe um longo histórico de colaboração entre as duas sociedades científicas – a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Portuguesa de Cardiologia – que se estende aos respetivos periódicos.

Os Arquivos Brasileiros de Cardiologia ( Arq Bras Cardiol ), publicação científica oficial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, com fator de impacto de 1,679 em 2018 (JCR), é a revista de maior repercussão em Cardiologia no Brasil e da América Latina. Esse fato pode ser exemplificado pelo número crescente de artigos submetidos aos Arq Bras Cardiol (650 em 2017, 771 em 2018 e 734 em 2019) e pelo índice h5 de 31 e mediana h5 de 39, com taxa de aceitação inferior a 20%.

A Revista Portuguesa de Cardiologia ( Rev Port Cardiol ) tem uma publicação ininterrupta desde 1982, sendo o veículo oficial da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, membro institucional da Sociedade Europeia de Cardiologia. É um periódico de impacto global, indexado em PubMed, Elsevier, Science Direct e SCOPUS, com fator de impacto de 0.79 no ano de 2018.

Naquele ano, pela primeira vez, as duas revistas atuaram em conjunto para publicar um resumo com os trabalhos originais mais relevantes veiculados por elas em 2018. 1 Face ao grande sucesso dessa iniciativa, os corpos editoriais dos dois periódicos decidiram cooperar novamente para selecionar as melhores publicações de 2019. Os trabalhos dos Arq Bras Cardiol listados neste artigo foram os selecionados para o Prêmio de Publicações da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Cabe ressaltar que, em 2019, tivemos a presença de Nuno Cardim, autor do melhor estudo da Rev Port Cardiol em 2019, nas premiações do 74º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Porto Alegre. Pretendemos assim reforçar os laços culturais das principais revistas de Cardiologia em língua portuguesa, que representam o que há de melhor nas publicações voltadas para uma população crescente de cerca de 250 milhões de pessoas no mundo.

Dada a qualidade geral dos artigos publicados, esta seleção foi uma tarefa difícil, possivelmente imperfeita, mas permite destacar vários trabalhos de grande mérito na Cardiologia. Nas Tabelas 1 e 2 estão resumidos os dez melhores artigos publicados em cada revista em 2019.

Tabela 1. – Lista com a seleção dos dez melhores artigos publicados nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 2019.

Autor Título e link
Faria AP et al. 7 Proposta de um Escore Inflamatório de Citocinas e Adipocinas Plasmáticas Associado à Hipertensão Resistente, mas Dependente dos Parâmetros de Obesidade http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000400383&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Dippe Jr. et al. 18 Estudo de Perfusão Miocárdica em Obesos sem Doença Cardíaca Isquêmica Conhecida http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000200121&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Reuter CP et al. 5 Relação entre Dislipidemia, Fatores Culturais e Aptidão Cardiorrespiratória em Escolares http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000600729&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Villela PTM et al. 9 A Preferência ao Sal está Relacionada à Hipertensão e não ao Envelhecimento http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2019005015104&script=sci_arttext&tlng=pt
Barros MVL et al. 27 Alteração Contrátil Segmentar Ventricular Esquerda é Preditor Independente de Cardiotoxicidade em Pacientes com Câncer de Mama em Tratamento Quimioterápico http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000100050&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Kiyose AT et al. 28 Comparação de Próteses Biológicas e Mecânicas para Cirurgia de Válvula Cardíaca: Revisão Sistemática de Estudos Controlados Randomizados http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000300292&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Eickemberg M et al. 6 Indicadores de Adiposidade Abdominal e Espessura Médio-Intimal de Carótidas: Resultados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto - ELSA-Brasil http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000300220&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Effting PS et al. 8 Exercício Resistido Modula Parâmetros de Estresse Oxidativo e Conteúdo de TNF-α no Coração de Camundongos com Obesidade Induzida por Dieta http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000500545&lng=es&nrm=iso&tlng=pt
Avila WS et al. 29 Gravidez em portadoras de cardiopatias congênitas complexas. Um constante desafio http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2019005019101&script=sci_arttext&tlng=pt
Barbosa JE et al. 17 Perfil da Expressão do mRNA do Nrf2, NF-κB e PPARβ/δ em Pacientes com Doença Arterial Coronariana http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019005001205&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Tabela 2. – Lista com a seleção dos dez melhores artigos publicados na Revista Portuguesa de Cardiologia em 2019.

Autores e Referencias Título do artigo
P Marques Silva et al. 2 Alterações persistentes do perfil lipídico na prática clínica nos doentes adultos portugueses com dislipidemia em tratamento com antidislipidémicos. Dados do estudo DISGEN-LIPID https://www.revportcardiol.org/pt-suboptimal-lipid-levels-in-clinical-articulo-S0870255119304998
P Marques Silva et al. 4 Prevalência de fatores de risco cardiovascular e outras comorbilidades em doentes com hipertensão arterial assistidos nos Cuidados de Saúde Primários: estudo PRECISE https://www.revportcardiol.org/pt-prevalencia-fatores-risco-cardiovascular-e-articulo-S0870255118302762
R Calé et al. 12 Tempo para a reperfusão num subgrupo de doentes de alto risco com enfarte agudo do miocárdio submetidos a angioplastia primária https://www.revportcardiol.org/pt-time-reperfusion-in-high-risk-patients-articulo-S087025511930527X
J Pinto Monteiro et al. 13 KAsH: Uma nova ferramenta para previsão de mortalidade hospitalar em doentes com Enfarte Agudo do Miocárdio https://www.revportcardiol.org/pt-kash-a-new-tool-predict-articulo-S0870255119305785
D Bento et al. 16 Prognóstico a curto e médio prazo da síndrome de Takotsubo numa população portuguesa https://www.revportcardiol.org/pt-short-medium-term-prognosis-takotsubo-syndrome-articulo-S0870255118300933
D Bonhorst et al. 20 Implantação de dispositivos de ressincronização e/ou desfibrilhação em doentes com insuficiência cardíaca: dados da vida real – o Estudo Síncrone https://www.revportcardiol.org/pt-implantacao-dispositivos-ressincronizacao-e-ou-desfibrilhacao-articulo-S0870255117306893
L Fernandes et al. 19 Acidente vascular cerebral isquémico em doentes previamente anticoagulados por fibrilhação auricular não valvular: porque acontece? https://www.revportcardiol.org/pt-acidente-vascular-cerebral-isquemico-em-articulo-S0870255118300155
C Ruivo et al. 25 The SHIFT model combines clinical, electrocardiographic and echocardiographic parameters to predict Sudden Cardiac Death in Hypertrophic Cardiomyopathy
A Sousa et al. 23 Caracterização molecular dos doentes portugueses com miocardiopatia dilatada https://www.revportcardiol.org/pt-molecular-characterization-portuguese-patients-with-articulo-S0870255118302269
C Ruivo et al. 22 Myocardial deformation measures by cardiac magnetic resonance tissue tracking in myocarditis: relationship with systolic function and myocardial lesion

Prevenção cardiovascular

A doença cardiovascular (DCV) continua a ser a principal causa de mortalidade a nível mundial. Apesar de atualmente dispormos de várias estratégias de tratamento da DCV, no “mundo real” o grau de controle dos fatores de risco cardiovascular (RCV) é inferior ao desejável. O estudo DISGEN-LIPID, 2 observacional e realizado em 24 centros em Portugal, teve por objetivo avaliar o grau de controle da dislipidemia, um dos principais fatores de RCV para o desenvolvimento de doença arterial coronária (DAC). Nesse estudo, observou-se que, apesar de a maioria dos doentes ser de alto ou muito alto RCV, mais de 50% daqueles em uso de hipolipemiantes não atingiram os valores-alvo recomendados de c-LDL, e que grandes porcentagens de doentes utilizavam estatinas de baixa intensidade ou em doses baixas. Curiosamente, outro estudo, analisando os dados do estudo DISGEN-LIPID, relatou uma disparidade significativa entre gêneros, com valores de perfil lipídico significativamente maiores nas mulheres do que nos homens. 3 Aquele estudo é relevante porque mostra a necessidade de se desenharem políticas de saúde pública que possam ultrapassar as barreiras atualmente existentes na implementação dos guidelines na prática clínica e ainda ultrapassar os problemas de subdosagem de estatina, a inércia terapêutica e a falta de adesão do doente ao tratamento.

Em 2019, a Rev Port Cardiol publicou outro importante estudo que ajuda a compreender o controle dos fatores de RCV na população portuguesa. O estudo PRECISE, 4 foi um estudo epidemiológico, transversal, que avaliou a prevalência dos vários fatores de RCV em 2848 doentes hipertensos seguidos nos cuidados primários de saúde. Os investigadores observaram que apenas 56% dos hipertensos tinham um bom controle da pressão arterial e que mais de 80% deles tinham três ou mais fatores de RCV. Esses dados mostram a importância de se fazer uma avaliação global do RCV no hipertenso e, mais uma vez, a necessidade urgente de implementar estratégias de prevenção que permitam melhorar o controle dos fatores de RCV em Portugal.

Ambos os estudos tiveram como primeiro autor o nosso colega Pedro Marques da Silva, médico ímpar, que deixa uma marca indelével na Medicina Cardiovascular. É com grande pesar que assistimos ao seu desaparecimento no início de 2020. Ficou mais pobre a Cardiologia em Portugal.

Em crianças e adolescentes também se observou dificuldade no controle dos fatores RCV. Em um estudo com 1254 crianças e adolescentes do sul do Brasil, 55% do sexo feminino, com idades entre 7 e 17 anos, foram analisadas as relações entre dislipidemia, fatores culturais e aptidão cardiorrespiratória (ACR). Os fatores culturais foram avaliados através de questionário autorreferido pelo escolar e os níveis de ACR, pelo teste de corrida/caminhada de 12 minutos, que consistiu em percorrer a maior distância possível em uma pista previamente demarcada durante 12 minutos. Os autores observaram prevalência de cerca de 42% de dislipidemia, que foi associada com o sexo feminino e baixos níveis de ACR. Na análise multivariada, dislipidemia foi associada com crianças e não com adolescentes, e com sobrepeso e obesidade. O deslocamento sedentário para a escola, grande tempo de permanência assistindo televisão, sexo feminino e presença de sobrepeso/obesidade também se associaram com os componentes isolados do perfil lipídico. Os autores ressaltaram a necessidade de intervenções precoces que promovam hábitos de vida saudáveis nas crianças. 5

O estudo ELSA-Brasil, 6 com 15.105 funcionários públicos, de 35 a 74 anos, vinculados a seis instituições de ensino e pesquisa das regiões sul, sudeste e nordeste do Brasil, avaliou a magnitude da associação entre a adiposidade abdominal, segundo diferentes indicadores diagnósticos [circunferência da cintura (CC), razão cintura quadril (RCQ), índice de conicidade, produto da acumulação lipídica (LAP), índice de adiposidade visceral (IAV)], e a espessura médio-intimal da carótida (EMIc), marcador de aterosclerose subclínica e preditor de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Os autores relataram, empregando regressão logística múltipla, que a adiposidade abdominal diagnosticada pela CC, mostrou importante associação com a EMIc em ambos os sexos (homens: OR = 1,47; IC95%: 1,22-1,77; mulheres: OR = 1,38; IC95%: 1,17-1,64). A adiposidade abdominal identificada pelos indicadores CC, RCQ, LAP e IAV entre as mulheres mostrou efeito de 0,02 mm sobre a EMIc (CC: 0,025, IC95%: 0,016-0,035; RCQ: 0,026, IC95%: 0,016-0,035; LAP: 0,024, IC95%: 0,014-0,034; IAV: 0,020, IC95%: 0,010-0,031). Os resultados observados reforçam a importância da adiposidade abdominal, representada pela CC, especialmente nos homens, como marcador simples da adiposidade abdominal associada com a aterosclerose subclínica.

A aterosclerose subclínica parece estar também associada com a inflamação sistêmica nos portadores de hipertensão arterial resistente (HAR). Procurou-se estabelecer um escore inflamatório (EI) em uma amostra de conveniência de 224 hipertensos, metade com HAR, empregando-se citocinas e adipocinas plasmáticas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, TNF-alfa, interleucinas (IL)-6, -8, -10, leptina e adiponectina. O EI correlacionou-se positivamente com índice de massa corporal (r = 0,40; p < 0,001), CC (r = 0,30; p < 0,001) e massa gorda avaliada por bioimpedância (r = 0,31; p < 0,001) em todos os indivíduos hipertensos. Poderá fornecer informação complementar na estratificação de RCV nos obesos com HAR. No entanto, precisará ser validado em outras populações para que seja recomendado para uso clínico, que ainda ficará limitado pelo alto custo da dosagem das citocinas e da adiponectina. 7

A obesidade, que foi associada com inflamação, também está associada com produção excessiva de espécies reativas de oxigênio. Com o objetivo de verificar os efeitos de oito semanas de treinamento resistido sobre os parâmetros de estresse oxidativo e inflamatórios em 24 camundongos Swiss com obesidade induzida por 26 semanas de dieta hiperlipídica, foi realizado teste de tolerância à insulina, monitoramento do peso corporal e marcadores de parâmetros de estresse oxidativo e inflamação no tecido cardíaco. Os resultados do estudo demonstraram controle do peso corporal apesar da ingesta excessiva de calorias, revertendo o dano em lipídios e a produção de espécies reativas de oxigênio, assim como modulando positivamente as principais citocinas responsáveis pela ativação do processo inflamatório. Dessa forma, o exercício resistido pode auxiliar no tratamento da obesidade, necessitando-se esclarecer como ele promove esses efeitos no tecido cardíaco. 8

Para 118 indivíduos, 77 hipertensos, foram ofertadas amostras aleatórias de pães com três concentrações de sal no tempo inicial e, após duas semanas, eles provaram os mesmos pães acrescidos de orégano, sendo aferida a pressão arterial e a excreção urinaria de sódio e potássio de 24 horas. Os idosos e jovens hipertensos preferiram e consumiram mais sal do que os normotensos, tendo o pão adicionado de tempero diminuído a preferência pelo sal nos jovens e nos idosos hipertensos. As variáveis que influenciaram significativamente a preferência por amostras de pão mais salgado foram: a presença de hipertensão, o sexo masculino e o consumo de álcool. Políticas públicas para diminuição da quantidade de sódio nos alimentos, como as realizadas em Portugal, possivelmente se associarão com melhor controle da hipertensão arterial e dos desfechos com ela relacionados, como o AVC, doença renal crônica e DAC. 9

Doença coronariana crônica e síndromes coronarianas agudas

A introdução da angioplastia primária e da via verde coronariana permitiu uma redução marcada da mortalidade por síndrome coronariana aguda (SCA). 10 Contudo, é necessário continuar a melhorar a organização do sistema de angioplastia primária de forma a reduzir os tempos de atraso que são dependentes do sistema. A esse propósito, a Rev Port Cardiol publicou dois estudos relevantes. No primeiro, 11 foram avaliados 1222 doentes com infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMcEST), mostrando-se que, em comparação com a orientação direta para o laboratório de hemodinâmica, a transferência inter-hospitalar dos doentes com IAMcEST aumentou de forma significativa o intervalo de tempo até a realização da angioplastia. No segundo estudo, 12 que faz parte da iniciativa Stent for Life, foram analisados os dados de 1340 doentes com IAMcEST admitidos em 18 hospitais portugueses com o objetivo de avaliar os indicadores de performance na população de alto risco, nomeadamente idosos, diabéticos e mulheres. Os investigadores mostraram que os idosos têm tempos de “atraso de doente” e de “atraso de sistema” muito maiores, independentemente do gênero e da presença de diabetes, demonstrando que esse grupo de doentes deve ser um alvo prioritário de novas estratégias de sensibilização da população.

No doente com infarto do miocárdio, existem vários escores para estratificação de risco, mas muitos deles são de difícil aplicabilidade no mundo real. Na edição de outubro da Rev Port Cardiol , Monteiro Pinto et al., 13 propõem um novo escore de risco de fácil utilização clínica, intitulado escore KAsH. Esse escore é calculado através de uma fórmula simples = (classe Killip x idade x frequência cardíaca) / pressão arterial sistólica. Num grupo de 1504 doentes consecutivos com infarto do miocárdio, esse novo escore mostrou ter melhor valor preditivo que os atualmente existentes, em especial o escore de GRACE. Sendo muito promissor, é agora necessária sua maior validação em outras coortes de doentes para sua posterior implementação na prática clínica. 14

A síndrome de Takotsubo é um dos diagnósticos diferenciais no doente com suspeita de SCA, sendo uma patologia que tem captado uma atenção crescente. 15 Este ano, foram publicados na Rev Port Cardiol os resultados de um estudo multicêntrico português, que avaliou as características de 234 doentes com esse diagnóstico. 16 Nesse artigo, mostrou-se que, em geral, essa síndrome tem um bom prognóstico a curto e a médio prazo (mortalidade intra-hospitalar de 2,2%), mas que a taxa de complicações intra-hospitalares (nomeadamente insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, arritmias ventriculares e AVC) ainda é elevada (33%).

Com o objetivo de avaliar a expressão dos fatores transcricionais NF-κB e Nrf2 e o PPARβ/δ em pacientes com síndrome coronariana crônica (SCC), 35 pacientes com DAC (17 homens, com 62,4 ± 7,55 anos) e 12 sem DAC (5 homens, 63,50 ± 11,46 anos) foram estudados. As células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) foram isoladas e processadas para a expressão de mRNA do Nrf2, NF-κB, NADPH: quinona oxidoredutase 1 (NQO1) e mRNAs do PPARβ/δ por meio de reação em cadeia da polimerase quantitativa em tempo real. Os autores observaram que o PPARβ/δ apresentou maior expressão nas PBMCs de pacientes com DAC comparados ao grupo controle, ao passo que não foram observadas diferenças nas expressões de mRNA do Nrf2 ou do NF-κB. Tais achados podem indicar possíveis terapias-alvo para pesquisas futuras na SCC. 17

Ainda em relação à SCC, foram estudados 5.526 pacientes obesos sem DAC conhecida, encaminhados para avaliação por CPM-SPECT entre janeiro de 2011 e dezembro de 2016. Os fatores associados à perfusão miocárdica anormal em pacientes obesos sem doença cardíaca isquêmica conhecida, após ajuste para as variáveis relevantes (análise multivariada), foram: idade (2% de aumento no risco para cada ano a mais de idade), diabetes mellitus (57% de aumento no risco em pacientes portadores dessa doença), angina típica (245% de aumento no risco em pacientes com angina típica quando comparados aos assintomáticos), utilização de estresse farmacológico durante o exame (61% de aumento no risco quando comparado ao estresse físico por meio de teste de esforço), menor intensidade do esforço físico avaliado em equivalente metabólico (MET: 10% de redução no risco para cada MET adicional realizado durante o teste de esforço) e fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) após estresse (1% de redução no risco para cada 1% a mais na FEVE). Esses dados corroboram a associação de obesidade e SCC. 18

Arritmias cardíacas e dispositivos

A associação entre a fibrilação atrial e o risco de AVC é complexa e multifatorial. Ainda mais desafiante é a compreensão dos mecanismos envolvidos na ocorrência de AVC em doentes submetidos a hipocoagulação. Num estudo muito interessante publicado por Fernandes et al., 19 os investigadores estudaram 60 doentes consecutivos com fibrilação atrial não valvular, medicados cronicamente com anticoagulação oral e que, apesar disso, sofreram um AVC isquêmico. Na grande maioria desses doentes, a ocorrência do AVC parece ser explicada por subdosagem, má adesão terapêutica ou etiologia não cardioembólica e não por ineficácia desses fármacos, já que, em cerca de 90% dos doentes em uso de antagonistas da vitamina K, o INR na admissão era < 2 e, 43% daqueles tratados com anticoagulantes diretos estavam tomando subdosagem.

A implantação de cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) e de dispositivos de ressincronização ventricular (CRT) permite a redução do risco de morte e hospitalização e uma melhoria da qualidade de vida nos doentes com insuficiência cardíaca com FEVE reduzida. Bonhorst et al. publicaram na Rev Port Cardiol os resultados do estudo Síncrone, 20 que é um registro observacional, multicêntrico e prospetivo realizado em 16 centros portugueses e que incluiu 486 doentes com diagnóstico de insuficiência cardíaca, FEVE < 35% e indicação para implantação de CDI ou CRT. Nesse estudo, a maioria dos doentes tratados com dispositivos tinha uma recomendação de classe I dos guidelines , sendo as taxas de mortalidade com 1 ano baixas (apenas 3,6%), assim como o número de reinternações (11%). Esse estudo ajuda a compreender a realidade do tratamento com dispositivos para insuficiência cardíaca em Portugal, mostrando ainda a necessidade de se melhorar o tratamento farmacológico desses doentes já que as taxas de utilização de medicação foram sub-ótimas (76% inibidor da enzima conversora de angiotensina/antagonista do receptor de aldosterona; 77% bloqueadores beta-adrenérgicos; 34% antagonista da aldosterona).

Insuficiência cardíaca e miocardiopatias

Nos doentes com miocardiopatia hipertrófica (MH), as diretrizes europeias recomendam a avaliação do risco de morte súbita de acordo com o escore ESC-SCD. 21 Contudo, têm surgido várias críticas a esse escore, sendo necessário criar novas formas de estratificação do risco nesses doentes. Ruivo C et al., 22 publicaram na Rev Port Cardiol um estudo interessante baseado nos dados do registro nacional de MH, que inclui 1022 doentes com essa patologia. Após identificação dos principais determinantes de risco de morte súbita, os investigadores construíram um novo modelo de risco designado escore SHIFT, que inclui quatro variáveis: síncope inexplicada, sinais de insuficiência cardíaca, espessura do septo ≥ 19 mm e presença de complexo QRS fragmentado. Nessa população de doentes, o escore SHIFT, que integra parâmetros clínicos, eletrocardiográficos e ecocardiográficos relativamente simples de se avaliar, teve melhor valor preditivo (C-index 0.81) que o escore ESC-SCD. Por isso, no futuro, esse novo escore poderá desempenhar um papel importante para ajudar a selecionar os doentes com MH e indicação para implantação de CDI em prevenção primária.

Na área da miocardiopatia dilatada, a Rev Port Cardiol publicou em 2019 um estudo multicêntrico que pretendeu fazer uma caracterização molecular e genética de 107 doentes com cardiomiopatia dilatada. 23 Os investigadores observaram uma grande complexidade e diversidade genética nesses doentes com identificação de 31 variantes genéticas raras em oito genes diferentes, que envolvem sobretudo genes sarcoméricos (MYBPC3, TNNT2 e LMNA). Esse estudo reforça a importância das novas técnicas de análise genômica, sobretudo por técnicas de next-generation sequencing , para ajudar a compreender a etiologia dessa doença.

Nos últimos anos, a ressonância cardíaca tem desempenhado um papel crescente na avaliação dos doentes com miocardite, sendo atualmente o exame não invasivo de eleição para o diagnóstico dessa patologia. 24 Num estudo publicado na Rev Port Cardiol em 2019, 25 os investigadores avaliaram o papel da quantificação da deformação miocárdica por tissue tracking como uma medida objetiva de quantificação de função em 78 doentes com miocardite, tendo encontrado correlações significativas de todos os parâmetros de deformação ( strain, strain rate , velocidade e deslocamento) com a FEVE, com as alterações segmentares e a quantidade de realce tardio. Agora o desafio será compreender de que forma esses resultados podem influenciar a abordagem clínica dos doentes com miocardite. 26

A avaliação do risco de cardiotoxicidade dos quimioterápicos da classe das antraciclinas e dos anticorpos monoclonais humanizados é um desafio clínico, que estimula a busca por preditores de alteração contrátil segmentar ventricular esquerda (ACSVE) que sejam de fácil realização e que permitam reavaliações ao longo do tratamento. Barros et al., 27 estudando 112 pacientes, média de idade de 51,3 ± 12,9 anos, com câncer de mama e tratamento com doxorrubicina e/ou trastuzumabe, realizaram estudo ecocardiográfico para avaliar cardiotoxicidade, que foi definida por decréscimo de 10% na FEVE. A presença de cardiotoxicidade foi observada em 18 (16,1%) pacientes. Na análise multivariada, ACSVE (OR = 6,25 [IC 95%: 1,03; 37,95], p < 0,05), diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo (OR = 1,34 [IC 95%: 1,01; 1,79], p < 0,05) e strain longitudinal global pela técnica de speckle tracking (OR = 1,48 [IC 95%: 1,02; 2,12], p < 0,05) foram preditores significativos e independentes de cardiotoxicidade. Os autores concluíram que a ACSVE é preditor independente de cardiotoxicidade e poderá ser útil para detecção precoce da disfunção miocárdica. 27

Cirurgia Cardíaca

Em meta-análise de quatro estudos controlados e randomizados que buscava determinar os desfechos clínicos de 1528 pacientes portadores de próteses valvares mecânicas e biológicas, antigas e contemporâneas, seguidos entre 2 e 20 anos, não foram observadas diferenças para os desfechos morte (risco relativo, RR = 1,07; IC95%: 0,99-1,15), embolia arterial sistêmica (RR = 0,93; IC95%: 0,66-1,31) e endocardite infecciosa (RR = 1,21; IC95%: 0,78-1,88) entre os portadores de próteses mecânicas e biológicas. Por outro lado, o risco de sangramento foi um terço menor (RR = 0,64; IC95%: 0,52-0,78) e o número de reoperações (RR = 3,60; IC95%: 2,44-5,32) foi três vezes maior nos pacientes com próteses biológicas. Três estudos incluíram próteses de antiga geração, que apresentaram resultados similares às de nova geração. Os autores salientam a ausência de estudos com as novas gerações de próteses, exortando a realização de estudos que comparem próteses biológicas e mecânicas contemporâneas. 28

Cardiopatias congênitas

A gravidez em portadoras de cardiopatia congênita complexa (CCC) tornou-se uma realidade e o manejo materno-fetal é um desafio clínico atual. Avila et al., 29 estudaram 435 gestantes portadoras de CCC, por um período de 10 anos, que foram incluídas no Registro do Instituto do Coração (Registro-InCor). Selecionaram 42 gestações em 40 mulheres com CCC (24,5 ± 3,4 anos) que foram desaconselhadas a engravidar. As CCC listadas foram transposição das grandes artérias, atresia pulmonar, atresia tricúspide, ventrículo único, dupla via de saída de ventrículo direito, dupla via de entrada de ventrículo esquerdo, que foram tratadas com cirurgias Rastelli, Fontan, Jatene, Senning, Mustard e outros procedimentos combinados, como tunelização, Blalock Taussig e Glenn. Das 40 mulheres com CCC, 8 não foram submetidas a cirurgia e cerca de 48% apresentaram hipoxemia. Apesar do acompanhamento individualizado e frequente, com hospitalização a partir de 28 semanas, a maior parte das gestações, cerca de 60%, apresentou complicações maternas ou fetais. Foram relatadas complicações maternas em 31% das gestações, incluindo 2 mortes causadas por hemorragia pós-parto e pré-eclâmpsia grave, e 7 perdas fetais, 17 bebês prematuros e 2 recém-nascidos com cardiopatia congênita. Os autores reforçaram as orientações vigentes de que, apesar da melhoria no prognóstico das CCC e da necessidade de se respeitar a autonomia da intenção à concepção, as complicações maternas e fetais desaconselham a gravidez, especialmente nas pacientes que apresentam hipoxemia.

Conclusões Finais

Esta revisão dos melhores do ano, sob o ponto de vista dos editores dos Arq Bras Cardiol e da Rev Port Cardiol , é uma pequena amostra de tudo que essas publicações científicas têm a oferecer em termos de atualização e divulgação de inovações para os seus leitores. Ela coloca em evidência a relevância da ciência em língua portuguesa. Procuramos trazer para os leitores a melhor informação no melhor formato, sucinto, preciso e eficiente.

A ciência só progride quando o conhecimento é compartilhado. O papel dos Arq Bras Cardiol e da Rev Port Cardiol é publicar, circular e divulgar cada vez mais a ciência por elas veiculada e contribuir para o progresso científico global. E por que não o fazer também de forma elegante e eficiente na nossa amada língua-mãe, com o sotaque que mais lhe agradar? Esperamos que todos tenham apreciado esse resumo do melhor do ano de 2019 e os aguardamos ano que vem com o melhor de 2020. Convidamos também os nossos leitores, associados das nossas sociedades de Cardiologia, cardiologistas, médicos e cientistas em geral a se manterem conectados com nossas publicações científicas de forma constante, pelas vias digitais tradicionais (webpage), redes sociais (Facebook, Twitter e LinkedIn) e aplicativos de smartphones. Boa leitura a todos!

Vinculação acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Aprovação ética e consentimento informado

Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores.

Fontes de financiamento. O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Referências

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The Top 10 Original Articles Published in the Arquivos Brasileiros de Cardiologia and in the Revista Portuguesa de Cardiologia in 2019

Gláucia Maria Moraes de Oliveira 1,2, Ricardo Fontes-Carvalho 3,4, Lino Gonçalves 5,6, Nuno Cardim 7,8, Carlos Eduardo Rochitte 9,10

Introduction

For centuries, Portugal and Brazil have shared a tradition of cooperation, which applies to medicine. In cardiology, for example, their national scientific societies – the Brazilian Society of Cardiology and the Portuguese Society of Cardiology – have a long history of collaboration, which extends to their journals.

The Arquivos Brasileiros de Cardiologia ( Arq Bras Cardiol ), the official scientific publication of the Brazilian Society of Cardiology, with an impact factor of 1.679 in 2018 (JCR), is the most influential cardiology journal in Brazil and Latin America. This can be exemplified by the increasing number of submissions to the Arq Bras Cardiol (650 in 2017, 771 in 2018, and 734 in 2019), and by its h5 index of 31 and h5 median of 39, with acceptance rate lower than 20%.

The Revista Portuguesa de Cardiologia ( Rev Port Cardiol ) is the official journal of the Portuguese Society of Cardiology, an institutional member of the European Society of Cardiology. It has been continuously published since 1982, has global impact, being indexed in PubMed, Elsevier, ScienceDirect and SCOPUS, with an impact factor of 0.79 in 2018.

In that year, for the first time, both journals got together to issue a review of the most relevant original papers published in both journals in 2018.1Because of the great success of that initiative, the editorial bodies of those two journals decided to cooperate again to select their best 2019 publications. The articles of the Arq Bras Cardiol listed here were those selected for the Brazilian Society of Cardiology Publication Award. It is worth noting that Nuno Cardim, author of the best article published in the Rev Port Cardiol in 2019, attended the award ceremony of the 74thBrazilian Congress of Cardiology, in the city of Porto Alegre, in 2019. We aim to strengthen the cultural ties of the major cardiology journals published in Portuguese, which represent the best publications directed to a growing population of around 250 million people worldwide.

Given the overall high quality of the articles published, this selection was a hard, possibly imperfect task, which allowed us to highlight several relevant papers in cardiology. Tables 1 and 2 list the top ten articles published in each journal in 2019.

Table 1. – List of the top ten articles published in the Arquivos Brasileiros de Cardiologia in 2019.

Author Title of the article and link
Faria AP et al.7 Proposta de um Escore Inflamatório de Citocinas e Adipocinas Plasmáticas Associado à Hipertensão Resistente, mas Dependente dos Parâmetros de Obesidade http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000400383&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Dippe Jr. et al.18 Estudo de Perfusão Miocárdica em Obesos sem Doença Cardíaca Isquêmica Conhecida http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000200121&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Reuter CP et al.5 Relação entre Dislipidemia, Fatores Culturais e Aptidão Cardiorrespiratória em Escolares http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000600729&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Villela PTM et al.9 A Preferência ao Sal está Relacionada à Hipertensão e não ao Envelhecimento http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2019005015104&script=sci_arttext&tlng=pt
Barros MVL et al.27 Alteração Contrátil Segmentar Ventricular Esquerda é Preditor Independente de Cardiotoxicidade em Pacientes com Câncer de Mama em Tratamento Quimioterápico http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000100050&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Kiyose AT et al.28 Comparação de Próteses Biológicas e Mecânicas para Cirurgia de Válvula Cardíaca: Revisão Sistemática de Estudos Controlados Randomizados http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000300292&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Eickemberg M et al.6 Indicadores de Adiposidade Abdominal e Espessura Médio-Intimal de Carótidas: Resultados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto - ELSA-Brasil http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000300220&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Effting PS et al.8 Exercício Resistido Modula Parâmetros de Estresse Oxidativo e Conteúdo de TNF-α no Coração de Camundongos com Obesidade Induzida por Dieta http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000500545&lng=es&nrm=iso&tlng=pt
Avila WS et al.29 Gravidez em portadoras de cardiopatias congênitas complexas. Um constante desafio http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2019005019101&script=sci_arttext&tlng=pt
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Table 2. – List of the top ten articles published in the Revista Portuguesa de Cardiologia in 2019.

Author Title of the article
P Marques Silva et al.2 Suboptimal lipid levels in clinical practice among Portuguese adults with dyslipidemia under lipid-lowering therapy: Data from the DISGEN-LIPID study
P Marques Silva et al.4 Prevalência de fatores de risco cardiovascular e outras comorbilidades em doentes com hipertensão arterial assistidos nos Cuidados de Saúde Primários: estudo PRECISE
R Calé et al.12 Time to reperfusion in high-risk subgroup patients with myocardial infarction undergoing primary percutaneous coronary intervention
J Pinto Monteiro et al.13 KAsH: Uma nova ferramenta para previsão de mortalidade hospitalar em doentes com Enfarte Agudo do Miocárdio
D Bento et al.16 Short and medium-term prognosis of Takotsubo syndrome in a Portuguese Population
D Bonhorst et al.20 Implantação de dispositivos de ressincronização e/ou desfibrilhação em doentes com insuficiência cardíaca: dados da vida real – o Estudo Síncrone
L Fernandes et al.19 Acidente vascular cerebral isquémico em doentes previamente anticoagulados por fibrilhação auricular não valvular: por que acontece?
C Ruivo et al.25 The SHIFT model combines clinical, electrocardiographic and echocardiographic parameters to predict Sudden Cardiac Death in Hypertrophic Cardiomyopathy
A Sousa et al.23 Molecular characterization of Portuguese patients with dilated cardiomyopathy
C Ruivo et al.22 Myocardial deformation measures by cardiac magnetic resonance tissue tracking in myocarditis: relationship with systolic function and myocardial lesion

Cardiovascular prevention

Cardiovascular disease (CVD) remains the leading cause of mortality worldwide. Although several strategies to treat CVD are currently available, the control of cardiovascular risk (CVR) factors remains below the desired degree. The DISGEN-LIPID2study, an observational study conducted in 24 centers in Portugal, has aimed at assessing the degree of control of dyslipidemia, one of the major CVR factors for the development of coronary artery disease (CAD). That study has shown that, although most patients were at high or very high CVR, more than 50% of those on lipid-lowering therapy did not achieve the recommended target levels for LDL-C, a large proportion being on low-intensity statins or low-dose therapy. Another study, assessing data from the DISGEN-LIPID study, has shown a significant disparity between genders, with lipid profile values significantly higher in women than in men.3That relevant study evidences the need for public health policies that can overcome both the current obstacles to implementing the guidelines in clinical practice and the problems of low statin dose, therapeutic inertia and lack of patient’s adherence to treatment.

In 2019, the Rev Port Cardiol published the PRECISE study4to help understand the control of CVR factors in the Portuguese population. That epidemiological, cross-sectional study has assessed the prevalence of several CVR factors in 2848 hypertensive patients followed up in primary health care centers. The study has shown that only 56% of those patients had good blood pressure control and more than 80% of them had three or more concomitant CVR factors. These data show the importance of the overall assessment of CVR in hypertensive patients, and, once again, the urgent need to implement preventive strategies to improve the control of CVR factors in Portugal.

The first author of both studies was our colleague Pedro Marques da Silva, a remarkable physician, who left an indelible mark on Cardiovascular Medicine. His passing in early 2020 brought us great sorrow. This was a tremendous loss for cardiology in Portugal.

Difficulty controlling CVR factors in children and adolescents has also been observed. A study with 1254 children and adolescents from southern Brazil (female sex, 55%; age range: 7-17 years) has assessed the relationship between dyslipidemia, cultural factors and cardiorespiratory fitness (CRF). The cultural factors were assessed by use of a self-reporting questionnaire, and the CRF levels, by use of the 12-minute walk/run test, which consisted in covering the longest possible distance on a previously established track for 12 minutes. The authors have reported a dyslipidemia prevalence of 42%, which was associated with female sex and low CRF levels. On multivariate analysis, dyslipidemia was associated with children, but not with adolescents, as well as with overweight and obesity. In addition, sedentary commuting to and from school, too much time spent watching TV, female sex, and overweight/obesity were associated with isolated components of the lipid profile. The authors have emphasized the need for early interventions that promote healthy life habits among children.5

The ELSA-Brazil study,6assessing 15105 public servers (age range: 35-74 years) from six teaching and research institutions of the Brazilian southern, southeastern and northeastern regions, has assessed the magnitude of the association between abdominal adiposity, defined based on different diagnostic indicators [waist circumference (WC), waist-to-hip ratio (WHR), conicity index , lipid accumulation product (LAP), visceral adiposity index (VAI)], and carotid intima-media thickness (cIMT), a marker of subclinical atherosclerosis and predictor of myocardial infarction and stroke. By using multiple logistic regression, the authors have shown an important association of abdominal adiposity, diagnosed by use of WC, with cIMT in both sexes (men: OR = 1.47; 95% CI: 1.22-1.77; women: OR = 1.38; 95% CI: 1.17-1.64). Abdominal adiposity, identified by the indicators WC, WHR, LAP and VAI, in women showed a 0.02-mm effect on cIMT (WC: 0.025, 95% CI: 0.016-0.035; WHR: 0.026, 95% CI: 0.016-0.035; LAP: 0.024, 95% CI: 0.014-0.034; VAI: 0.020, 95% CI: 0.010-0.031). The results observed reinforce the importance of abdominal adiposity, represented by WC, especially in men, as a simple marker of abdominal adiposity associated with subclinical atherosclerosis.

In addition, subclinical atherosclerosis seems to be associated with systemic inflammation in patients with resistant arterial hypertension (RAH). In a convenience sample of 224 hypertensive patients, half of them with RAH, an inflammatory score (IS) was established, comprising the measurement of plasma pro-inflammatory and anti-inflammatory cytokines and adipokines, TNF-alpha, interleukins (IL)-6, -8, -10, leptin and adiponectin. The IS correlated positively with body mass index (r = 0.40; p < 0.001), WC (r = 0.30; p < 0.001) and fat mass, assessed by use of bioimpedance (r = 0.31; p < 0.001) in all hypertensive individuals. It may provide complementary information on CVR stratification in obese individuals with RAH. However, it requires validation in other populations to be recommended for clinical use, which is limited by the high cost of measuring cytokines and adiponectin.7

Obesity, which was associated with inflammation, is also associated with the excessive production of reactive oxygen species. Aiming to assess the effects of an 8-week resisted training on oxidative stress and inflammatory parameters in 24 Swiss mice with obesity induced by a 26-week lipid-rich diet, insulin tolerance testing was performed and body weight was monitored, as were oxidative stress markers and inflammatory parameters on cardiac tissue. The results of the study have shown body weight control despite the excessive calory intake, reversing the lipid damage and the production of reactive oxygen species, and positively modulating the major cytokines responsible for activating the inflammatory process. Thus, resisted exercise can aid the treatment of obesity, but how it promotes those effects on cardiac tissue requires clarification.8

In another study, 118 individuals, 77 of whom were hypertensive, received random samples of bread with three different salt contents at the beginning of the study. After two weeks, the individuals received the same breads, then added with oregano, and had their arterial blood pressure and 24-hour urine sodium and potassium excretion measured. The hypertensive elderly and young individuals preferred and consumed more salt than the normotensive individuals, and the bread added with oregano decreased the preference for salt in hypertensive elderly and young individuals. The variables that significantly influenced the preference for saltier bread samples were: hypertension, male sex, and alcohol consumption. Public policies to reduce the sodium content of meals, such as those implemented in Portugal, might associate with better control of arterial hypertension and its outcomes, such as stroke, chronic kidney disease and CAD.9

Chronic coronary artery disease and acute coronary syndromes

The introduction of direct access to primary angioplasty has allowed for a significant reduction in mortality due to acute coronary syndrome (ACS).10However, the organization of the primary angioplasty system requires continuous improvement to reduce system-dependent delay times. The Rev Port Cardiol has published two relevant studies about that. The first study,11assessing 1222 patients with ST-segment elevation myocardial infarction (STEMI), has shown that, as compared to patients admitted directly to a catheterization laboratory, the inter-hospital transfer of patients with STEMI significantly increased ischemic time. The second study,12part of the Stent for Life initiative, has assessed data on 1340 patients with STEMI admitted to 18 Portuguese hospitals, aiming at evaluating the performance indicators in the high-risk population, namely elderly, diabetic and female patients. The authors have reported that the elderly have longer patient and system delays, regardless of gender and presence of diabetes, suggesting that the elderly subgroup should be the target of new sensitization strategies.

There are several scores for the risk stratification of patients with myocardial infarction, many of which are difficult to use. On the October edition of the Rev Port Cardiol , Monteiro Pinto et al.13have proposed a new simple to use clinical score, the KAsH score, which is calculated according to the following formula: KAsH = (Killip class x age x heart rate)/systolic blood pressure. In 1504 consecutively admitted patients with myocardial infarction, the new score has shown a better predictive value than the existing scores, specially the GRACE score. Although promising, the KAsH score requires better validation in other cohorts of patients to be then implemented in clinical practice.14

The Takotsubo syndrome is a differential diagnosis for patients suspected of having ACS, and has gained increasing attention.15This year, the Rev Port Cardiol published the results of a Portuguese multicenter study that has assessed the characteristics of 234 patients diagnosed with Takotsubo syndrome.16That study has shown that the Takotsubo syndrome has a good short- and medium-term prognosis (in-hospital mortality of 2.2%), but the rate of in-hospital complications (namely heart failure, atrial fibrillation, ventricular arrhythmias and stroke) is high (33%).

Aiming at assessing the expression of the transcriptional factors NF-κB and Nrf2 and PPARβ/δ in chronic coronary syndrome (CCS), 35 patients with CAD (17 men; mean age, 62.4 ± 7.55 years) and 12 patients without CAD (5 men; mean age, 63.50 ± 11.46 years) were studied. Peripheral blood mononuclear cells (PBMC) were isolated and processed for the mRNA expression of Nrf2, NF-κB, NADPH:quinone oxidoreductase 1 (NQO1) and PPARβ/δ by use of real-time quantitative polymerase chain reaction. The authors have reported a higher mRNA expression of PPARβ/δ in the PBMC of patients with CAD as compared to that of the control group, while the mRNA expressions of Nrf2 and NF-κB did not differ. Such findings might indicate possible target-therapies for future research in CCS.17

Another study on CCS has evaluated 5526 obese patients without known CAD referred for CPM-SPECT assessment between January 2011 and December 2016. The factors associated with abnormal myocardial perfusion in obese patients without known ischemic heart disease after adjusting for the relevant variables (multivariate analysis) were: age (2% risk increase for each year of age); diabetes mellitus (57% risk increase); typical angina (245% risk increase in patients with typical angina as compared to asymptomatic patients); need for pharmacologic stress during testing (61% risk increase as compared to physical stress by use of exercise testing); less physical effort evaluated in metabolic equivalents (METs - 10% risk reduction for each additional MET during exercise testing); and left ventricular ejection fraction (LVEF) after stress (1% risk reduction for each 1% addition in LVEF). Such data support the association of obesity and CCS.18

Cardiac arrhythmias and devices

The association between atrial fibrillation and the risk of stroke is complex and multifactorial. Even more challenging is understanding the mechanisms involved in the occurrence of stroke in patients undergoing anticoagulation. In a very interesting study, Fernandes et al.19have assessed 60 consecutive patients with nonvalvular atrial fibrillation, chronically medicated with an oral anticoagulant and admitted due to ischemic stroke. For most of those patients, stroke occurrence despite anticoagulation appears to be explained by subtherapeutic dosage, poor treatment adherence or non-cardioembolic etiology, and not by inefficacy of the anticoagulants, because 90% of the patients on vitamin K antagonists had an admission INR < 2, and subtherapeutic prescriptions were found in 43% of those on novel oral anticoagulants.

Implantable cardioverter defibrillator (ICD) and cardiac resynchronization therapy (CRT) reduce the risk of death and hospitalization and promote an improvement in the quality of life of patients with heart failure and reduced LVEF. Bonhorst et al. have published in the Rev Port Cardiol the results of the Síncrone study,20an observational, prospective, multicenter registry conducted in 16 centers in Portugal that included 486 patients with a diagnosis of heart failure, LVEF < 35% and indication for ICD or CRT devices. In that study, most patients treated with devices had a class I recommendation of the guidelines, the overall mortality at one year being low (3.6%), as was the number of hospitalizations (11%). That study helps understand the reality of the treatment with devices for heart failure in Portugal. In addition, it evidences the need to improve the pharmacological treatment of those patients, because the drug use rates were suboptimal (76% angiotensin-converting-enzyme inhibitor/aldosterone receptor antagonist; 77% beta-adrenergic blockers; 34% aldosterone antagonist).

Heart failure and cardiomyopathies

For patients with hypertrophic cardiomyopathy (HCM), the European guidelines recommend assessing the risk of sudden death according to the ESC-SCD score.21However, that score has come under criticism, and new risk stratification models are required for those patients. Ruivo C et al.22have published in the Rev Port Cardiol a study based on data from the Portuguese National Registry of HCM, which includes 1022 patients with HCM. After identifying the major determinants of the risk of sudden death, the authors have built a new risk model, the SHIFT score, which includes four variables: unexplained syncope; signs of heart failure; septal thickness ≥ 19 mm; and fragmented QRS complex. In that population of patients, the SHIFT score, which includes relatively simple clinical, electrocardiographic and echocardiographic parameters, showed a better predictive value (C-index, 0.81) than the ESC-SCD score. Thus, that new score might play an important role in selecting patients with HCM with indication for ICD in primary prevention.

Regarding dilated cardiomyopathy, the Rev Port Cardiol published in 2019 a multicenter study aimed at providing the molecular and genetic characterization of 107 patients with dilated cardiomyopathy.23The authors have reported large genetic complexity and diversity in those patients, having identified 31 rare variants in eight different genes, mainly involving sarcomeric genes (MYBPC3, TNNT2 and LMNA). That study emphasizes the importance of the new genomic analysis techniques, mainly next-generation sequencing techniques, to better understand the etiology of dilated cardiomyopathy.

Cardiovascular magnetic resonance has played an increasing role in the assessment of patients with myocarditis, being currently the non-invasive test of choice to diagnose that pathology.24A study25published in the Rev Port Cardiol in 2019 has assessed the role of quantifying myocardial deformation by using tissue tracking as an objective measure of myocardial function quantification in 78 patients with myocarditis. Significant correlations were found between all deformation parameters (strain, strain rate, velocity and displacement) and LVEF, regional wall motion abnormalities, and the extent of late gadolinium enhancement. The challenge now is to understand how those results can influence the clinical approach of patients with myocarditis.26

Assessing the risk of cardiotoxicity of anthracycline chemotherapy and humanized monoclonal antibodies is a clinical challenge that stimulates the search for predictors of left ventricular regional wall motion abnormalities (LVRWMA) that are easy to use and allow reassessment throughout treatment. Barros et al.,27evaluating 112 patients (mean age, 51.3 ± 12.9 years) with breast cancer and treated with doxorubicin and/or trastuzumab, have carried out an echocardiographic study to assess cardiotoxicity, which was defined as a 10% decrease in LVEF. Cardiotoxicity was observed in 18 (16.1%) patients. On multivariate analysis, LVRWMA (OR = 6.25 [95% CI: 1.03; 37.95], p < 0.05), left ventricular systolic diameter (OR = 1.34 [95% CI: 1.01; 1.79], p < 0.05) and global longitudinal strain by speckle tracking (OR = 1.48 [95% CI: 1.02; 2.12], p < 0.05) were significant and independent predictors of cardiotoxicity. Those authors have concluded that LVRWMA is an independent predictor of cardiotoxicity and can be useful in the early detection of myocardial dysfunction.27

Heart Surgery

A meta-analysis of four controlled randomized studies, aimed at determining the clinical outcomes of 1528 patients with old-generation and contemporary mechanical and biological valvular prostheses, followed up for 2-20 years, showed no difference between patients with mechanical and biological valvular prostheses regarding the outcomes death (relative risk, RR = 1.07; 95% CI: 0.99-1.15), systemic arterial embolism (RR = 0.93; 95% CI: 0.66-1.31), and infective endocarditis (RR = 1.21; 95% CI: 0.78-1.88). However, the risk of bleeding was one-third lower (RR = 0.64; 95% CI: 0.52-0.78) and the number of reoperations (RR = 3.60; 95% CI: 2.44-5.32) was three times higher in patients with biological valvular prostheses. Three studies had included old-generation valvular prostheses with results similar to those of the new generation ones. The authors highlight the lack of studies on the new generation valvular prostheses, emphasizing the need to compare contemporary mechanical and biological valvular prostheses.28

Congenital heart diseases

Pregnancy in patients with complex congenital heart disease (CCHD) has become a reality, maternal-fetal management being a current clinical challenge. Avila et al. have studied, for 10 years, 435 pregnant women with CCHD, included in the registry of the Instituto do Coração (Registro-InCor). They have selected 42 pregnancies in 40 women with CCHD (24.5 ± 3.4 years), who had been advised not to get pregnant. The CCHD listed were as follows: transposition of the great arteries, pulmonary atresia, tricuspid atresia, single ventricle, double right ventricular outflow tract, and double left ventricular inlet. Those CCHD had been treated with the Rastelli, Fontan, Jatene, Senning and Mustard surgeries, and other procedures combined, such as tunneling, Blalock Taussig and Glenn. Of the 40 women with CCHD, 8 had not undergone surgery and 48% were hypoxemic. Despite the individualized and frequent follow-up, with hospitalization from the 28th week onward, most pregnancies (60%) had maternal or fetal complications, as follows: maternal complications reported in 31% of the pregnancies, including two deaths caused by post-partum hemorrhage and severe pre-eclampsia; 7 fetal losses; 17 premature babies; and 2 newborns with congenital heart disease. Despite the improvement in the prognosis of CCHD and the need to respect a woman’s intention to conceive, the authors highlight the current recommendations that maternal and fetal complications advise against pregnancy, especially in hypoxemic patients.

Final Conclusions

From the perspective of the editors of the Arq Bras Cardiol and the Rev Port Cardiol , this review of the best articles of the year is a small sample of what such scientific publications have to offer regarding updating and spreading of innovations to their readers. This review evidences the relevance of science in the Portuguese language. We aimed to provide the readers with the best information, in a brief, precise and efficient way.

Science only moves forward when knowledge is shared. The role of the Arq Bras Cardiol and the Rev Port Cardiol is to publish, circulate and disseminate science, as well as to contribute to the global scientific progress. And why should we not do that elegantly and efficiently in our beloved mother language, with the accent that pleases us most? We hope everybody enjoys this review of the 2019 best articles and we are looking forward to the 2020 best ones. In addition, we invite our readers, members of our societies of cardiology, cardiologists, physicians and scientists in general to remain constantly connected to our scientific publications by using the traditional digital way (webpage), social media (Facebook, Twitter and LinkedIn), and smartphone apps. Enjoy the reading!


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

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