Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
editorial
. 2020 Dec 1;115(6):1047–1050. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20201133
View full-text in English

Pintando a História da Cardiologia do Brasil

Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes 1, Gláucia Maria Moraes de Oliveira 2, Evandro Tinoco Mesquita 3, Marcelo Dantas Tavares de Melo 4, Fernando Bacal 5
PMCID: PMC8133712  PMID: 33470299

O mural que o artista plástico Flávio Tavares criou para a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), O Coração dos Trópicos, é um testemunho eloquente do seu talento ímpar como pintor ( Figura 1 ). A obra retrata o desenvolvimento da cardiologia no Brasil. Trata-se de um conjunto de três painéis de tinta acrílica sobre tela justapostos, medindo 6,30m de largura e 1,80m de altura, com personagens reais e imaginários que integram a narrativa de mais de um século da prática da cardiologia na maior nação dos trópicos. O mural de Flávio Tavares será um legado para a história da cardiologia brasileira assim como tem sido o mais famoso mural da história da cardiologia mundial pintado por Diego Rivera, em 1944, para o Instituto de Cardiologia na cidade do México.1

Figura 1. – Pintando a História da Cardiologia do Brasil.

Figura 1

A medicina, presente dos deuses aos médicos para alívio do sofrimento dos homens, é representada como estatuário de forma monumental em plano avançado por Esculápio (Asclépio) e sua filha Higeia (Salus), que abrem espaço para os pioneiros da medicina social brasileira. O enredo tem como cenário a paisagem amazônica que, em suave e harmônica transição, é substituída pelo Castelo Mourisco da Fiocruz e pela ambiência do Brasil rural, subdesenvolvido, com casebres de taipa e, em sequência, pelo edifício do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (InCor).

Com sua exuberante biodiversidade, a Amazônia simboliza a imensa fronteira para a pesquisa de possíveis princípios ativos empregados em medicina. As propriedades medicinais das plantas têm sido descritas por milênios, sendo um exemplo a dedaleira ( Digitalis purpurea ), planta empregada para tratar os males do coração. William Whittering, médico britânico descobridor das propriedades medicinais da digitalis presente na dedaleira, mereceu destaque na pintura. O gênio impressionista Vincent Van Gogh, igualmente, imortalizou a dedaleira em “O retrato do Dr. Gachet” (Musée D’Orsay – Paris), plasmando sua relação com a medicina e a arte. A magia da pintura permite confirmar a visão dos descobridores “nessa terra tudo que se planta dá”, e um frondoso salgueiro, base da síntese do ácido acetilsalicílico por Felix Hoffman, foi integrado à paisagem amazônica.

A biodiversidade e a sua utilidade para a ciência são uma temática inovadora, mas sempre presente na medicina, como se pode ver no dizer de Paracelso: “A medicina se fundamenta na natureza, a natureza é a medicina e somente naquela devem os homens buscá-la. A natureza é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele e ela existe dentro e fora do homem.” Tal fato se confirma na pesquisa de Sergio Henrique Ferreira, que liderou a síntese do peptídeo ativo presente no veneno da jararaca do mato. Esse veneno é a base para a produção do captopril, fármaco que mudou a história natural de enfermidades como hipertensão arterial e insuficiência cardíaca.

Os pesquisadores William Harvey, Daniel Hale Williams e Willem Einthoven representam os primórdios da cardiologia como ciência, para além dos símbolos gregos clássicos. Sir William Harvey, considerado o pai da cardiologia, desvendou os mistérios da circulação sanguínea, desafiando todos os conceitos da época, inclusive as crenças religiosas. A cardiologia mundial celebrará 400 anos da publicação do livro De Motu Cordis , o mais antigo paradigma científico da medicina, escrito por Harvey.2 Em 1893, o vanguardista cirurgião afro-americano Daniel Hale Williams realizou a primeira cirurgia bem-sucedida de peito aberto para reparar uma ferida no pericárdio.

Willem Einthoven, agraciado com o Prêmio Nobel de medicina em 1924, tem protagonismo ímpar na cardiologia e sua presença é obrigatória ao se contar a história da especialidade. Rubens Maciel destaca que Einthoven, ao receber o Prêmio Nobel de medicina a 8 de dezembro de 1925 em memorável conferência sobre o galvanômetro de corda e a medida da corrente de ação do coração, salientou: “um novo capítulo se abria no aprendizado das doenças do coração, não por obra de um só homem, mas pelo trabalho conjugado de muitos homens de talento que, espalhados pelo mundo e sem respeitar fronteiras políticas, convergiam seus esforços para um propósito comum: aumentar nosso conhecimento da doença, para alívio da humanidade sofredora”.3

Nos primórdios da cardiologia brasileira tivemos a influência do doutor piauiense Pedro Francisco da Costa Alvarenga que, no final do século XIX, escreveu sobre cardiopatia congênita e tornou-se uma celebridade da cardiologia francesa, tendo posteriormente retornado ao Brasil.4 A medicina praticada no século XIX até meados do século XX está bem representada no mural. À época, pouco podia ser feito para alterar o curso natural das doenças, restando tão somente o humanismo e a fé como alento para os enfermos.

A interação médico-paciente, imprescindível para o exercício da medicina, tem destaque no mural. Percebem-se as premissas semióticas do exame do aparelho cardiovascular – aferição do pulso e da pressão arterial e ausculta cardíaca. O francês René Leannec, ao inventar o estetoscópio, fez o cardiologista se diferenciar dos demais médicos por interpretar a “voz do coração”. A capacidade de distinguir os sons das bulhas, cliques, estalidos e sopros, correlacionando-os com as doenças do coração, passou a ser um dom almejado e um requisito para se compreender a verdadeira sinfonia executada pelo órgão da vida. A ausculta cardíaca é retratada de maneira original no mural, inspirado no movimento antropofágico de Oswald de Andrade: vê-se o cardiologista auscultando uma índia em uma oca. O simbolismo autóctone dessa imagem pictórica reafirma a necessidade da convivência harmônica dos povos de diversas culturas com o meio ambiente.

A vocação das mulheres na arte de cuidar é reconhecida desde o início desses séculos. Nos primórdios da cardiologia, contudo, a presença delas era muito restrita. Por isso, o esforço pioneiro das médicas Rita Lobato Velho Lopes e Anna Turan Machado Falcão impõe-se como forma de registrar a incomparável habilidade das mulheres para o exercício da medicina. A gaúcha Rita Lobato foi a primeira médica brasileira. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo concluído o curso na Faculdade de Medicina da Bahia. A outra pioneira, a médica paraense Anna Turan Machado Falcão, também teve sua notável trajetória de vida destacada. Formou-se em 19 de abril de 1887 em Nova York em uma turma composta por dez mulheres. Recebeu medalha de honra ao mérito, de ouro, aposta ao diploma. Apesar de não terem se dedicado à cardiologia, figuram no mural por serem inspiração para as médicas brasileiras.

Carlos Chagas, considerado por muitos o primeiro cardiologista moderno e pioneiro da ciência translacional por sua liderança na saúde pública brasileira na fase final da pandemia em 1919, é o personagem central do mural.5 Na pintura, o pesquisador e seus mentores Oswaldo Cruz e Miguel Couto dialogam com os pioneiros da cardiologia brasileira. O esforço na descrição da tripanossomíase americana, ou doença de Chagas, e a identificação cuidadosa do ambiente onde se difunde a endemia são retratados com riqueza de detalhes. Chagas e Oswaldo Cruz simbolizam a premência de investimento na medicina social, voltada para a atenção primária e a promoção da saúde. O estudo da cardiopatia chagásica deu destaque internacional à cardiologia brasileira e Anis Rassi representa esse modelo de liderança médica que muito contribuiu para o conhecimento dos fatores prognósticos dessa ainda importante endemia latino-americana.6

O início da década de 40, ambiente de forte ebulição cultural e social, marcou a fundação da SBC. No mural, emergem as figuras dos fundadores da SBC, Dante Pazzanese (primeiro presidente), Jairo Ramos e Genival Londres, que simbolizam uma era de ouro da medicina cardiovascular. O doutor Dante foi o aglutinador de um grupo extraordinário de médicos de várias regiões do país que já se destacavam no estudo das doenças do coração, sendo a criação da SBC uma consequência natural dessas ações. À época, Dante Pazzanese e Genival Londres já haviam fundado os Institutos Estaduais de Cardiologia de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente. Genival Londres publicou o primeiro livro sobre hipertensão arterial no Brasil e, à guisa de ilustração, registrou não existir tratamento eficaz para o mal, como destacado por Rafael Leite Luna.7

No mural, Jairo Ramos é o símbolo do compromisso perene com o avanço da pesquisa no Brasil e sua publicação. Foi o primeiro editor dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC) e presidente da SBC. Hoje, os ABC são a publicação da cardiologia com maior fator de impacto em língua portuguesa, constituindo o registro vivo da evolução da cardiologia brasileira e o desaguadouro da produção científica nacional.8

A cardiologia da primeira metade do século XX foi inicialmente construída através de argúcia clínica apoiada pelo eletrocardiograma, pela radiografia do tórax e pela fonomecanocardiografia. Naquela época, os mestres franceses, ingleses e posteriormente os da escola mexicana de cardiologia foram as grandes referências para a formação dos nossos cardiologistas. O genial professor Ignácio Chaves, ao fundar o Instituto de Cardiologia do México, criou um ambiente único de ensino-pesquisa e assistência, que formou e influenciou gerações de brasileiros.

As Santas Casas foram o local de cuidar dos mais pobres com doença cardíaca. Pouco a pouco, porém, transformaram-se em centros de investigação cardiovascular e de ensino. O professor Nelson Botelho Reis introduziu na 6ª Enfermaria da Santa Casa do Rio de Janeiro o raciocínio clínico-hemodinâmico à beira do leito. Na 29ª Enfermaria da Santa Casa de Porto Alegre, o grande educador e líder Rubens Maciel promoveu uma nova visão da assistência e criou a pós-graduação médica.

A cardiologia de meados do século XX era ainda muito marcada pela doença reumática, que acometia crianças e adultos jovens e estava associada às condições sanitárias precárias dos brasileiros. O livro de Luiz Venere Décourt sobre doença reumática, lançado em 1965, representa um dos marcos das publicações médicas do nosso país. Luiz Venere Décourt foi um ícone da cardiologia, síntese da ciência e do humanismo necessários ao exercício da medicina. Abriu as portas para a moderna cardiologia brasileira. Sua trajetória ímpar foi imortalizada na criação do InCor, inaugurando uma nova perspectiva para a cardiologia nacional. Décourt e Zerbini foram os artífices da criação do InCor, um hospital público voltado à assistência, ao ensino e à pesquisa e que teve nas lideranças de Fulvio Pileggi e Adib Jatene a consolidação da inserção da cardiologia do Brasil, definitivamente, entre as mais respeitadas do mundo.

O notável avanço da cirurgia cardiovascular tem seu papel registrado, pois foi fundamental para o desenvolvimento da cardiologia brasileira. Euryclides de Jesus Zerbini e Adib Jatene, dois ícones e personalidades que transpuseram as fronteiras da cardiologia, foram os protagonistas. O doutor Zerbini, figura emblemática, para quem nada vencia o trabalho, realizou o primeiro transplante de coração da América Latina, logo após Christiaan Barnard, iniciando uma era de ouro na cirurgia cardíaca brasileira. O seu esforço foi recompensado. Hoje o Brasil tem o maior programa público de transplante de coração do mundo. Por sua vez, o doutor Jatene, para muitos o médico mais proeminente da sua geração, foi duas vezes ministro da saúde e é retratado no mural por sua vertente mais humana: devolver a alegria às mães de crianças que nascem com cardiopatia. O desafio de realizar a correção anatômica da transposição das grandes artérias foi superado pela perícia técnica do doutor Adib, um grande salto para a cirurgia cardiovascular infantil.

A cardiologia, ao aliar a arte da medicina à tecnologia, incorporou o progresso da ciência às necessidades da assistência, sendo o eletrocardiograma a expressão mais eloquente desse binômio. No Brasil, João Tranchesi, retratado no mural, simboliza a difusão da eletrocardiografia moderna. Com didática incomparável, democratizou o aprendizado do método. Como tributo, seus discípulos realizam anualmente no Congresso Brasileiro de Cardiologia a Sessão João Tranchesi, onde se discute o estado da arte na eletrocardiografia em sua homenagem. A contemporaneidade do método é indiscutível e seu emprego, na versão digital, constitui-se importante ferramenta da Telemedicina, ampliando o acesso em regiões remotas e provendo agilidade ao tratamento do infarto do miocárdio.

A mudança do perfil de adoecimento dos brasileiros, em parte decorrente da transição demográfica, com elevada incidência e prevalência da doença coronária, faz-se presente no mural. A mão espalmada no peito, tal qual descrito por Cossio-Levine,9 marca registrada do paciente anginoso, representa o sofrimento de centenas de milhares de brasileiros que morrem em decorrência dessa enfermidade. O cateterismo cardíaco, parte importante na estratégia diagnóstica e terapêutica desses enfermos, tem no doutor Eduardo Sousa, pioneiro da cinecoronariografia e da cardiologia intervencionista no Brasil, seu mais destacado precursor. Eduardo Sousa e Adib Jatene, parceiros de uma vida, foram os responsáveis pela consolidação do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC) como importante centro de pesquisa, ensino e assistência no Brasil. No IDPC, foram realizadas as primeiras pesquisas com os stents farmacológicos em seres humanos no mundo. Impossível abordar a evolução da terapia da doença arterial coronária sem reverenciar René Favaloro, responsável pelo grande impulso da cirurgia de revascularização do miocárdio. Essas são contribuições originais de médicos do nosso hemisfério.

No alto do mural, em sua parte contemporânea, emerge a figura emblemática do professor Eugene Braunwald da Universidade de Harvard, uma lenda viva da cardiologia e talvez o nome de maior expressão da cardiologia moderna. Mesmo nonagenário, por seu saber e sua experiência, continua a influenciar a especialidade no mundo. Esse registro simboliza a necessidade do intercâmbio científico permanente com os centros mundiais para o desenvolvimento da cardiologia no Brasil.10 Abaixo, na parte inferior do painel, diversos nomes emblemáticos da cardiologia nacional são retratados, todos atentos a um enfermo que padece no leito. A cena se assemelha à “A lição de anatomia do Dr. Tulp” do lendário Rembrandt. Estão também retratados os cardiologistas Adriano Pondé, Rafael Leite Luna, Rachel Snitcovsky, Betina Ferro, Edgard Magalhães Gomes, Fulvio Pileggi, José Krieger, Ivo Nersralla, Siguemituzo Arie, Arnaldo Elian e Ênio Cantarelli. Vários desses ilustres médicos presidiram a SBC e todos foram determinantes para o desenvolvimento da cardiologia no Brasil.

Se olharmos para a disposição dos personagens, é possível perceber que eles estão distribuídos em uma linha do tempo ilusória, onde os responsáveis pelas primeiras descobertas estão à esquerda e os mais recentes, no extremo oposto à direita. A proporção dos personagens e seus tamanhos não guardam relação com sua hipotética importância histórica, mas integram um conjunto que deve dialogar com a ambiência da perspectiva artística. Segundo Flávio Tavares, é impossível registrar em uma pintura todas as personalidades que construíram a cardiologia brasileira, tendo sido um desafio instigante todo o esforço dedicado à construção de um enredo capaz de exprimir essa história.

A expressão figurativa artística tem seus primeiros registros na arte rupestre, sendo, talvez, sua primeira manifestação na humanidade. A necessidade humana de registrar o saber médico é visceral, chegando, em alguns casos, a pôr em risco a própria vida, como exemplos dos anatomistas Andreas Vesalius e Leonardo Da Vinci, que profanaram cadáveres impulsionados por uma curiosidade proibitiva para a época. Portanto, o casamento entre arte e medicina foi responsável pelo avanço e disseminação do saber médico. O Coração dos Trópicos eterniza sinteticamente em poucos metros e de forma alegórica a nossa cardiologia. Esse painel requereu um apurado trabalho de pesquisa e o resultado passou por diversos ajustes para harmonizar a história da cardiologia brasileira dentro de uma perspectiva artística capaz de compatibilizar os personagens reais com figurantes e enfermos, permitindo um mergulho em mais de um século do desenvolvimento da especialidade em nosso meio. Um universo de cores, luzes e sombras se combina para integrar os personagens ao cenário onírico da pintura. No dizer de Emilia Viotti da Costa, um povo sem história é um povo sem memória.

Referências

  • 1.. Lomas D. Painting the history of cardiology. BMJ. 2005 Dec 24; 331(7531):1533-5. [DOI] [PMC free article] [PubMed]; Lomas D. Painting the history of cardiology. BMJ . 2005 Dec 24;331(7531):1533–1535. doi: 10.1136/bmj.331.7531.1533. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 2.. Gottschall CAM. As duas cores do sangue. A saga da circulação. Porto Alegre: Laux Impressora; 2020.; Gottschall CAM. As duas cores do sangue. A saga da circulação . Porto Alegre: Laux Impressora; 2020. [Google Scholar]
  • 3.. Maciel R. Caminhos da cardiologia. Willem Einthoven de um começo árduo ao prêmio Nobel. (Internet) [Citado em 20 agosto, 2020] Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/caminhos/015/default.asp; Maciel R [Citado em 20 agosto, 2020]; Caminhos da cardiologia. Willem Einthoven de um começo árduo ao prêmio Nobel . Internet. http://publicacoes.cardiol.br/caminhos/015/default.asp. [PubMed] [Google Scholar]
  • 4.. Reis NB. Evolução histórica da cardiologia no Brasil. Arq Bras Cardiol. 1986; 46(6):371-86. [PubMed]; Reis NB. Evolução histórica da cardiologia no Brasil. Arq Bras Cardiol . 1986;46(6):371–386. [PubMed] [Google Scholar]
  • 5.. Goulart AC. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Hist cienc saúde-Manguinhos(RJ). 2005;12(1):1-41. [DOI] [PubMed]; Goulart AC. Hist cienc saúde-Manguinhos . 1. Vol. 12. RJ: 2005. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro; pp. 1–41. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 6.. Rassi A Jr, Rassi A, Little WC, Xavier SS, Rassi S, Rassi GG, et al. Development and validation of a risk score for predicting death in Chagas’ heart disease. N Engl J Med.2006 Aug 24;355:799-808. [DOI] [PubMed]; Rassi A, Jr, Rassi A, Little WC, Xavier SS, Rassi S, Rassi GG, et al. Development and validation of a risk score for predicting death in Chagas’ heart disease. N Engl J Med . 2006 Aug 24;355:799–808. doi: 10.1056/NEJMoa053241. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
  • 7.. Luna RL. Sociedade Brasileira de Cardiologia - Cinquenta Anos de História. Belo Horizonte: SBC; 1993.; Luna RL. Sociedade Brasileira de Cardiologia - Cinquenta Anos de História . Belo Horizonte: SBC; 1993. [Google Scholar]
  • 8.. Mesquita ET, Souza ALAAG. A cardiologia e o cardiologista- Ontem, hoje e amanhã. Arq Bras Cardiol.2019;113(3):335-8. [DOI] [PMC free article] [PubMed]; Mesquita ET, Souza ALAAG. A cardiologia e o cardiologista- Ontem, hoje e amanhã. Arq Bras Cardiol . 2019;113(3):335–338. doi: 10.5935/abc.20190207. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 9.. Rochitte CE. The new impact fator of the Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC Cardiol), 1.318: an achievement of the SBC for our scientific community. Arq Bras Cardiol. 2018;111(1):1-3. [DOI] [PMC free article] [PubMed]; Rochitte CE. The new impact fator of the Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC Cardiol), 1.318: an achievement of the SBC for our scientific community. Arq Bras Cardiol . 2018;111(1):1–3. doi: 10.5935/abc.20180129. [DOI] [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]
  • 10.. Marcus GM, Cohen J, Varosy RD, Vessey J, Rose E, Massie BM, et al. The utility of gestures in patients with chest discomfort. Am J Med. 2007;120(1):83-9. [DOI] [PubMed]; Marcus GM, Cohen J, Varosy RD, Vessey J, Rose E, Massie BM, et al. The utility of gestures in patients with chest discomfort. Am J Med . 2007;120(1):83–89. doi: 10.1016/j.amjmed.2006.05.045. [DOI] [PubMed] [Google Scholar]
Arq Bras Cardiol. 2020 Dec 1;115(6):1047–1050. [Article in English]

Painting the History of Brazilian Cardiology

Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes 1, Gláucia Maria Moraes de Oliveira 2, Evandro Tinoco Mesquita 3, Marcelo Dantas Tavares de Melo 4, Fernando Bacal 5

The mural painted by the visual artist Flávio Tavares for the Brazilian Society of Cardiology (SBC), The Heart of the Tropics, is an eloquent witness of his unique talent as a painter ( Figure 1 ). The mural portrays the development of Brazilian cardiology. It comprises three juxtaposed acrylic-on-canvas panels, measuring 6.30m of length and 1.80m of height, with real and imaginary characters illustrating more than one century of the practice of cardiology in the largest nation of the tropics. Similarly to the most famous mural on the history of world cardiology painted by Diego Rivera in 1944 for the Instituto de Cardiología de México , the mural by Flávio Tavares is a legacy for the history of Brazilian cardiology.1

Figure 1. – Painting the History of Brazilian Cardiology.

Figure 1

Medicine, a gift from the Gods to physicians to relieve human suffering, is monumentally represented by figures, among which Aesculapius (Asclepius) and his daughter Hygieia (Salus) make way for the pioneers of Brazilian social medicine. In the background, in a smooth and harmonious transition, the Amazonian landscape is replaced by the Mourisco Castle from Fiocruz, a Brazilian underdeveloped rural setting, and then the building of the Instituto do Coração of the Hospital das Clínicas of the University of São Paulo (InCor).

With its exuberant biodiversity, the Amazonia symbolizes a huge frontier for the research of possible active principles used in medicine. The medicinal properties of plants have been described for millennia, an example being the foxglove plant ( Digitalis purpurea ), used to treat heart conditions. The British physician William Whittering, who has discovered the medicinal properties of digitalis present in the foxglove plant, stands out in the painting. Similarly, Vincent Van Gogh, the Impressionist genius, has immortalized foxglove in “The Portrait of Dr. Gachet” painting (Musée D’Orsay – Paris), shaping his relationship with medicine and art. The magic of the painting confirms the vision of the explorers that ours is a fertile land, and a leafy willow tree, the base for the acetylsalicylic acid synthesis by Felix Hoffman, was integrated into the Amazonian landscape.

Biodiversity and its use for science are an innovative theme, although it has always been present in medicine. According to Paracelsus, medicine is based on nature, and nature is medicine, which should only be pursued by men in nature; nature is the master of the physician, because nature is older than the physician and exists inside and outside men. This is supported by the research by Sergio Henrique Ferreira, who led the synthesis of the bioactive peptide found in the Bothrops jararaca venom. This venom is the base to produce captopril, a drug that has changed the natural history of illnesses, such as arterial hypertension and heart failure.

The researchers William Harvey, Daniel Hale Williams and Willem Einthoven represent the dawn of cardiology as a science, beyond the classical Greek symbols. Sir William Harvey, considered the father of cardiology, has unveiled the mysteries of blood circulation, challenging all the concepts of his time, including religious beliefs. Harvey has written the book De Motu Cordis , the oldest scientific paradigm of medicine, whose 400 years of publication is celebrated by world cardiology.2In 1893, Daniel Hale Williams, an avant-garde Afro-American surgeon, performed the first successful open-chest surgery to repair a pericardial wound.

Willem Einthoven, bestowed with the Nobel Prize of Medicine 1924, has played a unique role in cardiology, having mandatory presence in the history of that specialty. Rubens Maciel states that Einthoven, when receiving the Nobel Prize of Medicine on December, 8th, 1925, in a memorable conference about the string galvanometer and measurement of the cardiac action potential, has highlighted: “A new chapter has been opened in the study of heart diseases, not by the work of a single investigator, but by that of many talented men, who have not been influenced in their work by political boundaries and, distributed over the whole surface of the Earth, have devoted their powers to an ideal purpose, the advance of knowledge by which, finally, mankind suffering is helped”.3

The beginning of Brazilian cardiology has been influenced by the physician Pedro Francisco da Costa Alvarenga, from the Brazilian state of Piauí, who, at the end of the 19thcentury, wrote about congenital heart disease and became a celebrity of French cardiology, returning later to Brazil.4Medicine practiced from the 19thcentury to the mid-20thcentury is well portrayed in the mural. At that time, little could be done to change the natural course of diseases, leaving only humanism and faith as a relief for the sick.

The patient-doctor interaction, essential for the practice of medicine, is highlighted in the mural. The semiotic assumptions of the cardiovascular system examination – pulse and blood pressure measurement and cardiac auscultation – are represented. The Frenchman René Leannec, by inventing the stethoscope, enabled cardiologists to differentiate from other physicians by interpreting the “voice of the heart”. The ability to distinguish heart sounds, clicks, and murmurs, and to correlate them with heart diseases became a desired gift and a requirement for understanding the true symphony of the heart. Cardiac auscultation is originally portrayed in the mural, inspired by the Oswald de Andrade’s anthropophagic movement: a cardiologist is portrayed auscultating a South American Indian in her native household. The aboriginal symbolism of the image reassures the need for the harmonious coexistence of people from different cultures with the environment.

The vocation of women for caring has long been recognized. However, in the beginning, their presence in cardiology was limited. Thus, the pioneering effort of the female physicians Rita Lobato Velho Lopes and Anna Turan Machado Falcão is a way to register the incomparable ability of women for the practice of medicine. Rita Lobato, from the Brazilian state of Rio Grande do Sul, was the first Brazilian female physician. She started medical school in Rio de Janeiro and concluded it in Bahia. The other pioneer, the female physician from the state of Pará, Anna Turan Machado Falcão, also had her remarkable life trajectory portrayed. She graduated in April 1887 in New York with only nine other women in her class. When receiving her diploma, she was awarded the golden medal of Honor to Merit. Although they were not cardiologists, they are portrayed in the mural because they are an inspiration to all Brazilian female physicians.

Carlos Chagas, considered the first modern cardiologist and the translational science pioneer because of his leadership in Brazilian public health in the 1919 pandemic, is the central character in the mural.5In the painting, he and his mentors Oswaldo Cruz and Miguel Couto are portrayed having a conversation with Brazilian cardiology pioneers. The endeavor to describe American trypanosomiasis, or Chagas disease, as well as the thorough identification of the environment where the endemic spreads are portrayed in detail. Chagas and Oswaldo Cruz symbolize the urgency of investing in social medicine, directed at primary attention and health promotion. The study of Chagas heart disease brought international attention to Brazilian cardiology, and Anis Rassi represents a model of medical leadership that has contributed to the knowledge of the prognostic factors of that important Latin American endemic.6

In the beginning of the 1940s, a period of strong cultural and social effervescence, the SBC was founded. In the mural, the figures of Dante Pazzanese (the first president of the SBC), Jairo Ramos and Genival Londres, founders of the SBC and symbols of a golden era of cardiovascular medicine, emerge. Dante Pazzanese was the catalyst of an extraordinary group of physicians from several Brazilian regions who already stood out in the study of heart diseases, and the creation of the SBC was a natural consequence of those actions. By that time, Dante Pazzanese and Genival Londres had already founded the São Paulo and Rio de Janeiro State Institutes of Cardiology, respectively. Genival Londres published the first book about arterial hypertension in Brazil and, by way of illustration, he reported there was no effective treatment for the condition, as highlighted by Rafael Leite Luna.7

In the mural, Jairo Ramos is the symbol of perennial commitment to the advance and publication of research in Brazil. He was the first editor of the cardiology journal Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC) and president of the SBC. Currently, the ABC is the journal with the highest impact factor in the Portuguese language, constituting the live registry of the evolution of Brazilian cardiology and the outreach channel for the Brazilian scientific production.8

The cardiology of the first half of the 20thcentury was built on clinical acuity supported by electrocardiography, chest radiography and phonomechanocardiography. At that time, the French, English, and later Mexican masters were the great references for the formation of our cardiologists. The brilliant professor Ignácio Chaves, by founding the Instituto de Cardiología de México , has created a unique environment of teaching, researching and healthcare, forming and influencing generations of Brazilians.

The Santa Casa philanthropic hospitals were initially the place to treat poor people with heart disease, but little by little they were turned into cardiovascular research and teaching centers. Professor Nelson Botelho Reis has introduced the clinical-hemodynamic reasoning at bedside on the 6thWard of the Santa Casa from Rio de Janeiro. On the 29thWard of the Santa Casa from Porto Alegre, the great educator and leader Rubens Maciel has promoted a new vision of healthcare and created the medical postgraduation program.

The cardiology of the mid-20thcentury was still very impacted by rheumatic disease affecting children and young adults, which was associated with the then precarious sanitary conditions of Brazil. The book by Luiz Venere Décourt about rheumatic disease, issued in 1965, represents a landmark of the medical publications in our country. Luiz Venere Décourt has been an icon of cardiology, synthesizing the science and humanism necessary to the practice of medicine. He opened the doors for Brazilian modern cardiology. His unique trajectory has been immortalized with the creation of InCor, which inaugurated a new perspective for Brazilian cardiology. Décourt and Zerbini were the authors of InCor, a public hospital directed at healthcare provision, teaching and research, which, under the leadership of Fulvio Pileggi and Adib Jatene, has definitely consolidated the insertion of Brazilian cardiology among the most respected ones worldwide.

Since cardiovascular surgery has been essential for the development of Brazilian cardiology, its remarkable advance is portrayed in the mural. Euryclides de Jesus Zerbini and Adib Jatene, two icons and personalities who have crossed the frontiers of cardiology, were the leading figures. Zerbini, an emblematic person who praised hard-working, performed the first heart transplantation in Latin America, right after Christiaan Barnard, inaugurating a golden era in Brazilian cardiac surgery. His effort payed off. Currently Brazil has the largest public program of heart transplantation in the world. Adib Jatene, considered the most prominent physician of his generation, has been Brazil Minister of Health twice and is portrayed in the mural according to his most human quality: returning joy to mothers of children with congenital heart diseases. The challenge of performing the anatomical correction of the transposition of the great arteries has been overcome by Jatene’s technical skill, a great leap for pediatric cardiovascular surgery.

Cardiology, by uniting the art of medicine and technology, has incorporated the progress of science to the needs of healthcare provision, the electrocardiogram being the most eloquent expression of that binomial. João Tranchesi, another character portrayed in the mural, symbolizes the diffusion of modern electrocardiography in Brazil. With incomparable didacticism, he has popularized the learning of that technique. As a tribute, his disciples hold annually the João Tranchesi Session at the Brazilian Congress of Cardiology, where state-of-the-art electrocardiography is discussed in his honor. The contemporaneity of the technique is indisputable, and its digital version is an important Telemedicine tool, reaching remote regions and speeding up the treatment of myocardial infarction.

The change in the illness profile of Brazilians, partially due to demographic transition, with high incidence and prevalence of coronary disease, is represented in the mural. The clenched fist held over the chest, the Levine’s sign,9a registered mark of the patient with angina, represents the suffering of hundreds of thousands of Brazilians who die from that condition. Cardiac catheterization, which plays an important role in the diagnostic and therapeutic strategy of those patients, has Eduardo Sousa, a pioneer of coronary cineangiography and interventional cardiology in Brazil, as its most remarkable precursor. Eduardo Sousa and Adib Jatene, lifelong partners, have been responsible for the consolidation of the Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC) as an important research, teaching and healthcare center in Brazil. The first studies in the world on the use of drug-eluting stents in human beings have been conducted at the IDPC. When addressing the evolution of the therapy for coronary artery disease, René Favaloro, responsible for the great boost on coronary artery bypass grafting, should be revered. Those are the contributions of physicians from the southern hemisphere.

At the, the emblematic figure of Professor Eugene Braunwald from Harvard University, a living legend of cardiology and perhaps the most expressive name of modern cardiology, emerges. Even nonagenarian, he continues to influence the specialty worldwide because of his knowledge and experience. His presence in the mural symbolizes the need for permanent scientific exchange with other centers around the world for the development of cardiology in Brazil.10In the bottom of the mural, several emblematic figures of Brazilian cardiology are portrayed, all of them taking care of bedridden patients. The scene reminds us of Rembrandt’s “The Anatomy Lesson of Dr. Tulp”. In addition, the cardiologists Adriano Pondé, Rafael Leite Luna, Rachel Snitcovsky, Betina Ferro, Edgard Magalhães Gomes, Fulvio Pileggi, José Krieger, Ivo Nersralla, Siguemituzo Arie, Arnaldo Elian and Ênio Cantarelli are portrayed. All these remarkable physicians have had a significant role in the development of cardiology in Brazil and some have even been presidents of the SBC.

The characters are displayed according to a fictional timeline, in which those responsible for the first discoveries are on the left-hand side and the most recent ones, on the right-hand side. The proportion of the characters and their sizes have no relation to their hypothetical historical importance but comprise a set that interacts with artistic perspective. According to the painter Flávio Tavares, it is not possible to portray in a painting all the personalities of Brazilian cardiology, and much effort was put into the construction of a plot capable of expressing that history, a stimulating challenge.

Artistic figurative expression has been first registered in rupestrian art, which might have been the first artistic manifestation of mankind. The human need for registering medical knowledge is visceral, and some individuals have even put their own lives at risk for that, such as anatomists Andreas Vesalius and Leonardo Da Vinci, who have desecrated corpse driven by a curiosity prohibited at their times. Thus, the combination of art and medicine has accounted for the advance and spread of medical knowledge. The mural ‘Heart of the Tropics’ perpetuates in a few meters and in an allegorical way our cardiology. This mural required careful research, whose result underwent several adjustments to harmonize the history of Brazilian cardiology from an artistic perspective capable of mixing real characters with imaginary and sick people, providing a dive into over a century of the development of Brazilian cardiology. A universe of colors, lights and shade has been combined to incorporate the characters into the dreamlike scenario of painting. According to Emilia Viotti da Costa, a nation without history is a nation without memory.


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES