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editorial
. 2021 Mar 3;116(3):413–414. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20201244
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Caracterização Histopatológica das Lesões Valvares Mitrais em Pacientes com Cardiopatia Reumática: A Inflamação Também é Responsável pela Progressão da Valvopatia Crônica?

Editor: Vitor Emer Egypto Rosa1,
PMCID: PMC8159542  PMID: 33909768

A febre reumática (FR) e a doença reumática cardíaca (DRC) continuam a ser altamente prevalentes, afetando aproximadamente 40 milhões de pessoas, principalmente em países de baixa e média renda, mas também em populações marginalizadas em países desenvolvidos.1,2 Os dados brasileiros sobre prevalência da FR são escassos principalmente devido a (a) dificuldades no diagnóstico de FR aguda, (b) custo do rastreamento de DRC e (c) o fato de que dados relatados sobre cirurgia ou óbito podem representar incidência da FR de 2 décadas atrás. A consequência mais temida da FR são as valvopatias crônicas, que levam à piora na qualidade de vida, hospitalizações e necessidade de procedimento cirúrgico, principalmente em indivíduos jovens.3,4 Portanto, há uma necessidade urgente de melhor compreender os fatores que influenciam a progressão da doença cardíaca valvar (DCV). Nesse contexto, Gomes et al.5 estudaram as alterações histopatológicas nas válvulas mitrais de pacientes com DRC submetidos à troca valvar mitral.

A inflamação é um dos principais componentes da DCV em pacientes com FR. Na fase aguda da infecção, os achados histopatológicos consistem na presença de densos infiltrados inflamatórios valvares e nódulos de Aschoff, caracterizados como degeneração fibrinoide do colágeno circundado por linfócitos, macrófagos, células gigantes, plasmócitos e fibroblastos em paliçada.69 A DRC crônica geralmente se apresenta com calcificação das cúspides, fibrose e fusão comissural. Entretanto, o papel da inflamação na DCV crônica ainda está em estudo.

Gomes et al.5 examinaram 60 válvulas mitrais explantadas, 40 de etiologia reumática (53 ± 13 anos; 90% mulheres) e 20 de um grupo controle constituído de pacientes submetidos a transplante cardíaco (50 ± 12 anos; 70% homens). Quando comparados ao grupo controle, os pacientes reumáticos apresentaram mais fibrose, neoangiogênese, calcificação e inflamação de intensidade moderada ou importante. A presença de um processo inflamatório crônico ativo na válvula mitral requer um melhor entendimento da progressão da degeneração reumática da DCV. Além disso, esses achados sugerem que as opções terapêuticas médicas direcionadas à inflamação da válvula podem retardar a progressão da doença nos estágios finais da DCV. Entretanto, duas considerações importantes em relação ao desenho do estudo devem ser feitas. Primeiro, os pacientes do estudo e o grupo controle não foram pareados para vários parâmetros clínicos e ecocardiográficos. Em segundo lugar, não é possível descartar a possibilidade de que o processo inflamatório crônico seja consequência do estresse hemodinâmico na valva lesada e não relacionado à DRC. Para esse propósito, um grupo controle deveria ser constituído de pacientes com valvopatia anatomicamente importante não-reumática, como prolapso de válvula mitral.

Além disso, os autores também compararam os achados histopatológicos de acordo com a lesão valvar predominante, isto é, estenose e regurgitação. Pacientes com estenose mitral apresentaram maior calcificação das cúspides, como esperado. No entanto, os pacientes com maior grau de inflamação apresentaram maior área valvar mitral. Esses achados geram duas hipóteses sobre o padrão de lesão valvar:

  1. A inflamação leva à regurgitação mitral: alguns pacientes apresentam mais inflamação valvar, maior área valvar mitral e, portanto, têm um predomínio de regurgitação mitral;

  2. A inflamação leva à estenose mitral: e a inflamação é reduzida à medida que a calcificação aparece. Portanto, pacientes com menos inflamação têm áreas valvares menores.

Infelizmente, a FR ainda é uma doença marginalizada, com poucos estudos sobre sua fisiopatologia. O estudo realizado por Gomes et al.5 forneceu novas informações importantes sobre a inflamação na DRC crônica. Entretanto, mais pesquisas são necessárias para melhor entender a progressão da DCV, os padrões de lesão valvar e, portanto, estabelecer novas opções de tratamento.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Caracterização Histológica das Lesões da Valva Mitral de Pacientes com Cardiopatia Reumática

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2021 Mar 3;116(3):413–414. [Article in English]

Histopathological Characterization of Mitral Valvular Lesions in Patients With Rheumatic Heart Disease: Is Inflammation Also to Blame for Chronic Valvular Heart Disease Progression?

Editor: Vitor Emer Egypto Rosa1,

Rheumatic fever (RF) and rheumatic heart disease (RHD) remain highly prevalent, affecting approximately 40 million people, mostly in low- and middle-income countries, but also in select marginalized populations in higher-income countries.1,2 Brazilian data regarding RF prevalence is scarce mainly due to (a) difficulties in acute RF diagnosis, (b) cost of RHD screening and (c) the fact that reported data on surgery or death may represent RF incidence from 2 decades ago. The most feared consequence of RF is valvular heart disease, which leads to a worsening in the quality of life, hospitalizations and need for surgical procedure, primarily in young people.3,4 Therefore, there is an urgent need to better understand the factors that influence valvular heart disease (VHD) progression. In this context, Gomes et al.5 studied the histopathological changes in mitral valves of patients with RHD undergoing mitral valve replacement.

Inflammation in one of the key components of VHD in patients with RF. In the acute stage of infection, the histopathological findings are the presence of dense valvular inflammatory infiltrates and Aschoff nodules, characterized as collagen fibrinoid degeneration surrounded by lymphocytes, macrophages, giant cells, plasma cells, and palisades of fibroblasts.69 Chronic RHD usually presents with cuspid calcification, fibrosis and commissural fusion. However, the role of inflammation in chronic VHD is still under study.

Gomes et al.5 examined 60 explanted mitral valves, 40 of rheumatic etiology (53 ± 13 years; 90% females) and 20 from a control group consisting of patients submitted to heart transplant (50 ± 12 years; 70% males). When compared to the control group, rheumatic patients had more fibrosis, neoangiogenesis, calcification and moderate- or severe-intensity inflammation. The presence of an active chronic inflammatory process in the mitral valve requires a better understanding of rheumatic VHD degeneration progression. Besides, these findings suggest that medical therapeutic options targeting valve inflammation may slow the disease progression in the late stages of VHD. However, two important considerations regarding the study design must be pointed out. First, the study patients and the control group were not matched for several clinical and echocardiographic parameters. Second, it is not possible to rule out that the chronic inflammatory process was a consequence of the hemodynamic stress in the injured valve, and unrelated to the RHD. For this purpose, a control group should consist of patients with non-rheumatic severe valvular heart disease, such as mitral valve prolapse.

In addition, the authors also compared the histopathological findings according to the predominant valve lesion, i.e. stenosis and regurgitation. Mitral stenosis patients had more cuspid calcification, as expected. However, patients with a higher degree of inflammation had a larger mitral valve area. These findings generate 2 hypotheses about the valve injury pattern:

  1. Inflammation leads to mitral regurgitation: some patients have more valve inflammation, a larger mitral valve area and thus have a predominance of mitral regurgitation;

  2. Inflammation leads to mitral stenosis: as calcification appears, the inflammation is reduced. Hence, patients with less inflammation have smaller valve areas.

Unfortunately, RF is still a marginalized disease with few studies on its pathophysiology. The study carried out by Gomes et al.5 provided new important information about inflammation in chronic RHD. However, further research is required to better understand VHD progression, valve injury patterns and, therefore, to establish new treatment options.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Histopathological Characterization of Mitral Valvular Lesions from Patients with Rheumatic Heart Disease


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