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editorial
. 2020 Oct 13;115(4):688–689. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20201002
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Análise Computacional da Dinâmica dos Fluídos na Substituição da Valva Aórtica Transcateter

Editor: Marco A Gutierrez1,
PMCID: PMC8386972  PMID: 33111870

A substituição da válvula aórtica transcateter (TAVR), uma cirurgia cardíaca minimamente invasiva, foi introduzida por Cribier et al.,1 como alternativa à cirurgia cardíaca tradicional a céu aberto no tratamento de indivíduos com estenose valvar aórtica importante e de alto risco cirúrgico, devido à idade avançada ou à presença de múltiplas comorbidades.2 Após os primeiros esforços pioneiros, o advento de válvulas protéticas inovadoras e abordagens e dispositivos mais refinados tecnologicamente, o uso de TAVR para pacientes com risco cirúrgico intermediário tem sido uma tendência mundial.3 No entanto, a variação no posicionamento e orientação da válvula protética após o procedimento de TAVR pode produzir alterações significativas na hemodinâmica aórtica e nas tensões correspondentes na parede do vaso.4

Na aorta, existem duas categorias de tensões na parede do vaso. A primeira categoria de tensão é o resultado do atrito entre o sangue em movimento e a parede do vaso, que é proporcional à velocidade do sangue, afastando-se da camada íntima da parede do vaso. Esse tipo de tensão é conhecido como tensão de cisalhamento na parede aórtica (wall shear stress — WSS). A segunda categoria de tensão se deve à variação na pressão de pulso gerada durante o ciclo cardíaco. Nesta categoria, existem tensões circunferenciais, axiais e radiais transferidas para todas as camadas da parede do vaso. Com o avançar da idade, a aorta aumenta de tamanho, o arco muda sua forma de um semicírculo quase perfeito e o vaso geralmente se torna mais tortuoso.5 Além disso, a mudança na curvatura natural da aorta introduz a dinâmica de fluxo secundária e a assimetria no fluxo, que influenciam diretamente a distribuição e magnitude da tensão de cisalhamento sobre a parede do vaso.

Dentre as modalidades de imagem disponíveis, a tomografia computadorizada (TC) é amplamente considerada o método padrão-ouro para estudo e análise da aorta, artérias coronárias e femorais. Avanços recentes usando um detector de ampla cobertura (256 ou 320 cortes) e TC de fonte dupla de alta frequência tornaram possível usar menos contraste e uma dose de radiação menor. Embora a TC possa representar as complexidades geométricas e funcionais da aorta, atualmente ela se limita a capturar uma imagem instantânea do fluxo sanguíneo em um determinado instante durante o ciclo cardíaco.

Por outro lado, a ressonância magnética (RM) de fluxo quadridimensional (4D) é uma nova técnica que avalia o fluxo sanguíneo aórtico no espaço tridimensional em função do tempo, o que permite a quantificação da hemodinâmica aórtica.6 Esta nova técnica de aquisição de imagens pode melhorar nossa compreensão acerca da dinamicidade inerente do fluxo sanguíneo aórtico. No entanto, a TC pode ser melhorada com o modelagem em fluidodinâmica computacional (computational fluid dynamics — CFD), que pode estimar parâmetros hemodinâmicos anteriormente incomensuráveis para se entender o comportamento biomecânico do fluxo sanguíneo em vasos normais e doentes.

Na ausência de um meio prontamente aplicável para medir diretamente a WSS, a modelagem em CFD tem sido aplicada em imagens de TC e RM para se compreender os padrões espaciais e temporais da WSS e a influência da fluidodinâmica aórtica nesse parâmetro.7-9 Usando imagens de TC como entrada em uma modelagem em CFD, Celis et al.,10 demonstraram que pequenas variações no ângulo de inclinação da válvula aórtica podem modificar a natureza do fluxo e produzir alterações na distribuição da WSS na parede aórtica.

A CFD é um método viável que tem sido usado há anos11 para determinar o fluxo de fluidos e o modelo 3D das artérias coronárias e pode simular um fluxo preciso nos vasos com base em um conjunto de parâmetros. Para fluidos incompressíveis, a maioria das análises da CFD resolve o conjunto de equações de continuidade e de Navier-Stokes que governam o movimento dos fluidos. Esse conjunto de equações inclui equações diferenciais parciais não lineares baseadas no princípio da conservação da massa e do momento. A equação de Navier-Stokes descreve o movimento viscoso dos fluidos12 e, de acordo com a lei da viscosidade de Newton, a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento de um fluido, sujeito a tensão mecânica, é uma constante para uma dada temperatura e pressão, sendo definida como a viscosidade ou coeficiente de viscosidade. Fisiologicamente, isso significa que o fluxo sanguíneo no sistema cardiovascular é igual à variação da pressão arterial dividida pela resistência do sistema.13

Apesar da disponibilidade de poderosos pacotes de software de CFD utilizados para modelar o fluxo dos fluidos, como o ANSYS FLUENT, o OpenFOAM, o SIMVascular e o ADINA,14 os métodos em CFD atuais têm um grande custo de tempo computacional, o que os impede de serem usados em grandes coortes de pacientes. Esse custo de tempo advém basicamente da complexidade dos modelos, que precisam da geometria anatômica do paciente, propriedades teciduais, condições de carga hemodinâmica e seleção adequada das técnicas de modelagem. Uma possível solução de mudança de paradigma para os gargalos nos métodos em CFD atuais é incorporar algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning — ML)15 para agilizar a análise computacional, começando com a modelagem geométrica até a configuração do modelo computacional e a conclusão da simulação.

Liang et al.,16 desenvolveram recentemente uma nova abordagem de aprendizado de máquina que demonstrou a viabilidade do uso de ML como um substituto rápido e preciso da CFD para estimar os campos hemodinâmicos em estado estacionário da aorta torácica humana. Em sua abordagem, a CFD é tratada como uma caixa preta e o algoritmo de ML aprende a relação não linear entre os dados de entrada e saída da CFD. Em média, o método proposto levou minutos para executar uma simulação de CFD para cada modelo de aorta, o que parece ser rápido o suficiente para aplicações clínicas.

As medições in vivo da hemodinâmica e das tensões correspondentes na aorta não são práticas. Portanto, a modelagem em CFD é amplamente usada para estimar esses parâmetros, mas é demorada e cara do ponto de vista computacional. Os modelos de ML podem ser uma alternativa promissora para simulações de CFD para auxiliar nas decisões clínicas e no tratamento com base em pacientes específicos. Isso pode levar a melhores resultados clínicos em muitos estudos, como a identificação da melhor posição e orientação da válvula protética no procedimento de TAVR.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Predição do Mapa de Estresse em Aorta Ascendente: Otimização da Posição Coaxial no Implante Valvar Aórtico Percutâneo

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2020 Oct 13;115(4):688–689. [Article in English]

Computational Analysis of Fluid Dynamics in the Transcatheter Aortic Valve Replacement

Editor: Marco A Gutierrez1,

Transcatheter aortic valve replacement (TAVR), a minimally invasive heart surgery, was introduced by Cribier et al.1 as an alternative to the traditional open-heart surgery in the treatment of individuals with severe aortic valve stenosis and at high surgical risk due to advanced age or the presence of multiple comorbidities.2 After the first pioneering efforts, the advent of innovative prosthetic valves, and more technologically refined approaches and devices, the use of TAVR for patients with intermediate surgical risk has been a worldwide trend.3 However, variation in the prosthetic valve positioning and orientation post TAVR procedure can produce significant changes in the aortic hemodynamics and the corresponding stresses in the vessel wall.4

Within the aorta, there are two categories of vessel wall stress. The first category of stress is the result of the friction between the moving blood and the vessel wall, which is proportional to the blood speed, moving away from the intimate layer of the vessel wall. This kind of stress is known as wall shear stress (WSS). The second category of stress is due to the variation in pulse pressure generated during the cardiac cycle. In this category, there are circumferential, axial and radial stress transferred to all vessel wall layers. With advancing age, the aorta enlarges, the arch changes shape from a near-perfect semicircle, and the vessel generally becomes more tortuous.5 Moreover, the change in the natural curvature of the aorta introduces secondary flow dynamics and flow asymmetry, which directly influence WSS distribution and magnitude over the vessel wall.

Among the available imaging modalities, computed tomography (CT) is widely considered the gold standard method for studying and analyzing the aorta, coronary and femoral arteries. Recent developments using a wide coverage detector design (256 or 320 slices) or high-frequency dual-source CT have made it possible to use less contrast and a lower radiation dose. Although CT can present the geometrical and functional complexities of the aorta, it is currently limited to capture a snapshot of the blood flow at a defined instant of time during the cardiac cycle.

On the other hand, four-dimensional (4D) flow magnetic resonance imaging (MRI) is a novel technique with the capability of assessing aortic blood flow in three-dimensional space as a function of time, which permits the quantification of aortic hemodynamics.6 This new imaging acquisition technique may improve our understanding of the inherent dynamicity of aortic blood flow. However, CT can be improved with computational fluid dynamics (CFD) modeling, which can compute previously unmeasurable hemodynamic parameters to understand the biomechanical behavior of blood flow in both normal and diseased vessels.

In the absence of a readily applicable means to directly measure WSS, CFD has been applied in CT and MRI images to understand both the spatial and temporal patterns of WSS and the influence of aortic flow dynamics on this parameter.79 Using CT images as the input of a CFD model, Celis et al.10 demonstrated that small variations of the aortic valve tilt angle could modify the nature of the flow and produce changes in the distribution of the WSS over the aorta wall.

CFD is a feasible method that has been used for ages11 in determining fluid flow and 3D model of coronary arteries and can simulate an accurate vessel flow based on a set of given parameters. For incompressible fluids, most CFD analysis solve the Navier-Stokes and continuity equations that govern fluid motion. This set of equations includes non-linear and partial differential equations based on the principle of conservation of mass and momentum. Navier-Stokes equation describes the viscous motion of fluids12 and, according to Newton’s law of viscosity, the relationship between the shear stress and shear rate of a fluid, subjected to mechanical stress, is a constant for a given temperature and pressure, and is defined as the viscosity or coefficient of viscosity. Physiologically, this means that the blood flow in the cardiovascular system is equal to the change of blood pressure divided by the system resistance.13

Despite the availability of powerful CFD software packages to model fluid flow, such as ANSYS FLUENT, OpenFOAM, SIMVascular, and ADINA,14 the current CFD methods have large computational time cost, which prevents them from being used in large patient cohorts. This time cost basically comes from the complexity of the models, which need patient anatomic geometries, tissue properties, hemodynamics loading conditions, and proper selection of modeling techniques. A potential paradigm-changing solution to the bottlenecks in current CFD methods is to incorporate machine learning (ML) algorithms15 to expedite computational analysis, starting from geometry modeling to computational model setup, and simulation completion.

Liang et al.16 have recently developed a novel machine learning approach that demonstrated the feasibility of using ML as a fast and accurate surrogate of CFD to estimate steady-state hemodynamic fields of human thoracic aorta. In their approach, CFD is treated as a black box, and the ML algorithm learns the nonlinear relationship between CFD input and output. On average, the proposed method took minutes to run a CFD simulation for each aorta model, which seems to be fast enough for clinical applications.

In vivo measurements of parameters hemodynamics and the corresponding stress in the aorta are not practical. Therefore, CFD is widely used to estimate these parameters, but it is time consuming and computationally expensive. ML models can be a promising alternative for CFD simulations to aid clinical decisions and treatment based on specific patients. This can lead to better clinical results in many studies, such as the identification of the best position and orientation of the prosthetic valve in the TAVR procedure.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Prediction of Stress Map in Ascending Aorta - Optimization of the Coaxial Position in Transcatheter Aortic Valve Replacemento


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