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editorial
. 2020 Oct 13;115(4):667–668. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20200862
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Troponina Cardíaca como Preditor de Injúria Miocárdica e Mortalidade por COVID-19

Editors: Jorge Henrique Paiter Nascimento1, Bruno Ferraz de Oliveira Gomes1,2, Gláucia Maria Moraes de Oliveira1,
PMCID: PMC8386976  PMID: 33111867

No Brasil, até o dia 1º de agosto de 2020, foram diagnosticados 2.707.877 casos de COVID-19, com acúmulo de 93.563 óbitos. A taxa de letalidade para o país, nesse período, foi de 3,5% com mortalidade variável conforme a região estudada, sendo a menor na região Sul (11,1 mortes/100 mil habitantes) e a maior na região Norte (60,2 mortes/100 mil habitantes).1 Até 20% dos indivíduos infectados requerem hospitalização, e destes, cerca de 25% necessitam de cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI).2 Postula-se que a ocorrência de intensa resposta inflamatória e a formação de um estado de hipercoagulabilidade, potencializadas por hipoxemia, justifique os principais achados clínicos e laboratoriais nos casos graves de infecção pelo novo coronavírus.3

Nessa população, a ocorrência de injúria miocárdica (IM) não é incomum, e a elevação de troponina cardíaca (cTn) I comporta-se como preditor de mortalidade intra-hospitalar.4 Também há possibilidade de lesão direta pelo vírus, causando miocardite.5 Um estudo de necrópsia que documentou a presença do vírus em 61,5% dos participantes não observou o afluxo de células inflamatórias no miocárdio na fase aguda, e a consequência a longo prazo dessa infecção cardíaca ainda não é conhecida.6 Todavia, a incidência de IM em pacientes hospitalizados por essa enfermidade no Brasil é pouco conhecida, e seu impacto prognóstico ainda é mal elucidado. O estudo multicêntrico com biomarcadores cardíacos é dificultado pelo emprego de diferentes testes laboratoriais entre as instituições.

O diagnóstico de IM é baseado na identificação de ao menos um valor de cTn acima da referência superior da normalidade. Isso porque variações em análises seriadas desse biomarcador sugerem lesão aguda das células cardíacas, embora não seja possível determinar o mecanismo fisiopatológico subjacente apenas pela sua mensuração. As razões para sua ocorrência podem ser agrupadas como: causas cardíacas isquêmicas, não isquêmicas e sistêmicas.7,8 Elevações de cTn são comuns em pacientes internados em UTI e estão relacionadas a maiores eventos adversos, independentemente da doença de base.9

Um estudo pioneiro, desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro, com amostra de conveniência abrangendo 183 casos confirmados de COVID-19 internados em hospital terciário, buscou avaliar o valor prognóstico da cTn T e do peptídeo natriurético do tipo B (BNP) nessa população. Concluiu-se que a cTn T, mas não o BNP, foi um marcador independente de risco para morte intra-hospitalar ou necessidade de ventilação mecânica invasiva.10 Uma limitação foi a não inclusão de dados obtidos por meio de eletrocardiografia e ecocardiografia, justificada por política institucional que visava à melhor distribuição de recursos financeiros e à proteção de recursos humanos. Além disso, a cTn foi verificada apenas nas primeiras 24h de internação.

Sabe-se que o quadro inflamatório secundário à tempestade de citocinas (fase III) ocorre depois da fase puIMonar (fase II), com um intervalo médio de 5 dias. Desse modo, a dosagem seriada de cTn seria a melhor abordagem, pois auxiliaria a identificação do paciente com IM não detectada na admissão.11

Uma metanálise realizada em março de 2020 por Giuseppe Lippi et al. mostrou, em seus resultados, que aumentos significativos da cTn correspondendo à IM são encontrados em cerca de 8 a 12% de todos os casos de COVID-19, sendo mais frequentes nas manifestações graves da doença.12 Um estudo recentemente publicado, realizado com 2.736 pacientes com COVID-19, observou que a IM, quantificada pelo aumento da cTn, mesmo com baixos valores, e principaIMente naqueles com história de doença cardiovascular (DCV), foi associada a alto rico de morte.13

Os dados obtidos pelo estudo brasileiro10 reforçam a impressão já levantada por outros autores de que a elevação de cTn na COVID-19 está ligada a piores desfechos clínicos.1114 Assim, à luz dos dados atuais, é possível que a utilização desse biomarcador na estratificação de risco em pacientes com COVID-19 seja uma estratégia exequível, levando-se em consideração o benefício em identificar o acometimento cardíaco sem expor outros profissionais durante a realização de exames como eletrocardiograma e ecocardiograma.

Portanto, a IM é comum em pacientes com COVID-19 e pode ser explicada por diferentes mecanismos fisiopatológicos. Até o momento, não existe recomendação para terapia específica dessa lesão por IM relacionada à infecção pelo novo coronavírus; no entanto, a dosagem de cTn ao longo da internação hospitalar pode facilitar a classificação de risco desses pacientes, com a vantagem de ser um método faciIMente reprodutível e com mínima exposição da equipe de saúde envolvida na sua execução, o que é especificamente útil ao controle de propagação viral em ambiente hospitalar.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Valor Prognóstico da Troponina T e do Peptídeo Natriurético Tipo B em Pacientes Internados por COVID-19

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2020 Oct 13;115(4):667–668. [Article in English]

Cardiac Troponin as a Predictor of Myocardial Injury and Mortality from COVID-19

Editors: Jorge Henrique Paiter Nascimento1, Bruno Ferraz de Oliveira Gomes1,2, Gláucia Maria Moraes de Oliveira1,

In Brazil, until August 1, 2020, 2,707,877 cases of COVID-19 were diagnosed, with 93,563 deaths. the lethality rate for the country, in this period, was 3.5% with mortality variable mortality depending on the region studied. It is the lowest in the South (11.1 deaths/100,000 inhabitants) and the highest in the North (60.2 deaths/100,000 inhabitants).1 Up to 20% of infected individuals require hospitalization and, of these, about 25% need to be taken to an intensive care unit (ICU).2 In severe cases of COVID-19, intense inflammatory response and hypercoagulability enhanced by hypoxemia justify the main clinical and laboratory findings.3

In this population, the presence of Myocardial Injury (MI) is not uncommon, and increased cardiac troponin (cTn)I behaves as a predictor of in-hospital mortality.4 There is also a possibility of direct injury by a virus that could generate myocarditis.5 A necropsy study that documented the presence of a virus in 61.5% did not observe the inflow of inflammatory cells in the myocardium in the acute phase, and the long-term consequence of this cardiac infection is not yet known.6 However, the incidence of MI in patients admitted for this disease in Brazil is little known, and its prognostic impact is still poorly elucidated. A multicenter study with cardiac biomarkers is hampered by different laboratory tests between institutions.

Diagnosis of (MI) is based on the identification of at least one cTn value above the normal upper range. Variations in serial analyses of this biomarker suggest acute cardiac cell damage, though not being able to determine the underlying pathophysiological mechanism just by measuring it. Reasons for its occurrence can be grouped as ischemic cardiac, non-ischemic, and systemic cardiac causes.7,8 Increased cTn is common in ICU patients and is related to more significant adverse events regardless of the underlying disease.9

A pioneering study developed in Rio de Janeiro with a convenience sample of 183 confirmed cases of COVID-19 admitted to a tertiary hospital assessed the prognostic value of cTn T and BNP in this population. They concluded that cTn T, but not BNP, was an independent risk marker for in-hospital death or need for invasive mechanical ventilation.10 One of the study limitations was the lack of electrocardiography and echocardiography data, justified by an institutional policy aimed at better distribution of financial resources and at protecting healthcare professionals. Besides, troponin was checked only in the first 24 hours of hospitalization.

We know that the inflammatory condition secondary to cytokine storm (phase III) occurs after the pulmonary phase (phase II), with an average interval of 5 days. Thus, the serial dosage of troponin would be the best approach as it would help to identify patients with myocardial injury not detected at admission.11

A meta-analysis carried out in March 2020 by Giuseppe Lippi et al. found that significant increases in troponin corresponding to myocardial injury are found in about 8 to 12% of all cases of COVID-19, and is more frequent in critically ill patients.12 A recently published study carried out with 2,736 patients with COVID-19 found that myocardial injury, quantified by a rise in troponin, even if this is a modest rise, and especially in those with a history of cardiovascular disease, was associated with a high death rate.13

Data obtained by this Brazilian study10 reinforce the impression raised by other authors that increased cTn in COVID-19 is associated with worse clinical outcomes.1114 The use of this biomarker in risk stratification in patients with COVID-19 may be a feasible strategy to identify cardiac involvement without exposing healthcare professionals to electrocardiography and echocardiography scans.

In conclusion, MI is common in COVID-19 patients and could be explained by different pathophysiological mechanisms. So far, there is no recommendation for specific IM therapy related to infection by a new coronavirus. However, measurement of cTn during hospitalization can facilitate the risk classification of these patients with the advantage of being an easily reproducible method with minimal exposure of the health team involved in its execution, which is specifically useful for controlling viral spread in a hospital environment.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Prognostic Value of Troponin-T and B-Type Natriuretic Peptide in Patients Hospitalized for COVID-19


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