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editorial
. 2020 Nov 1;115(5):828–829. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20200566
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Terapia com o Inibidor da Neprilisina e do Receptor de Angiotensina e Melhora de Parâmetros de Exercício na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida

Editor: Pedro Schwartzmann1,
PMCID: PMC8452205  PMID: 33295444

A insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) aumentou significativamente nas últimas três décadas e está associada a alta morbidade e mortalidade.1 Em pacientes com insuficiência cardíaca (IC), a intolerância ao exercício sugerida pela dispneia ou fadiga aos esforços é a marca registrada da doença. Além disso, sabe-se que a qualidade de vida é acentuadamente reduzida em pacientes com ICFER. A gravidade desta limitação ao exercício e a baixa qualidade de vida têm demonstrado correlação com pior prognóstico.2 Para esta avaliação funcional e objetiva, o teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) tem desempenhado um papel importante na identificação de pacientes com pior prognóstico e tem sido capaz de avaliar a eficácia de diferentes terapias para esta população com IC,3 como a troca de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) pelo inibidor da neprilisina e do receptor de angiotensina-neprilisina (INRA).

O estudo Prospective Comparison of ARNI with ACEI to Determine Impact on Global Mortality and Morbidity in Heart Failure (PARADIGM-HF) randomizou pacientes com ICFER e classe funcional da New York Heart Association (NYHA) II-IV para uma dose de INRA (sacubitril-valsartana) de 200 mg duas vezes ao dia ou enalapril 10 mg duas vezes ao dia, mostrando uma redução consistente de morte cardiovascular, morte por todas as causas e hospitalizações relacionadas à IC no grupo sacubitril-valsartana.4 Além disso, o estudo PARADIGM-HF mostrou melhora na qualidade de vida geral, conforme determinado pelo Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire (KCCQ).5 Especificamente, as maiores limitações basais e melhoras após a administração de sacubitril-valsartana foram relacionadas a atividades como corrida e relação sexual, que podem ser um marcador substituto de melhor capacidade de esforço após a troca da terapia, ainda que muito subjetiva.

Embora as diretrizes atuais tenham endossado o TCPE como uma ferramenta ‘padrão-ouro' para avaliação prognóstica e avaliação da capacidade de esforço para pacientes com ICFER,1,6 faltam estudos robustos com foco em parâmetros objetivos da capacidade de exercício. Dados adicionais foram relatados em um pequeno estudo com 35 pacientes. Malfatto et al.7 relataram benefícios consideráveis nos parâmetros do TCPE, como aumento do consumo de pico de oxigênio (VO2), pulso de oxigênio e redução da inclinação VE/VCO2, além de melhora na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e hipertensão pulmonar após seis meses de tratamento.7 Neste número dos Arq Brasil Cardiol, o estudo8 apresentou dados importantes que contribuem para o avanço do conhecimento atual de como a terapia com INRA exerce efeitos favoráveis em pacientes com ICFER.

Gonçalves et al.8 conduziram o estudo, um estudo aberto, não randomizado, de centro único, que incluiu 42 pacientes com ICFER (mas apenas 35 pacientes completaram o seguimento de seis meses) que apresentavam principalmente classe funcional da New York Heart Association (NYHA) III ou IV em 51,4% da população, e 42,9% apresentavam hospitalização prévia por IC e faziam uso de betabloqueadores (100%), IECA/BRA (100%) e antagonista do receptor mineralocorticoide (94,3%). Neste estudo prospectivo, todos os pacientes tiveram seu tratamento trocado para INRA e seguimento por 6 meses, não havendo grupo controle principalmente devido a questões éticas relacionadas à não disponibilização da terapia com INRA em pacientes com ICFER. O objetivo principal foi comparar os parâmetros do TCPE (VO2 pico e VO2 pico predito, inclinação VE/VCO2, limiar anaeróbio e duração do teste de esforço) antes e após 6 meses de terapia com INRAe também avaliar marcadores de remodelamento reverso através do ecocardiograma (FEVE, volume do átrio esquerdo, diâmetros diastólico e sistólico final do ventrículo esquerdo). Os pacientes foram tratados com doses crescentes de sacubitril-valsartana, com alvo de 97/103 mg duas vezes ao dia.

Neste estudo, o VO2 pico (14,4 ± 6,0 vs. 18,63 ± 4,9, p <0,001) e o VO2 pico predito (49,6% ± 18,7 vs. 65,7% ± 15,5) apresentaram um aumento importante após a introdução de INRA e também uma redução significativa da inclinação VE/VCO2 (36,7 ± 7,2 vs. 31,1 ± 5,8, p <0,001). Essas variáveis do TCPE têm sido fortemente relacionadas ao prognóstico da IC e sua melhora está bem correlacionada a melhores desfechos.9 Além disso, os benefícios dos parâmetros do TCPE também foram observados nos subgrupos com dose alvo de INRA submáxima.

Além disso, houve um aumento na duração do exercício durante o teste cardiopulmonar e isso provavelmente reflete o benefício relatado na classe da NYHA após o tratamento, o qual foi relatado como uma porcentagem significativa (74,3%) de pacientes que apresentaram ao menos melhora de uma classe da NYHA.

Essas mudanças favoráveis de classe funcional da NYHA também foram relatadas em uma coorte retrospectiva do mundo real, embora com uma porcentagem menor de pacientes que melhoraram a classe da NYHA. Lau et al.10 coletaram dados basais e de seguimento em 201 pacientes que receberam sacubitril-valsartana e foram acompanhados por 221 ± 114 dias.10 Em contraste, os dados do TCPE do mundo real não mostraram uma diferença significativa em 45 pacientes recebendo INRA, mas houve uma melhora de atividade do paciente em domicílio. Esses achados divergentes podem ser explicados pelo fato de que a população do mundo real era mais velha e menos sintomática (mais pacientes em classe II da NYHA, o que pode reduzir o efeito da terapia), junto com as limitações de uma coorte observacional retrospectiva e coleta incompleta de dados.

Avaliando a capacidade do tratamento com INRA em promover remodelamento reverso através de parâmetros ecocardiográficos, o estudo também mostrou aumento significativo da FEVE média, de 5,9%, com evidências de remodelamento reverso (menor volume do ventrículo esquerdo e também do átrio, redução da pressão sistólica arterial pulmonar). A melhora desses parâmetros ecocardiográficos foi muito semelhante à magnitude do remodelamento reverso observada no estudo PROVE-HF, que mostrou um aumento na média da FEVE em seis meses (5,2%) e doze meses (9,4%).11

Existem possíveis implicações clínicas destes 2 estudos (PROVE-HF e de Gonçalves et al.8). Em primeiro lugar, é provável que o remodelamento reverso observado promova uma melhora significativa na FEVE e possa evitar a terapia com cardioversor/desfibrilador para prevenção primária. Além disso, os benefícios impressionantes para o TCPE e a NYHA deste estudo provavelmente serão traduzidos em uma melhor qualidade de vida e capacidade funcional, podendo também reduzir a indicação de terapia de ressincronização cardíaca para alguns pacientes com IC. Finalmente, o estudo Gonçalves et al.,8 acrescenta evidências favoráveis às recomendações baseadas em evidências sobre a eficácia do INRA e fornece outras iniciativas para a ampla disseminação desse tratamento para pacientes com ICFER.12

Entretanto, o estudo de Gonçalves et al.,8 assim como o estudo PROVE-HF, não foi randomizado, e a ausência de um grupo controle representa uma limitação considerável, além do fato de que os efeitos notáveis nos parâmetros do TCPE podem estar relacionados a outras terapias para a IC. Além disso, os pacientes com IC do estudo de Gonçalves et al.,8 eram mais graves do que os pacientes dos estudos PARADIGM-HF e PROVE-HF, com uma porcentagem maior de pacientes com hospitalização prévia relacionada à IC e mais pacientes com NYHA III e IV, o que provavelmente influenciou na magnitude do benefício da terapia com INRA e pode, em parte, explicar a falta de benefício no TCPE em uma coorte de pacientes do mundo real.10 Com relação às variáveis do TCPE, alguns parâmetros importantes estavam ausentes, como ventilação oscilatória durante o esforço, trajetória do pulso de oxigênio, inclinação da eficiência do consumo de oxigênio e pico do PETCO2, os quais poderiam ter acrescentado informações sobre o efeito do INRA nessa população.

Em conclusão, o estudo de Gonçalves et al.,8 publicado nesta edição dos Arq Brasil Cardiol, sugere fortemente que a terapia com INRA pode promover mudanças significativas na capacidade funcional e nos parâmetros obtidos pelo TCPE, bem como uma melhora considerável nas variáveis ecocardiográficas relacionadas ao remodelamento reverso de pacientes com ICFER. Embora este não seja um ensaio randomizado, certamente adiciona mais dados benéficos da terapia com INRA na população com ICFER. Especificamente para a morbidade relacionada à IC, abordagens mais direcionadas são necessárias para fornecer uma melhor qualidade de vida e melhores desfechos clínicos.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Melhora no Consumo Máximo de Oxigênio e na Ventilação após Tratamento com Sacubitril-Valsartana

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2020 Nov 1;115(5):828–829. [Article in English]

Angiotensin Receptor-Neprilysin Inhibition Therapy and Improved Exercise Parameters in Heart Failure with Reduced Ejection Fraction

Editor: Pedro Schwartzmann1,

Heart failure (HF) with reduced ejection fraction (HFrEF) has increased significantly in the last three decades and is associated with high morbidity and mortality.1 In patients with HF, exercise intolerance suggested by dyspnea or fatigue during exertion is the hallmark of the disease. Additionally, health-related quality of life is known to be markedly reduced in HFrEF patients. The severity of this exercise limitation and low quality of life has been shown to correlate to worse prognosis.2 For this functional and objective assessment, cardiopulmonary exercise testing (CPET) has played an important role on identifying those worse-prognosis patients and has been able to evaluate the effectiveness of different therapies for this HF population,3 such as the switch of angiotensin-converting enzyme inhibitors (ACEI) to angiotensin receptor neprilysin inhibition (ARNI).

The Prospective Comparison of ARNI with ACEI to Determine Impact on Global Mortality and Morbidity in Heart Failure (PARADIGM-HF) trial randomized HFrEF patients with New York Heart Association functional class (NYHA) II-IV to the angiotensin receptor neprilysin inhibitor (sacubitril-valsartan) 200 mg twice daily or enalapril 10 mg twice daily and showed a consistent reduction on cardiovascular death, all-cause death and HF-related hospitalizations in the sacubitril-valsartan group.4 Moreover, the PARADIGM-HF showed improvement in overall quality of life as determined by the Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire (KCCQ).5 Specifically, the greatest baseline limitations and improvements after sacubitril-valsartan were related to activities such as jogging and sexual intercourse, which might be a surrogate marker of better exercise capacity after switching the therapy, although very subjective.

Even though that current guidelines have endorsed the CPET as a gold-standard tool for prognostic assessment and exercise capacity evaluation for HFrEF patients,1,6 larger trials focusing on objective parameters on exercise capacity are lacking. Additional data has been reported in a small study with 35 patients. Malfatto et al.7 reported considerable benefits on CPET parameters such as the increase in peak oxygen consumption (VO2), oxygen pulse and the reduction in VE/VCO2 slope, along with the improvement on left ventricular ejection fraction (LVEF) and pulmonary hypertension after six months of treatment.7 In this issue of Arquivos Brasileiros de Cardiologia, the study8 presented important data that contributes to the advance of current knowledge of how ARNI therapy exerts favorable effects in patients with HFrEF.

Gonçalves et al.8 conducted the study, an open-label, non-randomized, single-center investigation that included 42 HFrEF patients (but only 35 patients completed the six-month follow-up) who primarily had NYHA class III or more in 51,4% of the population and 42,9% had had a previous HF hospitalization and were taking beta-blockers (100%), ACEI/ARB (100%) and mineralocorticoid receptor antagonist (94,3%). In this prospective study, all patients have been switched to ARNI and followed by 6 months and there was no control group mainly related to ethical concerns of withholding ARNI therapy in HFrEF patients. The main objective was to compare CPET parameters (peak VO2 and peak predicted VO2, VE/VCO2 slope, anaerobic threshold, and duration of the exercise test) before and after 6 months of ARNI therapy and also evaluated markers of reverse remodeling through the echocardiogram (LVEF, left atrium volume, left ventricle end-diastolic and end-systolic diameters). Patients were treated with escalating doses of sacubitril-valsartan, targeting 97/103 mg twice daily.

In this study, peak VO2 (14.4 ± 6.0 vs 18.63 ±4.9, p<0.001) and peak predicted VO2 (49.6% ± 18.7 vs 65.7% ± 15.5) presented an important increase after the introduction of ARNI therapy and also a significant reduction in VE/VCO2 slope (36.7 ± 7.2 vs 31.1 ± 5.8, p<0.001). Those CPET variables have been strongly related to HF prognosis and their improvement is well correlated to better outcomes.9 Additionally, the CPET parameters benefits were also observed in the non-maximal target ARNI dose subgroups.

Furthermore, there was an increase in the duration of exercise during the test and it is likely reflecting the reported benefit on the NYHA class after the treatment, which was reported as an impressive percentage (74,3%) of the patients that presented at least one NYHA class improvement.

Those favorable NYHA class changes were also reported in a real-world retrospective cohort although with a lower percentage of the patients that improved the NYHA class. Lau et al.10 collected baseline and follow-up data in 201 patients that received sacubitril-valsartan and were followed by 221 ± 114 days.10 In contrast, the real-world CPET data have not shown a significant difference in 45 patients under ARNI therapy but there was an improvement in the patient-level activity at home. Those divergent findings could be explained by the fact that the real-world population was older and less symptomatic (more NYHA class II which might reduce the effect of the therapy), along with the limitations of a retrospective observational cohort and incomplete data collection.

Assessing the ability of the ARNI treatment to promote reverse remodeling through echocardiographic parameters, the study also showed a significant increase in the mean LVEF of 5.9% and there was evidence of reverse remodeling (lower left ventricular volumes as well as atrium volumes, reduction on pulmonary artery systolic pressure). These echocardiographic parameters improvements were very similar to the magnitude of the reverse remodeling observed in the PROVE-HF trial, which showed an increase in the mean LVEF at six months (5.2%) and twelve months (9.4%).11

There are clinical implications from these 2 studies (PROVE-HF and by Gonçalves et al.8). First of all, the observed reverse remodeling is likely to promote a significant improvement in LVEF and might avoid cardioverter-defibrillator therapy for primary prevention. Additionally, the impressive CPET and NYHA benefits of this current study are likely to be translated into a better quality of life and functional capacity and might also preclude the cardiac-resynchronization therapy indication for some HF patients. Last, Gonçalves et al.8 study adds supportive evidence to the evidence-based recommendations of ARNI efficacy and provide further initiatives to the widespread dissemination of this treatment to HFrEF patients.12

Nevertheless, the Gonçalves et al.,8 study, as well as the PROVE-HF trial, were not randomized trials and the absence of a control group represents a considerable limitation and the notable effects on the CPET parameters might be related to other HF therapies. Besides, the HF population of the by Gonçalves et al.,8 study was sicker than PARADIGM-HF and PROVE-HF trials, with a higher percentage of patients with a previous HF-related hospitalization and more patients with NYHA III and IV, which is likely to have influenced the magnitude of the benefit of ARNI therapy and might in part explain the lack of CPET benefit in a real-world cohort of patients.9 Regarding CPET variables, there were some important missing parameters such as exercise oscillatory breathing ventilation, oxygen pulse trajectory, oxygen uptake efficiency slope, and peak PETCO2 that could have added insights into the effect of ARNI in that population.

In conclusion, the Gonçalves et al.,8 study reported in this issue of Arquivos Brasileiros de Cardiologia strongly suggests that ARNI therapy can promote significant changes in the functional capacity and measured CPET parameters of exercise tolerance as well as a considerable improvement on echocardiographic variables related to reverse remodeling of HFrEF patients. Although this was a not randomized trial, it certainly adds more beneficial data of the ARNI therapy in the HFrEF population. Specifically for the HF-related morbidity burden that characterizes this disease, more targeted approaches are warranted to provide a better quality of life and health-related outcomes.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Maximal Oxygen Uptake and Ventilation Improvement Following Sacubitril-Valsartan Therapy


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