Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
. 2020 Sep 17;115(5):862–870. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20200436
View full-text in English

Repercussões da Pandemia de COVID-19 na Prática Assistencial de um Hospital Terciário

André Luiz Cerqueira Almeida 1,2, Thyago Monteiro do Espírito Santo 1,2, Maurício Silva Santana Mello 1,2, Alexandre Viana Cedro 1,3, Nilson Lima Lopes 1, Ana Paloma Martins Rocha Ribeiro 1,4, João Gustavo Cerqueira Mota 1, Rodrigo Serapião Mendes 1, Paulo André Abreu Almeida 5, Murilo Araújo Ferreira 1,2, Diego Moreira Arruda 1,2, Adriana Aguiar Pepe Santos 1,2, Vinícius Guedes Rios 1, Maria Rosa Nascimento Dantas 1,2, Viviane Almeida Silva 1,2, Marcos Gomes da Silva 1, Patrick Harrison Santana Sampaio 1,3, André Raimundo Guimarães 1,3, Edval Gomes Santos Jr 1,4
PMCID: PMC8452210  PMID: 32965397

Resumo

Fundamento

Ainda não temos informações acerca do impacto da pandemia da COVID-19 sobre a atividade médica assistencial no Brasil.

Objetivo

Descrever as repercussões da pandemia da COVID-19 na rotina de atendimentos em um hospital terciário, referência regional em cardiologia e oncologia.

Métodos

Estudo de corte transversal. Foi realizado levantamento dos atendimentos no período de 23/03/2020 (fechamento do comércio local) até 23/04/2020 (P20) e comparado com o mesmo período em 2019 (P19).Resultados: Detectamos redução no número de consultas cardiológicas, teste ergométrico, Holter, monitorização ambulatorial da pressão arterial, eletrocardiograma e ecocardiograma (90%, 84%, 94%, 92%, 94% e 81%, respectivamente). Em relação à cirurgia cardíaca e cateterismo cardíaco, houve redução de 48% e 60%, respectivamente. Aumento no número de angioplastia transluminal coronária (33%) e de implante de marca-passo definitivo (29%). Houve 97 internamentos na UTI em P19, contra 78 em P20, redução de 20%. Diminuição dos atendimentos no pronto-socorro cardiológico (45%) e nos internamentos na enfermaria de cardiologia (36%). Houve diminuição nas consultas oncológicas de 30%. Sessões de quimioterapia reduziram de 1.944 para 1.066 (45%). Sessões de radioterapia diminuíram 19%.

Conclusão

A COVID-19 provocou redução considerável no número de consultas nos ambulatórios de cardiologia, oncologia e demais especialidades. Houve uma preocupante diminuição no número de cirurgias cardíacas e nas sessões de quimioterapia e radioterapia nas semanas iniciais da pandemia. A procura por atendimento no pronto-socorro cardiológico, assim como as internações na UTI e enfermaria cardiológicas, também reduziram, gerando preocupação acerca da evolução e prognóstico destes pacientes portadores de outras patologias, que não a COVID-19, nestes tempos de pandemia. (Arq Bras Cardiol. 2020; [online].ahead print, PP.0-0)

Keywords: COVID-19, Pandemia, Coronavirus, Betacoronavírus, Oncologia, Hospitalização, Serviços Médicos de Emergência

Introdução

Em dezembro de 2019, foram descritos os primeiros casos de indivíduos infectados pelo novo coronavírus (SARS-COV 2) em Wuhan, China, que rapidamente alastrou-se pelo país, levando a grande número de mortes e de hospitalizações.1 Em curto período de tempo, a doença pelo coronavirus 2019 (COVID-19) ultrapassou os limites da China e alcançou outros países da Ásia, Europa e Américas. Até meados do ano 2020 cerca de 8,5 milhões de pessoas tinham testado positivo para o novo coronavirus em mais de 187 países e 200 territórios, sendo 960 mil testes positivos no Brasil. Na mesma época, registrava-se próximo de 450 mil mortes no mundo atribuídas à COVID-19 (47 mil no Brasil).2 O primeiro caso de COVID-19 no Brasil foi confirmado em São Paulo, em 26/02/2020.3 Em 06/03/2020, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia confirmou o diagnóstico do 1º caso da COVID-19 na Bahia, mais precisamente na cidade de Feira de Santana. Tratava-se de uma mulher de 34 anos, que retornou da Itália em 25 de fevereiro, com passagens por Milão e Roma, onde aconteceu a contaminação. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde classificou a COVID-19 como uma pandemia, sendo que em 20 de março de 2020 o Ministério da Saúde do Brasil declarou, em todo o território nacional, estado de transmissão comunitária da doença.4 Isso significa que o vírus já circulava em todo o país. Na mesma data, o gestor público local de Feira de Santana emitiu um decreto normativo decretando o fechamento de todo o comércio varejista e atacado, no âmbito do município, a partir do dia 23/03/2020.

Investigações científicas estão em andamento em todo o mundo e, por se tratar de um evento ainda novo, muitos esforços estão sendo despendidos para respaldar os profissionais de saúde e os gestores. No Brasil, em particular, toda e qualquer condição sanitária precisa considerar a dimensão territorial e as diferenças regionais do país. Durante uma pandemia como a atual, o formato de gestão tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS) ganha importância, visto que as decisões devem ser compartilhadas entre o governo federal, os estados e os municípios.

Durante a pandemia, alguns autores registraram mudanças na estrutura do sistema de saúde em países da Europa e nos EUA, com importante declínio no número de atendimentos e procedimentos médicos não associados à COVID-19, incluindo aqueles de alta complexidade.5 - 12 Estas mudanças podem gerar, como efeito colateral, atraso diagnóstico e/ou terapêutico e consequente aumento no risco de descompensação de doenças crônicas.

Ainda não temos informações acerca do impacto desta pandemia, e subsequentes ações governamentais, sobre a atividade médica assistencial no Brasil. O objetivo deste trabalho foi descrever as repercussões da pandemia da COVID-19 sobre o número de consultas, exames, internações e procedimentos médicos realizados em um hospital terciário, referência regional em cardiologia e oncologia.

Métodos

Estudo de corte transversal realizado em um hospital terciário com 110 leitos de enfermaria e 12 leitos de UTI. Trata-se de uma unidade referência regional em cardiologia (cirurgia cardíaca, cateterismo, angioplastia, dispositivos eletrônicos implantáveis, ecocardiograma e pronto-socorro [PS] cardiológico) e oncologia (quimioterapia, radioterapia e cirurgias oncológicas), que presta atendimento a pacientes tanto do SUS quanto do sistema de saúde suplementar. Para analisarmos a repercussão da pandemia da COVID-19 sobre as práticas assistenciais do hospital, foi feito um levantamento do número de atendimentos nos vários setores da unidade no período de 23/03/2020 (data do fechamento do comércio local) até 23/04/2020 (P20) e comparamos com os atendimentos realizados no mesmo período do ano de 2019 (P19). Trata-se de uma amostra de conveniência, com a inclusão de todos os pacientes com dados disponíveis em registros eletrônicos nos períodos supracitados. Foram coletados dados acerca das práticas assistenciais e admissões nos seguintes setores do hospital: UTI (predominantemente cardiológica), cirurgia cardíaca, cirurgia não cardíaca, cateterismo cardíaco, angioplastia transluminal coronária (ATC), implante de marca-passo, consulta em cardiologia, ecocardiografia, monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), Holter, eletrocardiograma (ECG), teste ergométrico, PS cardiológico, internamento na unidade de cardiologia, laboratório de análises clínicas, consulta em oncologia, sessões de quimioterapia, sessões de radioterapia, ultrassonografia, tomografia computadorizada, endoscopia, colonoscopia e retossigmoidoscopia.

Análise Estatística

Realizamos uma análise descritiva dos dados obtidos na amostra. As variáveis nominais ou categóricas foram descritas por seus valores absolutos. As diferenças de eventos observada entre os dois períodos investigados foram descritas pelas razões absolutas e relativas. A análise dos dados, assim como a construção dos gráficos, foi feita com o auxílio do Excel®, Microsoft 365®.

Aspectos Éticos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana sob o número de protocolo CAAE: 31056220.0.0000.0053. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O levantamento foi realizado através da pesquisa direta dos registros do hospital, após autorização expressa da instituição hospitalar. O pesquisador responsável assinou um termo de compromisso para utilização dos dados dos registros do hospital.

Resultados

No P19, o ambulatório de cardiologia realizou 379 consultas, sendo que este número caiu para 38 no P20, com uma redução de 90% ( Figura 1 ). Observou-se ainda uma redução no número de teste ergométrico (84%), Holter (94%), MAPA (92%) e ECG (94%). Em relação ao ecocardiograma, foram 509 exames a menos em P20, o que corresponde a uma redução de 81% ( Figura 1 ). A redução foi de 470 ecocardiogramas ambulatoriais (88%) e de 39 exames realizados em pacientes internados no hospital (41%).

Figura 1. – Número de consultas e exames em cardiologia. Cardio: cardiologia; TE: teste ergométrico; ECO: ecocardiograma; MAPA: monitoramento ambulatrorial da pressão arterial; ECG: eletrocardiograma.

Figura 1

Em relação à cirurgia cardíaca e cateterismo cardíaco, a redução foi de 48% e 60%, respectivamente ( Figura 2 ).

Figura 2. – Movimento no setor de cardiologia intervencionista. CATE: cateterismo cardíaco; ATC: angioplastia transluminal coronária; MP: marcapasso.

Figura 2

Houve um aumento no número de ATC na ordem de 33% e de implante de marca-passo definitivo (29%) ( Figura 2 ).

Noventa e sete pacientes foram internados na UTI em P19, contra 78 em P20, redução de 20%. A redução também foi observada nos atendimentos realizados no PS cardiológico (45%) e nos internamentos na enfermaria de cardiologia do hospital (36%) ( Figura 3 ).

Figura 3. – Número de internamentos na unidade de cardiologia. PS: pronto socorro; Int CV: internamento na unidade de cardiologia.

Figura 3

O setor de oncologia também sofreu redução considerável nos atendimentos durante a fase inicial da pandemia da COVID-19. Os oncologistas realizaram 1.688 consultas em P19. Este número caiu para 1.184 consultas em P20, uma redução de 30%. O número de sessões de quimioterapia caiu de 1.944 para 1.066, declínio de 45%. Já as sessões de radioterapia diminuíram 19% ( Figura 4 ).

Figura 4. – Movimento no setor da oncologia. Onco: oncologia; QTR: quimioterapia; RTX: radioterapia.

Figura 4

A redução no número de exames de análises clínicas foi na ordem de 42%. Esta diminuição ocorreu tanto entre os pacientes ambulatoriais quanto entre os internados, sendo que a queda foi maior entre os primeiros ( Figura 5 ). Foram realizadas 337 dosagens da troponina em 2019, contra apenas 59 em 2020, declínio de 82%.

Figura 5. – Movimento do laboratório de análises clínicas. LAB: laboratório.

Figura 5

Houve diminuição também no número de endoscopia/colonoscopia/retossigmoidoscopia (52%), ultrassonografia (94%) e tomografias computadorizada (35%) ( Figura 6 ).

Figura 6. – Movimento nos serviços de exames de imagem. Endoscopia: endoscopia digestiva alta; Reto: retosigmoidoscopia; Colona: colonoscopia; USG: ultrassonografia; CT: tomografia computadorizada.

Figura 6

As cirurgias não cardíacas (geral, oncológica, cabeça e pescoço, ortopédica, entre outras) sofreram redução de 40% no primeiro mês em que foi recomendado o distanciamento social devido à pandemia da COVID-19 na região estudada. O número de cirurgias oncológicas ligadas à urologia diminuiu de 82 para 57 (30%). Já as consultas não-cardiológicas e não-oncológicas reduziram 92% ( Figura 7 ).

Figura 7. – Número de consultas e cirurgias não cardíacas.

Figura 7

O hospital onde os dados foram coletados não é um centro de referência para atendimento de pacientes com a COVID-19. Até a conclusão da coleta dos dados nenhum paciente com a COVID-19 havia sido admitido na unidade.

Discussão

O presente estudo demostrou que a pandemia da COVID-19 provocou uma redução considerável no número de consultas nos ambulatórios de cardiologia, oncologia e demais especialidades em nosso hospital. Além disso, observamos uma preocupante diminuição no número de cirurgias cardíacas, assim como no número de sessões de quimioterapia e de radioterapia nas semanas iniciais da pandemia. Estas reduções podem trazer consequências desastrosas para os pacientes que necessitam desses tratamentos. A procura por atendimento no PS cardiológico, assim como o número de internações na UTI e enfermaria cardiológicas, também sofreu importante declínio, deixando um inquietante questionamento aos cardiologistas e outros profissionais da saúde no primeiro momento: para onde estão indo os pacientes com complicações cardíacas, associadas ou não à pandemia da COVID-19?

Detectamos uma redução de 45% no número de atendimentos no PS de cardiologia do nosso hospital, com 82% de redução na dosagem da troponina. Isto foi acompanhado por um encolhimento nas taxas de admissão na UTI e enfermaria cardiológicas de 20% e 36%, respectivamente. De modo semelhante, Metzler B et al.,10 demonstraram uma redução de 39,4% na admissão de pacientes com síndrome coronariana aguda, durante o primeiro mês do surto da COVID-19 na Áustria. Nos EUA, houve um declínio de 38% no número de coronariografias em casos de IAM com supra de ST (IAMCSST) no primeiro mês da pandemia.8 Em nossa casuística, observamos uma redução de 60% no número de cateterismo cardíaco e de 48% nas cirurgias cardíacas. Na Espanha, durante a primeira semana da quarentena devido à COVID-19, notou-se uma diminuição de 56% nos procedimentos diagnósticos cardiovasculares, 48% nos procedimentos terapêuticos coronários, 81% nos terapêuticos estruturais (implante percutâneo de válvula aórtica, fechamento de persistência do canal arterial e comunicação interatrial) e 40% nos casos tratados de IAMCSST.8 A redução que observamos na procura por atendimento médico por motivos cardiológicos durante a pandemia, fato que se repetiu em outros países, vai de encontro ao que, habitualmente, costumamos ver em períodos de tragédias. É conhecido o aumento considerável na incidência de IAM e AVC após terremotos e tsunamis.13 , 14 Talvez como resultado desta redução na procura espontânea por atendimento médico em casos não relacionados à COVID-19, a região da Lombardia, Itália, apresentou um aumento de 58% na ocorrência de parada cardíaca fora do hospital, no período que abrangeu os primeiros 40 dias do surto da COVID-19.12 Este achado mostrou forte associação com a incidência cumulativa de COVID-19 na região estudada. Similarmente, dados publicados no Angioplasty.Org relatam um aumento de 800% na incidência de morte súbita ocorrida em domicílio na cidade de Nova York quando era o epicentro da pandemia.15 Muitos destes pacientes podem ter evitado ir ao hospital com receio de se infectarem com a COVID-19.16

Diferente dos dados obtidos na Espanha,8 observamos um aumento de 33% na realização de ATC. Atribuímos este aumento a uma maior disponibilidade de vagas de UTI do nosso hospital na fase inicial da pandemia da COVID-19. Isto permitiu que pudéssemos realizar o procedimento e encaminhar o paciente para observação na UTI, diferente do que ocorria na fase pré-COVID, quando a UTI estava, invariavelmente, sem disponibilidade de leitos.

A redução que observamos no número de consultas em oncologia (30%), sessões de quimioterapia (45%) e sessões de radioterapia (19%) é um capítulo à parte. Recente estudo, realizado na Inglaterra e Irlanda do Norte, observou que a maioria dos pacientes com câncer, ou suspeitos de terem câncer, não estavam acessando os serviços de saúde durante a pandemia da COVID-19.17 Como consequência, estima-se que este surto da COVID-19 tem o potencial de aumentar a mortalidade em cerca 20%, nos próximos 12 meses, nos pacientes com diagnóstico recente de câncer, apenas na Inglaterra.17 Além disso, pacientes com câncer têm um risco quase quatro vezes maior de apresentar complicações graves secundárias à COVID-19, comparados aos indivíduos sem câncer.18 Portanto, a monitorização dos pacientes oncológicos deve ser redobrada, e não diminuída, durante o curso da pandemia. O desafio de identificar e tratar complicações associadas a alguns quimioterápicos, como miocardite e/ou pneumonite severas, é outra questão a ser enfrentada pelos especialistas em tempos de pandemia da COVID-19.19

Os nossos resultados são de grande auxílio para os pacientes, os profissionais de saúde e os gestores hospitalares. Eles trazem à tona um problema grave, que está cursando em paralelo à pandemia da COVID-19: a redução considerável no número de consultas, cirurgias cardíacas e oncológicas, atendimentos em PS cardiológico, cateterismo cardíaco, sessões de quimioterapia e de radioterapia, exames laboratoriais, entre outros procedimentos médicos importantes e necessários para aqueles que não estão com a COVID-19. Uma redução no acesso aos cuidados médicos é associada a um declínio no estado de saúde da população.20 O retardo no diagnóstico e tratamento do infarto do miocárdio ou do AVC aumenta o risco de morte.21 A interrupção do uso de anti-hipertensivos, mesmo por curtos períodos, pode ocasionar graves complicações cardiovasculares.22 A retirada das estatinas aumenta as taxas de eventos em pacientes com síndromes coronárias agudas.22 A descompensação não diagnosticada do diabetes tem consequências graves. A demora na realização da cirurgia oncológica pode levar à progressão da doença e piora do prognóstico. O mesmo se aplica em relação às sessões de quimioterapia adjuvantes ou neoadjuvantes. O fato dos pacientes se absterem de ir ao hospital, não significa que as outras doenças desapareceram. Em absoluto! Elas continuam acometendo os pacientes, mas estes não estão procurando o atendimento médico na medida adequada. A questão é: por quê? Entre outros motivos porque, provavelmente, estão com medo de irem ao hospital devido ao risco de contraírem a COVID-19. É possível, ainda, que alguns pacientes com problemas cardiovasculares estejam procurando atendimento médico, mas os sintomas apresentados podem estar sendo confundidos com os da COVID-19. A recomendação expressa para as pessoas ficarem em casa, assim como a restrição na liberdade de trânsito e movimentação, também contribuem para o cenário que detectamos em nosso hospital. Não seria exagero dizer que estes indivíduos também se tornaram vítimas da COVID-19, mesmo sem terem sido acometidos da doença.

Independente da causa, os resultados da nossa pesquisa são um espelho do que está acontecendo em vários outros locais. Tais fatos têm o potencial de gerar um efeito colateral preocupante: um substancial incremento na morbidade e na mortalidade, a curto e médio prazo, por causas outras que não a infecção causada pelo SARS-COV 2.16 Esta seria a outra face da tragédia da COVID-19. É possível que, em breve, nos deparemos com uma curva ascendente, pós-pandemia, composta por pacientes com graves complicações secundárias a patologias que poderiam ter sido adequadamente tratadas, caso tivessem sido atendidas previamente e em um momento, teoricamente, mais favorável.

Os nossos resultados abrem perspectivas para que outros pesquisadores investiguem qual o real desfecho destes pacientes que não estão comparecendo às consultas médicas eletivas, às sessões de quimioterapia e radioterapia, ao PS de cardiologia, assim como aqueles que não estão realizando os exames de rotina e/o as cirurgias oncológicas ou cardíacas no período da pandemia da COVID-19. Isto complementaria os nossos achados e traria importantes informações para a comunidade médica e para os próprios pacientes.

Nosso trabalho apresenta algumas limitações. Trata-se de um estudo unicêntrico e o período de observação foi relativamente curto. Não acompanhamos o desfecho dos pacientes que deixaram de comparecer às consultas e/ou procedimentos em nosso hospital. Observamos as repercussões da pandemia da COVID-19 na prática assistencial de um hospital terciário como um todo, mas não caracterizamos as patologias que levaram os pacientes ao hospital.

Conclusão

A pandemia da COVID-19 provocou importante redução no número de consultas nos ambulatórios de cardiologia, oncologia e demais especialidades no nosso hospital. Notamos também uma diminuição considerável no número de cirurgias cardíacas e nas sessões de quimioterapia e de radioterapia nas semanas iniciais da pandemia. A procura por atendimento no PS cardiológico, assim como o número de internações na UTI e enfermaria cardiológicas, também reduziu, gerando preocupação acerca da evolução e prognóstico destes pacientes portadores de outras patologias, que não a COVID-19, nestes tempos de pandemia.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Referências

  • 1.1. Zhu N, Zhang D, Wang W, Li X, Yang B, Song J, et al. A Novel Coronavirus from Patients with Pneumonia in China, 2019. N Engl J Med. 2020;382(8):727-3 [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 2.2. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Especial 07 – COE Coronavírus – 06 de abril de 2020. [Acesso em 30 de abril de 2020] Disponível em: < https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/2020-04-06-BE7-Boletim-Especial-do-COE-Atualizacao-da-Avaliacao-de-Risco.pdf >.
  • 3.3. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Especial 08 – COE Coronavírus – 09 de abril de 2020. [Acesso em 30 de abril de 2020] Disponível em: < https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/09/be-covid-08-final.pdf >.
  • 4.4. Bonalumi G, di Mauro M, Garatti A, Barili F, Gerosa G, Parolari A. The COVID-19 outbreak and its impact on hospitals in Italy: the model of cardiac surgery. Eur J Cardiothorac Surg. 202057(6):1025-8. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 5.5. Tam CF, Cheung KS, Lam S, Wong A, Yung A, Sze M, et al. Impact of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Outbreak on ST-Segment-Elevation Myocardial Infarction Care in Hong Kong, China. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2020;13(4):e006631. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 6.6. Maggi U, De Carlis L, Yiu D, Colledan M, Regalia E, Rossi G, et al. The impact of the COVID-19 outbreak on Liver Transplantation programmes in Northern Italy. Am J Transplant. 2020;20(7):1840-8. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 7.7. Rodríguez-Leor O, Cid-Álvarez B, Ojeda S, Martín-Moreiras J, Ramón Rumoroso J, López-Palop R, et al. Impacto de la pandemia de COVID-19 sobre la actividad asistencial en cardiología intervencionista en España. REC: interventional cardiology. 2020;10.24875/recic m 20000120
  • 8.8. Garcia S, Albaghdadi MS, Meraj PM, Schmidt C, Garberich R, Jaffer FA, et al. Reduction in ST-Segment Elevation Cardiac Catheterization Laboratory Activations in the United States during COVID-19 Pandemic. J Am Coll Cardiol. 2020;75(22):82871-8. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 9.9. Moeckli B, Peloso A, Oldani G, Orci LA, Banz V, Dutkowski P, et al. The Swiss approach to the COVID-19 outbreak. Am J Transplant. 2020;20:1935-6. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 10.10. Metzler B, Siostrzonek P, Binder RK, Bauer A, Reinstadler SJ. Decline of acute coronary syndrome admissions in Austria since the outbreak of COVID-19: the pandemic response causes cardiac collateral damage. Eur Heart J. 2020. [Epub ahead of print] [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 11.11. Baldi E, Sechi GM, Mare C, Canevari F, Brancaglione A, Primi R, et al. Out-of-Hospital Cardiac Arrest during the Covid-19 Outbreak in Italy. N Engl J Med. 2020;383:496-8. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 12.12. Takegami M, Miyamoto Y, Yasuda S, Nakai M, Nishimura K, Ogawa H, et al. Comparison of cardiovascular mortality in the Great East Japan and the Great Hanshin-Awaji Earthquakes- a large-scale data analysis of death certificates. Circ J. 2015;79(5):1000-8. [DOI] [PubMed]
  • 13.13. Omama S, Yoshida Y, Ogasawara K, Ogawa A, Ishibashi Y, Nakamura M, et al. Influence of the great East Japan earthquake and tsunami 2011 on occurrence of cerebrovascular diseases in Iwate, Japan. Stroke. 2013;44(6):1518-24. [DOI] [PubMed]
  • 14.14. Cohen B, Shaw D. Cardiac Arrest Deaths at Home in New York City Have Increased By a Startling 800%. 2020: Avalaible at: http://www.ptca.org/news/2020/0408_INCREASED_DEATHS_NYC.html.
  • 15.15. Allahwala UK, Denniss AR, Zaman S, Bhindi R. Cardiovascular Disease in the Post-COVID-19 Era – the Impending Tsunami? Heart, Lung and Circulation. 2020. [Epub ahead of print] [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 16.16. Lai AG, Pasea L, Banerjee A, Denaxas S, l Katsouli M, Chan WH, et al. 2020. Estimating excess mortality in people with cancer and multimorbidity in the COVID-19 emergency. medRxiv doi: 10.1101/2020.05.27.20083287 Avalaible at: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.27.20083287v1 [DOI]
  • 17.17 - Liang W, Guan W, Chen R, Wang W, Li J, Xu K, et al. Cancer patients in SARS-CoV-2 infection: a nationwide analysis in China. Lancet Oncol. 2020;21(3):335-7. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 18.18 - Wang Y, Zhou S, Yang F, Qi X, Wang X, Guan X, et al. Treatment-Related Adverse Events of PD-1 and PD-L1 Inhibitors in Clinical Trials: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Oncol. 2019;5(7):1008-19. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 19.19 - Bindman AB, Keane D, Lurie N. A public hospital closes. Impact on patients’ access to care and health status. JAMA. 1990;264(22):2899-904. [DOI] [PubMed]
  • 20.20 - Czarnecki A, Chong A, Lee DS, Schull MJ, Tu JV, Lau C, et al. Association between physician follow-up and outcomes of care after chest pain assessment in high-risk patients. Circulation. 2013;127(13):1386-94. [DOI] [PubMed]
  • 21.21. Beeftink MM, van der Sande NG, Bots ML, Doevendans PA, Blankestijn PJ, Visseren FL, et al. Safety of Temporary Discontinuation of Antihypertensive Medication in Patients With Difficult-to-Control Hypertension. Hypertension. 2017;69(5):927-32. [DOI] [PubMed]
  • 22.22 - Heeschen C, Hamm CW, Laufs U, Snapinn S, Bohm M, White HD, et al. Withdrawal of statins increases event rates in patients with acute coronary syndromes. Circulation. 2002;105(12):1446-52. [DOI] [PubMed]
Arq Bras Cardiol. 2020 Sep 17;115(5):862–870. [Article in English]

Repercussions of the COVID-19 Pandemic on the Care Practices of a Tertiary Hospital

André Luiz Cerqueira Almeida 1,2, Thyago Monteiro do Espírito Santo 1,2, Maurício Silva Santana Mello 1,2, Alexandre Viana Cedro 1,3, Nilson Lima Lopes 1, Ana Paloma Martins Rocha Ribeiro 1,4, João Gustavo Cerqueira Mota 1, Rodrigo Serapião Mendes 1, Paulo André Abreu Almeida 5, Murilo Araújo Ferreira 1,2, Diego Moreira Arruda 1,2, Adriana Aguiar Pepe Santos 1,2, Vinícius Guedes Rios 1, Maria Rosa Nascimento Dantas 1,2, Viviane Almeida Silva 1,2, Marcos Gomes da Silva 1, Patrick Harrison Santana Sampaio 1,3, André Raimundo Guimarães 1,3, Edval Gomes Santos Jr 1,4

Abstract

Background

We still do not have information regarding the impact of the COVID-19 pandemic on medical care activity in Brazil.

Objective

To describe the repercussions of the COVID-19 pandemic on the care routine of a tertiary hospital, which is a regional reference in cardiology and oncology.

Methods

Cross-sectional cohort study. We conducted a survey of medical visits from March 23, 2020 (when local commerce was closed) to April 23, 2020 (P20), in comparison with the same period in 2019 (P19).

Results

We found decreases in the number of cardiology consultations, exercise tests, Holter, ambulatory blood pressure monitoring, electrocardiogram, and echocardiogram (90%, 84%, 94%, 92%, 94%, and 81%, respectively). In relation to cardiac surgery and cardiac catheterization, there were 48% and 60% decreases, respectively. There was an increase in the number of percutaneous transluminal coronary angioplasties (33%) and definitive pacemaker implantations (29%). There were 97 admissions to the ICU during P19, in contrast with 78 during P20, a 20% decrease. Visits to the cardiac emergency room (45%) and admissions to the cardiology ward (36%) also decreased. The decrease in oncology consultations was 30%. Chemotherapy sessions decreased from 1,944 to 1,066 (45%), and radiotherapy sessions decreased by 19%.

Conclusion

COVID-19 has led to a considerable decrease in the number of consultations in outpatient clinics for cardiology, oncology, and other specialties. There was a concerning decrease in the number of cardiac surgeries, chemotherapy sessions, and radiotherapy sessions during the initial weeks of the pandemic. The number of people seeking care in the cardiac emergency room and the number of admissions to the cardiology ward and ICU also decreased, generating concern regarding the evolution and prognosis of these patients with pathologies other than COVID-19 during this pandemic time. (Arq Bras Cardiol. 2020; [online].ahead print, PP.0-0)

Keywords: COVID-19; Pandemics; Coronavirus, Betacoronavirus, Oncology; Hospitalization; Emergency Medical services

Introduction

In December 2019, the first cases of individuals infected with the new coronavirus (SARS-COV 2) were reported in Wuhan, China; the virus rapidly spread throughout the country, leading to a large number of deaths and hospitalizations.1 Within a short period of time, coronavirus disease 2019 (COVID-19) went beyond the limits of China, reaching other countries in Asia, Europe, and the Americas. By the middle of 2020, approximately 8.5 million people had tested positive for the new coronavirus in more than 187 countries and 200 territories, with 960,000 positive tests in Brazil. During this time, there were close to 450,000 deaths in the world attributed to COVID-19 (47,000 in Brazil).2 The first case of COVID-19 in Brazil was confirmed in São Paulo, on February 26, 2020.3 On March 6, 2020, the Secretary of Health of the State of Bahia confirmed the diagnosis of the first case of COVID-19 in Bahia, specifically, in the city of Feira de Santana. The patient was a 34-year-old woman, who had returned from Italy on February 25, having visited Milan and Rome, where contamination occurred. On March 11, 2020, the World Health Organization classified COVID-19 as a pandemic, and, on March 20, 2020, the Brazilian Ministry of Health declared community transmission of the disease throughout the national territory.4 This means that the virus was already circulating throughout the country. On the same date, the local public administrator of Feira de Santana issued a decree closing all wholesale and retail trade in the municipality, starting on March 23, 2020.

Scientific investigations are underway worldwide, and, as this is still a new incident, many efforts are being made to support health professionals and administrators. In Brazil in particular, any and all health conditions need to take into consideration the size of the country and its regional differences. During a pandemic like this one, the tripartite management structure of the Brazilian Unified Health System (SUS, acronym in Portuguese) becomes even more important, given that decisions must be shared between federal, state, and municipal governments.

During the pandemic, some authors have reported changes in the structures of healthcare systems in Europe and the USA, with an important decrease in the number of medical visits and procedures that are associated with COVID-19, including those of high complexity.5 - 12 As a collateral effect, these changes may lead to delayed diagnosis and/or therapy, with a consequent increase in the risk of decompensation of chronic diseases.

We still do not have information regarding the impact of the pandemic and subsequent government actions on medical care activity in Brazil. The objective of this study was to describe the repercussions of the COVID-19 pandemic on the number of consultations, tests, hospitalizations, and medical procedures carried out in a tertiary hospital, which is a regional reference for cardiology and oncology.

Methods

This was a cross-sectional cohort study carried out in a tertiary hospital with 110 ward beds and 12 ICU beds. It is a regional reference unit in cardiology (cardiac surgery, catheterization, angioplasty, implantable electronic devices, echocardiogram, and cardiac emergency room [ER]) and oncology (chemotherapy, radiotherapy, and oncology surgery), and it provides care to both the SUS and the supplementary health system. In order to analyze the repercussions of the COVID-19 pandemic on the hospital’s care practices, a survey was carried out regarding the number of visits in the various sectors of the unit during the period from March 23, 2020 (the date when local commerce was closed) to April 23, 2020 (P20), in comparison with the services provided during the same period in 2019 (P19). This was a convenience sample, including all patients with data available from electronic records during the periods mentioned above. Data were collected on care practices and admission to the following sectors of the hospital: ICU (mainly cardiology), cardiac surgery, non-cardiac surgery, cardiac catheterization, percutaneous transluminal coronary angioplasty (PTCA), pacemaker implantation, cardiology consultations, echocardiography, ambulatory blood pressure monitoring (ABPM), Holter, electrocardiogram, exercise test, cardiac ER, admission to the cardiology unit, clinical laboratory analysis, oncology consultations, chemotherapy sessions, radiotherapy sessions, ultrasound, computerized tomography, endoscopy, colonoscopy, and rectosigmoidoscopy.

Statistical Analysis

We carried out descriptive analysis of the data obtained in the sample. Nominal or categorical variables were described by their absolute values. The differences in events observed between the two study periods were described as absolute and relative ratios. Data analysis and graph construction were performed with the aid of Excel®, Microsoft 365®.

Ethical Aspects

This study received approval from the Research Ethics Committee of the State University of Feira de Santana, under protocol number CAAE: 31056220.0.0000.0053. All of the procedures involved in this study are in accordance with the 1975 Declaration of Helsinki, revised in 2013. The survey was conducted by means of direct research of hospital records, following express authorization from the hospital. The researcher responsible signed an agreement form regarding use of data from hospital records.

Results

During P19, there were 379 consultations at the cardiology outpatient clinic; this number decreased to 38 during P20, representing a 90% drop ( Figure 1 ). Decreases were also observed in the number of exercise tests (84%), Holter (94%), ABPM (92%), and electrocardiogram (94%). In relation to echocardiogram, there were 509 fewer exams during P20, corresponding to an 81% decrease ( Figure 1 ). This number comprised 470 outpatient echocardiograms (88%) and 39 exams carried out in patients who were hospitalized (41%).

Figure 1. – Number of cardiology consultations and exams. ABPM: ambulatory blood pressure monitoring; ECG: electrocardiogram; Echo: echocardiogram; ET: exercise test.

Figure 1

In relation to cardiac surgery and cardiac catheterization, there were 48% and 60% decreases, respectively ( Figure 2 ).

Figure 2. – Movement in the interventional cardiology sector. CC: cardiac catheterization; PM: pacemaker; PTCA: percutaneous transluminal coronary angioplasty.

Figure 2

There was a 33% increase in the number of PCTA and a 29% increase in definitive pacemaker implantations ( Figure 2 ).

During P19, 97 patients were admitted to the ICU, in comparison to 78 during P20, representing a 20% decrease. A decrease was also observed in the number of visits to the cardiac ER (45%) and in the number of admissions to the hospital’s cardiology ward (36%) ( Figure 3 ).

Figure 3. – Number of admissions to the cardiology unit. CW: cardiology ward; ER: emergency room; ICU: intensive care unit.

Figure 3

The oncology sector also saw a considerable decrease in visits during the initial phase of the COVID-19 pandemic. Oncologists carried out 1,688 consultations during P19. This number dropped to 1,184 consultations during P20, a 30% decrease. The number of chemotherapy sessions dropped from 1,944 to 1,066, a 45% decrease. Radiotherapy sessions also decreased by 19% ( Figure 4 ).

Figure 4. – Movement in the oncology sector. CTS: chemotherapy sessions; RTS: radiotherapy sessions.

Figure 4

There was a 42% decrease in the number of clinical analysis exams. This decrease comprises both outpatients and hospitalized patients; it was greater among the former ( Figure 5 ). There were 337 troponin assays in 2019, in contrast with only 59 in 2020, a 82% decrease.

Figure 5. – Movement of clinical laboratory analyses. Lab: laboratory exams.

Figure 5

There was also a decrease in the number of the following procedures: endoscopy/colonoscopy/rectosigmoidoscopy (52%), ultrasound (94%), and computerized tomography (35%) ( Figure 6 ).

Figure 6. – Movement of imaging exams. Colono: colonoscopy; CT: computerized tomography; endo: upper digestive endoscopy; recto: rectosigmoidoscopy; US: ultrasound.

Figure 6

Non-cardiac surgeries (general, oncology, head and neck, orthopedic, among others) saw a 40% reduction during the first month when social distancing was recommended due to the COVID-19 pandemic in the study region. The number of oncology surgeries related to urology decreased from 82 to 57 (30%). Non-cardiology and non-oncology consultations decreased by 92% ( Figure 7 ).

Figure 7. – Number of non-cardiac consultations and surgeries.

Figure 7

The hospital where data were collected is not a reference center for providing care for patients with COVID-19. Up to the moment when data collection was completed, no patients with COVID-19 had been admitted to the unit.

Discussion

This study has shown that the COVID-19 pandemic led to a considerable decrease in the number of consultations at our hospital’s outpatient clinics in cardiology, oncology, and other specialties. Furthermore, we observed a concerning decrease in the number of cardiac surgeries, chemotherapy sessions, and radiotherapy sessions during the initial weeks of the pandemic. These decreases can lead to disastrous consequences for the patients who need these treatments. The number of people seeking care in the cardiac ER and the number of admissions to the cardiology ward and ICU also saw an important decline, leaving cardiologists and other healthcare professionals with a concerning question during this initial moment, namely: Where are patients with cardiac complications, whether or not they are associated with the COVID-19 pandemic, going?

We observed a 45% decrease in the number of visits to the cardiac ER in our hospital, with a 82% decrease in troponin assays. This was accompanied by 20% and 36% decreases in the rates of admission to the cardiology ICU and the cardiology ward, respectively. Similarly, Metzler B et al.10 demonstrated a 39.4% decrease in the admission of patients with acute coronary syndrome during the first month of the COVID-19 outbreak in Austria. In the USA, there was a 38% drop in coronary angiography in cases of acute ST-elevation myocardial infarction (STEMI) during the first month of the pandemic.8 In our study sample, we observed a 60% decrease in the number of cardiac catheterization procedures and a 48% decrease in the number of cardiac surgeries. In Spain, during the first week of quarantine due to COVID-19, researchers observed a 56% decrease in diagnostic cardiovascular procedures, a 48% decrease in coronary therapy procedures, an 81% decrease in structural therapy procedures (transcatheter aortic valve implantation, patent ductus arteriosus closure, and interatrial communication closure), and a 40% decrease in cases treated for STEMI.8 The decrease that we observed in individuals seeking medical attention for cardiac reasons during the pandemic, which has also been seen in other countries, goes against what we usually see during periods of tragedy. It is known that there is a considerable increase in the incidence of acute myocardial infarction and stroke following earthquakes and tsunamis.13 , 14 Perhaps, as a result of this decrease in spontaneous demand for medical care in cases that not related to COVID-19, the region of Lombardy, Italy, showed a 58% increase in the occurrence of cardiac arrest outside the hospital during the period that included the first 40 days of the COVID-19 outbreak.12 This finding showed a strong association with the cumulative incidence of COVID-19 in the region studied. Similarly, data published on Angioplasty.Org report an 800% increase in the incidence of sudden deaths occurring at home in the city of New York when it was the epicenter of the pandemic.15 Many of these patients may have avoided going to the hospital due to fear of becoming infected with COVID-19.16

In contrast with the data obtained in Spain,8 we observed a 33% increase in PCTA. We attribute this increase to the greater availability of beds in our hospital’s ICU during the initial phase of the COVID-19 pandemic. This made it possible for us to carry out the procedure and transfer patients to the ICU for observation, which is a different scenario from the pre-COVID phase, when the ICU, invariably, had no beds available.

The decrease which we observed in the number of oncology consultations (30%), chemotherapy sessions (45%), and radiotherapy sessions (19%) is a different case. A recent study, carried out in England and North Ireland, observed that the majority of patients with cancer or suspicion of cancer were not accessing health services during the COVID-19 pandemic.17 As a consequence, it is estimated that this COVID-19 outbreak has the potential to increase mortality by approximately 20%, over the coming 12 months, in patients with recent diagnosis of cancer, in England alone.17 Moreover, patients with cancer have an almost four-fold risk of presenting severe complications secondary to COVID-19, when compared to individuals without cancer.18 Therefore, monitoring of patients in oncology should be doubled, rather than decreased, during the pandemic. The challenge in identifying and treating complications associated with some chemotherapy drugs, such as severe myocarditis and/or pneumonitis, is another issue which specialists need to face during the COVID-19 pandemic.19

Our results are of great assistance to patients, healthcare professionals, and hospital managers. They shine a light on a serious problem, which is occurring in parallel to the COVID-19 pandemic, namely, a considerable decrease in the number of consultations, cardiac and oncological surgeries, visits to the cardiac ER, cardiac catheterization, chemotherapy and radiotherapy sessions, laboratory tests, and other medical procedures that are important and necessary for patients who do not have COVID-19. Decreased access to medical care is associated with a decline in the population’s health status.20 Delayed diagnosis and treatment of myocardial infarction or stroke increase the risk of death.21 Interrupting the use of anti-hypertensive medication, even for short periods of time, may lead to severe cardiovascular complications.22 Withdrawal of statins increases rates of events in patients with acute coronary syndromes.22 Undiagnosed decompensation of diabetes has severe consequences. Delayed performance of oncological surgery can lead to disease progression and worsened prognosis. The same applies to adjuvant or neoadjuvant chemotherapy sessions. The fact that patients are abstaining from going to the hospital does mean that other diseases have disappeared. By any means! They continue affecting patients, but patients are not seeking medical care to the appropriate extent. The question is: Why? Among other reasons, they are probably afraid of going to the hospital on account of the risk of contracting COVID-19. It is also possible that some patients with cardiovascular problems are seeking medical attention, but the symptoms they present may be confused with those of COVID-19. Express recommendations for people to stay home, in addition to restrictions on traffic and movement, also contribute to the scenario that we have detected in our hospital. It would not be an exaggeration to say that these individuals have also become victims of COVID-19, even without having contracted the disease.

Regardless of the cause, the results of our study reflect what is happening in several other places. These facts have the potential to generate a worrying collateral effect, namely, a substantial increase in morbidity and mortality, both short and medium term, due to causes other than the infection caused by SARS-COV 2.16 This would be the other side of the COVID-19 tragedy. It is possible that, soon, we will face an ascending, post-pandemic curve composed of patients with serious complications secondary to pathologies that could have been adequately treated, had they been previously attended at a time which would have, theoretically, been more favorable.

Our results open perspectives for other researchers to investigate the real outcomes of patients who are not attending elective medical consultations, chemotherapy sessions, radiotherapy sessions, and the cardiac ER, as well as those who are not undergoing routine examinations and/or oncological or cardiac surgeries during the COVID-19 pandemic. This would complement our findings and bring important information to the medical community and to patients themselves.

There are some limitations to this study. It was a single center study, and the observation period was relatively short. We did not follow up the outcomes of patients who stopped coming to consultations and/or procedures in our hospital. We observed the repercussions of the COVID-19 pandemic on the care practice of a tertiary hospital as a whole, but we did not characterize the pathologies that brought patients to the hospital.

Conclusion

The COVID-19 pandemic caused an important reduction in the number of consultations in the cardiology, oncology and other specialties outpatient clinics at our hospital. We also noticed a considerable decrease in the number of cardiac surgeries and in chemotherapy and radiotherapy sessions in the initial weeks of the pandemic. The demand for care in the cardiac ER, as well as the number of hospitalizations in the ICU and cardiology ward, also reduced, generating concern about the evolution and prognosis of these patients with other pathologies, other than COVID-19, in these pandemic times.

Study Association

This study is not associated with any thesis or dissertation work.

Sources of Funding

There were no external funding sources for this study.


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES