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editorial
. 2022 Feb 14;118(2):398–399. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20211001
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Alimentação de Idosos Diabéticos e não Diabéticos no Brasil

Mariana de Souza Dorna 1
PMCID: PMC8856694  PMID: 35262571

Com o crescimento da população e, consequentemente, da população idosa, aumentou também a preocupação com a saúde mental e qualidade de vida desses indivíduos. Dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF) sugerem que, em 2019, aproximadamente 463 milhões de adultos (20-79 anos) possuem o diagnóstico de diabetes (DM). Dentre eles, 1 em cada 5 são idosos.1 - 3 Ainda segundo o IDF, o Brasil ocupava a 5ª posição em relação aos números de pessoas diagnosticadas com DM.

Estilo de vida sedentário e dieta desbalanceada estão entre os principais fatores para o desenvolvimento do diabetes. Ainda assim, estudos epidemiológicos, que buscam associações entre consumo alimentar e DM, são limitados.4 Por outro lado, padrões alimentares com base em baixo consumo de alimentos ultraprocessados e maior ingestão de frutas e vegetais frescos mostram-se eficazes tanto na prevenção quanto no manejo de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).5 Esse padrão dietético denominado “Mediterrâneo” ganha espaço por promover hábitos de vida saudáveis e respeito à sazonalidade dos alimentos.6

O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) evidenciou resultados, relacionados ao alto consumo de carnes processadas, que apontam o aumento do risco de resistência insulínica e elevação de 40% do risco de desenvolvimento de diabetes em homens.7 Ainda assim, estudos epidemiológicos sobre consumo alimentar são limitados, e muitas vezes os resultados, poucos consistentes.4 , 8

Um dos desafios para realização desses estudos no Brasil, é a grande extensão territorial do país, associada a heterogeneidade populacional e diferenças culturais e alimentares regionais. Alguns estudos são baseados em dados compilados por pesquisas como a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), o Inquérito Nacional de Alimentação e o sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para as Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL).4 , 9 , 10

Nesta edição, Francisco et al.,11 utilizaram o Vigitel 2016 como ferramenta de mapeamento do consumo alimentar de idosos diabéticos e não diabéticos residentes em capitais brasileiras e no Distrito Federal (4). Esse estudo apresenta um expressivo tamanho amostral, com pouco mais de 13 mil idosos entrevistados e prevalência de aproximadamente 27% de diabetes. Entre o grupo dos idosos com DM foi observada maior frequência no consumo de hortaliças cruas, importante por causa do aumento da ingestão de fibras alimentares e seu conhecido papel na manutenção da glicemia. Contudo, nesse mesmo grupo, contatou-se maior consumo de carnes com gordura aparente bem como de doces e bebidas adoçadas, o que não apenas dificulta a manutenção da glicemia como pode aumentar o risco cardiovascular desses indivíduos.

O estudo traz à luz as dificuldades metodológicas para realização de inquéritos alimentares populacionais no Brasil. Ainda que os inquéritos telefônicos gerem dados confiáveis, o trabalho apresenta viés de seleção, como apontado pelos autores, por incluírem apenas indivíduos com telefonia fixa. Esse fator evidencia uma das grandes dificuldades em trabalhos populacionais em um país com dimensões continentais. Além disso, o recorte transversal do trabalho permite uma visão global acerca da frequência alimentar dessa população, mas não evidencia, contudo, o caminho a ser percorrido no que tange à acessibilidade alimentar segura e de qualidade para a população. Assim sendo, o estudo não permite estabelecer relações entre consumo alimentar e adesão a orientações nutricionais e o diagnóstico da DM. Por fim, são justamente as dificuldades desse estudo que o tornam extremamente relevante no campo de estudo de hábitos alimentares populacionais.

Footnotes

Minieditorial referente ao artigo: Hábito Alimentar de Idosos Diabéticos e não Diabéticos: Vigitel, Brasil, 2016

Referências

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Arq Bras Cardiol. 2022 Feb 14;118(2):398–399. [Article in English]

Food Intake among the Diabetic and Non-Diabetic Elderly Population in Brazil

Mariana de Souza Dorna 1

With the growth in the general population and, consequently, in the elderly population, concerns about mental health and the quality of life of these individuals have also risen. Data from the International Diabetes Federation (IDF) suggest that, in 2019, approximately 463 million adults (20-79 years of age) have received a diabetes mellitus (DM) diagnosis. Among them, 1 in every 5 are elderly individuals.1 - 3 According to the IDF, Brazil ranks 5thin relation to the number of people diagnosed with DM.

A sedentary lifestyle and an unbalanced diet are among the main factors for the development of DM. Nonetheless, epidemiological studies, which search for associations between food consumption and DM, are limited.4 By contrast, eating standards based on the consumption of ultraprocessed foods and the greater intake of fresh fruits and vegetables has proven to be effective in both the prevention and management of chronic non-communicable diseases (NCDs).5 This diet standard, known as “Mediterranean”, is gaining ground, as it promotes healthy lifestyles and a high regard for seasonal foods.6

The Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) has shown results related to the high consumption of processed meats, which point to an increased risk for insulin resistance and a 40% higher risk of developing DM in men.7 However, epidemiological studies about food consumption are scarce in the literature, and their results are often highly inconsistent.4 , 8

One of the challenges to conduct these studies in Brazil is the large territorial size of the country, associated with the population’s heterogeneity, as well as its differences in culture and regional eating habits. Some studies are based on data compiled by specific research projects, such as the Household Budget Survey (HBS), the National Diet and Nutrition Survey, and the Surveillance System of Risk and Protection Factors for Chronic Diseases by Telephone Inquiry (VIGITEL).4 , 9 , 10

In this edition, Francisco et al.11 used Vigitel 2016 as a tool to map the food consumption of the diabetic and non-diabetic elderly population in Brazilian capitals and the Federal District of Brasilia (4). This study presents an expressive sample size, with a little over 13,000 interviews conducted with elderly individuals. Results showed a prevalence of approximately 27% of the individuals diagnosed with DM. In the group of elderly individuals with DM, what was found was a greater frequency of the consumption of raw vegetables, an important cause for the rise in the intake of fibers and their well-known role in the maintenance of blood glucose levels. However, in this same group, what was also found was a greater consumption of fatty meats, as well as sweets and sugary drinks, which not only hinder the maintenance of one’s blood glucose levels, but also increase the cardiovascular risks in these individuals.

This study sheds light on the methodological difficulties to conduct population eating habit surveys in Brazil. Even though telephone inquiries generate reliable data, the data present selection bias, as pointed out by the authors, since only individuals with in-house telephones were included. This factor reveals one of the major difficulties in population studies in a continental-sized country. Moreover, the cross-sectional cut of the study enables a broader overview of the eating habits of this population; however, it does not show the path to be taken regarding a safe and high-quality food accessibility for the population. Therefore, this study does not allow one to establish connections between food consumption and adherence to nutritional advice and the diagnosis of DM. Finally, it is exactly the difficulties encountered in this study that make it extremely relevant to the field of study concerning population eating habits.

Footnotes

Short Editorial related to the article: Eating Behavior of Older Adults with and Without Diabetes: The Vigitel Survey, Brazil, 2016


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