A doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) é comum na população geral, afetando a maioria dos adultos após os 60 anos. A doença inclui quatro áreas principais: (1) Cardiopatia coronária, (2) Doença cérebro vascular, (3) Doença arterial periférica e (4) Aterosclerose aórtica com aneurismas.1 As condições que tradicionalmente são associadas à instalação de DCVA (os chamados “fatores de risco”) são as dislipidemias, diabetes mellitus, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, sedentarismo e histórico familiar de DCVA.2 As alterações vasculares ateroscleróticas podem começar na infância, preparando o cenário para eventos cardiovasculares na vida adulta.3 Tornquist et al.,4 apresentam neste número dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia alguns aspectos da obesidade e da aptidão cardiorrespiratória em relação ao risco cardiometabólico em crianças.
A obesidade é um problema de saúde pública que tem se expandido no mundo inteiro. De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde em 2016, a obesidade triplicou desde 1980.5 A prevalência de obesidade e sobrepeso aumentou também entre os jovens, passando de 16% em 1980 para 23% em 2013.5
De longa data a obesidade é relacionada com um risco aumentado de DCVA. Há várias alterações fisiológicas e metabólicas associadas com a obesidade que podem contribuir para o aumento deste risco: (1) Resistência à insulina e hiperinsulinemia; (2) Anormalidades no metabolismo lipídico; (3) Hipertensão arterial; (4) Remodelamento do ventrículo esquerdo; (5) Transtornos do sono; (6) Inflamação sistêmica aumentada; (7) Ativação do sistema nervoso simpático, e, (8) Disfunção endotelial.6
A obesidade tem sido associada com a mortalidade total em diversos estudos, assim como com a Cardiopatia Coronária, Insuficiência Cardíaca, Fibrilação Atrial e Morte Súbita.6
Estudos de autópsias de crianças demonstram que a obesidade se correlaciona positivamente com alterações ateroscleróticas na aorta e nas artérias coronárias durante a infância.7 Também, um grande estudo prospectivo dinamarquês, com 276.835 crianças nascidas entre 1930 e 1976, avaliou o Índice de Massa Corporal das crianças e observou uma relação linear positiva com o número de eventos coronarianos isquêmicos na vida adulta.8
Desta forma, muitas são as evidências que associam a obesidade à DCVA, desde a infância. Por outro lado, a redução do peso melhora muito os fatores de risco relacionados à obesidade: diminui a pressão arterial, reduz a incidência de diabetes, melhora o perfil lipídico, diminui a resistência à insulina, melhora a função endotelial e reduz a concentração da proteína C-reativa.9
O estilo de vida sedentário tem sido reconhecido como um fator de risco independente para DCVA. O incremento da atividade física se relaciona com ganho de saúde, melhor qualidade de vida e maior expectativa de vida.2 A atividade física envolve modalidades ocupacionais, domésticas e de lazer.10
Melhora da capacidade física e da qualidade de vida seriam razões suficientes para a adesão aos exercícios físicos, mas vários outros efeitos benéficos são relacionados à prática física. Contribui no controle do peso, melhora o perfil lipídico, reduz a pressão arterial, ajuda no tratamento e prevenção da diabetes mellitus, reduz a inflamação (expressa pela proteína C-reativa). O exercício influencia também o estilo de vida, diminuindo a possibilidade de fumar, reduzindo o estresse e o apetite.11
Os benefícios do exercício rotineiro são extremamente valiosos. Se repetem nas diversas faixas etárias, desde jovens até idosos,12 e são ratificados para crianças e jovens na pesquisa de Tornquist.4
Footnotes
Minieditorial referente ao artigo: Risco Cardiometabólico em Crianças e Adolescentes: O Paradoxo entre Índice de Massa Corporal e Aptidão Cardiorrespiratória
Referências
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