Skip to main content
Arquivos Brasileiros de Cardiologia logoLink to Arquivos Brasileiros de Cardiologia
. 2022 Jul 29;119(2):342–345. [Article in Portuguese] doi: 10.36660/abc.20211029
View full-text in English

Medicina Translacional e Ciência da Implementação: Como Transformar o que Sabemos no que Efetivamente Fazemos

Protásio Lemos da Luz 1,, Francisco Rafael Martins Laurindo 1
PMCID: PMC9363070  PMID: 35946696

A Medicina Translacional engloba basicamente três áreas: 1) a aceleração de transmissão de conhecimentos de pesquisa básica à aplicação clínica; 2) análise causal e da fisiopatologia de observações clínicas, pela interação com ciência básica; e 3) implementação, na população geral, de conhecimentos básicos e conceitos oriundos de pesquisas clínicas e experimentais, também chamada Ciência da Implementação. No passado, muitas descobertas fundamentais ficaram apenas no domínio das ciências básicas, levando-se muitos anos até se transformarem em instrumentos diagnósticos ou tratamentos aplicáveis à prática médica.

Um exemplo elucidativo é a relação entre colesterol e aterosclerose. As primeiras demonstrações de que colesterol induzia aterosclerose foram feitas pelos russos, em coelhos, entre 1908 e 1913.1 O Framingham Heart Study,2 publicado em 1961, foi o primeiro estudo demostrando esse fato em humanos. No entanto, a primeira estatina só foi produzida em 1976, inaugurando a era atual do tratamento medicamentoso da aterosclerose.3 Esse enorme hiato ocorreu em muitas outras circunstâncias e representa um desperdício do conhecimento e de vidas humanas.

Base da medicina preventiva: estilo de vida sadio

Quando se procura aplicar conhecimentos médicos à população geral, o conceito de estilo de vida sadio deve ser salientado, sobretudo quando se pretende enfatizar a medicina preventiva.

A maioria dos eventos cardiovasculares, tais como infarto do miocárdio e morte, estão associados a fatores de risco como dislipidemia, tabagismo, hipertensão e diabetes.4 Fatores genéticos representam a minoria. Outro exemplo é o estudo Whitehall, conduzido na Inglaterra,5 que mostrou que trabalhadores públicos que ocupavam posições hierárquicas inferiores no trabalho morriam três a quatro vezes mais que aqueles em posições superiores. A base da medicina preventiva depende de estilo de vida sadio, incluindo dieta predominante em vegetais, frutas e peixes, associada à baixa ingestão de carnes vermelhas e carboidratos. Exercícios aeróbicos e de força, no mínimo 150 minutos/semana são fortemente indicados, inclusive para proteção de funções cognitivas e prevenção de Alzheimer.6

Exercícios e dieta são essenciais na prevenção e tratamento do diabetes, hipertensão e obesidade, e vários programas para combate ao tabagismo estão disponíveis, com consideráveis índices de sucesso. No livro Zonas Azuis,7 pesquisadores americanos analisaram o estilo de vida das cinco populações mais longevas do mundo: Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Ikaria (Grécia), Loma Linda (Califórnia) e Nicoya (Costa Rica). Alguns costumes são comuns a todos: dieta baseada em grãos, frutas, vegetais e peixes com pouca carne vermelha; vida social intensa; religiosidade; valorização da família; trabalhos braçais rotineiros como andar a pé e cuidar de animais, cozinhar e cuidar da casa; e uso restrito de medicamentos. Fatores genéticos não parecem ser a única explicação dessa longevidade visto que são populações de diferentes países e sem qualquer parentesco.

Estresses emocionais de qualquer origem são fatores causais de eventos cardiovasculares. O aumento exponencial de tais condições durante a pandemia COVID-19 confirmam essas circunstâncias.8,9

Um aspecto peculiar do estilo de vida saudável é a dificuldade de implementação em adultos, e isso representa importante desafio para a medicina translacional no seu terceiro componente que é justamente a população geral. Por exemplo, resultados de iniciativas para implementar hábitos saudáveis em crianças e adolescentes, como demonstrado no Brasil e outros países10,11 impressionam – as crianças vigiando os pais para que não fumem, façam exercícios e sigam uma boa dieta! Hulsegge et al.,12 observaram que indivíduos que mantiveram 4-5 hábitos sadios por cinco anos tiveram 2,5 vezes menos risco de doenças cardiovasculares e mortalidade global comparados aos que não fizeram.

É importante considerar o contexto em que tal implementação ocorre, ou seja, em hospitais, em programas educacionais, no Sistema Único de Saúde (SUS) ou na medicina privada, em consultas online e outros. Estratégias diferentes são necessárias dependendo do contexto.

Medicina de precisão

Hoje prescrevemos medicações com base em resultados de pesquisas que demonstraram que determinadas doses de medicamentos são eficientes. Isso não leva em consideração respostas individuais; ou seja, tratamos a média, sem identificar quem são os respondedores e os não respondedores. Os efeitos colaterais também são relatados assim. Por outro lado, os estudos randomizados não incluem pacientes com comorbidades, e estudam apenas 6-8% da população doente, o que não representa o mundo real. Evidentemente, isso causa erros e dificuldades no ajuste de doses.

A farmacogenética permite uma caracterização mais precisa dos pacientes quanto à resposta a agentes externos, e permitirá uma individualização de tratamentos, como por exemplo, na prevenção de reações alérgicas. Em suma, o conhecimento do genoma humano e das respostas do organismo permitirão a individualização de tratamentos considerando a resposta a contraste, intolerância a agentes externos, e sensibilidade a sal, antiagregantes plaquetários e anticoagulantes. Claro que isso ainda não é prática corrente; mas logo será.

Desigualdades socioeconômicas tem grande impacto na incidência de doenças

O Whitehall Study5 mostrou uma relação entre menor nível de satisfação no emprego e maior mortalidade. Desde então, inúmeros estudos mostraram que o nível educacional, recursos financeiros e níveis sociais influenciam na prevalência de doença e mortalidade;13 a causa não é apenas psicológica. Indivíduos melhor posicionados têm mais conhecimento das doenças, têm acesso a melhores centros médicos e podem pagar gastos com saúde. Esse é um problema universal, mais relacionado à economia e desenvolvimento social, mas que se reflete na saúde.

Comorbidades em idosos e multidisciplinaridade

A população está envelhecendo. Comorbidades como doenças cardiovasculares, cânceres, doenças reumáticas, renais, metabólicas, inflamatórias, urológicas, respiratórias, neurológicas (demências, Alzheimer) e psiquiátricas são muito frequentes entre idosos. Raramente se encontra um paciente idoso com uma só doença. Daí a necessidade de múltiplos especialistas para se tomar a melhor conduta em casos mais complexos.14,15 Em consonância com esse conceito, uma metanálise concluiu que um trabalho em equipe (teamwork) relaciona-se positivamente com o desempenho clínico.16

Estabelecimento de riscos a médio e longo prazo

Embora escores de risco para doenças cardiovasculares sejam imperfeitos, são muito úteis quando se trata de convencer pacientes em adotar um estilo de vida saudável, em realizar avaliações periódicas e a usar as medicações. Como algumas doenças são silenciosas (hipertensão, diabetes mellitus, aterosclerose) estabelecer riscos é de suma importância prática. Embora os escores mais usados projetam riscos para 10 anos, hoje se calculam riscos em 30 anos.

Técnicas e parâmetros especiais, como o escore de cálcio coronário, radioisótopos e ecocardiograma permitem recalcular riscos, mais precisamente reclassificar indivíduos.17 Índices inflamatórios como PCR ultrassensível e escores genômicos também podem contribuir para aperfeiçoar projeção de riscos. Lipoproteínas não convencionais como lipoproteína (a), colesterol não HDL, partículas ricas em triglicéride, apolipoproteína CIII, angiopoietin-like protein 3 (ANGPTL3), angiopoietin-like protein 4 (ANGPTL4), apolipoproteína IV, apolipoproteína E, e variantes gênicas, como PCSK9 podem influenciar no risco cardiovascular.18 O grande mérito de calcular riscos é poder argumentar junto aos pacientes sobre a necessidade de vigilância constante e tomada de decisões.

Uso criterioso de tecnologias: risco versus benefício

Novos avanços tecnológicos são em geral benéficos, porém têm seu lado perigoso. Exemplos são diagnósticos de lesões tireoidianas, mamárias e prostáticas mínimas que desencadearam intervenções “preventivas” desnecessárias.19 O mesmo pode-se dizer das técnicas de imagem – cintilografia, tomografias coronárias e intervenções percutâneas – o uso indiscriminado de tais tecnologias sobrecarrega o sistema de saúde, aumenta custos e cria angústia nos pacientes. Países como Reino Unido e Canadá já adotam medidas para evitar “excessos”. No Brasil, também deveríamos adotar medidas para avaliar a qualidade do exercício profissional na medicina (como efetuado, por exemplo, pela Ordem dos Advogados do Brasil). O orçamento federal é insuficiente para atender a maioria da população, que depende do SUS, e não pode admitir desperdiço. Saliente-se aqui a importância dos hospitais de ensino, nos quais técnicas inovadoras podem ser criticamente avaliadas.

Trabalho em equipe (“Teamwork”)

Dada a complexidade de certos casos, comorbidades, diferentes capacidades institucionais e experiências individuais, trabalhar em equipes multiprofissionais é uma maneira eficiente de oferecer o melhor aos pacientes. No caso da cardiologia, normalmente um clínico, um intervencionista, um cirurgião ou arritmologista devem compor a equipe.20,21

Na prática, a indicações de procedimentos é influenciada pela experiência individual; por exemplo, hemodinamicistas podem ter preferências por intervenções percutâneas enquanto cirurgiões podem se inclinar por cirurgias. Na verdade, há argumentos que apoiam um ou outro procedimento, baseados no caráter não-invasivo, em registros sobre a evolução a longo prazo bem como na eficiência de tratamentos medicamentosos e estilo de vida do paciente. Além disso, a rápida evolução de técnicas de investigação e tratamentos, e sobretudo a experiência particular dos médicos e centros médicos também contribuem para possíveis diferenças de opiniões. Portanto, o Heart Team serve para minimizar esses vieses. Em meio a estas circunstâncias, é preciso lembrar que o paciente deve ser esclarecido e consultado sobre suas preferências.

Qualidade da pesquisa – base do processo de translação

Os argumentos acima nos levam ao conceito fundamental de que a medicina translacional necessita de alta qualidade científica em todas as suas etapas. Desde a obtenção de dados experimentais in vitro, ex vivo ou in vivo passando por estudos clínicos de fases I a III, até a implementação do conhecimento na população, o rigor científico deve ser observado. Idealmente, estudos clínicos randomizados, com desfechos relevantes e bem definidos, e número de pacientes e tempo de evolução adequados são preferíveis. Uma dificuldade inerente aos estudos randomizados são os altos custos e a demora na obtenção dos resultados. Há fatores que influenciam claramente a implementação de boas práticas à população, como o uso off label de medicamentos, influências econômicas, e concepção errônea da aplicação do livre arbítrio médico. Por outro lado, existem hoje técnicas de randomização mendeliana, estudos de associação do genoma completo (GWAS, Genome Wide Association Studies), e “big data” com contribuições da inteligência artificial e informática, que possibilitam investigações mais aprofundadas com elucidações de causas e mecanismos fisiopatológicos.22,23 No caso de intervenções, a eficiência clínica é o mais importante para o médico. No final, a medicina tem sua credibilidade alicerçada em princípios do método científico.

Footnotes

Fontes de Financiamento

O presente estudo foi financiado por F. Zerbini – Banco Bradesco SA.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Aprovação ética e consentimento informado

Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores.

Referências

  • 1.da Luz PL. As novas faces da medicina, São Paulo: Editora Manole; 2014.103p.
  • 2.Kannel WB, Dawber TR, Kagan A. Factor of risk in the development of coronary heart disease six-year follow-up experience. Ann Intern Med. 1961;55:33-50. doi: 10.7326/0003-4819-55-1-33. [DOI] [PubMed]
  • 3.Endo A. The discovery and development of HMG-CoA reductase inhibitors. J. Lipid Res. 1992;33(11):1569-82. PMID: 1464741 [PubMed]
  • 4.Yusuf S, Hawken S, Ounpuu S, Dans T, Avezum A, Lanas F, et al. Effect of potentially modifiable risk factors associated with myocardial infarction in 52 countries (the INTERHEART study): case-control study. Lancet. 2004;364(9438):937-52. doi: 10.1016/S0140-6736(04)17018-9. [DOI] [PubMed]
  • 5.Marmot MG, Stansfeld S, Patel C. North F, Head J, White I, et al. Health inequalities among British civil servants: the Whitehall II study. Lancet.1991;337(8754):387-93. doi: 10.1016/0140-6736(91)93068-k. [DOI] [PubMed]
  • 6.Felice FG. Alzheimer´s disease and insulin resistance: translating basic Science into clinical applications. J Clin Invest. 2013;123(2):531-9. doi: 10.1772/C164595. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 7.Buettner D. Zonas azuis: A solução para comer e viver como os povos mais saudáveis do planeta/tradução de Thais Costa. São Paulo: nVersos; 2019. ISBN: 8554862053.
  • 8.Mesquita CT. Out-of-hospital cardiac arrest during the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pandemic in Brazil: the hidden mortality. Arq Bras Cardiol. 2021 Feb;116(2):272-4. doi: 10.36660/abc.20210041. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 9.Guimarães NS, Carvalho TML, Machado-Pinto J, Lage R, Bernardes RM, et al. Increased home death due to cardiopulmonary arrest in times of COVID-19 pandemic. Arq Bras Cardiol. 2021 Feb;116(2):266-71. doi: 10.36660/abc.20200547. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 10.Fornari LS, Giuliano I, Azavedo F, Pastana A, Vieira C, Caramelli B. Children First Study: how an educational program in cardiovascular prevention at school can improve parents’ cardiovascular risk. Eur J Prev Cardiol. 2013; 20(2):301-9. doi: 10.1177/2047487312437617. [DOI] [PubMed]
  • 11.Fernandez-Jimenez R, Al-Kazaz M, Jaslow R, Bansilal S, Santana M, Diaz-Munoz R, et al. Children present a window of opportunity for promoting health. J Am Coll Cardiol. 201;72(25):3310-9. doi: 10.1016/j.jacc.2018.10.031. [DOI] [PubMed]
  • 12.Hulsegge G, Looman M, Smit HA, Daviglus M, van der Schow YI, Verschuren WM. Lifestyle changes in Young adulthood and middle age and risk of cardiovascular disease and all-cause mortality: The doetinchem cohort study. J Am Heart Assoc 2016;5(1):e002432. doi: 10.1161/JAMA.115.002.432. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 13.Mackenbach JP, Cavelaars AE, Kunst AE, Groenhof KF. Socioeconomic inequalities in cardiovascular disease mortality; na international study. Eur Heart J. 2000;21(14):1141-51. doi: 10.1053/euhj.1999.1990. [DOI] [PubMed]
  • 14.Lima TR, Silva DAS, Giehl MWC, D’Orsi E, González-Chica DA. Clusters of cardiometabolic risk factors and their association with atherosclerosis and chronic inflammation among adults and elderly in Florianópolis, southern Brazil. Arq Bras Cardiol. 2021 Jul;117(1):39-48. doi: 10.36660/abc.20200230. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 15.Lopes JM, Galvão FD, Oliveira AGRDC. Risk of Death in the Elderly with Excessive daytime sleepiness, insomnia and depression: prospective cohort study in an urban population in northeast Brazil. Arq Bras Cardiol. 2021 Sep;117(3):446-454. doi: 10.36660/abc.20200059. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 16.Schmutz JB, Meier LL, Manser T. How effective is teamwork really? The relationship between teamwork and performance in healthcare teams: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2019;9(9):e028280. doi: 10.1136/bmjopen-2018-028280. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 17.Polonsky TS, Ning H, Daviglus ML, Liu K, Burke GL, Cushman M, et al. Association of cardiovascular health with subclinical disease and incidente events: The Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis. J Am Heart Assoc. 2017;6:e004894. doi: 10.1161/JAHA.116.004894. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 18.Libby P. The changing landscape of atherosclerosis. Nature. 2021; 592: (7855):524-33. doi: 10.1038/s41586-021-03392-8. [DOI] [PubMed]
  • 19.Vacarella S, Franceschi S, Bray F, Wild CP, Plummer M, Dal Maso L. Worlwide thyroid-cancer epidemic? The increasing impact of overdiagnosis. N Engl J Med. 2016; 375(7):614-7. doi: 10.1038/s41586-021-03392-8. [DOI] [PubMed]
  • 20.Pio-Abreu A, Drager LF. Blood pressure control: The secret is.Team Work! Arq Bras Cardiol. 2020 Aug 28;115(2):182-3. doi: 10.36660/abc.20200544. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 21.Jardim TV, Souza ALL, Barroso WKS, Jardim PCBV. Blood pressure control and associated factors in a real-world team-based care center. Arq Bras Cardiol. 2020 Aug 28;115(2):174-81. doi: 10.36660/abc.20180384. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 22.Davies NM, Holmes MV, Smith GD. Reading mendelian randomisation studies: a guide, glosssary and checklist for clinicians. BMJ. 2018; 362: k601. doi: 10.1136/bmj.k601. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
  • 23.Zhang Z. Big data and clinical research: perspective from a clinician. J Thorac Dis.2014;6(12):1659-64. doi: 10.3978/j.issn.2072-1439.2014.12.12. [DOI] [PMC free article] [PubMed]
Arq Bras Cardiol. 2022 Jul 29;119(2):342–345. [Article in English]

Translational Medicine and Implementation Science: How to Transform What We Know Into What We Do

Protásio Lemos da Luz 1,, Francisco Rafael Martins Laurindo 1

Translational Medicine encompasses three areas: 1) acceleration of knowledge transmission from basic science to clinical practice; 2) analysis of the causes and pathophysiology of clinical observations through interaction with basic science; and 3) implementation of basic knowledge and concepts produced by clinical and experimental research in the general population, which is also known as “implementation science”. In the past, some fundamental discoveries stayed confined to the basic science for long years before becoming diagnostic instruments or therapies applicable to practice.

An instructive example is the relationship between cholesterol and atherosclerosis. The first evidence that cholesterol induced atherosclerosis came from studies conducted on rabbits by Russians between 1908 and 1913.1 The Framingham Heart Study,2 published in 1961, was the first to demonstrate this fact in humans. However, statin was first produced only in 1976, starting the current era of pharmacological treatment of atherosclerosis.3 This huge gap occurred in other contexts and represents a waste of knowledge and human lives.

Basis of preventive medicine: a healthy lifestyle

When medical knowledge is to be applied to the general population, the concept of healthy lifestyle should be highlighted, especially in terms of preventive medicine.

Most cardiovascular events, such as myocardial infarction and death, are associated with risk factors such as dyslipidemia, smoking, hypertension and diabetes.4 Genetic factors are less representative. Another example is the Whitehall study, conducted with British civil servants,5 that showed that servants in lower grades of employments had a mortality rate three to four times higher than of those in the higher grades. The basis of preventive medicine is related to a healthy lifestyle, including a diet composed predominantly of fruit, vegetable and fish, and low intake of meat and carbohydrates. At least 150 minutes per week of aerobic and strength exercises are strongly recommended, including for protection of cognitive functions and Alzheimer prevention.6

Exercise and diet are essential for preventing and treating diabetes, hypertension and obesity, and several anti-smoking programs are currently available, with remarkable success rates. In the book “Blue Zones”,7 American researchers evaluated the lifestyle of the five longest-lived communities in the world – Okinawa (Japan), Sardinia (Italy), Ikaria (Greece), Loma Lima (California) and Nicoya (Costa Rica). Some habits were shared by these communities – a diet mainly consisting of grains, fruits, vegetables, and fish, and poor in meat; active social life; religiosity; putting family first; manual labors like walking, taking care of animals, cooking, and taking care of the house; and restricted use of medications. Genetic factors cannot solely explain longevity of these populations, as they live in different countries and have no family relationship.

Emotional stress of any cause is a causal factor of cardiovascular events. The exponential increase of these conditions during the COVID-19 pandemic confirms these circumstances.8,9

It is noteworthy, however, that a healthy lifestyle is difficult to be implemented in adults. This represents an important challenge for translational medicine, particularly for its third component that concerns the general population. Results of initiatives to implement healthy habits in children and adolescents, as reported in Brazil and other countries,10,11 for example, are impressive – children asking their parents not to smoke, to exercise and to follow a good diet! Hulsegge et al.12 found that individuals who maintained four to five healthy lifestyle factors over a five-year period had 2.5 times lower risk of cardiovascular disease and all-cause mortality than those who did not.

In addition, it is important to consider in which context these initiatives have been implemented – in hospitals, educational programs, in the unified health system facilities or in private centers, by online consultations or others. Different contexts require different strategies.

Precision medicine

Today, medications are prescribed based on results of studies that showed their effective doses, which does not take into account individual responses, i.e., doses have been established based on mean responses, without identifying who are responders and non-responders to the treatment. Side effects are described in a similar manner. On the other hand, randomized trials do not include patients with comorbidities and study only 6-8% of patients with the disease, which does not represent the real world. This causes errors and difficulties in adjusting medication doses.

Pharmacogenetics provides a more precise characterization of patients in terms of individualized responses to external agents and may form the basis for tailored therapies, as in preventing allergic reactions. Briefly, the knowledge of the human genome and the body responses will allow individualization of treatments considering the response to contrasts, intolerance to external agents, and sensitivity to salt, antiplatelet agents, and anticoagulants. Although this is not a current practice, it will be soon.

Socioeconomic inequality has a great impact on disease incidence

The Whitehall study5 showed a relationship between a lower level of job satisfaction and higher mortality. Since then, several studies have shown that educational attainment, financial resources and social level have an influence on disease prevalence and mortality13 due to factors other than psychological ones. Individuals with higher status are more aware of their diseases, have greater access to better health care and are more able to pay health costs. This is a universal problem that is more related to economy and social development, but affects health.

Comorbidities in the elderly and Multidisciplinarity

The population is aging. Comorbidities like cardiovascular diseases, cancers, rheumatic, renal, metabolic, inflammatory, urological, respiratory, neurological (dementia, Alzheimer disease) and psychiatric diseases are far more common among the elderly. It is rare to find an older patient with only one disease. For this reason, several specialists would be needed to provide the best care for patients with complex conditions.14,15 In fact, a meta-analysis concluded that a teamwork is positively related to clinical performance.16

Establishment of medium and long-term risks

Although cardiovascular risk scores are imperfect, they are helpful in convincing patients to adopt a healthy lifestyle, to undergo periodic evaluations and to comply with medication regimens. Some diseases (e.g. hypertension, diabetes mellitus and atherosclerosis) are “silent” and hence the establishment of risks is of highly practical importance. Although the most used scores estimate 10-year risks, today the risk level of cardiovascular risks is estimated over a 30-year period.

Special techniques and parameters, like the coronary calcium score, radioisotopes and echocardiography allow recalculation of the risk, or more precisely, reclassification of patients.17 Inflammatory markers like high-sensitivity C-reactive protein and genomic scores can also improve risk projections. Unconventional lipoproteins may also be helpful, including the lipoprotein(a), non-HDL cholesterol, triglyceride-rich lipoproteins, apolipoprotein CIII, angiopoietin-like protein 3 (ANGPTL3), angiopoietin-like protein 4 (ANGPTL4), apolipoprotein IV, apolipoprotein E, and genetic variants like PCSK9 can influence the cardiovascular risk.18 The great advantage of risk calculation is to use it as an instrument to show patients the importance of continuous monitoring and decision making.

Judicious use of technologies: risks versus benefits

Technological advances are generally beneficial but may be hazardous. For example, the diagnosis of minimal lesions of thyroid, breast and prostate has led to “preventive”, unnecessary interventions.19 The same is true for imaging tests – scintigraphy, coronary computed tomography and percutaneous interventions – the indiscriminate use of these technologies overburdens the health care system, increases costs and causes patient anxiety. Countries like the United Kingdom and Canada have adopted measures to prevent “excesses”. In Brazil, the quality of medical practice should be systematically evaluated (as performed by the Order of Attorneys of Brazil). The federal budget is insufficient to cover the health costs of the majority of the population, users of the federal public health system, and thus waste cannot be accepted. In addition, medical school hospitals play an important role in critically evaluating the innovative techniques.

Teamwork

Due to the complexity of some cases, presence of comorbidities, different institutional capacities and individual experiences, multidisciplinary teams are an effective way to provide the best care to the patients. In Cardiology, multidisciplinary teams should include a clinician, an interventionist, a surgeon and an arrhythmia specialist.20,21

In clinical practice, the indication for procedures is influenced by individual experiences. For example, while catheterization specialists may prefer percutaneous interventions, surgeons may be inclined to surgeries. In fact, there are arguments to support one or the other treatment option, based on its non-invasive character, long-term outcomes of the disease, as well as efficacy of previous drug treatments and patient lifestyle. Also, the fast development of assessment tools and therapeutic strategies, and individual experience of physicians and medical centers also contribute to differences of opinions. In this context, the Heart Team serves to minimize these biases. It is also worth emphasizing that the patient should be informed and asked about his/her preferences.

Research quality – basis of the translational process

The arguments mentioned above lead to the fundamental concept that translational medicine requires high-quality science in its every step. Scientific accuracy must exist from the collection of in vitro, ex vivo and in vivo data, development of phase I and II clinical trials, until the application of knowledge. Ideally, randomized clinical trials, with well-defined, relevant outcomes, and adequate number of patients and time of follow-up are preferred. A difficulty inherent to randomized studies is the high costs and long time to obtain results. There are some factors that have a clear influence on the implementation of good practice in the population, like the off-label use of drugs, economic issues, and an erroneous notion of free will among physicians. On the other hand, methods such as Mendelian randomization, Genome Wide Association Studies (GWAS), and the Big Data, with contributions from artificial intelligence and informatics, allow deeper investigations and elucidation of causes and pathophysiological mechanisms.22,23 Regarding interventions, clinical efficacy is the most important issue for physicians. Credibility in Medicine is then grounded in the principles of scientific method.

Footnotes

Sources of Funding

This study was funded by F. Zerbini – Banco Bradesco SA.

Study Association

This study is not associated with any thesis or dissertation work.

Ethics approval and consent to participate

This article does not contain any studies with human participants or animals performed by any of the authors.


Articles from Arquivos Brasileiros de Cardiologia are provided here courtesy of Sociedade Brasileira de Cardiologia

RESOURCES